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  • CULTURA E MENTIRAS MIA COUTO

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    Revista África21

    “Cultura e mentiras”, por Mia Couto

    Redação revista África21
    25/10/2012 09:23
    “Grave é fazer uso de uma cultura de falsa identidade do tipo nós africanos somos assim para credenciar a dominação histórica de um determinado grupo ou para justificar o injustificável”.

    Brasília – “Grave é fazer uso de uma cultura de falsa identidade do tipo nós africanos somos assim para credenciar a dominação histórica de um determinado grupo ou para justificar o injustificável”

    Leio hoje que um terço da população swazi vive numa condição de fome e completamente dependente da ajuda alimentar de emergência. Enquanto isso, chegam notícias que o Rei da Swazilândia gasta milhões de dólares na aquisição de um avião particular e na compra de moradias de luxo para as suas dezenas de esposas.

    A justificação usada é que a opulência e ostentação dos chefes africanos é uma questão «cultural». A cultura é, com frequência, usada como lixívia para lavar imoralidades e uma forma de colocar como «estranha e estrangeira» preocupações de mudança. O argumento é este: quem critica o Rei da Swazilândia está culturalmente alienado dos valores «africanos». Invoca-se a tradição «africana» para justificar práticas eticamente inaceitáveis na África dos nossos dias. Na realidade essa «tradição» é invocada de forma truncada, esquecendo-se duas coisas: a primeira é que a tradição também sugere outras obrigações (hoje convenientemente esquecidas) e, a segunda, é que essa tradição é, em grande parte, uma construção feita e refeita ao longo do tempo.

    Persiste uma confusão deliberada entre cultura e tradição. A cultura é um grande saco, tão grande que pode lá caber tudo. É muitas vezes um expediente que pode ser usado para sancionar o intolerável. Eu vejo, por exemplo, que se criou entre nós uma desculpa comum para justificar a falta de pontualidade. Não é só entre nós mas em todo o continente. Dizermos chegar atrasado é uma «questão cultural». Mais grave ainda: imputamos essa falta de pontualidade àquilo que uns designam de «cultura africana».

    Leia versão integral na edição impressa da revista África21 (N.º 68, outubro 2012). Para assinar a revista contacte: jbelisario.movimento@gmail.com

  • o regresso das bruxas LUIZ FAGUNDES DUARTE

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    O regresso das bruxas
    by Luiz Fagundes Duarte on Saturday, 22 September 2012 at 08:09 ·

    Li numa edição recente do DI que as bruxas chegaram a Florianópolis com os açorianos que ali aportaram em meados do século XVIII. Esta frase, a propósito de um livro para crianças lançado recentemente pelo escritor brasileiro Cláudio Fragata, cujo título – Uma História Bruxólica – não engana ninguém, pôs-me em pé os poucos cabelos que me restam.

    Uma sensação que se me afigurou mais aguda depois de ter lido o romance The Undiscovered Island [A Ilha Encoberta], do escritor americano Darrell Kastin, onde tropeçamos em casas assombradas, navios fantasmas, sereias merencóricas e descendentes de Inês de Castro que deambulam por estas nossas ilhas, sobretudo no Pico e no Faial, em busca de homens desaparecidos no mar e de papéis enigmáticos por eles deixados em terra (este romance muito interessante e bem feito, apesar de publicado em 2009, ainda não teve, que eu saiba, uma tradução para Português, sendo de supor que os professores de “literatura açoriana” da Universidade dos Açores já terão metido mão à obra, como seria seu mister).

    Mas que não se enganem os meus queridos leitores: se eu fiquei de cabelos em pé (e mais: com pele de galinha por todo o corpo) não foi com medo das bruxas que os nossos antepassados exportaram para o Brasil, ou dos fantasmas que escritores norte-americanos com ascendência açoriana teimam em vir desmascarar nas nossas Ilhas Afortunadas. Não senhores! Eu fiquei assim, porque me apercebi de que andamos a desperdiçar capital.

