país sangrado pela emigração , um luxo que não podemos ter

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CANTA O SOL QUE TENS NA ALMA, ÉS A FLOR DE SER FELIZ|
Agir, filho de Paulo de Carvalho, homenageou o pai com duas bofetadas musicais que me acordaram via youtube (confesso que não sabia que estava a decorrer o festival da cancão). Sou fã de um conjunto de vozes que me habituei a ouvir desde os 8 anos, no vinil que o meu pai acumulava lá por casa. De Paulo de Carvalho a Fausto, de Zeca Afonso a Sérgio Godinho, de José Mario Branco a Vitorino. Ainda o meu mundo cabia todo na janela que me mostrava a igreja matriz de Vila do Porto e, sem saber, já estava com um pé no Avante. Dificilmente a macã cai longe da árvore, dizem-me os entendidos das teorias da educacão.
Também me lembrei de Paulo de Carvalho e da sua Nini, quando vi os ensaios desta semana para o regresso de Passos Coelho à política, julgo, numa manhã de nevoeiro deste mês que agora se inicia.
Entre uma ou outra crónica que fazem a versão Massamá do clássico “a história me julgará” e os elogios de Ventura, na AR, dizendo que o governo devia aprender com Passos Coelho, teme-se o pior.
Nós, portugueses, temos um problema crónico e secular, de tentar resolver problemas antigos criando problemas novos. Traduzindo, perante as falhas óbvias da governacão actual e uma oposicão inconsequente, que escancarou as portas à extrema-direita, saliva-se pelo regresso de Pedro Passos Coelho.
Fico ligeiramente arrepiado quando leio notícias destas e quando vejo as movimentacões no xadrez político. Na verdade a palavra não é arrepiado, mas há gente educada a ler isto e não quero parecer o que realmente sou.
Se pudesse escolher o passo seguinte pediria, com urgência, um almoco com Rui Rio. Uma boa acorda (com cedilha) para mim e para ele algo mais leve, não me parece rapaz para apreciar comida de tacho. Vinho com algum corpo para mim para aguentar a conversa e água para ele, para que o sonho da maioria se mantivesse com os pés no chão.
Antes que o camarada chegasse com o barro e fizesse aquele truque de misturar o ovo (choro sempre nessa parte), perguntar-lhe-ia: “Rui, o que andas a fazer à tua vida? Nos Acores, no discurso das presidenciais, nos acordos com o Chega, no silêncio às exigências do Ventura…e agora levas uma facada destas no parlamento. Não te cheirava logo desde os tempos de Odivelas que aquilo era má rês? Não percebes que andas a fazer o caminho das pedras e quando cheirar a poder vais levar um tratamento à la Seguro mais alaranjado?”
Vejo frases de exaltacão sobre o homem que meteu as contas do país em ordem (onde é que já ouvi isto?) e só me lembro daquela obsessão de “ir para além da troika”. As humilhacões repetidas em Bruxelas e o beijar de mão a Angela Merkel quando nos diziam que éramos um povo de bêbados e putanheiros, que vivia acima das suas possibilidades.
A tudo Passos Coelho abanava a cabeca e empobrecia, ainda mais o país, impondo medidas que não eram exigidas no acordo. O mesmo FMI que coloca garrotes em África há décadas, vinha aqui fiscalizar, emprestar o dinheiro e dizer que produtos alemães, franceses e holandeses devia o nosso governo adquirir de seguida.
A real politik é o que é. Manda quem pode, obedece quem deve.
Passos Coelho foi o primeiro governante, que me lembre pelo menos, a dizer que era necessário empobrecer o país e a incentivar à emigracão de pessoal qualificado. Num país com uma populacão envelhecida, taxa de natalidade baixa por causa dos baixos salários e dificuldades para sair de casa dos pais e uma falta enorme de forca de trabalho qualificada, Passos Coelho, na altura primeiro-ministro de Portugal, incentivou portugueses a procurarem a sorte noutras paragens.
O SNS e a sua crónica falta de pessoal, exposta por razões óbvias no último ano, estarão certamente agradecidos. Não tanto como Boris Johnson, certamente, salvo pelos cuidados de um enfermeiro português quando andou a respirar pior no início desta pandemia. Segundo o INE, Portugal perdeu mais de 100 000 pessoas por ano pela porta da emigracão, durante o consulado de Passos. Julgo que em alguns desses anos nasceu menos gente do que aquela que se foi embora. Portanto, de uma assentada só despacharam-se cérebros, empobreceu-se o país, perdeu-se mão de obra qualificada e envelheceu-se a populacão.
Num país onde cerca de 5 milhões formam o tecido laboral, podemos dar-nos ao luxo de perder 100 000 por ano? Somos o país da UE com maior número de emigrantes (comparativamente com a populacão residente) e um dos mais pobres, com a contribuicão de Passos, entre outros. E no meio do caos que vivemos há quem tenha saudosismo disto? Não há memória em Portugal que nos impeca de repetir os mesmos erros Ad Eternum?
Temos que ver os mesmos dinossauros, de sempre e para sempre, nas câmaras, nas assembleias, nos governos? É o Isaltino que vai à prisão e volta. O Santana que tentou tudo e quer voltar para a Figueira. O Passos que nos arrasou e prepara o regresso. O Portas e o Mendes que andaram anos na teia e agora nos enchem com comentários. A vida política portuguesa parece uma letra do Quim Barreiros. Troca peito por leito, entra por tenta, mas o final é sempre de arromba.
Tenham santa paciência…não há gente nova, outras geracões, novas ideias, discursos sem compadrios?
Estamos condenados a escolher, sempre, entre o mal menor e as bocalidades dos Venturas desta vida?
Há dias em que olho para o Tejo e só vejo nevoeiro. Este é um deles.
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  • Tiago

    Franco, pena que muitos já esqueceram as lideranças no país nesses anos que referiu como os anos do D.Sebastião, principalmente os bastonarios de médicos e enfermeiros que tentam a tanto custo inverter a história.E infelizmente tudo se está a processar como comenta acima.

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