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  • biografia de Fernando Pessoa

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    esteve recentemente em Portugal na RTP no programa do Herman:

    José Paulo Cavalcanti Filho escreveu biografia de Fernando Pessoa onde revela novos heterônimos

    MARCO RODRIGO ALMEIDA
    DE SÃO PAULO

    José Paulo Cavalcanti Filho tinha um objetivo quando iniciou sua biografia de Fernando Pessoa (1888-1935): descobrir quem era o “homem real” por trás do grande poeta português.
    Após oito anos de pesquisa, o autor e advogado pernambucano acabou deparando-se não com um, mas com 127 “Pessoas”.
    É esse o número de heterônimos do poeta catalogado pelo livro “Fernando Pessoa: Uma (quase) Biografia”, que Cavalcanti lançou.
    As múltiplas personas de Pessoa vão muito além de Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos, e superam também o que pensavam os especialistas.
    Cavalcanti cita no livro que, no início dos anos 1990, eram conhecidos 72 heterônimos de Pessoa. O livro acrescentou 55.
    O conceito de heterônimo que adotou é amplo e não se restringe à definição padrão: “nome imaginário que um criador identifica como o autor de suas obras e que apresenta tendências diferentes das desse criador”.
    Inclui todos os nomes, tendo estilo próprio ou não, com os quais o poeta assinou seus textos. A decisão pode ser contestada, mas a intenção de Cavalcanti nunca foi fazer uma biografia convencional.
    As excentricidades já começam pelo subtítulo: “Uma (quase) Autobiografia”.
    O autor refere-se ao trabalho como o “livro que escrevi com meu amigo Pessoa”.
    A “amizade” é das mais antigas. Começou em 1966, quando Cavalcanti leu “Tabacaria”, um dos principais poemas do autor.
    A partir daí, viria a montar umas das principais coleções sobre vida e obra de Pessoa.
    O poeta deixou mais de 30 mil páginas com anotações sobre si mesmo, literatura, família e fatos cotidianos.
    Cavalcanti usou tantos trechos que chega a dizer que seu livro tem “mais frases de Pessoa do que minhas”.
    “Mas não se trata”, explica, “de Pessoa falando sobre si, é a palavra de Pessoa falando sobre ele. Ou melhor: é o que quero dizer, mas por palavras dele”.
    Cavalcanti foi ainda além: para dar unidade estilística ao texto, tentou escrever como Pessoa.
    Reduziu os adjetivos e adotou outro hábito dele: o uso, em média, de três vírgulas antes de um ponto final.

    ilustração: Almada Negreiros
    O escritor Fernando Pessoa, cuja biografia brasileira revela novos heterônimos, em caricatura feita por Almada Negreiros
    O autor Fernando Pessoa, cuja biografia brasileira revela novos heterônimos, em caricatura de Almada Negreiros

    SEM IMAGINAÇÃO
    Durante a pesquisa, Cavalcanti foi até quatro vezes por ano a Portugal. Leu centenas de documentos e entrevistou parentes e pessoas que conviveram com Pessoa.
    Dessas andanças, saiu com a certeza de que o poeta é o autor “menos imaginativo” que existe.
    “Tudo o que escreveu estava realmente à volta dele. Não tinha nada inventado.”
    Como exemplo, cita “Tabacaria”. O poema menciona cinco personagens e Cavalcanti revela que todos realmente existiram e eram próximos do poeta.
    Quando se trata de Pessoa, contudo, nem tudo é claro. “Sabes quem sou eu? Eu não sei”, já advertia o poeta.
    Sobre sua vida sexual ainda paira uma imensa dúvida. Teria sido gay? Cavalcanti acha que sim, embora não existam provas.
    Também não há certeza sobre se teria ou não transado com Ophelia, seu mais conhecido relacionamento (Cavalcanti pensa que não foram além de beijos ardentes e leves toques nos seios).
    Cultivar mistérios, ao que parece, fazia parte do estilo de Pessoa, e isso também Cavalcanti tentou incorporar.
    O poeta tinha por hábito, diz o biógrafo, embaralhar as datas. O heterônimo Alberto Caeiro, por exemplo, morreu em 1915, mas há textos datados de 1930 atribuídos a ele.
    No prefácio do livro, Cavalcanti também colocou uma data futura: 13/6/2011. Dupla homenagem, já que Pessoa nasceu nesse dia, em 1888.


    http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/893968-biografia-brasileira-de-fernando-pessoa-revela-novos-heteronimos.shtml

     
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  • >25 de abril precisa-se (opinião a título pessoal)

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    25 de abril precisa-se (opinião a título pessoal)

     

