Blog

  • Cinco palavras catalãs que fazem cócegas

    Views: 0

    View in browser

    Cinco palavras catalãs que fazem cócegas

    Marco Neves

    Aug 25

    READ IN APP

    Quando olhamos para as línguas próximas, são as pequenas diferenças que nos deixam com um sorriso na boca, como se nos fizessem cócegas. Façamos a experiência com cinco palavras catalãs. É uma forma de viajar neste mês de férias.

    Fotos de Lucas Gallone em Unsplash

    1. Nit

    Dizer «bona nit!» é simpático, mas para um português o estranho é ouvir um «bon dia» assim de chofre, sem nada que desmanche a ilusão de estarmos a ouvir a nossa língua. Não estamos. Mas, durante aqueles segundos, parece.

    Avancemos no dia. «Boa tarde» é «bona tarda». A noite é «nit». Sim, estamos a caminhar até à «nuit» francesa, mas não temos nenhum «u» e estamos longe da «noite» portuguesa ou da «noche» castelhana, sempre com o «O» a lembrar-nos uma certa escuridão.

    Sim, isto sou eu a delirar. A escuridão da noite não está nas palavras e sim no céu, mas o que querem? Quando oiço «nit» lembro-me de um qualquer grito nocturno.

    2. Tardor

    Não sei se me soa a Terra Média («e os cavaleiros puseram-se a caminho das negras terras de Tardor») ou a qualquer coisa de tardio, ainda um pouco quente — ou talvez me soe ao aspecto ardido das folhas castanhas no chão. Não faço ideia, mas sei que soa bem. É «outono» em catalão, mas lembra-me também o entardecer e uma certa mansidão. As outras línguas são assim: às vezes põem-nos a ver as coisas pela primeira vez.

    3. Cap

    Esta é uma estranha palavra que tanto quer dizer «cabeça», como «chefe» e ainda «cabo», «nenhum» — ou «em direcção a». E olhem que não fica por aqui.

    Ou seja, «cap al cap» será algo como «em direcção ao cabo». «No tinc cap pressa» é «não tenho nenhuma pressa». «El cap del meu cap» — «a cabeça do meu chefe». Uma palavra bem cheia… (E espero não ter metido os pés pelas mãos com o atrevimento de escrever umas frases em catalão.)

    4. Seny

    Como nós, que temos sempre a saudade na boca quando nos falam do que é ser português, também os catalães tentam definir o seu carácter com uma ou duas palavras. Neste caso, duas: «seny» (bom senso) e «rauxa» (loucura) — uma estranha mistura que há uns anos li descrita (não sei bem onde) como alguém a tratar de negócios à varanda do hotel, mas todo nu. E se calhar com um bigode à Dali. Como sempre, estas caracterizações são perigosas, redutoras, ilusórias — o que quiserem. Mas aqui fica a tal «seny» nem que seja para vos dizer que o «ny» se lê «nh». Sim, em catalão, Catalunha escreve-se «Catalunya» (mas lê-se como cá).

    5. Dinar

    Não me fico pelas cinco palavras… Acho curiosas palavras próximas de forma peculiar, como «dona» (mulher) ou «germà» (irmão) ou «menjar» (comer) ou «parlar» (falar). E estranho, estranho é dizer «dinar» para o «almoço». Já o jantar é «sopar». E o pequeno-almoço? «Esmorzar». Temos ainda isto: «dona» no plural dá «dones» (mas o «e» lê-se quase como o nosso «a»). «Irmã» é «germana» e, assim, irmãs são «germanes».

    Para terminar, aponto para a palavra «novel·la» (romance). Tem aquele símbolo estranho, exclusivamente catalão: assinala que os dois LL não se devem ler como o nosso «lh», mas antes como dois LL separados, um em cada sílaba. «Una novel·la excel·lent» é, por exemplo, La plaça del diamant, de Mercè Rodoreda (o «ç» em «plaça» mostra que a cedilha também existe em catalão).

    As outras línguas latinas são assim: vão revelando os seus segredos devagar, enquanto nos fazem cócegas.

    Fins demà!

    Texto publicado anteriormente. Proponho, já agora, que oiça o episódio «Ler as línguas nas placas das estradas de Espanha».

    ⏵ Ouvir

    Aqui fica o mais recente episódio da Pilha de Livros:

    Pilha de Livros

    Marco Neves

    22 episodes

    Oiça também os outros programas em que participo:

    Pode encomendar os meus livros nesta página.