    Ou seja, e no que diz respeito às bruxas, e embora o escritor brasileiro não diga que as bruxas açorianas emigraram todinhas para Santa Catarina (acho que sempre nos ficaram algumas por cá, embora, provavelmente, não as de melhor qualidade), a verdade é que se um povo despreza aquilo que de melhor tem e o deixa partir-se portas afora – como terá acontecido com as nossas simpáticas bruxinhas dos tempos pombalinos, ou, mais recentemente, com a nossa agricultura – poderá, no mínimo, ser apelidado de louco: tanta falta que nos faz um bom grupo de bruxas que nos ajudem a resolver os nossos problemas actuais… E sejamos honestos: não creio que o programa eleitoral da dr.ª Berta Cabral, por muitos plim-plins que ela faça com a sua varinha mágica, consiga levar-nos a algum lado sem a ajuda de uma boa bruxa – até porque é muito possível que, entretanto, o governo da República que ela apoia e pelo qual anseia, e que se nos tem revelado o melhor exemplo de Casa Assombrada que possamos imaginar, dê o seu derradeiro suspiro – fornecendo assim matéria fresca para um novo romance do supradito escritor americano.

    Bem vistas as coisas, faltam-nos as bruxas, sobejam-nos os fantasmas…

     

     

    Luiz Fagundes Duarte22 September 08:11

     

     

    (no diXL, de Angra do Heroísmo)

  • URBANO BETTENCOURT (Que paisagem apagarás, 2010)

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    URBANO BETTENCOURT (Que paisagem apagarás, 2010)

    1.                       VOZES NO CÉU DE DUBLIN

    Para Adelaide e Vamberto Freitas

    Vozes no céu de Dublin

    by Urbano Bettencourt on Monday, 27 August 2012 at 18:59 ·

                                                                                   

                                                                                               Para Adelaide e Vamberto Freitas

     

     Havia uma mulher sentada junto ao murete de pedra, nessa meia tarde de um Outono precoce  em que visitámos  as ruínas da Abadia de Howth.

     

    O guia turístico adquirido na recepção do hotel informava que Howth  “has long been a favoured dwelling place for writers”, mas, referida a Dublin, qualquer indicação sobre a presença literária na cidade será sempre redundante. Assim, a manhã esgotara-se  entre a visita ao Dublin Writers’ Museum  e a demorada passagem pela Martello Tower, aliás,  James Joyce Tower, cujos recantos e escadarias pareciam ressumar ainda a inquietação difusa perante a ameaça de uma eventual invasão napoleónica .

     

    A voz de Buck Mulligan, que nos havia transportado até aos alvores do século XIX num andamento pausado e a rondar a monotonia, adquiriu   uma súbita vivacidade  ao descrever o  memorial joyceano. E ganhou  uma inesperada gama de modulações e registos  quando se pôs a evocar os acontecimentos dessa luminosa manhã de Junho de mil novecentos e quatro em que Leopold Bloom saiu   de casa para comprar rins de carneiro e, ao entrar no talho, pediu tomates, num particular momento de perturbação espacial e linguística cujo eco o escritor  Arménio Vieira faria  chegar às ilhas de Cabo Verde.

    Em Howth não houve qualquer Buck Mulligan a falar-nos do remoto prestígio da Abadia e do fascínio que exerceu sobre os intelectuais da Europa medieval. Vagueámos  pelo seu interior, tentando apenas surpreender ainda um possível  rumor de passos e as vozes dos homens que ali, um dia, construíram o seu mundo por entre o recolhimento e a contemplação da  Ireland’s Eye, separada de terra por um curto braço de mar e, mesmo assim, ilha longínqua, entregue ao seu destino de solidão e abandono. E tudo isso se harmonizava, enfim, com a melodia que a mulher sentada junto ao murete se pusera, entretanto, a entoar.

     

    Nessa noite, Briege Murphy cantava no Howth’s Abbey Center. Mas só quando começou a  interpretar “The sea” me apercebi de que ela era, afinal,  a mesma mulher que nós  surpreendêramos junto às ruínas da Abadia. A  sua voz desenhava um fio melódico que se erguia no ar em movimentos oscilantes, acentuados pelo  dedilhado sóbrio do violão,  e nessa ondulação devo ter pressentido os ritmos marítimos de Saint-John Perse, o fluxo e refluxo das suas marés verbais,  dos seus versos desmaiando sobre o  corpo de uma  ilha da memória. Talvez tenha mesmo tentado perseguir no rasto dessa voz  o remoto apelo do mar que secretamente ecoa na poesia de Emanuel Félix. O mesmo mar que   traçou para sempre o destino de Enrico Mreule, levando-o a trocar o fechado  Mediterrâneo pelo Atlântico infindo,  sem saber que este era, afinal,   esse outro mar de Claudio Magris e onde tudo acontece.