    Viva o 24 de abril que este sim deveria ser feriado, ainda não se lê nos jornais todos, mas ouve-se nas esquinas das ruas e nas mesas do café. Depois da censura económica, da autocensura e de todas as formas dissimuladas de censura, vão-se fazendo inquéritos, elege-se Salazar como a personalidade do século passado, mandam-se emigrar os jovens, promove-se o cinzentismo salazarista e tentam calar-se as vozes diferentes. Mais ano menos ano acaba-se com o feriado de 25 de abril que nada tem a ver já com o clima que se vive.
    A revolução continua por fazer, a liberdade de expressão corre sérios riscos, agora que as outras liberdades se foram por causa da crise, o respeito pela diferença esbateu-se mais ainda, vamos tornar as massas ainda mais acinzentadas, uniformes e carneirenta por entre saudosismos (dantes era o sebastianismo, agora será o salazarismo salazarento. Por entre uma telenovela, Fátima e futebol o povo nem dá conta de como o levam para novo redil.
    Há 38 anos deram a liberdade a Portugal e hoje no-la tiram. Eu continuarei (quase sozinho) um homem do 25 de abril até que me calem mas somos já muito poucos e menos ainda podem usar a voz. Hoje ainda me deixam escrever isto mas por quanto tempo mais?
    Há seis anos publiquei no ChrónicAçores umas linhas em que prevenia e previa este status quo:
    Sem questionar o feminismo ou outros ismos: antisionismo, antialentejanismo, antilourismo (das loiras) todas as piadas são objecionáveis por se basearem em estereótipos da sociedade, sejam eles humanos, animais ou até mesmo políticos, que não são uma nem outra coisa. Assim, depois de todas as pessoas defensoras desses “ismos” terem colocado as suas objeções porque são a favor do Obama ou do Bush, ou do Sócrates, porque se baseiam em estereótipos de mulher, de louras e louros, de alentejanos, de políticos e políticas (mas destas ainda há poucas), de judeus (e outras religiões como o cristianismo ou islamismo por ex.), de nacionalidades ou continentes de origem como com os africanos, os pobres, os ricos, os estudantes e os professores, os animais (mesmo aqueles que estão nas malas dos carros junto com a esposa ou esposo), verão o que fica: NADA. Acaba-se o humor.
    Ao reproduzir, a seguir, Maiakovski e Brecht, pretendo alertar que me sinto muito mais incomodado com a violência, gratuita ou não, com as imagens cheias de “innuendo” (insinuações) da TV, desde os telejornais às séries, pois essas são as armas de estupidificação globalizante que a todos corroem.
    O humor, usa a linguagem dos estereótipos que hão de ser substituídos com o tempo assim como a frase bota-de-elástico foi substituída por “cota”. Desde a década de 1980 vira surgir a censura dissimulada em fundamentos razoáveis e aceitáveis, pretendendo sanitizar as mentes. Já o vira na Austrália quando o politicamente correto foi introduzido na linguagem em meados daquela década. Como tradutor profissional tivera de o seguir mas como ser humano, inteligente (no sentido de pensante) recusava-o tanto hoje como ontem. Com o politicamente correto acabava-se o humor. Esse o cerne da questão que ninguém queria ver. Deve lutar-se contra a discriminação, em todas as suas formas, contra o assédio sexual, político e outros, lute-se contras as proposta novas normas europeias, lute-se contra o salário mínimo de miséria e de exploração (reminiscente do início da Revolução Industrial), contra as quotas ou falta delas nos elencos femininos do governo, contra a falta de acesso a pessoas com deficiências de qualquer tipo. Lute-se contra isso tudo mas deixem o humor de lado, a menos que seja difamatório (mas sem ser pelas normas norte-americanas), grosseiro, imoral, amoral. Quando se definira politicamente incorreto, é porque o politicamente correto é a forma mais fascista de sanitizar a língua, o pensamento e a vida em geral, criando uma sociedade assética e inócua. Todos iguais e cinzentos de acordo com a norma. Ninguém precisa de pensar nisto pois o futuro provará a sua veracidade melhor do que o Orwell alguma vez podia prever no 1984 ou outros ensaios semelhantes: a realidade já ultrapassou a ficção há muito.
    Quem primeiro o antecipou foi Maiakovski – poeta russo “suicidado” após a revolução de Lenine que escreveu ainda no início do século XX:
    Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu.
    Como não sou judeu, não me incomodei.
    No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista.
    Como não sou comunista, não me incomodei .
    No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico.
    Como não sou católico, não me incomodei.
    No quarto dia, vieram e me levaram;
    já não havia mais ninguém para reclamar…”
    Martin Niemöller, 1933 , símbolo da resistência aos nazistas.
    Parodiando o pastor protestante Martin Niemöller, símbolo da resistência nazi:
    “Primeiro eles roubaram nos sinais, mas não fui eu a vítima,
    Depois incendiaram os ônibus, mas eu não estava neles;
    Depois fecharam ruas, onde não moro;
    Fecharam então o portão da favela, que não habito;
    Em seguida arrastaram até a morte uma criança,
    que não era meu filho…”
    Cláudio Humberto, 09 Fev. 2007
    Primeiro levaram os negros
    Mas não me importei com isso
    Eu não era negro
    Em seguida levaram alguns operários
    Mas não me importei com isso
    Eu também não era operário
    Depois prenderam os miseráveis
    Mas não me importei com isso
    Porque eu não sou miserável
    Depois agarraram uns desempregados
    Mas como tenho meu emprego
    Também não me importei
    Agora estão me levando
    Mas já é tarde.
    Como eu não me importei com ninguém
    Ninguém se importa comigo.
    É PRECISO AGIR
    Bertold Brecht (1898-1956)
    Um passeio com Maiakovski
    Na primeira noite
    eles se aproximam
    e colhem uma flor
    de nosso jardim.
    E não dizemos nada.
    Na segunda noite,
    já não se escondem :
    pisam as flores,
    matam nosso cão,
    e não dizemos nada.
    Até que um dia,
    o mais frágil deles,
    entra sozinho em nossa casa,
    rouba-nos a lua, e,
    conhecendo nosso medo,
    arranca-nos a voz
    da garganta.
    E porque não dissemos nada,
    já não podemos dizer nada.
    Tudo que os outros disseram fizeram-no depois de ler Maiakovski.
    Incrível é que após mais de cem anos dessa lição, ainda nos encontremos tão desamparados, inermes e submetidos aos caprichos da ruína moral dos poderes governantes, que vampirizam o erário, aniquilam as instituições, e deixam aos cidadãos os ossos roídos e o direito ao silêncio: porque a palavra, há muito se tornou inútil! Agora, o politicamente correto ameaça o humor.
    ——-
    A crise fará o resto e aí – sim – estarei definitivamente calado se não morrer antes. Só tivemos 38 anos de liberdade comparados com 48 de ditadura obscurantista mas pouco temos a celebrar neste ano de 2012 em que nos querem fazer recuar aos anos 50 ou 60 do século passado, a História em marcha à ré. Este ano vou gritar que o 25 de abril devolveu um direito fundamental: o direito à livre expressão e esse é o último que ainda posso celebrar nesta data. Chrys

     

  • Eduardo Mayone Dias CARTA DA CALIFÓRNIA,- A língua portuguesa ontem e hoje

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    CARTA DA CALIFÓRNIA, Eduardo Mayone Dias

     


