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  • a despedida de Cesária (Èvora)

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    Em dialogos_lusofonos@yahoogrupos.com.br, Margarida Castro <margaridadsc@...> escreveu
    
    "casa_amadis_montpellier
    
    October 23, 2011 3:51 PM
    
    
    
     CASA AMADIS Lusophonie / Lusofonia 
    CASA AMADIS Lusophonie / Lusofonia  
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    1. 
    CESARIA ÉVORA, O ADEUS AO PALCO E O REGRESSO DE UMA LENDA De :  Casa Voir tous les thèmes | Créer un nouveau thème  Message  
    1. 
    CESARIA ÉVORA, O ADEUS AO PALCO E O REGRESSO DE UMA LENDA  
    Envoyé par :      "Casa" amadis_montpellier@...    amadis_montpellier  
    Samedi 22. Octobre 2011  21:53 
    CESARIA ÉVORA, O ADEUS AO PALCO E O REGRESSO DE UMA LENDA
    
    «Mim já'm bá pa nha terra »
    « Sexta-feira», disse entrelaçando os dedos, um olhar de menino encabulado. E carregou : â€" « se Deus quiser! » 
    Sexta-feira, 21 de outubro. Todos os argumentos foram poucos para convencer a Cise a atardar-se ainda algum tempo em Paris â€" simples precaução depois desse grande solavanco que a levou de urgência, sem fala e quase sem fôlego, ao hospital La Pitié-Salpétriè re. No primeiro dia deu água pela barba ao corpo médico que chegou a t(r)emer pela sua sobrevivência. Graças a Deus o pior também foi curto â€" uff !
    De coração generoso, quem a conhece sabe que nunca foi de muitas falas, a Diva dos Pés Descalços. No palco canta e encanta, mas falar, nem por isso. Agora, não convém provocá-la: « Sabes, Cesária, que és a voz das as mulheres sem voz ? » E ela : - « Ah ! psuda !, mim nha voz ê d'meu! ». E outra vez : que mensagem tinha a passar às mulheres japonesas ? - « Ês bá desinrascá ! » 
    Nem mais. É assim a Cise : se a sua humildade faz o seu charme, que dizer desse seu humor natural com que empolgou palcos e plateias? Com os amigos, Cise deixa falar o coração. Agora, se for para convencê-la de alguma coisa, melhor mesmo é passar ao largo! «Cis txa'me bá pa nha terra » - e ninguém fala mais nisso ! 
    Se existe uma pessoa que funciona ao « feeling », essa pessoa é Cesária Évora. Autêntica e sincera, suas francas gargalhadas têm essa espontaneidade de criança que às vezes nos falta a nós-outros, submetidos que vivemos à ditadura da aparência que a vida em sociedade cruelmente nos impõe.
    Uma mulher de carácter, ou a força da humildade
    Mas não nos iludam as aparências ! Por trás dessa inocente serenidade existe uma mulher de pulso e de carácter, impondo-se por essa rara virtude que é a humildade, paradoxalmente o segredo e a fonte da sua força. Conta quem sabe que essa força « inocente » pode traduzir-se em caprichos nem sempre muito fáceis de gerir… disso falarão aqueles que, por razões profissionais ou afectivas, estejam investidos dessa missão. Na tarde do seu último domingo em Paris, no lar familiar onde se instalou para convalescer, ainda veio à baila, assim muito a medo pa'l ca bá chatiá, se não seria melhor esperar mais um pouco, o que achas Cise, antes de regressares de vez a Cabo Verde… E a mesma resposta categórica: - «Já m'crê  bá'mbora, m'ca tem más nada k'fazê li». Traduzindo  : a dúvida ao seu dono , eu cá já decidi. E ponto final! 
    Escusado insistir. Nem mesmo a Fantcha, jovem cantora nossa, uma espécie de filha espiritual vinda para a ocasião da América, logrou ir mais longe. Uma amiga segreda-me ao ouvido, a propósito de uma feliz e inesperada visita : - « Um belo dia, ligou-me que ia a caminho da minha casa… quando au já desesperava de a convidar sem resultado ! Cise não se convida, é deixá-la que vem sozinha ». 
    Caprichos de star ? Nada disso, Cise é assim mesmo! Nos anos oitenta, era ela uma cantora do Mindelo como tantas outras, e eu, jovem jornalista da Rádio, lembro-me ainda: o que não suávamos para conseguir levá-la ao estúdio para uma entrevista ! Melhor mesmo era ter à mão uma alternativa para a emissão, sabendo que tanto podia vir como não ! 
    Mas caprichos de star, isso nunca ! Quanto mais não seja porque Cesária não era star nessa altura e sequer sonhava vir a sê-lo. E se hoje é quem é, nem por isso deixou de ser quem era! Por mais que  falem dela em jornais e livros, que por onde passa as pessoas se extasiem  e lhe estendam o tapete vermelho, Cesá ria nunca entrou na pele dessa vedeta planetária que ouve dizer que é! Tirando as rugas do tempo e os adornos em ouro que sempre afeccionou â€" e isso é muito caboverdeano, â€" quem a viu há 30 anos, assim a vê agora : igual a si mesma, fiel aos seus hábitos e aos amigos de sempre. Assim o enfatizou Christine Albanel, ministra da Cultura, ao outorgar-lhe, em nome do Presidente da República Francesa, a Legião de Honra em 2009 : « Ni vos nominations aux Grammy awards, ni vos Discs d'or, ni la présence de Madonna aux premiers rangs de vos concerts new-yorkais n'ont réussi à entamer votre authenticité, votre vérité qui ont