     

    Lentamente, porém, a canção ganhava corpo nas palavras de uma dorida história de amor  em que uma mulher a pouco e pouco se perdia  de si mesma nas repetidas  ausências do seu homem no imenso Atlântico  selvagem: he takes a piece of me with him, each time he leaves the shore. Depois, uma fina amargura invadia os versos e a melodia até desembocar num   desabafo derradeiro em que tudo era já sem remédio nem consolação: he won’t stay home for me, cause my love he has a mistress, she’s the sea. De  súbito, naquela história de enamoramento e ciúme chegavam-me os ecos da belíssima abertura do romance  Saudade, de Katherine Vaz,  e nela vibrava  a voz de Conceição Cruz, como se José Francisco tivesse decidido perder-se em definitivo da terra. E  dei comigo a pensar como será bom saber que,  de cada vez que sucumbirmos ao íntimo chamamento do mar,  uma voz de mulher há-de erguer-se para chorar-nos o destino e a perdição.

     

    Assim, longe dos Açores e da Califórnia, ouvindo Briege Murphy no Howth’s Abbey Center, eu era ao mesmo tempo leitor  e personagem do romance de Katherine Vaz.

     

    (Que paisagem apagarás, 2010)

     

  • PEDRO DA SILVEIRA, GUERRA DA CAL E ROSALIA 1959

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    PEDRO DA SILVEIRA, autor açoriano
    , CASTELO DE VILA NOVA DE CERVEIRA, SETEMBRO 1959

    INSCRITO SOBRE A ÁGUA D’UM RIO

    (a Ernesto Guerra da Cal e também em memória de Rosalía de Castro e de João Verde)

    Há um cais no outro lado;
    Atrás do cais, árvores;
    Além das árvores, uma casa.
    Montes ao longe:
    Mais perto, verdes,
    Azulados os outros.

    Com uma espingarda em cada olho
    E nas mãos uma espingarda,
    Um fantasma assombra o cais.

    A água olha-o, calada.
    Calada, foge.
    Desgostosa.
    Mas feliz.

    Pedro Laureano Mendonça da Silveira (Fajã Grande, 5 de Setembro de 1922 — Lisboa, 2003), mais conhecido por Pedro da Silveira

  • urbano bettencourt áfrica frente e verso

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    O TERROR

    POR CAM

    A natureza do terror abre uma espécie de fenda no pensamento: “escrever um poema após Auschwitz é um acto bárbaro, e isso corrói até mesmo o conhecimento daquilo que tornou impossível escrever poemas.” (Theodor Adorno). Celan, com o seu poema “Todesfuge” [“Fuga da morte”], versos nos quais evoca o horror da Shoah [Holocausto], levou muitos a questionarem o veredicto adorniano.

    Entre nós, a guerra colonial calou muitas vozes – não apenas as dos homens que física e mentalmente tombaram na guerra real, mas também as dos outros, as dos sobreviventes, quer a tenham directamente sofrido, quer não. É claro que há a excepção de Manuel Alegre, na poesia, e de Lobo Antunes, na ficção, ou os esforços antológicos de João de Melo, mas não muito mais (parece existir agora, muito recentemente, um movimento em sentido contrário). Falamos disto como se fosse uma necessidade – será mesmo? O problema é que não sabemos se a ausência se deve a uma espécie de recusa ética e, digamos, ontológica, ou se a outras razões menos compreensíveis (aceitáveis?). Ninguém saberá – mas a questão – porque se corta das nossas experiências estéticas o terror – existe, como as bruxas (que las hay, las hay).

    O novo livro de Urbano Bettencourt (Piedade, Pico, Açores, 1949-), “África Frente e Verso” (Ponta Delgada, Letras Lavadas, 2012) mergulha na guerra (já o tinha feito antes, e alguns dos poemas e textos deste livro apareceram justamente em livros anteriores). A sua experiência da guerra colonial (Guiné) acompanha-o (homem e poeta) até hoje – o último poema deste livro, “Agostos”, vem datado de 2011. Nos melhores momentos deste livro, como em “Da ilha carn(av)al”, de 1973, esbatem-se as fronteiras entre géneros e ficam as palavras na eterna luta do dizer o inominável (não apenas a guerra, ou o terror…). E delas ressalta, quem sabe se pela intensidade do vivido, outra intensidade, outra beleza (porque não?), porque a palavra é justa (ali), porque faz embater em nós ritmos, conjugações inesperadas, mas sempre com a força do retorno ao espaço e ao tempo do terror, espécie de ética de que Urbano parece não querer abdicar (e que, aqui e ali, parece tolher-lhe o impulso do dizer – questão controversa e longa de debater).