    Like
    Comment
    Restack

    © 2023 Marco Neves
    548 Market Street PMB 72296, San Francisco, CA 94104
    Unsubscribe

  • Lisboa no futuro sob água

    Views: 0

    【A CAUSA DAS COISAS】
    Os efeitos do aquecimento global serão devastadores e vão, sem dúvida, afetar Lisboa. E isso é demonstrado por vários estudos publicados nos últimos anos, a partir do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) até revistas científicas como a Climate Atmospheric Science, que indicam que o mundo científico concorda que o degelo, mais cedo ou mais tarde, vai ter os seus custos.
    Para já, as únicas dúvidas são saber a que velocidade e qual o nível de devastação que estes eventos irão proporcionar, que em tudo dependem das ações de todos nas próximas décadas, e se o conjunto plano no Acordo de Paris é respeitado ou se o aquecimento global aumenta drasticamente.
    Os dados do IPPC de 2019 prevêem um aumento do nível do mar para 43 centímetros para 2100, mesmo se o Acordo de Paris for cumprido, num cenário mais otimista. No pior dos casos, crescerá entre 84 centímetros e 1 metro até esta data.
    Em 2020, um painel de 100 especialistas da Climate Atmospheric Science publicou novas projeções. De acordo com este estudo, os oceanos poderiam aumentar o seu nível de 1,3 metros em 2100 se a superfície da terra aquecer mais 3,5 graus e até cinco metros para o ano de 2300, o que causaria um degelo total dos polos.
    Graças à Climate Central conseguimos fazer uma simulação de vários cenários. Testámos com Lisboa e os resultados, com foco na Praça do Comércio.
    O mar iria “entrar” em várias partes das zonas ribeirinhas da cidade, desde Belém até ao Parque das Nações, mas sem dúvida que as áreas mais problemáticas seriam na margem sul, no Barreiro, na Baixa da Banheira, em Corroios, no Samouco e em praticamente todas as áreas a Norte da Reserva Natural do Estuário do Tejo.
    A Climate Central publicou uma ferramenta que simula a magnitude destes efeitos em diferentes cenários. Vejam como ficaria Lisboa
    May be an image of map

    All reactions:

    Artur Arêde and 2 others

    1 comment
    Like

    Comment
    Share
    Madalena Bessa

    Assustador!
    • Like

  • míssil não foi

    Views: 0

    Nada indica que míssil terra-ar tenha abatido avião de Prigozhin – Pentágono
    Washington, 24 ago 2023 (Lusa) – O Pentágono afirmou hoje que nada indica que um míssil terra-ar tenha abatido o avião que transportava o líder do grupo de mercenários russo Wagner, Yevgueny Prigozhin.
    O avião privado Embraer, pertencente ao grupo Wagner, despenhou-se na quarta-feira a norte de Moscovo, matando as dez pessoas que se encontravam a bordo.
    O exército norte-americano não dispõe “de qualquer informação que indique que um míssil terra-ar” esteve envolvido na queda do avião que presumivelmente vitimou Yevgueny Prigozhin, declarou o porta-voz do Departamento da Defesa norte-americano Pat Ryder, classificando como “inexatas” as informações dando conta da utilização de tal armamento.
    ANC // PDF
    May be an image of aircraft and text

    Morreu Prigozhin.
    Agora só falta o kabronzhin, o nojenthin e o filhdaputin.
  • Moises Lemos Martins

    Views: 0

    Moises Lemos Martins shared a memory.

    O real, todo o real, começa por ser um sonho na cultura, e só depois se torna uma concretização cultural. E é deste modo que é possível imaginar as identidades lusófona e ibero-americana – sonhos em travessias a fazer com a língua portuguesa e a língua espanhola.
    Em 2018, referi algumas das travessias a que estive particularmente ligado:
    – Comunicação e Lusofonia – Para uma Abordagem Crítica da Cultura e dos Média (2007, 2017) https://hdl.handle.net/1822/30019

