portugueses vítimas da inquisição espanhola

Portugueses Vitimas da Inquisição  Espanhola (1479 -1834)

 

Quando se fala da Inquisição espanhola na América, raramente se refere que a maioria das suas vítimas eram portugueses. A maioria era acusada de judaísmo, mas muitos outros de heresia, blasfémia, sodomia, bruxaria, etc.

O objectivo dos inquisidores era sempre o mesmo: combater a presença portuguesa na Espanha e seus domínios, apoderando-se dos seus bens. Milhares de famílias foram destroçadas e espoliadas.

A inquisição Castelhana foi criada em 1478, sendo logo seguida da inquisição aragonesa. Não tardou a surgir em toda a Espanha uma vasta rede de tribunais da inquisição, que se estendeu no século XVI às suas colónias.  

Depois da Espanha ocupar Portugal, em 1580, largos milhares de portugueses vislumbraram neste país grandes oportunidades de negócio. A troco de uma enormes somas de dinheiro, obtiveram autorização para se estabelecerem em Espanha. Ao mesmo tempo continuaram a infiltrarem-se aos milhares nas suas colónias, onde possuíam enormes comunidades, apesar de estarem proibidos de aí se fixarem

Um destes acordos foi realizado, em 1628, pelo Conde-Duque de Olivares que desta forma procurou atrair para Espanha os principais banqueiros e mercadores portugueses ( 27), para se livrar dos banqueiros genoveses. 

Uma decisão que se lhes revelou fatal, pois o seu êxito suscitou de imediato o saque dos seus bens através da Inquisição. A seguir à restauração da Independência de Portugal, em 1640, os banqueiros portugueses estabelecidos em Espanha foram sendo sucessivamente presos e pilhados (36): Juan Nunez de Saraiva (1640), Diego Saraiva (1641), Manuel Enriques (1646), Gaspar e Alfonso Rodrigues Pasarino (1646), Estaban Luis Diamante (1646), outro não identificado (1647) (21), Francisco Coelho (1654), Francisco Baéz Eminente (1691), etc. 

Depois de 1640, muitos dos portugueses que se mostraram leais a Espanha acabaram também por serem acusados de judaísmo, como foi o caso de Rodrigo Mendes da Silva. Nascido em Celorico da Beira (1606), mudou-se para Madrid (1635) onde escreveu importantes obras como “Población General de España” e “Vida e Feitos Heroicos do Grande Condestavel e sua Descendencia (Nuno Alvares Pereira)”. Em 1640 foi nomeado “cronista general de España”. Em 1659 foi acusado de judaísmo, espoliado do seus bens, conseguiu fugir para Itália onde faleceu em Veneza (1670). (58)

A “União Ibérica” representou a ruína do Império português, o fim das suas rotas comerciais a nível global, mas também uma enorme matança de portugueses pela Inquisição espanhola, em grandiosas manifestações públicas. Estamos perante um verdadeiro genocídio, que visava destruir a sua capacidade de resistência e sobrevivência do povo português.

O seu saque constituiu uma importantíssima fonte de rendimentos que o tesouro real espanhol carecia, para fazer face aos graves problemas financeiros com que se debatia. Em 1676, os inquisidores calculavam que o resultado da última campanha de expropriação dos portugueses tivesse rendido a fabulosa soma de 772.748 ducados e 884.979 pesos (23). 

Em 1683 foi publicada a célebre “Ley de Extermínio” dos portugueses. Os que não fossem apanhados e mortos, eram depois de roubados obrigados a fugir sob a ameaça de morte.

No século XVIII continuavam a existir muitos redutos de portugueses em Espanha. Na maior parte dos casos eram seus descendentes, mas que continuavam a manter muito viva a memória das suas origens (40). A forte endogamia destas comunidades justifica em parte esta profunda ligação a Portugal.

As colónias espanholas na América, embora se observe o mesmo fenómeno, a verdade é que as mesmas continuaram a receber constantes fluxos de emigrantes portugueses.

A enorme capacidade que revelaram em se esconderam sob falsas identidades, mas também em se movimentarem, não foi suficiente para resistirem às perseguições que foram vítimas em Espanha, sobretudo entre 1580 e 1745. 

Estudos recentes apontam claramente para uma conclusão inesperada: morreram mais portugueses vítimas da Inquisição em Espanha e nas suas colónias, do que aqueles que entre 1536 e 1820 foram mortos pela Inquisição em Portugal. .

 

Os portugueses estavam presentes nas Indias Espanholas, desde que foram descobertas a 12 de Outubro de 1492. O seu poder era enorme, provocando o medo por parte da Corte Espanhola.

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Não é de estranhar que os portugueses tenham sido as principais vítimas da Inquisição nos tribunais do “Novo Mundo”.
Segue uma lista de alguns dos portugueses vítimas da Inquisição  espanhola.

Auto de Fé de 23 de Janeiro de 1639, revestiu-se de uma especial crueldade contra comunidade portuguesa, que viu muitos dos seus serem queimados ou condenados à morte nos cárceres da Inquisição:  

 Francisco Maldonado da Silva (médico, filho de portugueses), morto.

Antonio de Vega, natural de Fronteira, mercador, morto

– Antonio de Espinosa, morto 

– Diego López de Fonseca, morto

– Juan Rodríguez da Silva, morto .

– Juan de Azevedo, morto 

– Luis de Lima, morto 

– Manuel Bautista Pérez, morto

– Rodrigo Vaez Pereira, morto.

– Sebastián Duarte, morto

– Tomé Cuaresma, morto.

– Luis Valencia, natural de Lisboa, mercador

 Pablo Rodriguez, natural de Montemayor, mercador.

– Francisco Vasquez, natural de Mondin, mercador.

– Juan Lima, natural de Torre de Moncorvo. Mercador. 

– Luis Lima,  natural de Torre de Moncorvo. Mercador. 

– Tomás Lima,  natural de Torre de Moncorvo. Mercador. 

– Enriquez Jacinto, natural de Lisboa, mercador.

– Enriquez Mateo, natural de Torre de Moncorvo, mercador.

– Gomez Acosta António, natural de Bragança, mercador.

– Fernandez Cutiño Gaspar, natural de Vila Flor, 

– Fernandez Pedro, mercador.

– Manuel de Paz, queimado em estátua 

– Marques Montesinos Manuel, natural de Trajo (?), mercador.

– Marques Montesinos Francisco, natural de Torre de Moncorvo.

– Avila Rodrigo, natural de Guimarães, mercador

– António Cordero, natural de Portalegre, mercador.

– Rodriguez Alvaro.

– Quaresma Tomé, natural de Serpa, médico.

– Quiróz Manuel A. Mendez, natural de Vila Flor

– Nunez Duarte Francisco, natural da Guarda, mercador

– Nunez Duarte Gaspar, natural da Guarda, mercador

– Nunez Espinosa Enrique, natural de Lisboa, corregedor

– Mendez Francisco A. Meneses, natural de Lamego, rendeiro de Minas.

– Francisco Ruiz Arias, natural de Castelo Branco, mercador. 

– Vaez Perisa Rodrigo, natural de Monsanto, mercador.

– Manuel da Rosa, natural de Portalegre, sedeiro.

– Gaspar Rodriguez Pereira, natural de Vila Real, mercador.

 retirado de diálogos lusófonos

 

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