    O plural de Agosto, trazido à liça lá em cima, é um modo do Urbano religar tempos, o do tempo em que uma “metralha e fogo e luz / e um homem deixou no adobe da parede / o seu retrato de cinza.”, o tempo em que “sobre uma esteira podia morrer-se de loucura / num corpo a corpo de vencidos, / desafiando a sombra da outra morte. A que vem / por detrás e por diante, da direita e da esquerda, / e deixa os seus dentes de chumbo na carne destroçada.” – e o tempo, o nosso de agora, o dos “pares que se devoram / nos jardins de cimento” “Não há chuvas neste Agosto. A calma / vibra nos telhados, as guerras trazem outros nomes, / outros donos. E talvez seja assim que tudo tem de ser. / E talvez seja este o melhor dos mundos.”

    É mesmo preciso religar coisas. Ou não.

  • VULTOS TIMORENSES

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    uma história esquecida da segunda guerra...
    J M Domingues Silva21 August 20:30

    uma história esquecida da segunda guerra mundial

    “No dia 19 de Setembro de 1945, data a todos os títulos memorável na nossa história, a bandeira da Pátria desfraldava-se orgulhosamente em todas as localidades importantes e em muitas povoações timorenses enfim libertadas da opressão estrangeira.” – José dos Santos Carvalho, “Vida e Morte em Timor Durante a Segunda Guerra Mundial”, 1970.

    Aileu

    Em Aileu (Timor Leste) ergue-se um monumento evocativo dos militares portugueses, e respectivas famílias, que se suicidaram aquando da invasão de Timor Leste pelas tropas imperiais japonesas no decorrer da Segunda Guerra Mundial, vítimas da propaganda dos Aliados os militares portugueses estavam convictos de que eles próprios e as suas famílias seriam barbaricamente torturados e violados.

    D. Aleixo Corte-Real (régulo timorense), lá onde se mistura a lenda com a História, recusou em reconhecer a soberania japonesa sobre o território, afirmando: “Sou Português, e só os Portugueses me podem prender!”. O resultado: as forças invasoras executaram-no não só a ele, como toda a sua família. A colonização de Timor contava com a presença de Portugal e da Holanda, resta-me realçar que foram os timorenses do lado português que organizaram a resistência aos japoneses, aliados da Itália fascista e da Alemanha nazi, com o propósito de restabelecer a soberania portuguesa no território (a foto que ilustra este artigo é uma vista parcial da cerimónia aquando desse restabelecimento, cujo 65º aniversário passará certamente em branco). A Administração Portuguesa do território foi internada em campos de concentração japoneses. Salazar, tentando manter a necessária neutralidade (violada pelos japoneses) de Portugal não prestou qualquer auxílio aos portugueses presentes no território, nem aos que estavam detidos pelos japoneses, nem aos que participaram nas bolsas de resistência à ocupação, em nome de Portugal.

    Portugueses contra o Eixo

    Embora não sendo das fontes mais fiáveis (encontra-se completamente esgotada a obra “Timor – Ocupação Japonesa durante a Segunda Guerra Mundial” de Carlos Vieira da Rocha, publicado em 1996 pela Sociedade Histórica da Independência de Portugal) creio ser digno de nota a seguinte entrada da Wikipédia portuguesa referente à Segunda Guerra Mundial:

    “Em Timor ocorrem os únicos combates em que participam forças portuguesas durante a guerra. Apesar de nunca se estabelecer formalmente o estado de guerra entre Portugal e o Japão, militares e voluntários civis portugueses combatem ao lado das tropas australianas e holandesas contra os invasores japoneses. Na Austrália, é inclusive formada a primeira unidade militar pára-quedista portuguesa, que é lançada na retaguarda das linhas japonesas, para realizar operações de guerrilha contra os invasores.”

    Com base no citado “Vida e Morte”, “Todos os portugueses que então aí viviam, fossem eles timorenses, metropolitanos, goeses, madeirenses, africanos ou macaenses, estiveram sujeitos a prolongado e pertinaz suplício que estóica e patrioticamente suportaram”.

    A mesma obra numera as baixas do lado português: “muitas centenas de timorenses assassinados, mortos em combate ou falecidos na prisão e, entre os não-nativos de Timor, pelo menos, trinta e sete assassinados, dez mortos em combate, seis mortos por suicídio, vinte falecidos ao abandono no interior da ilha onde andavam foragidos e oito que miseravelmente acabaram os seus dias no cárcere japonês”.