    1. Das origens à Idade Média

    Pouquíssimo se sabe das mais remotas origens da língua portuguesa, os
    falares da Península Ibérica pré-romana. É contudo de supor que em franjas litorais e em planícies separadas por altas serranias se tenham desenvolvido diferentes enclaves linguísticos que com o rolar dos séculos hajam originado os grupos galego/asturiano/português, basco/ navarro, castelhano/extremenho/andaluz e aragonês/catalão/ valenciano.
    Esta é a pré-história do Português. A proto-história tem início com a invasão romana, durante a qual o latim foi imposto em todos os atos públicos, que podiam ir da administração até simples transações comerciais, e afogou os regionalismos linguísticos.
    Desde os nossos primeiros anos de escola aprendemos que os legionários e colonos, gente do povo, aliás nem todos romanos, não falavam o latim clássico mas sim o vulgar, que pouco a pouco se foi mesclando com as variantes locais, dando assim origem às quatro línguas românicas hoje oficiais na Península, galego, português, castelhano e catalão.
    Durante o período romano, cerca de seis séculos, (1) o latim ia evoluindo e novas formas verbais foram criadas. Para dar um prosaico exemplo, as
    primeiras vagas colonizadoras usaram o termo “scopa”, que resultou “escombra” em catalão e ‘escoba’ em castelhano. Quando as últimas levas chegaram à costa oeste traziam um mais moderno vocábulo, “basaura”, que deu “vasoira” em galego e “vassoura” em português.
    As inovações introduzidas pelos romanos implicaram naturalmente inumeráveis termos, referentes a todas as formas de vida. Assim, por exemplo, ao serem criados novos procedimentos agrícolas, surgiram nomes de utensílios que deram em português charrua, arado, enxada, sacho ou machado. Também do grupo celta, possivelmente através de uma tardia latinização, vieram vocábulos como cerveja, camisa, carro, lousa e sabão. Como bem se sabe, depois de se haver corporizado a língua portuguesa, o latim persistiu ou foi revivido em expressões eruditas de variados campos do saber. Deste modo, por exemplo, na terminologia académica regista-se o doutoramento “honoris causa”, na diplomática a expressão “persona grata”, (2) na
    jurídica “habeas corpus”,(3) na eclesiástica “urbi et orbi”, na lógica “quod
    erat demonstrandum”, na estilística “ipsis verbis” e muitíssimo mais.
    Entre aproximadamente os anos 406 e 411 da era de Cristo várias tribos germânicas, entre as quais se destacaram os visigodos, invadiram a Península e derrubaram o poderio romano.
    Havendo-se convertido ao cristianismo e adotado muito do estilo de vida romano, pelo ano de 476 os visigodos constituíam já uma aristocracia guerreira que iria dominar a Península por cerca de três séculos.
    A ela se devem numerosas contribuições ao falar hispânico em especial relativas à arte militar (o próprio termo “guerra” é uma delas) ou à equitação, que acabaram por dar à língua portuguesa formas como baluarte, elmo, escaramuça, guarda, trégua, brandir, esgrima, dardo, flecha, espora, arreio ou galopar. Outras formas são sala, burgo, agasalho, ufano e ganso. Entre nomes próprios de origem germânica contam-se Alberto, Rodrigo, Humberto, Rogério, Fernando, Afonso, Gonçalo, Álvaro, Elvira, Berta, Ermelinda e Gertrudes.
    Chegado o ano 711 uma nova era se abriu para a história peninsular e para o evoluir do idioma português. Foi pois nesse ano que hostes mouras, lideradas por árabes, cruzaram o Estreito de Gibraltar e numa guerra-relâmpago ocuparam toda a Península Ibérica, com exceção de um pequeno reduto nas montanhas das Astúrias.
    De aí, uns dez anos depois de 711 (desconhece-se a data exata), no seguimento da batalha de Covadonga, os cristãos lançam o movimento da Reconquista que, ao impelir os invasores para o sul, deu origem a vários reinos, entre eles o de Portugal.
    Dotados de uma avançada cultura, os muçulmanos introduziram novas técnicas em quase todas as áreas do conhecimento humano e com elas um fértil léxico que sobreviveu até hoje com cerca de 200 termos em português.
    Na sua maioria os neologismos foram adotados juntamente com o artigo
    definido “al” (al caid> alcaide) ou a sua condensação num simples “a” (a
    ris>arroz).
    Os árabes trouxeram produtos agrícolas, cujas designações se mantiveram na fala dos seus súbditos cristãos: alface, algodão, alfazema, amêndoa, alfarroba, alfafa, alcachofra, açúcar, haxixe, azeitona, açafrão e outros.
    Do aperfeiçoamento dos cultivos e do processamento das colheitas ficaram nora (com a sua roda de alcatruzes, ainda usada no século XX em Portugal) açude (represa), atafona (moinho de vento) ou azenha (moinho de água).
    Medidas de peso, superfície ou volume, por muito tempo empregadas, foram a arroba (cerca de quinze quilos), o alqueire (cerca de 25 metros quadrados), o arrátel (um pouco menos de meio quilo) e o almude (cerca de seis litros e meio). Quando se introduziu o sistema numérico hoje usado, em substituição do romano, divulgou-se o conceito de zero e a respetiva designação.
    Para uso doméstico havia almofadas, alcofas, alcatifas, garrafas, almofarizes, alambiques, alguidares e alfinetes. (4)
    Quanto à culinária temos o azeite, a açorda, o escabeche e as almôndegas.
    Ainda há umas décadas existiam no Algarve, (5) região portuguesa de mais
    longa permanência árabe, numerosas casas encimadas por “açoteias”, terraços onde se secavam frutos. E evidentemente, o interior podia ser decorado com “azulejos”.
    Com o desenvolvimento de novas ou antigas técnicas especializaram-se
    profissões e ocupações tais como alfaiate, arrais, alvanel (pedreiro), almoxarife (gerente de armazém), alcaide (governador militar e civil de um castelo e povoação adjacente), alfageme (fabricante de armas) e alcoviteira (intermediária paga de relações sexuais ilícitas).
    A presença muçulmana na Península teve o ser termo no ano de 1242 em
    Portugal com a tomada de Silves e a queda do Reino do Algarve e no de 1492 em Espanha, ao ser submetido o Reino de Granada.

    NOTAS
    (1) A ocupação militar da Península Ibérica durou de 218 AC até 17 AC. Uma vez radicado, o domínio romano manteve-se até a primeira década do Século V.
    (2) É bem sabido que um enviado diplomático estrangeiro tem de obter essa classificação antes de apresentar as suas credenciais ao Presidente da República portuguesa. Um caso jocoso ocorreu durante o período do Estado Novo. Um diplomata latino-americano, designado pelo seu Governo como embaixador em Lisboa, foi considerado pelas autoridades portuguesas “persona non grata”. As suas qualificações eram impecáveis mas atraiçoaram-no os seus apelidos, Porras y Porras.
    (3) Nas fachadas de muitos tribunais portugueses pode-se ler “DOMUS IUSTITIAE”, casa da justiça. Por outro lado o histórico edifício da Câmara Municipal de Bragança é conhecido como Domus Municipalis.
    (4) Então significando palitos para os dentes.
    (5) Algarve (al Gharb) significa “o Oeste”.
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  • OLIVENÇA A HERANÇA PERDIDA DE PORTUGAL

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    Falam de Olivença, mas poderia-se mudar o local â Galiza, ou qualquer local do mundo submetido e ocupado e onde os ocupantes tem o direito de imporem a sua língua e cultura, e a isso chama-lhe sempre liberdade de escolha


    UMA ENTREVISTA EM “HOY”  COM NOTAS A FINAL DE CARLOS LUNA
    Recebido de Carlos Luna presidente do GAO

    «EN OLIVENZA NO HUBO GUERRA DE LAS NARANJAS, NO LLEGÓ A DISPARARSE UN TIRO»”Entrevista en HOY a Servando Rodríguez; Responsable de la oficina de Turismo de Olivenza»
    «Mis padres, entre ellos, solo hablaban portugués en casa. Mi madre me riñó en Portugués hasta que se murió»
    «Los portugueses hacen turismo nostálgico. Vienen a ver algo que era suyo y perdieran. No se organizan, no llaman a Turismo»

    Nace en San Jorge de Alor, una de las cinco aldeas “portuguesas” de Olivenza. Las otras cuatro son Táliga, que ya es município, Villarreal, que no era de Olivenza, sino de Juromenha hasta 1801, San Benito y Santo Domingo. En San Jorge hay 500 habitantes. Llegó a tener más de mil.