     forgé votre succès ».
    Com essa mesma simplicidade, agora inspirando alguma emoção por causa da doença, fomos encontrar a Cise no seu leito de hospital, eu e mais o encarregado de negócios António Lima. Éramos portadores de uma mensagem de Sua Excia o Presidente da República, Dr. Jorge Carlos Fonseca, que ela agradeceu, comovida quanto baste mas nem por isso envaidecida. Tampouco se envaidece de ter recebido uma carta do presidente Sarkozi.
    Cesária é simplesmente única. E as honras, cuidado porque, se mexem com ela, até as declina! Quem não se lembra do avião que ia levar o seu nome mas que ela recusou ir baptizar por, numa das suas viagens, lhe terem faltado as suas bagagens no desembarque? ! Fez finca-pé, disse que não ia - e não foi!
    Para os amigos, aqueles que convivem de perto com a Cise ou a frequentam na sua casa em S. Vicente, a coisa é outra : cachupada, bom humor, cavaqueira descontraٌí da. Visitar a Cesária, verdadeira « peregrinação » para certos fãs, é impregnar-se da morabeza caboverdeana. Aqueles que conheço regressaram embevecidos com a simplicidade dessa vedeta mundial de lenço e avental, servindo seus convidados como Cristo lavando os pés aos apóstolos ! Para os franceses (e não só), Cabo Verde é Cesária : quem não teve a felicidade de a ouviu cantar, decerto ouviu falar. Que resida em part-time na cidade-luz, seu « port d'attache » de onde partiu um dia à conquista do mundo com o seu canto mágico, é motivo de orgulho para eles. 
    Um exemplo para seguir e reflectir
    A cada geração, seus filhos dilectos. Nossos filhos dirão que tivemos sorte em sermos testemunhas dessa formidável « victoire du talent sur la fatalité ». Não vou aqui recapitular este destino singular, ao mesmo tempo singelo e palpitante, que já deu tantos livros biográficos e que certos fãs já conhecem de cor. Para as gerações vindouras fica este legado vivo, gravado em vinil e não sei quantos CD's e outros tantos sucessos, a testemunhar que foi essa grande senhora, discreta e sem título, quem tirou Cabo Verde da penumbra do anonimato! 
    Sirva de exemplo às gerações vindouras…
    E de lição aos deuses do Olimpo ! Que a vanglória de mandar não prime sobre o amor à terra daqueles caboverdeanos que carregam no ombro a bandeira desta grande Nação sem nada pedir em troca! Reflictam aqueles políticos e governantes que, carregados de títulos e brasões (de grandeza mais que de obra feita), andaram gaguejando pelo mundo (quando não entraram mudos e sairam calados !) enquanto Cesária e seus músicos seduziam multidões ! Que agora, no regresso à casa após ter bebido nos oásis do mundo que lhe abriram as portas, meditem aqueles que lhe recusaram uma caneca d'água quando, sozinha, atravessava o deserto das agruras da vida! Que a nossa « gente grande » se acalme na sua soberba, que a história não é feita somente de títulos e de poder, que estes vão passando, mas sobretudo de valores que perduram na memória e no tempo.
    Uma reforma bem merecida
    « Si ca bado ca ta birado ». Cumprida esta profecia de Nhô Eugénio, o poeta, e após ter frequentado « la cour des grands », é chegada a hora da reforma. Bem merecida é ela após uma vida inteira a cantar Cabo Verde e metade dela a levar Cabo Verde ao Mundo. 
    Porque conquistar o mundo, Cise, convenhamos, é dose para leão. Lembras-te ? Entre as voltas que o mundo dá e as voltas que deste ao mundo, em 2008 já o coração havia acusado um primeiro choque : por pouco ia parando lá pela longínqua Austrália, nas antípodas do « Mindelo, nôs querido cantim ». Estoica te ergueste e continuaste a caminhada. Mas agora, descansá bô corp, vivê bô vida sem stress. E por favor, tmá bôs ramêd e largá kel cigarrim da mon. Kês "matutano" tambê. Sabes que ainda tens muito para dar : deixaste as tournées, que isso de andar pelo mundo não é brincadeira, mas sempre poderás, porque não, voltar aos palcos uma vez por outra. Os teus admiradores hão-de gostar e Cabo Verde agradece. Afinal, Cise, és a nossa bandeira. És um padrão a assinalar ao mundo inteiro que no meio do Atlântico existe um arquipélago com gente e com alma, que não apenas um produto exótico para consumo turístico e
     « outros » consumos para quem dá mais. 
    Se acaso não merecesses o nosso carinho, ainda te devíamos a gratidão. Bom descanso na Tapadinha.
    Mantenhas da Terra-longe, 21 de outubro de 2011
    David Leite
    