    Encontra-se ainda disponível a obra “Timor na 2.ª Guerra Mundial — O Diário do Tenente Pires” de António Monteiro Cardoso (Centro de Estudos de História Contemporânea, ISCTE, 2007) que inclui, como o título indica, o diário de um dos oficiais portugueses que participou activamente na guerrilha contra a invasão nipónica.

    Ausência de memória

    Antes de lerem esta minha curta chamada de atenção, quantos dos leitores estavam a par deste episódio referente à Segunda Guerra Mundial? Muito poucos certamente, as nossas escolas estão mais preocupadas em ensinar banalidades em vez da História nacional, é portanto normal que tal se reflicta não só nos nossos governantes, mas também entre aqueles que se declaram como alternativa a estes… é triste, mas é o Portugal que ainda vamos tendo.

    Post-Scriptum – No dia 16 irá decorrer, nas instalações da Biblioteca Nacional, uma Homenagem a António Telmo. Às 18h será apresentada a obra “O Portugal de António Telmo” (Guimarães, 2010) com a presença de Pedro Sinde, Renato Epifânio, Rodrigo Sobral Cunha, Miguel Real e o filósofo Pinharanda Gomes. 2010 tem-nos sido pesado em baixas, há que aproveitar as cada vez mais raras oportunidades para homenagear e recordar os nossos maiores pensadores, pelo andar da carruagem chegará o dia em que também estes poderão desaparecer nas areias do tempo, há que os recordar.

    O Diabo, Semanário Independente
    14 de Setembro, 2010.


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    Não esquecer João Bosco,como um vulto da...
    Maria João Moniz Barreto22 August 12:49
    Não esquecer João Bosco,como um vulto da cultura timorense.
    Em casa do pintor timorense João Bosco

    Um encontro feliz na viagem de regresso de Jaco para Dili.
  • AGUALUSA NAÇÃO CRIOULA

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    É O PRÓPRIO AUTOR QUE SUGERE ESTA LEITURA

              Livro: Nação Crioula – José Eduardo Agualusa

    Agualusa foi um escritor que sempre me chamou a atenção. Sabe quando você vai na livraria e acaba reparando sempre no mesmo livro (ou autor)? Pois bem, comigo foi assim. Não escondo que a edição l-i-n-d-a da Lingua Geral (tem Capas de Quinta com ela aqui) tenha uma participação nessa atração. Mas não deve ser só isso. Outros livros que nunca li e que me provocam isso: Dublinenses do Joyce, Grandes Esperanças do Dickens, Norwegian Wood do Murakami e outros.

    Bem, voltamos ao Agualusa. Não sabia por onde começar, ia passar uma semana na casa dos meus pais e resolvi levar alguma coisa dele. Dei uma olhada na Travessa do Ouvidor e fiquei em dúvida entre Nação Crioula e Estação das Chuvas, o primeiro ganhou, já que a personagem principal do segundo era uma historiadora (de Histórias com H eu já tenho as minhas). Acontece que eu também estava procurando a biografia da Sylvia Plath, e como o livro era relativamente novo ninguém na livraria sabia muito bem onde ele estava. Foi uma comoção geral, e quando o livro apareceu acabei levando só ele e esqueci o Agualusa. Logo que voltei pro Rio esse erro foi sanado na livraria do cinema. Não me arrependo.

    O livro é escrito de forma epistolar (cartas), e a leitura é muito fluida. Suas 200 páginas passam pela gente deixando uma vontade de mais. Quem escreve as cartas é Fradique Mendes – sim, aquele – entre 1868 e 1888. Esse português chega em Luanda e começa a escrever sobre o que encontra, o que entende e o que o deslumbra. Por diversas situações sua vida se move entre Portugal, Angola e Brasil. O fim do tráfico negreiro, a possibilidade de abolição e  as relações transatlânticas estão presentes em todo o livro. Ele é triste como o período pede, mas também tem a beleza triste que algumas personagens exigem.

    O romance de Fradique e Ana Olímpia não é perfeito nem explicado, e por isso me pareceu tão real. Ana Olímpia é uma personagem linda. Mas descobri-la durante o livro é um prazer que não pretendo tirar de quem ler esse texto.

    Fui ainda surpreendida por um viés auto reflexivo do livro. Já disse algumas vezes que tenho problemas com livros pretensamente metalinguísticos, acho que nem sempre eles cumprem o que prometem. Com Nação Crioula foi diferente, ele não se mostrou logo de cara “meta”, mas foi recebido assim no meu coração.