    See more
    “Os subalternos podem falar?” – Os países lusófonos e o desafio de uma circum-navegação tecnológica
    A globalização é uma realidade de cariz predominantemente económico-financeiro, comandada pelas tecnologias da informação. Para todos os povos, a globalização apresenta-se, hoje, como um destino inexorável, de mobilização para o mercado global, sendo única e definitiva a identidade dos indivíduos de todas as nações, doravante móveis e flexíveis (sem direitos sociais), mobilizáveis (respondendo às necessidades do mercado), competitivos (adotando a lógica da produção) e performantes (realizadores de sucesso).
    Nestas circunstâncias, o espaço transnacional e transcultural dos povos que falam o Português não pode deixar de se confrontar com um desafio estratégico.
    Os países lusófonos encontram-se, hoje, do mesmo lado da barricada, de países dominados, subalternos, e em permanência empurrados para a periferia da globalização hegemónica, um espaço falado numa única língua, o inglês. Por essa razão, a Lusofonia pode ser encarada como uma circum-navegação tecnológica, uma travessia, a ser realizada por todos os povos lusófonos, no sentido do interconhecimento, da cooperação, cultural, científica, social, política e económica, e também de afirmação da diversidade no mundo, uma circum-navegação que abra os confins do desenvolvimento humano.
    A circum-navegação assinala, classicamente, a experiência da travessia de oceanos e a ultrapassagem do limite estabelecido, de mares, terras e conhecimentos. A circum-navegação pode constituir, pois, uma boa metáfora para caracterizar a travessia lusófona a realizar, uma travessia não apenas da cultura da diversidade e do diálogo intercultural, mas também da ciência a produzir em português.
    A circum-navegação tecnológica a empreender far-se-á através de sites, portais, redes sociais, repositórios e arquivos digitais, e ainda, museus virtuais, na convicção de que uma grande língua de culturas e de pensamento, como é a língua portuguesa, não pode deixar de ser, igualmente, uma grande língua de conhecimento científico.
    Foi este o sentido que foi dado à criação do Museu Virtual da Lusofonia, na Universidade do Minho, em 2017: http://www.museuvirtualdalusofonia.com/
    E, de igual modo, à criação da Revista Lusófona de Estudos Culturais, em 2013: http://www.rlec.pt/index.php/rlec
    E a publicações como:
    – A Internacionalização das Comunidades Lusófonas e Ibero-americanas de Ciências Sociais e Humanas – O Caso das Ciências da Comunicação (Húmus, 2017): http://hdl.handle.net/1822/49365
    – Lusofonia e Interculturalidade – Promessa e Travessia (Húmus, 2015):
    – Comunicação e Lusofonia – Para uma abordagem crítica da cultura e dos média no espaço lusófono (Grácio, 2006):
    All reactions:

    You and 8 others

    Like

    Comment
  • Lançada em breve ligação terrestre directa entre Macau e Aeroporto de Hong Kong – PONTO FINAL

    Views: 0

    Vai ser lançado em breve o novo serviço de transporte que liga o posto fronteiriço de Macau da Ponte do Delta até à área restrita de partidas do Aeroporto Internacional de Hong Kong. O serviço vai permitir que os passageiros façam os procedimentos de emissão de cartões de embarque, de check-in ou transferência de bagagem […]

    Source: Lançada em breve ligação terrestre directa entre Macau e Aeroporto de Hong Kong – PONTO FINAL

  • Países da Ásia protestam contra liberação de água radioativa no mar pelo Japão – 24/08/2023 | Diário do Grande ABC

    Views: 0

    Países da Ásia protestam contra liberação de água radioativa no mar pelo Japão

    Source: Países da Ásia protestam contra liberação de água radioativa no mar pelo Japão – 24/08/2023 | Diário do Grande ABC

  • Quake Info: Weak Mag. 2.6 Earthquake – North Atlantic Ocean, 88 km Southeast of Ponta Delgada, Azores, Portugal, on Thursday, Aug 24, 2023 at 8:32 am (GMT +0) – 1 User Experience Report

    Views: 0

    Detailed info, map, data, reports, updates about this earthquake: Weak mag. 2.6 earthquake – North Atlantic Ocean, 88 km southeast of Ponta Delgada, Azores, Portugal, on Thursday, Aug 24, 2023 at 8:32 am (GMT +0) – 1 user experience report

    Source: Quake Info: Weak Mag. 2.6 Earthquake – North Atlantic Ocean, 88 km Southeast of Ponta Delgada, Azores, Portugal, on Thursday, Aug 24, 2023 at 8:32 am (GMT +0) – 1 User Experience Report

  • como era viajar de avião dantes

    Views: 0

    May be an image of 6 people, aircraft and text that says "CAVIAR FRAIS MALOSOL... TRUITE DE RUISSEAU AU CHAMPAGNE COEUR DE FILET PERIGOURDINE... assim se sucedem os deliciosos pratos que Você saboreia bordo de um Boeing 707 da Varig. Escolha, variado menu "diner àla carte", as iguarias que mais agradam, beba seu vinho preferido, peça 0 whisky ou cocktail predileção. Apos jantar, repouse ampla reservou. Quando Vacê calmo tranquilo, Nova váo Brasil 05 confortável mais ápida tódas viagens, 1 BOEING 707 de todos 。 maior e mais veloz NOVAYORKOU BUENOS AIRES ESCAIAS Consulte seU Agente de Viagens VARIG pioneira jato no Brasil"

     

    e verifique aqui as ementas da classe económica nos anos 70

    Ementas

  • josé soares Peixe do meu quintal Manhosa Democracia

    Views: 0

    Peixe do meu quintal

    Manhosa Democracia

    As eleições nos vários territórios ibéricos, sob o domínio secular de Castela e a que se convencionou astutamente chamar Espanha, trouxeram à luz da realidade incómoda para Madrid, toda a hipocrisia envolta num velho manto malcheiroso e mofento, a que os castelhanos teimam em chamar-lhe democracia.