    
  • Jeanne Pereira: «O galego é português e o português é galego»

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    da AGAL SE TRANSCREVE

    Jeanne Pereira: «O galego é português e o português é galego»

     

    «O pequeno império deixa claro que a Galiza é unha periferia de Madrid e não uma nação com identidade própria»
    «Deixemos de lado esse discurso ultrapassado dito por muitos galegos de que o português se parece muito ao galego e mudemos para este: de que o galego é português e o português é galego»

     

    Sexta, 21 Outubro 2011 08:18
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    Jeanne defende o galego como língua «extensa e útil»

     

    PGL – Jeanne Pereira, brasilega, achava estranho o galego se escrever com ortografia castelhana e pensa que temos que ter a ousadia de dizer a verdade sobre a língua da Galiza. É uma magnífica embaixadora do nosso país e da nossa língua.
    PGL: Jeanne Pereira é baiana. Que te motivou a vires para a Galiza e como sentiste a integração no nosso país?
    Jeanne Pereira: Por questões pessoais necessitava sair do Brasil. Eu já sabia que aqui havia um idioma que era parecido ao português. Por que era exatamente o que pensava por ter pesquisado algo em relação a Galiza, à sua historia, em sites de pesquisas que nada tinham a ver com a realidade do país. Lembro bem que procurei saber da realidade política, e porque esse idioma ‘parecido’ ao meu. O que me chamou a atenção foi a ortografia, achava estranho um idioma com uma escrita igual ao espanhol, principalmente porque diziam ser ‘parecido’ ao português. E pensei como é possível?
    PGL: Falando em integração, como foi o teu contato primeiro com o reintegracionismo?
    JP: Através de José Alvaredo, que foi um pessoa muito especial que no seu momento se dedicou a mostrar a verdade em relação a realidade da Galiza. Uma pessoa que foi importante para que eu pudesse chegar à realidade sociolinguística. Era interessante o que ele fazia, era uma preocupação diária, ja que colocava como página principal o site da AGAL e Vieiros. Quando eu abria o computador, estavam ali, então lia e tirava as dúvidas com ele, mesmo quando chegava em casa cansado do trabalho, nunca se negou a explicar-me e dedicar todo o tempo possível para dar-me esclarecimentos com uma paixão pela Galiza, pelo nosso idioma em comum, que me contagiava.
    Foi a primeira pessoa que me disse que…o português nasceu na Galiza. As dúvidas eram tiradas e muito bem esclarecidas ao ponto de me deixar mais curiosa. Inclusive a realidade política veio a través dele. O meu primeiro comentário sobre a língua foi em Vieiros, que passei a difundir a realidade do país através deste jornal.
    O primeiro dicionário consultado foi o Estraviz. Comecei a comentar artigos em Vieiros para chegar a outros brasileiros que não conheciam a realidade da Galiza. Aproveito para agradecer todo o apoio dado por esse grande mestre que no seu momento, como disse, foi extremamente importante para mim. Um muito obrigada Zé! Sigo adiante e com muita força valorizando tudo que aprendi.
    PGL: Estás a estudar galego, versão ILG-RAG, na EOI. Este formato de galego pode funcionar bem na interação com pessoas do Brasil e de Portugal?
    JP: Não, pela ortografia, que é espanhola, que nada tem a ver com português. É uma norma isolacionista que foi imposta pelo Estado espanhol, já que a Galiza pertence ao Estado e o governo autonômico, em vez de aproximar o galego ao português, pretende aproximá-lo ao espanhol, diluindo assim a identidade galega. É uma estratégia política do pequeno império, uma forma de colonizar a população galega, separando o nosso idioma em comum. Inclusive alguns brasileiros dizem que é um galego ‘feio’, ‘mal escrito’. É uma questão tanto da fala como da escrita. Existem vícios de linguagem que infelizmente são muito utilizados pelos/as galegos/as pela influência do espanhol, daí que os/as brasileiros/as se aproximem ao espanhol e não ao galego, já que o galego raguiano é um dialeto do espanhol, e vista como uma língua ‘misturada’ do espanhol.
    PGL: Não sei se sabias que nas EOI existe a figura de língua ambiental, aquelas que a priori existem na sociedade onde está inserido o centro. Na Galiza são três, galego, português e castelhano. Isto facilitou o teu dia a dia, não é?