    Encontrei algumas passagens especialmente bonitas, mas acabei não marcando por serem longas. Duas vezes li um par de páginas que gostei, mas não marquei. Acho que foi o capricho da edição que me reprimiu.

    De toda forma, quero ler mais desse autor. Não sei qual será o próximo, mas ele aparecerá.

  • as vogais em São Miguel Açores Irene Maria F. Blayer

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    2012-07-28 17:25:26

    Vowel Sound Shift and the Portuguese of the Azores – Irene Maria F. Blayer

     


    Vowel Sound Shift and the Portuguese of the Azores

    For some linguists, the area of origin of the pioneering settlers remains an important factor that must be taken into consideration when examining regional linguistic variations. As Raven McDavid (1980:19) points out: “Evidence accumulated in Germany, France, and Italy revealed that in Europe regional speech differences are related to historical forces: original settlements, routes of migration, older political boundaries, and centers of cultural diffusion.” In the case of the Azores, the information available, though not conclusive, would seem to suggest a southern Portuguese component in the early settlement of the islands, primarily in São Miguel. As such, the linguistic legacy from mainland Portugal ought to be recognized as constituting the predominant factor in regard to the foundation of the Azorean speech. This language continued its process of natural and spontaneous phonetic evolution, thus giving rise to its distinctive phonological characteristics (Blayer 2003, 2005, 2007).
    The presence of the palatal sounds, [ü] and [ö], in the vocalic system of São Miguel has been discussed as largely due to the working of Celtic substratum influences, explained by a possible French settlement in the village of Bretanha. Any attempt to argue an external influence for the presence of the palatal vocalic sounds in the speech of the Azores has only been claimed on the basis that this phenomenon is reflected in the speech community of one area. Furthermore, in most linguistic studies on the Portuguese language, the barest mention of other islands, as well as other Portuguese-speaking areas where these sounds are prevalent, has been scarcely recorded.
    To explain the presence of [ü] in Romance as a Celtic connection, is according to Posner (1980:238) “somewhat tenuous, especially as we know little about Gaulish Celtic […] We have little hard evidence about persistence of Gaulish, nor indeed of the widespread use of Celtic throughout Roman Gaul.” With reference to São Miguel, it is not possible to conclusively posit interference of the speech pattern of Bretanha on that of São Miguel, nor trace a Celto-French contribution to the speech of this village. It is important to insist upon the fact that the settlement of the Azores was primarily of Portuguese origin, thus negating the probability that a foreign linguistic presence played a role in ‘phonological’ development. While some of the arguments are questionable regarding the Celto-French interference, and given the scarcity of documentary evidence seeking to locate the causes of sound changes in Romance by means of an external factor, Jungeman maintains that to identify substratum influence in phonology some conditions should be fulfilled: (1) the internal factors alone may not explain the presence of the palatal sounds in; (2) there should have existed characteristics with a direct or indirect relationship with this phenomenon, (3) was there a period of bilingualism in which the two languages influenced each other; and during this time was this community completely isolated from other external influences – such as the other ethnic forces? (1955:418).
    The interpretation of this phenomenon in phonological terms leads us to note that the hypothesis postulated by structuralists (Haudricourt-Juilland 1949:100-113, Martinet 1955:52-3) to explain the presence of the rounded mid-high fronted and back vowels, as well the change ü > U in Romance, is that the appearance of ü < U can be seen as a reduction of a Mehrlautphoneme ui, as a result of a displacement of back vowels. Due to asymmetry in the articulatory space available at the front and back of the mouth when [o] in checked syllables became [u], the functional load of [u] < Latin U and Romance [o] became excessive and U acquired a palatalizing articulation. The resulting vowel acted as a catalyst for the formation of the parallel phoneme /ö/. On the basis of linguistic economy, Martinet (1955) explains that everything concerning language must be viewed from “the point of view of function” -languages prefer symmetrical phonological systems and the function of sound shifts is to bring symmetry into an otherwise asymmetrical system -. Posner argues that “On the whole the structuralist ideas about symmetrical systems, cases vides, functional loads and push and drag chains are currently unfashionable […]. However, certain sound shifts can conceivably be seen as consequent on others, where potentially pathological phonological mergers threaten.” (1996:161). Spence (1972: 302), on the other hand, argues that “If we are to admit the desire for symmetry as an important factor in the process of change, it seems more plausible to see a re-organization of the system as a sort of therapeutic reaction to phonemic splits or mergers which have as it were ‘slipped under the guard’ of the users of the system: a move towards the re-establishment of symmetry implies that an asymmetry has arisen.” Furhermore, he explains that the changes which formed the Romance vowel systems cannot be explained by systemic pressures with totally predictable results, since they led to different norms in different areas.
    In light of the fact that vocalic phonological variants in other areas of the insular speech share similar tendencies (Blayer 1992), we are left wondering if the external and foreign causes were really responsible for their alleged results in São Miguel. Hence, an attempt to explain phonological changes with competing vowel systems in Romance may well prove to be more solid.

