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A/O Regional
Santa Clara denuncia “atentado” na SINAGA
Paulo Faustino
O grupo independente de cidadãos ‘Santa Clara Vida Nova’ está indignado com o que diz ser o desmantelamento, contra a vontade da maioria dos habitantes da freguesia, de equipamentos pertencentes ao núcleo fabril da SINAGA e pediu que a Câmara Municipal de Ponta Delgada (CMPD) tome uma posição, demarcando-se do governo nesta matéria.
Ainda ontem, através do Facebook e de um artigo de opinião publicado num jornal local, Mário Abrantes, membro daquele grupo e um ‘histórico’ do PCP/A, denunciava a existência de um “desmantelamento predatório e acelerado, com destino à sucata, de maquinaria e equipamentos cultural e materialmente muito valiosos e únicos que constituíam o núcleo fabril da SINAGA”. Núcleo esse que, segundo referiu, “tanto os entendidos como os cidadãos da freguesia de Santa Clara (…) pretendiam que fosse preservado para o futuro com caráter museológico e, eventualmente, objeto da instalação complementar de um centro interpretativo do processo de produção do açúcar de beterraba que durante tantos anos prestou um apreciável contributo à economia dos Açores”. Abrantes, no seu texto, mostrou-se contundente: “o que está a acontecer, nas costas da cidade de Ponta Delgada (…), a um ritmo frenético de execução só explicável pela pressa em o tornar irreversível, é um grave e muito preocupante atentado a um valioso e centenário equipamento industrial pertencente ao património histórico, cultural e social dos Açores”.
Instado pelo Açoriano Oriental, o presidente da Junta de Freguesia de Santa Clara, reeleito por aquele movimento, afina pelo mesmo diapasão. António Cabral fala por si e em nome da maioria dos santaclarenses, para dizer que está a ser cometido um “crime” quando estão em causa equipamentos com mais de cem anos e alguns já estão desmantelados.
O autarca não acredita que o Museu Carlos Machado tenha capacidade para vir a receber aquele imenso património fabril, lamentando que o que se vê, por estes dias, é o recheio da antiga açucareira a ser expedido sem que os cidadãos, especialmente os de Santa Clara, se tenham pronunciado.
“Custa-nos muito. Queríamos ser ouvidos, não só Santa Clara, mas também os munícipes de Ponta Delgada e que a Câmara fosse chamada para um estudo sobre a melhor solução a dar à SINAGA”, frisou António Cabral, ressalvando, por um lado, que o equipamento industrial em questão tem grande valor patrimonial e poderia servir para fins museológicos e, por outro, que o vasto terreno envolvente à fábrica tem potencial para servir a população e o turismo, inclusive como espaço de convenções. Mas lamenta: “Não se sabe o destino que terão os terrenos, não nos dizem nada”.
Segundo António Cabral, o grupo ‘Santa Clara Vida Nova’ está a “trabalhar” sobre o assunto, admitindo a adoção de medidas.
Tutela esclarece situação nas instalações industriais
A Secretaria Regional das Finanças, Planeamento e Administração Pública (SRFPAP) começa por clarificar que o desmantelamento da antiga fábrica da SINAGA não é de agora, tendo começado pouco depois do anterior governo socialista ter anunciado, no final de 2017, a suspensão da transformação de beterraba em açúcar. Ou seja, considera ser no “mínimo abusivo” dizer-se que tal operação esteja a ser realizada “a um ritmo frenético de execução”.
Na verdade, o referido desmantelamento, ao qual estão afetos três a quatro trabalhadores, verifica-se na zona industrial, “de forma ordeira e devidamente priorizada”, envolvendo tancagens e respetivas canalizações no interior da fábrica; equipamentos localizados em zonas com elevado risco estrutural; equipamentos com elevado grau de deterioração e obsolescência e equipamentos exteriores.
“As instalações industriais da SINAGA, cuja segurança e vigilância foram reforçadas após o seu encerramento, apresentam um elevado grau de degradação, consequência da não manutenção do espaço nos últimos anos, pelo que, logo após o desmantelamento das tancagens, será dado início ao desmantelamento de equipamentos instalados em zonas com elevado risco de colapso”, informa uma nota da tutela enviada a este jornal.
A SRFPAP acentua que a falta de manutenção de equipamentos “leva a que muitos deles estejam extremamente degradados”, sendo que, “face à sua dimensão e ao claro risco de acidente no interior da fábrica, foi imperativo decidir pelo seu desmantelamento”. E faz notar que tais equipamentos “não se configuram passíveis de integrar qualquer projeto museológico nem têm, pelo estado em que se encontram, qualquer uso ou valor comercial”.
A Secretaria Regional das Finanças, Planeamento e Administração Pública esclarece ainda que todos os equipamentos em razoável estado de conservação estão salvaguardados pela Direção Regional da Cultura, através do Museu Carlos Machado. “Algumas peças foram já colocadas no Núcleo de Santa Bárbara e nos armazéns do Museu. Outras peças, a incorporar futuramente na coleção, carecem de inventariação e estudo a que procederá esta entidade”, acrescenta. / Paulo Faustino
Foto: João Pacheco de Melo
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