    Hoy-A Qué se dedicaban sus padres?
    Servando -Mi padre trabajaba en el campo hasta que por los años 60 se fue a Suiza y luego estuvo 15 años en Alemania. Fui hijo de emigrante. Mi padre venía en Navidad a coger la aceituna de los olivares que había ido comprando con los ahorros. Era como los Reyes Magos: venía de Alemania y venía en Navidad. Traía regalos que por aquí no había. Mi madre y mis
    dos hermanas se quedaron solitas porque yo me fui a estudiar a un seminario de hermanos maristas en las cercanías de Madrid. Mi padre me recogía en Madrid y llegábamos los dos hombres de la casa en vacaciones.

    Hoy-Como llega a ese seminario?
    Servando-Venia un hermano reclutador, el hermano Ladislao, la persona más buena del mundo. Llegó un día a la aldea con su sotana en un Seat 600 alquilado. Se acercó a la escuela y nos contó cómo era aquello. Me pareció una aventura muy bonita y le dije que sí desde el primero
    momento. Mis padres me apot«yaran y me fui. Alli estudié hasta 3.º de Bachillerato y ya me vine aquí, donde acabé el Bachillerato. Estudié portugués en la Escuela de Idiomas de Madrid.

    Hoy-Que presencia tenía el Portugués en su vida durante la infancia?
    Servando-Todo. Mis padres, entre ellos, solo hablaban en Portugués en casa. Mi madre a mi siempre me riñó en Portugués hasta hace año y pico que se murió. Sin embargo, a quienes nacemos a finales de los 50, princípios de los 60, ya se dirigen a nosotros en español, cosa que no pasaba con sus padres. Mi madre con mi abuelo solo hablaba en portugués. Los únicos que hablábamos solo en castellano éramos los niños. De tal manera que una vez pasó por el pueblo una família portuguesa con un niño. Nos dimos cuenta de que el niño hablaba portugués y fuimos todos detrás de aquel niño porque en nuestra cabeza no cabia que un niño hablara aquella lengua que era de los mayores, no la de los niños.
    Hoy-Habia más presencia de lo Portugués en la vida cotidiana?
    Servando-El idioma era la mayor presencia que habia porque nadie se sentía portugués. Ellos hablaban de lo portugués con ese cierto tono despectivo que se empleaba en el resto de Extremadura. Ellos ya eran españoles y mis abuelos, también. En lo demás era todo Extremadura: la comida, los costumbres.

    Hoy-Que situación turística se encuentra cuando llega a la oficina en 1993?
    Servando-El turista que venía por aqui era de Extremadura, de Portugal, y, según la época del año, de Madrid o de Andalucia. Habría que llamarlo excursionista más que turista. Olivenza recibe muchos grupos de autobús: escolares y mayores, gente que prácticamente no se queda a comer, no gasta demasiado. El turista eds lo que viene con la feria del toro: viene la família, se quedan a comer y a dormir, vienen unos días antes. Ahora sigue habiendo más excursionistas, pero se va notando un cambio. A finales de los 90, el turismo empieza a crecer mucho. Olivenza tenia cerca de 60000 visitantes anuales. Hace un par de años empezó a bajar. Este año se
    ha recuperado, pero tenemos mucho campo por hacer. La crísis quizás nos beneficie al turismo de interior.

    Hoy-Los portugueses como vienen a Olivenza, con que actitud?
    Servando- Ellos no vienen aquí como turistas, sino a ver una cosa que es suya y que la perdieran. No se organizan, no llaman a la oficina de turismo para saber los horarios. Vienen a ver los escudos de Portugal, es un turismo nostálgico.

    Hoy-Como se explica la história de Olivenza en Portugal?
    Servando-Ellos se quejan de que ahora los maestros no se preocupan de explicar la história de Olivenza a los niños, pero a los mayores si se la explicaron. Como necesitan demostrar que Olivenza es portuguesa, retuercen los argumentos y empiezan los origenes de Olivenza falsamente como portugueses. Que después se pierde y se recupera y se fijan en la parte
    final, cuando con la Guerra de las Naranjas se produce una ocupación ilegal.

    Hoy-Y como se explica usted a los portugueses que visitan Olivenza?
    Servando-Nosotros la explicamos de otra manera. La parte final es más complicada, pero claro, en 1801 existe el derechpo de conquista, que visto desde el punto de vista de hoy no tiene sentido. Yo empiezo contándoles que la primera vez que aparece Olivenza es en un documento de 1257 que se conserva en el archivo de la Catedral de Badajoz. En él, el reciente obispado dice cuales son los límites de la diócesis, dentro de los cuales deben enterrarse sus fieles y el documento dice del lado de acá del río Olivenza. Luego aparece en un pleito que surge entre Alconchel y Badajoz. Cuando en 1230 el rey Alfonso IX toma Badajoz y sigue camino de Sevilla,
    para consolidar estas posiciones, entrega el castillo de Alconchel a la orden templaria, que puebla en la zona de Olivenza. desde Badajoz se quejan al rey que los templarios han repoblado en tierras que no eran de ellos, sino de Badajoz. En eses documento aparece Olivenza. Los templarios están aqui 28 años hasta que el rey da la razón a Badajoz y se tienen que ir.
    De todo esto, los portugueses no hablan nada, aunque los documentos están ahí(1).

    Hoy-.El cambio de nacionalidad, cuando Olivenza pasa a ser española en 1801?
    Servando-La moderna historiografía portuguesa está empezando a considerar la Guerra de las Naranjas como la primera invasión francesa. Antes contaban tres invasiones y ahora cuentan cuatro. Carlos IV les declara la guerra formalmente. Además se la declara a su hija porque la reina consorte de Portugal es su hija. Es una guerra rapidísima porque la diferencia de fuerzas es muy grande. En Olivenza en realidad no hubo guerra. Simplemente se cercó la plaza, se le dijo al gobernador que si se rendia.

    Hoy-Entonces se rinde sin resistencia?
    Servando- El gobernador de Olivenza entrega la plaza sin pegar un tiro porque si se resiste, las consequencias para la población hubieran sido muy graves. De hecho lo condenaran a muerte en Portugal pero le conmutaron  a pena. Juromenha también se entregó sin resisténcia. En Olivenza no hubo Guerra de las Naranjas. No llegó a dispararse ni un tiro. Los portugueses consideran que España entra con Francia a tomar Portugal (2). El tratado de Viena es consecuencia de la caída de Napoleón. A eses tratado, Portugal manda un buen embajador a defender sus intereses: el Duque de Palmela. El conde de la Torre, que creo que era extremeño, va por parte española. Lo primero que hacen los portugueses es reivindicar Olivenza y meten el artículo 105, donde se reconocen los derechos de los portugueses y se estipula que los españoles y los portugueses deben reunirse para que se devuelva. Los portugueses dicen que ahí se dice
    claramente que se devuelva y los españoles argumentan que solo se dice que se reúnan para ponerse de acuerdo. España no fiorma el Tratado en erse momento, sino tres o cuatro años después. El embajador español no se opuso mucho a esto. Por esa época, desde Brasil se toma el territorio de las Siete Misiones, el actual Uruguay, y desde España se dice que si no
    devuelven esos territorios, no pueden reivindicar Olivenza(3).

