Ponta Delgada: entre a continuidade e o desencanto.

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Ponta Delgada: entre a continuidade e o desencanto.
As eleições autárquicas do passado dia 12 de outubro deixaram um retrato claro, mas também inquietante, em Ponta Delgada.
O PSD voltou a vencer, sem a euforia de outros tempos e com uma maioria curta e frágil, igualando o número de mandatos com o Movimento Ponta Delgada para Todos.
O dito Movimento foi mesmo a grande novidade na noite eleitoral, conquistando uma expressiva percentagem de votos e tornando-se uma força incontornável na governação do concelho.
O PS, por sua vez, confirmou o declínio que vinha sendo anunciado, com uma campanha feita para elites, afastada do Povo e muito inclinada para as instituições, com manifesto esquecimento dos verdadeiros problemas das pessoas, foi incapaz de mobilizar, de inspirar e de se reinventar. Tudo isso aliado à total desorganização da campanha, foi fatal!
A fragmentação do voto mostra um concelho que já não acredita em certezas antigas, mas que também não encontra novas convicções sólidas. A vitória do PSD não foi uma escolha de confiança, foi um voto de resignação. O crescimento do Movimento reflete o cansaço de muitos cidadãos em relação a uma política previsível, distante e pouco consequente.
O resultado em Ponta Delgada é a manifestação de uma certa fúria que se vai acumulando entre aqueles que se sentem permanentemente esquecidos, empobrecidos e desiludidos com os mesmos rostos e os mesmos discursos. É um aviso claro de que a política tradicional perdeu contacto com o quotidiano das pessoas reais.
O caso do PS é paradigmático. Parece ter perdido o fio à meada. Falta-lhe narrativa, proximidade e, sobretudo, falta-lhe ideias reais para a resolução dos problemas das pessoas. Em vez de liderar, o PS parece seguir. Em vez de propor, reage. Dá a ideia que nunca quis, não quer, saber de Ponta Delgada.
Quanto ao Movimento, este precisa combater alguma incerteza sobre a consistência da energia que obteve em votos. Tem de provar que consegue governar com rigor, transparência e continuidade, muito para lá do entusiasmo eleitoral. Se mantiver a trajetória e energia dos últimos meses, corre o sério risco de ganhar a Câmara Municipal em 2029, caso o PS continue a apatia e guerrilha interna onde se encontra, que tenderá a agudizar-se com a derrota, quase certa, nas próximas eleições regionais.
O resultado global destas eleições deixa uma mensagem evidente: Ponta Delgada está cansada, saturada, mas ainda não encontrou um novo rumo. Entre a continuidade e o protesto, entre o voto útil e o voto de zanga, o concelho parece suspenso num impasse político e emocional.
É necessário governar com humildade, ouvir com atenção e, acima de tudo, entregar resultados visíveis. Não está em causa quem vai governar a Câmara Municipal, mas a capacidade de recuperar o sentido de comunidade, de projeto e de esperança num concelho que, apesar de tudo, continua à procura de si mesmo.
Humberto Bettencourt
Jurista
 

Um autarca que precisa ser colocado na ordem
O PSD teve uma “vitória de Pirro” em Ponta Delgada nas eleições autárquicas, perdendo a maioria na Câmara Municipal. O presidente reeleito ousou pensar que iria governar a autarquia com os resultados de 2021, num falso diálogo com a oposição, mas enganou-se. Continua a falar e a comportar-se como se não tivessem acontecido eleições e como se não tivesse perdido a maioria. Claramente não aceita os resultados eleitorais e continua a tratar a oposição ou as oposições com sobranceria. O presidente está a prejudicar a Câmara Municipal de Ponta Delgada, o concelho e o PSD. Sim o PSD, que o deveria colocar na ordem, para evitar mais danos.

Sobre CHRYS CHRYSTELLO

Chrys Chrystello jornalista, tradutor e presidente da direção da AICL
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