    Já tenho escrito (e muitos outros igualmente o fazem) que a Península Ibérica é uma manta de retalhos. Vários países continuam subjugados pelas forças centralistas de Castela. Portugal foi o único que conseguiu safar-se do jugo castelhano graças às sucessivas intentonas da Catalunha que em 1640 se levantaram para nova tentativa de libertação. Castela teve de enviar, de urgência, o grosso das forças militares estacionadas na ocupação de Portugal. Ficando Lisboa desprovida de defesa castelhana, D. João IV aproveitou a fraca resistência e conseguiu libertar Portugal.

    Hipocritamente, os políticos portugueses não falam muito desta realidade histórica, em troca de um bom relacionamento com Castela. Mas o facto é que muito deveríamos agradecer aos nossos patrícios catalães pela liberdade e independência portuguesa que ainda hoje desfrutamos.

    Mas agora, com as eleições castelhanas em toda a Hispânia e com resultados insuficientes dos grandes partidos políticos para formarem governo de maioria, o partido socialista pensa aliar-se com os independentistas que foram detidos por causa do referendo de 2017 para a independência da Catalunha. O mesmo catalão, Carles Puigdemont, que teve de fugir na bagageira de um carro para não ser preso pelos dirigentes de Madrid, é agora ‘procurado’ pelo partido socialista operário espanhol de Pedro Sánchez para poder obter o número suficiente de deputados e assim formar o próximo governo. Ironia das ironias.

    Claro que Puigdemont exige imunidade jurídica pelos crimes de que é acusado, por ter querido dar a independência à Catalunha, a seguir ao referendo de 2017, realizado à revelia da constituição espanhola e com a brutal perseguição policial ordenada por Madrid durante o ato referendário de 2017.

    A tudo isto o mundo democrático assobiou para o lado, fingindo que nada via.

    Num interessante artigo publicado no “Diário de Notícias” intitulado “O regresso da base das Lages”, pode ler-se, entre outras coisas:

    “Uma nova realidade estratégica (e tecnológica), que envolve EUA, China e Rússia numa disputa pelo controlo do espaço geoestratégico dos Açores e do Atlântico em geral, reacende no pensamento militar norte-americano um debate sobre a importância da Base das Lajes enquanto ativo “essencial”. Depois de um downsizing (2015) que nunca foi bem aceite pelos militares, a base é agora equacionada como principal infraestrutura dos EUA na Europa num horizonte até 2050… A discussão pública à volta da importância da Base das Lajes para os EUA, enquanto potência que domina e quer continuar a dominar o Atlântico, está ativa nos anos mais recentes e com particular incidência na atualidade, por iniciativa de militares norte-americanos e da própria comunicação social militar. A capacidade demonstrada pela Rússia para invadir a Ucrânia e para entrar com submarinos no espaço do Atlântico Norte parece ter despertado o pensamento estratégico norte-americano para a necessidade de precaver os meios, o que leva Hardeman a afirmar que as duas bases até há poucos dias sob o seu comando, além de serem plataformas estratégicas de projeção de poder, tornam possível aos bombardeiros e caças permanecerem fora da área de ameaça russa, mas suficientemente perto para apoiarem a iniciativa de dissuasão europeia e a operação no Médio Oriente. Na prática, esta visão aproxima a Base das Lajes de uma base de ataque, com bombardeiros e caças partindo de uma posição segura e certamente apoiados por reabastecedores. Hardeman avisa que a China continua a expandir-se para a África e para a região do Atlântico, enquanto a Rússia se assume como “uma ameaça desestabilizadora”. Está assim ultrapassado o discurso de desvalorização das capacidades da Rússia e de remissão da China para uma potência regional, admitindo-se que os dois poderes convirjam com os EUA numa disputa estratégica também no Atlântico.”

    Para um bom entendedor, meia palavra basta…

     

     

     

     

    jose.soares@peixedomeuquintal.com