    Hoy-En este contexto, qué le parece la comemoración de la Guerra de las Naranjas?
    Servando-Los portugueses aprovechan cualquier cosa. Ellos reivindican Olivenza, aunque su gobierno no lo haga de manera acdtiva, y cualquier cosa les da alas. Había una buena intención en Olivenza desde el pinto de vista del turismo porque esta corporación municipal e4stá muy interesada en desarrollar el turismo. Olivenza podría tener una fiesta que atriga gente, además de la de los toros. Por eso se pensó en este espectáculo. Aquí la Guerra de las Naranjas no tuvo conflicto ninguno. Se haq intentado cambiar y que la representación tenga que ver con la historia de Olivenza y a mi me parece bien porque así, la gente de aquí y del resto de Extremadura conocerá mejos la historia, como transcurre desde el siglo XIII hasta ahora. Estoy de acuerdo en que se haga algo así, que atraiga el turismo.

    Hoy-Que opina de nuevas asociaciones que han surgido para el fomento de las relaciones con Portugal como es el caso de Além Guadiana?
    Servando-A mi me han invitado a pertenecer a ella, pero me sentiria un poco raro si hubiera pertenecido a esa asociación porque he notado cierto acompañamiento de grupos portugueses, aunque la asociación no tiene culpa, pero podrían instrumentalizarla. Otra cosa que no entiendo de esa asociación es que si por el 85 empezaron los Encuentros de Ayuda, si tenemos unos fondos portugueses en la biblioteca que no los tienen ni las universidades portugueseas, sin embargo parece como si esta asociación ignorara todo el anterior, como si empezaran de cero. Lo entiendo porque la mayor parte de sus miembros son gente nueva, que ha dejado de lado todo lo que se había hecho antes, que se podría haber aprovechado.

    Hoy-El Grupo de Amigos de Olivenza?
    Servando-Nace en Lisboa (4). Salazar no les reconoce y no pueden funcionar  como asociación hasta que no llega la democracia. Se creó otro grupo en Estremoz y acabaron absorbidos por el de Lisboa. Presionan continuamente a las autoridades portuguesas para que no se olviden del tema. Pero estas autoridades saben que no hay vuelta de hoja con la cuestión. Cuando ha habido cumbres hispano-portuguesas y han aparecido estes grupos a meter baza, los mantienen a un kilómetro de la sede de la cumbre. Tienen unas anteojeras, confunden el deseo con la realidad (5). En el siglo XIX, quizás, pero hoy es imposible que ningún vecino de Olivenza diga que
    quiere ser portugués, Otra cosa es que se intente que los oliventinos conozcan sus raíces.
    Eso sí es interesante (6). (FIM)
    _____________
    Notas pessoais engadidas por Carlos Luna- sobre erros e tergiversações na entrevista:

    (1) Já se sabe que Olivença foi conquistada em 1230 por Templários leoneses, mas isso não era Espanha de hoje nem o seu antecedente). Mas… era uma aldeia. Por outro lado, terras como Ayamonte e San Lúcar foram conquistadas pelos portugueses, bem como Aroche e Aracena. Em
    1297, o Tratado de Alcañices definiu Olivença como portuguesa, e esses outros territórios como de Castela.  Nas trocas de então, foram deslocadas populações. Olivença só se tornou importante sob domínio português, recebendo foral em 1298 e incentivos para o povoamento. Até 1801, fez parte de Portugal, e muitos dos seus filhos contribuíram para a História lusa. O entrevistado, que sabe disto, “pula” logo para 1801, desprezando 604 anos de história. Será isto ser imparcial?

    (2)Não por acaso, o Tratado de Badajoz de 1801 só seria considerado válido se TAMBÉM se assinasse um tratado de paz com a França….

    (3) Várias coisas são omitidas aqui. Por exemplo, em 1811, o Município Oliventino pediu a reitegração em Portugal, coisa que espanhóis e ingleses não permitiram. Por outro lado, em 1814, em Paris, ficou acordado que todos os tratados assinados debaixo da influência da França
    Napoleónica (incluindo o expressamente o  citado Tratado de Badajoz de 1801) seriam considerados nulos. Espanha assina o artigo 105 sem pôr quaisquer reservas, em 1817, o que invalida a Questão do Uruguay. Aliás, em termos de Direito Internacional, a ocupação de um território não pode justificar a ocupação de um terceiro… e isto desde o século XVIII. Finalmente, a diplomacia portuguesa aceita sair do Uruguay logo que cheguem tropas espanholas. Em 1820, as tropas que se preparavam para sair de Espanha com esse destino resolvem fazer a Primeira Revolução Liberal em Espanha. Porque a situação tornou inviável o envio dessssas tropas em 1820. 1831, 1822, 1823, tanto mais que em 1822 o Brasil se declarou independente (reconhecido em 1825) e o Uruguay seguiu o mesmo caminho em 1828 (reconhecido como tal por Espanha em 1835), Portugal considerou que não fora possível, e por culpa de Madrid, a “transação” Olivença-Uruguay, pelo que o acordo de 1815 continuava a estar em vigor!

    (4)fundado por um oliventino, Ventura Ledesma Abrantes.

    (5) Servendo esquece-se das reivindicações espanholas sobre Gibraltar (desde 1704) e argentinas sobre as Malvinas /(desde 1833). Parece que, neste caso, não se trata de “anteojeras”, mas sim atos determinados!!

    (6)Em resumo, desde que uma ocupação ilegal se prolongue durante 200 anos, se escondam a História, as raízes (daí a necessidade que o entrevistado vê em que os oliventinos conheçam as suas raízes; quem os levou a esquecer?), se combata o uso da língua “nativa”, se promovam
    deslocações de população (caso dos funcionários públicos…), tudo se torna LEGAL. Pena que a Espanha não aplique o mesmo princípio a Gibraltar, onde 99,9 % da população votou CONTRA a união a Espanha…
    __,_._,___
  • DANIEL FELIPE um poema de amor e da resistência

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    hoje dia mundial da poesia:Para este dia um poema de amor e da resistência:

    em anexo as minhas 3 versões de homenagem a este poeta e poema que me marcaram desde há mais 40 anos...Chrys Chrystello
    

