poema – ao Luiz Fagundes Duarte

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POEMA AO LUIZ FAGUNDES DUARTE HOJE NA Folhinha

557. (ao luiz fagundes Duarte), açores 16 ago 2012

estar numa ilha é um modo de vida

por vezes sinto-a prisão sem grades

rodeado de mar, céu e vacas

aves e peixes que não me falam

pessoas com passados heroicos

gestas de povo sofrido e resignado

de basalto e pedra-pomes também

gente que veio no mar e a ele se condenou

em terra e nas ondas dos baleeiros

quando a terra não tremia

e os vulcões estavam silentes

mares de mil e uma cores

do azul ao negro e ao vermelho do sangue

cheio de monstros e poucas sereias

gente que veio com sonhos e fomes

sofreu a escravatura infame dos senhores

feudalismos tardios e encobertos

a coberto do manto da igreja

em troco de promessas etéreas

suor, lágrimas e sacrifícios

povo que dominou fajãs

gente que criou maroiços

construiu ambições e voou

para outros países sem deixar este

à roda do qual o mundo gira

e regressam sempre e sempre

superando os que ficaram

e construíram estas nove ilhas

do enorme orgulho pátria

ser açoriano é ser único

em nove identidades afins

não sei descrever os sons

os cheiros, as cores, os paladares

todos iguais, todos diferentes

todos açorianos

aceito este destino estrangeiro

moldo-me e adapto-me

ao clima e ao ritmo

a esta velocidade lenta

de início de mundo

a este fatalismo ingente

a estas devoções salvadoras

às promessas com que se enganam

romagens de comprar perdões

folclores e tradições recriadas

alheios ao que roda lá fora

toleram a autonomia que não têm

e no meio destas gentes

surgem escritores, poetas, autores

neles me encontro e observo

imagem refratada doutro espelho

o lado de lá do eu

até quando?