para o Estudo de peças em barro com características de zoomorfos Félix Rodrigues

Partilha-se resumo de trabalho apresentado no VIII FIPED que decorreu em Angra do Heroísmo, com o título:
“Estudo de peças em barro com características de zoomorfos” da autoria de Cecília Gaspar, Ines Santos e Félix Rodrigues.

Problema em estudo.
Estudou-se uma pasta de argila recolhida na ilha Terceira, aparentemente cozida, para se tentar perceber a sua génese: se um paleossolo ou resultado de um processo inverso, de litificação, onde a argila se poderia transformar em rocha sedimentar. Tal motivação associada às aplicações medicinais das argilas, especialmente porque adsorvem gorduras, levou a que se tentasse avaliar a sua composição química.
Objetivos.
Tentou-se validar uma das hipóteses anteriores, e após observação das amostras à lupa electrónica, verificou-se que ainda poderiam existir outras hipóteses explicativas para os dados de partida pelo que o grande objetivo deste trabalho se centrou em contribuir para um melhor entendimento de amostras de argila da ilha Terceira que também poderiam ter uma génese antrópica.
Metodologia.
Observou-se atentamente a amostra à lupa eletrónica, com diferentes ampliações e detetou-se a presença de fenocristais de olivina e piroxena, à superfície da amostra e a sua ausência no interior. Aí pareciam existir fenocristais vítricos amarelados (tipo resina fossilizada ou âmbar). Tentou-se perceber se tais hipotéticos fenocristais poderiam resultar de um óxido de ferro, quer utilizando propriedades de campos magnéticos quer tentando diluir tais cristais em diferentes solventes. Conseguiu-se separar da amostra, numa primeira fase, materiais com propriedades magnéticas, e numa segunda fase, separar hematite de magnetite. Os cristais amarelados são parcialmente solúveis em metanol, pelo que se decidiu efetuar uma cromatografia em papel e tentar separar alguns componentes da solução. Um material resinoso de cor amarelada, que adquire um aspeto vítrico quando seco, foi extraído da solução alcoólica por cromatografia, pelo que se concluiu que amostra possuía matéria orgânica do tipo resina fóssil e com coloração semelhante a âmbar. Para testar a hipótese da argila conter resinas e avaliar a quantidade de matéria orgânica presente nas amostras, um pedaço de argila foi colocado numa mufla a 500ºC durante 48 horas.
Resultados e Discussão.
Conclui-se que 13% da massa da amostra é matéria orgânica, ou seja, uma percentagem demasiado elevada para ser argila, que não é, claramente, um paleossolo ou um placic. Recorreu-se a espectrofotometria de absorção atómica para avaliar a sua composição química e conclui-se que os níveis de magnésio encontrados na amostra podem resultar da incorporação de cinza na amostra de argila, cuja presença já tinha sido equacionada aquando da observação da amostra à lupa. Tudo apontava para que a amostra fosse cerâmica, quer pela sua textura e densidade, quer pela existência em simultâneo de hematite e magnetite, uma vez que a magnetite resulta da transformação da hematite pelo efeito da temperatura. A análise física de outras amostras, aparentemente coesas e sem fraturas quando limpas com água corrente e com um alfinete, de modo a que não ficassem registadas quaisquer marcas mecânicas na peça associadas ao processo de limpeza revelaram a existência de orifícios e formas que não são explicadas na bibliografia como sendo naturais, mas sim como sendo zoomorfos ou fitomorfos. Assim conclui-se que a génese das peças é antrópica.
Conclusões & Recomendações.
O material avaliado é cerâmico, do tipo terracota, e só poderá ser explicado por produção humana e não por um processo de fossilização desconhecido. É necessário um estudo mais aprofundado do seu significado ou em alternativa, existe a necessidade de explorar outras hipóteses explicativas que entronquem nesses mesmos dados.

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