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ENTREVISTA: Partido do PM timorense sem candidato às eleições presidenciais
*** António Sampaio, da Agência Lusa ***
Díli, 22 jan 2022 (Lusa) – O Partido Libertação Popular (PLP), do primeiro-ministro timorense Taur Matan Ruak, não tem qualquer candidato às presidenciais de 19 de março nem deliberou sobre o apoio a um candidato específico, disse um dos dirigentes daquela força política.
“Não temos nenhum candidato. Para ter um candidato, o partido deve ter uma reunião alargada dos órgãos do partido e, até à data, o presidente do partido não convocou qualquer encontro para falar sobre a matéria. Por isso, imagino que não haverá candidato do PLP”, disse em entrevista à Lusa Fidelis Magalhães, um dos vice-presidentes do partido.
O partido, disse, “teria que tomar uma posição sensata, estudada, definida pelos órgãos do partido, tendo em conta o interesse do partido no contexto político nacional” e está mais empenhado nas legislativas previstas para 2023.
“Para o PLP não há qualquer ansiedade em participar ativamente nas presidenciais. O partido tem mais interesse nas eleições legislativas de 2023”, referiu na entrevista.
Magalhães prefere não comentar a ação do atual chefe de Estado, recordando que a constituição lhe confere competências nas áreas em que atuou e lhe dá “um certo espaço de manobra” nas interpretações e decisões tomadas.
“Não se pode tomar uma posição altamente purista. É uma questão política que exige uma solução política”, considerou.
“Se alguém discorda das decisões do senhor Presidente, o momento é agora, nas presidenciais, propor uma outra interpretação, para depois ganhar, obter legitimidade popular perante os eleitores. O momento é agora para os políticos disputarem”, considerou.
Timor-Leste está a preparar-se para a que poderá ser a eleição presidencial com mais candidatos de sempre, num momento de grande polarização política e com tensão entre os principais líderes nacionais e os seus apoiantes.
Um dos cenários já referenciado, é a possibilidade de que se vencer as eleições um candidato apoiado pelo Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), de Xanana Gusmão, poderia avançar para a dissolução do parlamento ou demissão do Governo.
“Seria assim tão fácil para o Presidente dissolver o parlamento e convocar uma nova eleição? É fácil dizer, proclamar, até como programa para convencer os eleitores. Mas na implementação não creio que vai ser assim tão fácil como dizem”, afirmou.
“O presidente pode dissolver o parlamento quando não funciona, mas na prática, temos OGE, o Governo está a funcionar, o parlamento está a funcionar e a produzir leis, muitas leis, até mais que nunca e nas votações conta sempre com a participação da oposição, existe uma oposição saudável”, considerou.
“Todas as indicações são de que os pilares da democracia, as instituições, estão a funcionar. Não creio que haja um argumento suficientemente forte para dizer que há necessidade de eleições antecipadas”, disse ainda.
Registado em dezembro de 2015, o PLP nasceu para “combater mitos” e dar voz aos jovens. Tem atualmente oito lugares no Parlamento Nacional (de 65 deputados) e é liderado pelo chefe do Governo e ex-Presidente Taur Matan Ruak.
A primeira referência pública ao papel de Taur Matan Ruak no partido foi feita em março de 2017 quando o próprio, ainda chefe de Estado, confirmou os seus planos.
“O Presidente tem um plano para o futuro: o meu partido é o PLP. Quando eu ganhar eu vou ser chefe do Governo. Eu sei que não posso deixar de combater com o CNRT e a Fretilin”, disse na altura Taur Matan Ruak em comentários que causaram polémica.
A 10 de março desse ano, em entrevista à Lusa ainda como chefe de Estado, Taur Matan Ruak disse que pretendia assumir o papel de “contraditório” para evitar que a coesão política no país paralisasse o desenvolvimento e impedisse a mudança necessária.
“Acho que é o melhor caminho, ser o contraditório. E continuar a ser o que sou hoje. Tenho ideias diferentes, tento contribuir”, afirmou Taur Matan Ruak em entrevista à Lusa.
A 22 de março de 2017, horas depois do fim do seu mandato, Matan Ruak foi aclamado no congresso do PLP que se apresentou pela primeira vez às urnas nas legislativas de 2017, obtendo na altura 60.098 votos (10,58%), o que tornou a quarta força no Parlamento.
Taur Matan Ruak passou de ser bastante critico quer de Xanana Gusmão (CNRT) quer de Mari Alkatiri (Fretilin) para fazer, em momentos diferentes, alianças com ambos.
Depois do voto de 2017, o PLP chegou a delinear um acordo para formar parte da coligação de Governo liderado pela Fretilin, que não avançou, e o partido ficou na oposição, aliando-se depois com o Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), de Xanana Gusmão, e o Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO) para criar uma maioria, contra o Governo, no Parlamento.
O PLP acabaria por fazer parte das bancadas que chumbaram o programa do VII Governo, de Mari Alkatiri, forçando a dissolução do Parlamento e eleições antecipadas.
Da coligação a três no parlamento, a AMP, nasceria o oitavo Governo que tem tido um mandato atribulado com o chefe de Estado a não dar posse à maioria dos membros indigitados pelo CNRT, e a tensão entre o partido de Xanana Gusmão e o de Taur Matan Ruak a crescer.
Uma tensão que desde aí não se resolveu – Xanana Gusmão e Taur Matan Ruak não dialogam há anos – e que levou a um chumbo do OGE, à posterior saída do CNRT do Governo e à entrada da Fretilin no executivo.
Questionado sobre se Timor-Leste continua a sentir o impacto dos ‘amores e desamores’ entre os líderes históricos do país, Magalhães, 41 anos, admite que isso, mas considera essas diferenças normais e responsabiliza as gerações mais jovens.
“Ainda estamos numa situação em que os amores dos líderes são importantes, mas temos que pensar de forma diferente. A forma de lidar entre eles é um questão natural nas democracias, não podemos estar sempre à espera de viver no romanticismo do passado e construir um passado até inventado de que estava tudo de rosas e coeso e que agora é que há discordâncias”, afirmou.
“O problema está connosco, não com eles. Continuamos a viver num ideal, como se tornássemos a política numa coisa de certa religiosidade. Mas não devia ser assim”, considerou.
E ainda que os líderes possam “fazer acordos e desacordos, transformações e mudanças” a sociedade não se deve preocupar tanto com esses relacionamentos e antes sim com a forma como “funciona a sociedade, as instituições”.
“Isso é que é mais importante”, afirmou.
ASP // PJA
Lusa/Fim
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