PEDRO DA SILVEIRA E A PIDE

AI, AI! … PEDRO DA SILVEIRA!…
Estou estupefacto: segundo leio no «Expresso» de hoje – num trabalho de fundo da autoria de António Valdemar a propósito do centenário do início da publicação da revista «Seara Nova» –, o poeta, investigador e reconhecido antifascista Pedro da Silveira, natural da ilha das Flores, que durante anos colaborou com aquela revista de referência, tendo sido até membro do seu Conselho de Redação até ao 25 de Abril de 1974 – terá sido informador da PIDE e delator de importantes figuras da oposição a Salazar, incluindo Humberto Delgado e a comunidade de intelectuais portugueses exilados no Brasil.
E não se trata de uma opinião ou de um diz-que-diz: António Valdemar baseia-se em documentação existente nos arquivos da PIDE guardados na Torre do Tombo, de que reproduz imagens e transcreve algumas passagens de denúncias assinadas por Pedro da Silveira. Como sói dizer-se, parece que contra factos não há argumentos.
Eu conheci pessoalmente Pedro da Silveira, escrevi em vários lugares sobre a sua obra, é uma das personalidades a quem dediquei um capítulo do meu livro «Retratos Imperfeitos» (2017), iniciei a publicação da sua obra poética completa («Fui ao Mar Buscar Laranjas, 1»,1999) quando fui Diretor Regional da Cultura dos Açores, e tive a alegria de ver, num livro dele, um poema que me é dedicado. Fui testemunha, em muitas conversas e por correspondência, da sua proverbial má-língua, não pondo as mãos no fogo quanto ao que ele eventualmente diria de mim nas minhas costas. Mas ele foi um excelente poeta, um contador de histórias e de memórias, e um investigador arguto e rigoroso, a quem devo algumas preciosas informações de interesse filológico.
Tudo isto me faz reponderar a velha questão do autor «versus» a sua ideologia e os seus comportamentos pessoais, e não será por isso – por muito que me deixe estupefacto, sobretudo o seu papel de (pontualmente, pelo menos…) delator de intelectuais numa ditadura fascista – que deixarei de gostar da poesia de Pedro da Silveira. É um outro patamar.
REQUIESCAT IN PACE !
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