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«Não estamos todos no mesmo saco. Não somos todos iguais. Daí que se torne um bocadinho irritante que o conselho deontológico do Sindicato dos Jornalistas se refugie numa espécie de “recordatórias”, enviadas às direções de informação, ora sob a forma de notas ora sob a forma de cartas abertas a pretexto da Covid-19 para, em menos de um mês, alertar repetidamente para que as direções de informação, dos vários meios, velem pelo escrupuloso cumprimento das mais básicas regras da profissão por parte dos seus jornalistas.
É caso para perguntar: esta repetida pedagogia deve-se exactamente a quê? Acordaram para o incumprimento reiterado de alguns órgãos de informação em matéria deontológica? Só perceberam agora. Não deram pela cobertura dos casos Sócrates e companhia, não assistiram à novela Rosa Grilo? Perceberam finalmente que se pratica em Portugal, às vezes e em alguns casos senão mau, pelo menos péssimo jornalismo?
Não querem chamar os “bois pelos nomes” e temem que acabemos todos num pântano onde nos afogamos coletivamente reciclados com o lixo das redes sociais? Se sim, cabe informar então que, lamentavelmente, descobriram tarde e o risco é grande. Cada vez maior. Nisso têm toda a razão. No jornalismo como na economia “a má moeda” acaba por eliminar “a boa moeda”. Não é novo e já está a acontecer.
E o público foge e começa a estar farto? Pois. E começa a tomar a parte pelo todo? Sem dúvida. Daí o desafio: não ceder. Não ceder. Não ceder. Escrutinar ainda mais. Não cair na voracidade de ser sempre os primeiros. Não dar voz ao falso, para corrigir de imediato. Em “fact check” logo a seguir as próprias notícias. (…)»
[Graça Franco, Rádio Renascença, 14/04]
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