    1.     e.37. tantos os sonhos (a soeiro pereira gomes) mar 16, 1973

    tantos os sonhos
                                 nunca demarcados
    meu irmão de todo o tempo
                                                     insubmisso
    perseguidos
                         por uma mancheia de quimeras
    engalanámos as palavras
                                               falaciosas ambições
    imensos campos
                                 por habitar
    lezírias de lentas mortes
                                              estioladas
    gretava o verão
                                severos carões
    ninguém cuidara
                                os linótipos esmaeciam
    aquosos gradeamentos
                                            da saudade
    – era então o tempo –
    fortunas dissipadas
                                     amargor de mil cansaços
                                     prematura senilidade
    febril catarro
                         escrava luta
    cifras
            tabelas
                      gráficos
    mecanizado o homem
                                          engrenagem-sem-nome
    impiedosa e febril cadeia
                                              gangrenosos ossos
    no silêncio chantagista
                                            se diluía a sobrevivência
    vasta paisagem
                             por entre o adobe
    paredes
                quatro
                           desfraldadas
    vogando ao vento
                                     do desprezo motorizado das sanguessugas
    PERFEITA SÚCIA/DADE
                                           
    irrefreado progresso
                                       civilização do abandono
    deserda-se a agricultura
    cria-se ferro
                        cimento
                         fome
    tímida e simples
                                a voz do povo
                                                        (que ainda resta)
    recusa a caridade
                                  das piranhas
    secretas as greves
                                   corrompem a opressão
    selvagens se abatem
                                       esbirros e lacaios
    (ah! como é bom ser-se proletário
                                                               no feudo do patrão)
    tu – meu irmão
    não assististe
                         ao mito no apogeu
    de nascença condenado
                                            o sentenciavas
    tuas mãos eram a dor
                                         sempre retardada
    escreviam a agonia lenta
                                              dos que calam
    exultante vitória dos que não consentem
    militantes modelos
                                     de rebeldes se venderam
    falsos heróis
                        covardes de merda
    felizes os traidores
                                     pelo pão nunca trincado
                                     pela carne inviolada e casta
                                     pela fome mitigada
    riquezas imensas
                                 saldo de lassos músculos
    quem as ergueu?
    imolados os corpos
                                     sem palavras nem gestas
    abatem-se de luto aldeias
    paga-se da fome
                                 a vida
    a salto se emigra
                                a preço de morte
    – decide-te irmão –
    volte a nós quem a nós pertence
    connosco reagirás
                                  à opulência de discursos em família
    – obsoletas conversas que não asfixiam –
    repudiamos toda a antropofagia
                                                          que nos hipoteca
    não os executemos
    também eles sentirão
                                         um só dia que seja
                                        um só instante
    o vão esforço do suor grátis
    nesse dia
                   urgente e único
    inexorável
                    o grito
                                então comunitário
                                então revolucionário
                                                                   PRESENTE!
    para que não morram por desprazer
    pelas dores insofridas
    pelo sangue ulcerado nunca cuspido
    pelas mãos imaculadas sempre assassinas
    revolver-se-ão aposentados donos
                                                                deste feudo saqueado
    dançaremos o cântico final
                                                   apoteose de labaredas
                                                                                           vossos corpos defuntos
    serão nossos o chão
                                      a pátria liberta
                                      a vocação insubmissa
    ninguém nos apode de vingativos
    honraremos
                         das memórias a vossa
    adubaremos das cinzas vossas
                                                       o pão
    algo renasce das ruínas vossas
                                                        a esperança
    – quem nos confortará
                                          nesse instante ingente? –


    ******

    2.  474. poesia revisitada ( de novo a ti, daniel filipe) 16 mai 1976

    ALERTA!  a imaginação tomou de assalto o poder!
    hoje
           virão talvez crianças
                                              descendo as sagradas ruas das máquinas
                                              acampando nas avenidas da liberdade
                                                                                                               por inventar
                                              dando-nos as mãos
                                                                                 os sorrisos
                                                                                                     os sonhos
    hoje
           nas campas rasas
                                         estarão heróis que nunca foram
    perguntarão
            quando somos ouvidos?
    (a nossa carne encheu canhões
                                                        no-la recusam agora?)
    os mendigos
                         desempregados                      
      reformados
                                                                         deficientes das guerras todas
    as pegas
                  messalinas
            prostitutas
                               meretrizes
             chulos
                                                           traficantes de ilusões
    os ladrões
                     criminosos
    e demais gente ordinária e vulgar
    anunciam manifs reivindicativas
           “a greve será total! – dizem”)                                    
    enquanto isso
                            partidos
                                          militares                              
                                sindicatos
    demais desorganizações de massa
                                                            exigem
    do governo
                       a ordem
                                     a força
             a autoridade
    das armas
                     a repressão
                o estado-de-sitio
    a censura
                    até mesmo a pena de morte
    por toda a parte
    solidária é a luta dos oprimidos
           – clama o poeta!
    única é a voz dos marginais
                – escreve o louco sensato
                                                      nas paredes sem grades
                                                                                           desta prisão
    (aqui e além leves escaramuças populares
    não há baixas dignas de registo
                                                         – asseveram fontes oficiais
                                                           geralmente desinformadas)
    a sociedade é um flagelo social do indivíduo
    libertemo-nos da grande ameaça
             – denunciam os dissidentes
    a situação é calma
                                    assegurado o controlo total do país
    militares, militarizados e milícias
                                                           em prevenção rigorosa
    algures à mesma hora
                                          num público jardim
                                                                           um casal de amantes
    felizes
              desocupados
                                     despolitizados
                                                             fazem amor
                                                                               despreocupado
    sem caráter de urgência
    confundidos por vulgares agitadores da ordem
    foram chacinados ao despontar o amanhã
    (felizmente havia luar!
                 comentou lacónico o primeiro-ministro
                  muito dado a lucubrações intelectuais).
    *****

    3. 524 reinvenção do amor , revisitando daniel filipe, 18 outubro 2011

    o pássaro descreve o seu voo
    na sinusoide deste tempo
    a voz e a palavra são campos floridos
    evocam verdes infâncias
    é preciso inventar o amor
    com caráter de urgência
    dizia Daniel Felipe
    mas são precisos homens e mulheres
    dispostos a amar
    capazes de ouvir e perdoar
    os sentimentos podem esfriar
    mas não se gastam
    nem devem ser mudados
    com a  frequência das camisas
    não são fraldas descartáveis
    precisam de ser regados
    com a humidade das neblinas
    e o orvalho das lágrimas
    neste deserto com vozes
    a felicidade é um mito
    o mundo é um inferno
    a paixão uma utopia
    e tu acreditas, meu amor?
    andam
    – de novo –
          pássaros à solta nos jardins de Eros.

  • MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA

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    quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

    O SUCESSO DO IDIOMA

    Após cinco anos de vida e já tendo recebido mais de dois milhões e quinhentas mil visitas, o Museu da Língua Portuguesa é considerada uma instituição de referência no Brasil e no Exterior.
    Existe algum motivo especial para tanto sucesso? Existe algum fator preponderante para que um museu tão jovem já tenha se firmado como instituição respeitável e referencial?
    Como Diretor do Museu da Língua Portuguesa, desde sua inauguração, eu tenho certeza que a resposta para as duas questões acima propostas só pode ser uma resposta afirmativa.
    Em assim sendo, qual o motivo de tanto sucesso e qual o fator a firmar o museu como instituição respeitável e de referência? A resposta para as duas perguntas é uma só… nossa língua portuguesa!
    A ideia de se criar um museu que tem por acervo um idioma é uma ideia genial e extremamente original. Falo com tranqüilidade, porque não participei da equipe de conceitualização e criação do museu.
    Lembrando sempre que a língua, no caso a nossa portuguesa, é um patrimônio imaterial, talvez a língua venha mesmo a ser o mais imaterial dos patrimônios imateriais, pois a mesma não está no texto escrito, a língua não está nos livros de gramática, não está na ortografia, a língua não está na literatura ou na poesia. A língua está em todos estes sítios sim, mas está, verdadeiramente, na “cabeça” e no universo imaginário de cada um daqueles que a usa como ferramenta principal de comunicação.
    Logo, o Museu da Língua Portuguesa é o museu da imaterialidade por excelência, mas de uma imaterialidade que circunda e reveste todos nós que usamos este belo idioma, é o museu da imaterialidade que está presente no nosso dia a dia e até nos nossos sonhos. Creio que isto já explica o sucesso do museu, pois tendo a língua como acervo, o museu faz com que todos os visitantes se sintam especialistas e grandes entendedores dos conteúdos apresentados em suas exposições.
    Devo aqui fazer uma pausa e celebrar a equipe de criação desta instituição, que contou com a participação de mais de 40 profissionais sensíveis e renomados de diversas áreas (linguistas, sociólogos, arquitetos, historiadores, museólogos,professores e artistas).
    Ao longo destes cinco anos, toda a minha equipe do museu foi aprendendo a lidar com as possibilidades oferecidas por um acervo imaterial e novas abordagens dos conteúdos apresentados foram ganhando força. Partindo do princípio que a língua portuguesa é o elo primeiro da identidade cultural dos brasileiros, o museu contém um grande painel da rica diversidade cultural do Brasil, logo, é um espaço identitário para todos nós nascidos neste grande país.
    Logo, plena é minha certeza ao afirmar que o motivo de tanto sucesso do museu é a própria língua portuguesa!
    Naturalmente os recursos tecnológicos usados para a apresentação de um patrimônio imaterial e a interatividade das áreas expositivas do museu contribuem para o sucesso da instituição, mas de nada valeriam sem o acervo, o nosso idioma.
    Mais uma vez a língua portuguesa é a resposta para a respeitabilidade alcançada nestes poucos cinco anos, respeitabilidade que acabou por transformar o Museu da Língua Portuguesa em espaço referencial no Brasil e em todo o mundo.
    A partir de nosso idioma, a equipe do museu foi perseguindo metas, adotando padrões de atendimento e pensando e criando suas ações educativas, de formação e difusão cultural.
    A língua portuguesa é um patrimônio acessível a todos, logo, o museu tem que ser um patrimônio com acesso aberto à população em geral. Evitamos transformar o museu em um espaço acadêmico, voltado apenas a grande estudiosos. Desta forma, os programas desenvolvidos pela instituição estão sempre preocupados em permitir o acesso e aproveitamento de segmentos muito distintos da sociedade, dos mais letrados aos que apresentam níveis muito baixos de educação formal. O museu atende a todos com o mesmo respeito e consideração, pensando ações que supram às necessidade de cada segmento de seu público, mas que sejam, ao mesmo tempo inclusivas, como inclusiva deve ser a língua!
    Desde sua inauguração, a instituição assumiu parcerias com organizações das mais variadas com o objetivo de alcançar um público muito diversificado, assim, hoje, atendemos os visitantes em geral, escolares da rede pública e privada, portadores de deficiências físicas, grupos de terceira idade, grupos de alfabetização adulta, jovens infratores em processo de assistência do Estado, moradores de rua e muito outros segmentos, além disso, o Núcleo Educativo do museu desenvolve o projeto “ Dengo: um museu para todos” que leva o museu até segmentos da sociedade impossibilitados de visitar a instituição, como crianças em tratamento de câncer e pacientes graves internados em grandes instituições hospitalares de São Paulo.
    Cabe ressaltar que a universidade e a academia também encontram espaço dentro do museu, aliás, nosso consultor há cinco anos é o Prof. Dr. Ataliba Teixeira de Castilho, considerado um dos maiores estudiosos da língua portuguesa no Brasil e oriundo de duas das maiores universidades brasileiras ( USP – Universidade de São Paulo e UNICAMP – Universidade de Campinas). Entretanto, no museu, os temas por mais complexos que venham a ser, devem ser apresentados de forma fácil ao entendimento da sociedade no seu todo.
    Referência hoje são, também, as exposições temporárias montadas pelo museu ( Guimarães Rosa – Grande Sertão: Veredas; Clarice Lispector – A hora da estrela; Gilberto Freyre – intérprete do Brasil; Machado de Assis – mas este capítulo não é sério; O Francês no Brasil em Todos os Sentidos, Cora Coralina – coração do Brasil; Menas, o certo do errado, o errado do certo; e Fernando Pessoa – plural como o universo).
    Neste caso também a língua portuguesa figura como fator principal do sucesso das mostras que as transformou em referência nacional. Nosso idioma é tão rico, tão cheio de curiosidades e nos rendeu tantos escritores, autores e poetas magníficos, que nossas exposições apenas retratam esta riqueza e diversidade, valendo-se, claro, de curadores competentes, cenógrafos criativos e dos mais diversos recursos expositivos disponíveis hoje.
    Com média diária de mil e quinhentos visitantes, referência em ações educativas, apontado pela mídia como “ o mais querido museu de São Paulo”, modelo para países como Qatar, Itália, Israel, Inglaterra, Alemanha e até Portugal, o Museu da Língua Portuguesa só vem reforçar algo que me parece muito nítido: nossa língua portuguesa é realmente um grande sucesso!
    A nossa língua portuguesa ganha, dia a dia, importância maior em todo mundo, tanto no que se refere ao número crescente de falantes, como à importância que os países membros da CPLP vão gradativamente alcançando no cenário mundial.
    O nosso belo idioma ganha paulatinamente, mas de forma sempre ascendente, alunos e estudiosos pelas Universidades de todo o mundo.
    Assim, instituições e programas que têm por foco nosso idioma também ganham importância. Tanto o Museu da Língua Portuguesa como o Observatório da Língua Portuguesa se destacam e, cada qual com seus objetivos próprios, atuam para um fortalecimento ainda mais expressivo da nossa língua, de nossas histórias comuns e ricas e da cultura que permeia mais de 240.000.000 de pessoas ao redor do mundo, que, guardadas suas diferenças, se encontram e se identificam no idioma português!
    Antonio Carlos de Moraes Sartini
  • Olivença e a “Guerra das Laranjas”

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    Mais um testemunho (blogue “Avenida da Liberdade”)

    Com a devida vénia, dou divulgação ao testemunho do Dr. José Ribeiro e Castro, ex-presidente da Comissão de Negócios Estrangeiros da Assembleia da República, no seu blogue “Avenida da Liberdade”:

