poema de Manuel Alegre

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“De um lado o chão e a raiz
do outro o mar e seu cântico.
Era uma vez um país
entre a Espanha e o Atlântico.
Tinha por rei D. Dinis
que gostava de cantar.
Mas o reino era tão pouco
que se pôs a perguntar:
— E se o mar fosse um caminho deste lado para o outro?
E da flor de verde pinho
das trovas do seu trovar
mandou plantar um pinhal.
Depois a flor foi navio.
E lá se foi Portugal
caravela a navegar.”
Manuel Alegre
E então vieram ventos, tempestades, ondas altas e naufrágios. A nau de verde pinho, que sustinha com o seu alento o orgulho de todo um povo, ficou encalhada num penhasco, imóvel, solemne.
Invadida pela natureza, jaz tal e qual um monumento sem dono nem autor, só e esquecida. Existe apenas para lembrar aos que por lá passam que toda a vaidade, orgulho, soberba, realeza, amores e ódios, riqueza e glória, são coisas acabam por desaparecer, engolidas pelas ondas do mar, pela densidade da vegetação ou – simplesmente – pela passagem inexorável do tempo.
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