    Irene Maria F. Blayer

  • DOM ALEIXO CORTE-REAL -TIMOR

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    D. Aleixo Corte Real, um exemplo de fidelidade...
    Daniel Braga15 August 23:47

    D. Aleixo Corte Real, um exemplo de fidelidade e patriotismo

    «Resta-me citar os indígenas, quer chefes, quer simples habitantes da colónia, que, durante o período dos acontecimentos a que este relatório se refere, deram pelo seu procedimento para com a Pátria e para com os portugueses provas irrefutáveis da sua dedicação, da sua lealdade, do seu absoluto patriotismo.
    Avulta entre eles, como estrela de primeira grandeza, o liurai de Ainaro, circunscrição do Suro, D. Aleixo Corte Real. Para esse tive já a honra de fazer uma proposta especial, relatando sucintamente o que foi a acção desse grande chefe e como se manifestou, em termos excepcionalmente vincados, o seu extraordinário patriotismo. E o Governo da Nação premiou já condignamente, com o grau de comendador da Ordem Militar de Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, esse grande português.»

    Manuel de Abreu Ferreira de Carvalho em Relatório dos
    Acontecimentos de Timor (1942-1945).

    Defendia e bem Teixeira de Pascoaes, em Arte de Ser Português, que a superioridade da raça não assenta em pressupostos biológicos, materialistas ou positivistas, mas sim num carácter puro, nobre e distinto, baseado na incorruptibilidade do espírito e de toda a essência metafísica do indivíduo. A Educação dos dias de hoje, bastante distinta daquela apregoada por Pascoaes em inícios do séc. XX, suprimiu por completo a noção de raça, desvirtuando e criminalizando o conceito, substituído pela vacuidade de um paradigma vazio, alheio a valores, identidades e princípios, alimentado pela adaptabilidade do ser humano, em jeito de darwinismo social, aos interesses da ordem vigente, mesmo quando esta desrespeita todos e quaisquer pressupostos éticos, culturais e até humanitários.
    Talvez por esta razão, figuras como D. Aleixo Corte Real se tenham tornado tão incomodas e por isso remetidas para um confortável esquecimento. Contudo, a fidelidade e sacra memória que devemos aos nossos antepassados, faz-nos hoje invocar a lembrança deste grande herói português.
    D. Aleixo Corte Real nasceu em 1886 na cidade de Ainaro, localizada e 78 km de Díli, capital do Timor Português. Inicialmente chamava-se Nai-Sesu, tendo adoptado o nome pelo qual ficaria conhecido apenas em 1931, ano em que se converteu ao catolicismo e foi baptizado.
    A sua fidelidade à pátria-mãe cedo começou a expressar-se quando, entre 1911 e 1912, combateu ao lado dos portugueses na sublevação de Manufahi. O seu papel de régulo conferiu-lhe um importante estatuto em toda a região, sendo um importante embaixador de Portugal naquele território. Porém, não foi devido ao seu relevante papel político-militar que o régulo timorense se destacou, mas sim pelo carácter e nobreza demonstrados ao revelar-se incorruptível aquando da invasão japonesa daquele território português, durante a II Guerra Mundial.
    Apesar da neutralidade portuguesa, o território do Timor Português foi inicialmente invadido por um contingente holandês e australiano, com a desculpa de que Portugal não defendia aquele espaço, estando desse modo vulnerável a uma ocupação nipónica. Este facto acabou por verificar-se, provavelmente devido à invasão preventiva perpetrada pelas tropas australianas e holandesas. Durante aproximadamente três anos o terror espalhou-se naquela província ultramarina. Descontentes com a presença proselitista e declaradamente hostil do imperialismo japonês, a maioria da população timorense colocou-se do lado da resistência a estes invasores, apoiados também por uma pequena franja de milícias autóctones, designadas de Colunas Negras. D. Aleixo Corte Real foi, tal como o seu irmão, um dos líderes da resistência contra a ocupação nipónica, tendo acabado cercado e capturado em 1943 pelas tropas japonesas e membros dessas milícias pró-nipónicas.
    Foi com sua captura e consequente sacrifício que o régulo alcançou a sua maior glória, mitificando-se, após enfrentar os seus algozes, negando-lhes a legitimidade sobre aquelas terra, depois de lhes negar a entrega da bandeira portuguesa. Este heróico e nobre acto custou-lhe a vida a si e à sua família que foi executada por um pelotão de fuzilamento japonês.
    Mesmo destino teve o seu irmão e outros chefes locais que se uniram na defesa dos interesses das suas gentes e da sua pátria: Portugal. D. Aleixo Corte Real tornou-se rapidamente um símbolo do patriotismo nacional e da união entre os diversos povos portugueses. A sua honra e fidelidade foram justamente lembrados pelo Estado Português, tornado-se D. Aleixo Corte Real uma personificação da heroicidade e ferocidade da alma portuguesa, fiel de si mesma e absolutamente incorruptível… em qualquer circunstância!