    Olivença e a “Guerra das Laranjas”
    A questão de Olivença é uma delicada pendência dormente nas relações luso-espanholas. É, não – era! Um alcalde “voluntarioso” do lado espanhol resolveu chutar o tema para as primeiras páginas dos jornais. E inevitavelmente para a primeira linha da política. Agora, procura dobrar a língua, mas o mal está feito e o seu gesto tem tudo menos de inocente.
    Nos últimos anos, o ambiente melhorava: com apoio das autoridades regionais extremenhas, a autarquia de Olivença abrira-se à revelação das raízes portuguesas, recuperando e reafirmando traços identitários na toponímia histórica das ruas e em festivais anuais de matriz portuguesa. Simultaneamente, com algum pragmatismo, dos dois lados da fronteira, descobriam-se formas imaginosas de tornear dificuldades políticas, a fim de responder às necessidades das populações – por exemplo, no dossier de  reabilitação de uma  ponte de acesso à vila. Este desanuviamento revelava grande sentido prático e era um processo inteligente, que procurava andar para diante sem ferir o alto melindre político da questão. As autoridades locais e regionais espanholas pareciam interessadas em avivar a especial identidade de Olivença, até para a singularizar na região como pólo específico de procura turística, e circunscrevendo o processo a traços de identidade cultural, sem entrar obviamente pelo delicadíssimo – e potencialmente explosivo – plano político.
    Estávamos nós postos neste sossego, quando o “enérgico” alcalde Bernardino Píriz aterra em Olivenza e resolve reabrir a Guerra de las Naranjas. Desde há semanas que éramos alertados para a provocação que congeminou. Até que o PS e autarcas locais do lado português – a meu ver, bem – resolveram agarrar no assunto.

    Além do disparate político monumental, a iniciativa do novo alcaide oliventino interrompe esforços positivos que os autarcas alentejanos vizinhos conhecem bem e estavam a acompanhar e apoiar.
    “Festejar” a Guerra das Laranjas em Olivença é uma coisa de flagrante mau gosto. Seria um pouco como a Rainha Isabel II ir celebrar a Gibraltar o Jubileu de Diamante no próximo mês de Junho.
    José Ribeiro e Castro
  • >MIA COUTO E O AO1990

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    >

     

    Muito interessante a entrevista de Mia Couto ao i. Destaco, aqui, a resposta a uma pergunta sobre o acordo ortográfico:
    Não sou um militante contra o acordo. Não me reconheci em algumas da razões que foram invocadas para chegar a este acordo, como por exemplo que este acordo facilitaria um melhor entendimento entre a língua. Sempre li livros do Brasil e com o maior prazer, pelo facto de eles terem uma grafia ligeiramente diferente. Os meus livros e os de Saramago são publicados com a grafia original e nunca ninguém se queixou. Acho inclusivamente que há uma diferença na grafia que só traz valor. Mas não faço guerra ao acordo. As nossas guerras são outras, é perceber porque é que nós, países de língua portuguesa como Portugal ou Moçambique, estamos tão distantes do Brasil, porque é que o Brasil está tão distante de nós. Por que razão é que um filme português no Brasil tem de ser legendado. Porque é que quando eu chego ao Brasil e digo que sou de Moçambique, ninguém sabe onde é ou o que é Moçambique.
  • AGUALUSA E O AO1990

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    Apontamentos sobre o acordo ortográfico e o desacordo!

    “Caso o Acordo Ortográfico não venha a ser aplicado — por resistência de Portugal —, entendo que Angola deveria optar pela ortografia brasileira”, José Eduardo Agualusa.

    Acorda, Acordo,ou dorme para sempre *
    José Eduardo Agualusa

    Participei[em 2008] na Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, num debate sobre o Acordo Ortográfico — que o Brasil prometeu aplicar este ano, e Portugal também, tendo Portugal depois recuado de forma inexplicável.

    Pela experiência que ganhei participando em debates públicos cheguei à conclusão de que as opiniões contrárias ao Acordo Ortográfico resultam:

    1) da confusão entre ortografia, as regras da escrita, e linguagem. O Acordo Ortográfico tem por objetivo a existência de uma única ortografia no espaço da língua portuguesa, não pretende, o que aliás seria absurdo, unificar as diferentes variantes da nossa língua.

    2) no caso de Portugal, de um enraizado sentimento imperial em relação à língua. No referido debate, na Casa Fernando Pessoa, este sentimento ficou explícito quando um espetador se levantou aos gritos: “A língua é nossa!” A História desmente-o. A língua portuguesa formou-se fora do espaço geográfico onde se situa Portugal — na Galiza. Por outro lado, a língua portuguesa tem sido sempre, ao longo dos séculos, uma criação coletiva de portugueses, africanos, brasileiros e povos asiáticos. Basta pensar na influência árabe. Se retirarmos todas as palavras de origem árabe e banto à língua portuguesa, deixaremos de a conseguir utilizar.

    3) de uma série de objeções técnicas ao presente acordo. Muitas delas fazem sentido. Neste caso parece-me que o mais correto seria corrigir essas deficiências e depois aplicar o acordo.

    Angola tem mais a ganhar com a existência de uma ortografia única do que Portugal ou o Brasil. Não produzimos livros. Porém, necessitamos desesperadamente deles. Se queremos educar as nossas populações, e desenvolver o país, teremos de importar nos próximos anos muitos milhões de livros. Espero das nossas autoridades que criem rapidamente legislação tendente a facilitar a entrada de produtos culturais e, em particular, de livros. Importamos livros de Portugal e do Brasil. Isso significa que temos livros em duas ortografias no nosso território, fato/facto que suscita natural confusão, sobretudo aos leitores recentemente alfabetizados — em particular jovens e crianças.

    Acrescente-se que um dos maiores desafios que temos pela frente, nos próximos anos, é o de alfabetizar toda a nossa população. Ora, uma das virtudes do actual Acordo Ortográfico é precisamente o de facilitar a escrita.

    Caso o Acordo Ortográfico não venha a ser aplicado — por resistência de Portugal —, entendo que Angola deveria optar pela ortografia brasileira. Somos um país independente. Não devemos nada a Portugal. O Brasil tem cento e oitenta milhões de habitantes, e produz muito mais títulos, e a preços mais baratos, do que Portugal. Assim sendo, parece-me óbvio que temos mais vantagem em importar livros do Brasil do que de Portugal.

    No futuro, Portugal pode sempre unir-se à Galiza. Isto supondo que a Galiza não tenha entretanto começado a aplicar o Acordo Ortográfico, ou, no caso de o Acordo não vencer, começado a utilizar a ortografia brasileira.

    http://www.ciberduvidas.pt/controversias.php?rid=1602

  • requiem pelo vale do tua

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    o criminoso ato de destruição do vale do Tua (Douro) e da sua linha férrea deixa-nos a todos mais pobres e tristes, desde 2007 que lutámos contra isto, mas a construção da barragem avançou e todos perdemos uma parte importante do património da humanidade do rio douro

    veja na nossa página alguma simagens e vídeos inestimáveis desta beleza única:
    http://www.lusofonias.eu/conteudo/outros-videos-relevantes/