PORTUGUESES NA TAILAndia / sião

Subject:

[FORUM ELOS] A Portugalidade – os Protuket da Tailândia por Miguel Castelo Branco

From:

Margarida Castro <margaridadsc@yahoo.com>

Date:

24/01/2023, 3:12 pm

 

[FORUM ELOS]

Miguel Castelo Branco, autor

A Portugalidade – os Protuket da Tailândia

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Alguns amigos, movidos pela curiosidade, pedem-me que os esclareça sobre os Protuket [comunidade católica] da Tailândia, pelo que da Introdução ao texto agora saído em formato e-book e que muito em breve conhecerá edição tipográfica, retiro o seguinte parágrafo.
«Desde inícios de 2008, frequentei com assiduidade os bairros católicos de Banguecoque, sobretudo o Bairro da Conceição, em Samsen, onde nasceu a atual capital tailandesa. Ali, quase se poderia ouvir o eco das memórias das gerações que fizeram a guerra pelo Sião, desde os tempos de Ayutthaya às campanhas na península de Malaca, batalhas contra os vietnamitas pelo domínio do Camboja ou contra os irrequietos birmaneses. No cemitério da comunidade, por várias vezes me sentei perto do túmulo de Phraya Wisset Songkram, ou antes, Pascoal Ribeiro de Albergaria, que atingiu a mais alta posição no Tahan Khlang – exército de primeira linha – entre 1824 e finais da década de 1850. Ali estão campas de militares, mas também de diplomatas, de administradores e de funcionários da Coroa em cujas mãos residiu, durante quase um século, a sorte do Sião nos tempos difíceis em que o país, cercado por agressivas potências imperialistas, corria de sobressalto em sobressalto para impedir a absorção no Raj britânico ou na Indochina francesa. Os habitantes mais categorizados dessa comunidade ainda são, todos sem exceção, funcionários do Estado e perseveram nas qualidades que fizeram dos seus antepassados objeto do interesse dos reis. São médicos, oficiais da Armada, professores universitários, funcionários superiores do Ministério dos Negócios Estrangeiros, diretores de serviço, chefes de divisão, diretores de empresas públicas e outros serviços do Estado. Percorrendo as vielas da aldeia – solo inalienável da Igreja – fui deparando a cada passo com marcas dessa afirmação de soberania católica. Em cada casa, orgulhosos e públicos, encontramos o nome da família que a habita e um crucifixo. Flores à janela, azulejos, ou um rosário pendendo na porta assinalam que ali há um eco do Portugal distante. É um velho mundo, um bandel em plena capital da Tailândia. Ali respira-se um catolicismo militante. Toda a comunidade, estimada em 700 pessoas distribuídas por 130 famílias, vive para si, casa entre si, transmite memórias e mitos familiares. Falam com naturalidade de um bisavô diplomata, de um tetravô general, de um remoto antepassado que fora servidor no palácio. Por eles passou, durante muitas décadas, a intermediação entre os europeus que ao Sião chegavam e as autoridades locais. Foram intérpretes, responsáveis portuários, comandantes da marinha, remadores das barcas reais, secretários do Rei e do Uparat, serviram o Phra Khlang e, depois, com o advento do Estado moderno e burocrático, sobreviveram graças à inteligência, lealdade à Coroa e reputação impoluta.»
MCB – Relações entre Portugal e o Sião: 1782 ‑1939, p. 16.
Imagem: Phraya Wisset Songkram, ou antes, Pascoal Ribeiro de Albergaria, brigadeiro de Artilharia e chefe da comunidade protuket do Sião entre as décadas de 1840 e 1870.

 

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