Um discurso do Rei do Sião (1858) Portugueses no Sião Miguel Castelo-Branco

Nova Portugalidade
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Um discurso do Rei do Sião (1858)

O Rei disse ao Embaixador de Portugal e aos nobres que o acompanhavam:
– Ouçam-me! Vou contar-vos uma história” . Iniciou Rama IV (reinado 1851-1868) a sua longa intervenção de quarenta e cinco minutos, lembrando que antes de Bangkok ser capital do Sião, em Ayutthaya e Lopburi viviam muitos europeus, de variadas proveniências e falando várias línguas aos quais os siameses chamavam de Farang. Havia franceses, espanhóis, ingleses e holandeses, mas os portugueses haviam sido os primeiros, referindo uma carta, antiga de três séculos, na qual os portugueses eram considerados bons engenheiros e haviam executado grandes obras para bem dos siameses. Subitamente, porém, “Portugal sofrera um grande terramoto, seguido por guerras , pelo que os portugueses que viviam no Sião não haviam podido regressar, ficando assim nesta terra . Ao estabelecerem-se, casaram com mulheres siamesas, cambojanas e Mon e destas tiveram muitos filhos, que nasceram com fisionomia asiática, mas preservando a cultura portuguesa e até a sua língua. Quando Ayutthaya caiu (1767), os restantes europeus que por lá viviam fugiram, mas as famílias dos descendentes de portugueses continuaram na terra onde haviam nascido, servindo como funcionários, militares, intérpretes, médicos e marinheiros. O Rei ofereceu-lhes terra para ali construírem uma aldeia, com casa e templo católico-romano. A comunidade cresceu e agora há vários concelhos com tal gente”.
Concluiu, aludindo ao pedido que fizera anos antes o Cônsul português para a assinatura de um novo Tratado e à felicidade que o invadira ao tomar conhecimento da Embaixada que agora recebia, elencando os seus representantes para as negociações que se iniciavam e deixando votos que tal Tratado de Amizade durasse eternamente. Terminado o discurso, as baterias de música prorromperam em longa e sonora execução, enquanto uma cortina de damasco vermelho se ia fechando lentamente, até o Rei deixar de ser visível a todos quantos coalhavam a grande sala de audiências. Eram cinco horas da tarde.
(1) Chula Sakarat (จุลศักราช, abreviatura จุล ou CS), cujo ano 1 corresponde ao ano 639 da Era Cristã.
Miguel Castelo-Branco

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