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Mas não uma afegã
Adoraria ser qualquer coisa neste mundo
Mas não uma mulher
Seria um papagaio
Seria uma ovelha
Seria uma corça ou
Um pardal morando numa árvore
Mas não uma afegã.
Seria uma senhora turca
Com um irmão gentil me tomando pela mão
Seria tajik
Ou seria iraniana
Ou seria árabe
Com um marido me dizendo
Que sou linda
Mas sou uma afegã.
Quando é preciso
Fico a seu lado
Quando há risco
Fico à frente
Quando há sofrimento
Tomo a mim
Quando há direitos
Fico atrás
Poder é direito e
Sou uma mulher
Sempre sozinha
Sempre um exemplo de fraqueza
Meus ombros pesam
Sob o peso das dores.
Quando quero falar
Minha língua é censurada
Minha voz causa dor
Ouvidos dementes não me tolereram
Minhas mãos são inúteis
Não posso fazer nada com
Minhas pernas tolas
Ando sem
Nenhum destino.
Até quando devo aceitar o sofrer?
Quando a natureza anunciará minha libertação?
Onde fica a casa da Justiça?
Quem escreveu meu destino?
Digam a ele
Digam a ele
Digam a ele
Adoraria ser qualquer coisa na natureza
Mas não uma mulher
Não uma afegã.
Roya
Cabul, 2009*

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