ponta delgada, serões na avenida

QUEM SE LEMBRA DOS SERÕES DA AVENIDA?
(Um testemunho para a reportagem do Açoriano Oriental de domingo)

As noites de verão em Ponta Delgada eram passadas na “Avenida” (a Avenida Infante D. Henrique) durante os anos 80 e 90; no “Campo” (o Campo de São Francisco) durante a primeira década do século XXI; nas “Portas” (as Portas do Mar) durante a década passada. Regressaram, depois, ao centro histórico, com a animação cultural da câmara municipal, e retomaram, agora, a avenida litoral, com os condicionalismos da crise pandémica. Ironicamente, quatro décadas depois, voltamos à avenida pela mesma razão inicial: não haver muito mais para fazer…

De maio/junho a setembro/outubro, depois do Santo Cristo e antes do regresso às aulas, as “férias grandes” eram passadas à tarde na piscina (a velha Piscina de São Pedro, que deu lugar ao prolongamento da via) e à noite na avenida. A avenida era palco de encontros e desencontros, de amizades e de namoros.
Em boa verdade, não havia ali outra coisa se não gente. Sobretudo nos serões de sexta e sábado. Uns sentados na muralha a verem os outros passearem para a frente e para trás. Especialmente na sua zona central, entre o Solmar e os Correios. Só os casalinhos se atreviam a seguir até ao extremo poente do Forte de São Brás para ficarem protegidos dos olhares comentadores.
Cruzavam-se aqui todas as gerações, condições e profissões, a seguir ao jantar (geralmente depois da telenovela brasileira do canal único) e até perto da meia-noite (quanto mais novos, mais resistentes).
Este fenómeno poderá justificar-se de forma simples: gente chama gente. E a sua reincidência em ambiente de pós confinamento decorrerá da natural necessidade humana de interagir socialmente com os outros.

A Avenida Infante D. Henrique é o cenário emblemático do calendário cultural de Ponta Delgada: o fogo de artifício da passagem de ano, a batalha de água na terça-feira de Carnaval, a City Show do Azores Rallye, as barraquinhas do Senhor Santo Cristo dos Milagres, o desfile etnográfico das Grandes Festas do Espírito Santo, a mancha branca da PDL White Ocean. A nossa avenida está sempre presente na vida social da nossa cidade. Até serve para comemorar conquistas desportivas e vitórias eleitorais.

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