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EDITORIAL
Ventos uivantes
As ilhas portuguesas do Atlântico Norte são de meteorologia e humor imprevisíveis e, por ser assim, os ilhéus sabem que nos Açores e na Madeira manda a lei universal da Natureza. Nem mesmo o simpático e selfie-Marcelo, no seu fato presidencial, escapa aos ventos uivantes das ilhas e a viagem marcada para sexta-feira às regiões Autónomas teve que ser adiada porque o vento madeirense não quis nada com o Presidente da República – talvez um sinal dos Deuses de que a Madeira, tal como os Açores, começa a ficar saturada de uma República que por detrás de um sorriso afável esconde um cinismo genético para com estas ilhas que a custo toleram.
Os Açores e a Madeira são um mal necessário para um país que quer ter uma das maiores Zonas Económicas Exclusivas do mundo, que quer encher o peito com um mar quase-infinito que lhe garante lugar nas principais mesas negociais internacionais. Lisboa vai tolerando as ilhas porque somos uma espécie de “visto gold” para a roda dos grandes. Os mais de duzentos deputados da Assembleia Legislativa, as dezenas de governantes e figurantes do Estado sabem lá o quanto custa viver rodeado de mar e sujeitos aos caprichos da natureza. Sabem lá o que é viver no Corvo, na Graciosa ou mesmo em São Miguel e Terceira. Mas, contudo, são eles que decidem; são eles que mandam; é deles a Constituição. São eles que destinam 2 por centos das vacinas para as ilhas-adjacentes e 5 por cento para os PALOP. Complexo de culpa do Grande Conquistador agora reduzido à sua insignificância geopolítica?
A vinda do Presidente da República para dar posse ao Representante da dita é um bom ponto de partida para que nos revoltemos contra quem nos coarta a liberdade a troco de umas benesses que julgam suficientes para nos manter mansos. Desenganem-se que nestas terras-de-mar habitam bravos que chegada a hora exigirão mais da República. Esta é a altura certa para redefinirmos as regras de um jogo com o tabuleiro sempre inclinado para o lado continental, mesmo quando são as ilhas que conferem dimensão mundial a um país pequenino, entalado entre o grande oceano e a gigante Espanha.
A geopolítica está a mudar e os Açores vão estar de novo no centro do mapa onde se irá disputar o futuro da Europa. Aguardemos , tal como Ulisses, pelos ventos uivantes que se avizinham.
(Paulo Simões)
in, Açoriano Oriental, 07 de Março / 2021
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