    Régulo D. Aleixo Corte Real junto da sua família.

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  • DOM BOSCO (TIMOR)

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    Aniversário de Dom Bosco 16/08/1815 –...
    Crispim Costa16 August 03:02
    Aniversário de Dom Bosco
    16/08/1815 – 16/08/2012

    Hoje é aniversário do nascimento de Dom Bosco. “Pai e Mestre da Juventude” como lhe chamou João Paulo II. O então Bispo de Dili, Dom Jaime Garcia Goulart de venerável memória confiou aos Salesianos no dia 31/01/1948 este pedaço da metade de ilha até então nunca tinha sido evangelizada. Conta a minha mãe que de quando em quando passava um sacerdote à cavalo com o lampião pendurado ao pescoço do animal. Provavelmente fazia pesquisa o como chegar junto à população. Havia uma escola em Lautém, sede da Circunscrição do mesmo nome antes da II Guerra Mundial. Lecionava nesta escola o pai de Dom Carlos Felipe Ximenes Belo, único professor para todo Lautém. Quando Dom Jaime ofereceu esta zona para os salesianos, Fuiloro como escola, praticamente não existia. Era um Posto Administrativo da Circunscrição com uma fortaleza destruída pela guerra. É lá que os salesianos tinham a sua primeira residência depois de serem acolhidos na nova residência do Administrador em Lospalos, porque os edifícios em Lutém também foram destruídos. O administrador daquele ano era senhor Olímpio. O senhor José Riberiro um irmão salesiano natural de Fátima conta que à noite através do tecto, dentro das barracas, podiam contar as estrelas e quando chovia embrulhavam-se com oleado e para a cabeça resguardava-se da guarda-chuva conforme onde pingava a água. Desde 1948 que ele está em Lospalos e fala muito bem Fataluku do que o próprio que neste momento está a relatar. Além dele, os primeiros pioneiros foram:
    Pe. Manuel Alves Preto, português
    Pe. Anibal Viggetti, italiano
    Senhor João Aranda, espanhol
    Senhor José Kusy, da Checoslováquia na altura.
    Meses depois Pe. José Bernardino Rodrigues, português.
    Seguiram se depois muitos mais salesianos para desenvolver a educação e a evangelização no Concelho de Lautém.
    Aos poucos, eles iam conhecendo Fuiloro e assim criar amizades com este povo. Não tarda, começaram a ensinar as crianças e os jovens que se abeiravam aos missionários. Através destes, vieram os pais e aos poucos eles deixaram “URU HO VATXU”=(sol e lua), para adorar o Criador de sol, até então por desvendar, o único Deus verdadeiro.
    Fuiloro neste momento é uma Escola Agrícola ao cuidado dos salesianos.
    Bem-haja, estes corajosos missionários que seguiram o exemplo do Bom Pastor deram a vida para que outros vivam. E muitos destes outros, depois de conhecer a verdade, ao longo deste tempo, nestes últimos 30 anos, também deram sua vida para que os seus irmãos vivam. Konis Santana, Solan, Txai, Bere-Malai-Laka, Hídeo, Varuloho, sem mencionar os vivos e muitos outros que passaram por esta pequena grande escola. A história não acaba aqui. É meu simples OBRIGADO neste dia de Dom Bosco ao Senhor da vida pelas vidas de muitas pessoas amigas que fizeram também parte na minha vida.

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