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Notas da Ilha #127
As pessoas perguntam-me, imensas vezes, porque vendi a Lagoa do Congro.
Tantas vezes os que me perguntam, são os que sempre lá foram passear, sem nunca se terem questionado se estariam a invadir propriedade privada.
Estavam.
Minha e do meu tio António Luís.
Nas partilhas, ao fim de tudo, ficamos os dois com a lagoa.
Depois de vendidas as pastagens todas.
Depois de realizado todo o capital que havia a realizar.
Ficámos, os dois, com o mais bonito pedaço de herança da família.
Mas, também, com o mais difícil de manter.
Sobretudo porque vivíamos, ambos, em Lisboa.
As pessoas perguntam-me porque vendi a Lagoa do Congro ao Governo Regional.
E dizem-me que é uma pena tê-lo feito.
Como se soubessem quanto custava manter a mesma lagoa para onde todos insistiam ir, como se fosse um bem público.
E para onde, muitos, levavam piqueniques e deixavam lixo e faziam fogueiras.
E onde, alguns, iam cortar a árvore de natal, e ramos de fetos e delapidar o musgo.
A quantidade de vezes que foi preciso pagar, caro, para refazer o muro! Porque até de tractor por lá entravam.
Perguntam-me porque razão vendi o meu quintal, o lugar de lazer de várias gerações da minha família, a lagoa mais bonita e mágica da ilha, onde brinquei e passei fins de semana, e férias, desde que nasci.
Não imaginam a tristeza que foi, para mim e para o meu tio, ter de a vender.
A um preço muito mais baixo do que aquele que um particular oferecia.
Foi a decisão mais penosa que tivemos de tomar.
Mas não tínhamos alternativa.
E, quando as pessoas me perguntam porque razão a vendi, fico sempre espantada que não percebam o quanto me entristeceu ter de o fazer.
Mas, confesso, que também estranho que nunca me tenham dito obrigada.
Porque parecem esquecer que essa decisão possibilitou que, agora, seja de todos.
Percebo perfeitamente o Vosso dilema.Tomar a decisão certa e a única possível.
Um abraço.
Ana Franco