    JP: Deixemos de lado esse discurso ultrapassado dito por muitos galegos de que o português se parece muito ao galego e de que um galego pode aprender português por ser parecido, e mudemos para este: que o galego é português e o português é galego. A prova é que o galego já está no dicionário da Porto Editora desde 2008 no vocabulário comum e breve nos dicionários brasileiros.
    A facilidade de entendimento é grande desde quando se abra a mente para isso. Para mim sempre tem sido fácil porque não importa se falam comigo em espanhol, eu falo em galego-português, estou na Galiza, e isso tenho claro. Já escutei muita gente falarem para mim “Não te entendo”. Eu respondo, “pois deveria, estamos na Galiza, a língua do meu país nasceu aqui, temos inclusive um vocabulário comum.
    Palavras que foram levadas daqui para o Brasil, que surgiram aqui”. Infelizmente, por questões de imposição do estado espanhol, não podemos usar a nossa língua nas traduções juramentadas. Por exemplo, um título universitário do Brasil, tem que ser traduzido ao espanhol e não à língua própria do país.
    PGL: No Brasil existe um desconhecimento da Galiza e da sua língua. Qual a reação média de uma pessoal do Brasil quando descobre?
    JP: Muitos galegos que visitam o Brasil, de férias, para estudar, os emigrantes que vivem ali uma boa parte não são vistos como galegos e sim espanhóis. Inclusive Santiago de Compostela é destino para quem está a aprender espanhol. O pequeno império deixa claro que a Galiza é unha periferia de Madrid e não uma nação com identidade própria. Escuto de muitos galegos como uma brasileira pode saber tanto da Galiza ao ponto de dizer que o português e o galego é o mesmo e que eles sendo galegos não sabem nada da realidade e alguns se aborrecem afirmando que tudo isso é uma mentira, que a história mostra claramente as diferenças nas duas línguas que é impossível serem um único idioma com variantes diferentes.
    Sempre cito como exemplo muitos galegos que estiveram ali no Brasil e que muitos brasileiros perguntavam de que região faziam parte, ou até mesmo de que estado. Infelizmente a realidade da Galiza ainda é desconhecida no meu país, mas faço minhas as palavras do José Carlos da Silva, que diz: “Reclamo um maior conhecimento da realidade da Galiza no Brasil”.
    Agora, o dia 6 de novembro estarei de volta a Salvador, mas levo comigo o compromisso de mostrar essa realidade, a de um país que possui um idioma em comum com o meu, e de que a sua língua nasceu aqui na Galiza. É com muito orgulho e muita gratidão por um país que aprendi a amar como sendo meu, um país que me acolheu, porque sempre deixo claro que fui acolhida pela Galiza e não pela Espanha, que lutarei para que esse conhecimento seja real no Brasil.
    PGL: Achas que existem diferenças entre a cidadania galega na sua perceção do Brasil e da lusofonia em geral?
    JP: Muitos galegos veem o Brasil como um destino turístico, não como um país com uma língua em comum. O Brasil ultimamente é visto por ser a sétima economia mundial e nos meios de comunicação aparece muito este facto, mais nada em relação questão da língua. O Brasil infelizmente não conhece essa realidade.
    PGL: Certos círculos sociais em Santiago falam da figura do(a) brasilego(a), uma pessoa que vive na nossa língua cá na Galiza frente a atitude mais habitual de desenvolver-se em castelhano no dia a dia. É exportável esta forma de viver a outras cidades?
    JP: Em Santiago sim, mais noutras cidades não porque a fala predominante é o espanhol. Em Santiago também depende do ambiente que frequente ou que esteja. Há lugares que inclusive falo o meu ‘baianês’ com uma rapidez como se estivesse em Salvador. Chego a mudar completamente o meu sotaque e falar com uma desenvoltura que as vezes não me dou conta que estou em Santiago.
    PGL: Tu segues os passos da estratégia luso-brasileira para o galego. Que tipo de táticas achas mais produtivas e quais achas que se deveriam implementar para a cidadania galega viver o galego como sendo extenso e útil?
    JP: Táticas temos muitas, inclusive as redes sociais, são meios de grande importância para divulgar a nossa realidade. Há que sensibilizar e ter muita valentia e ousadia no falar, na hora de dizer a verdade sobra a realidade o país, sobre o seu idioma próprio e cultura, afirmando com muita força que “Galiza não é Espanha”, e que isso fique bem claro, não tendo medo de falar a verdade em alto e bom som,para todo mundo ouvir.
    O incentivo a leitura dos jornais na nossa língua, dando prioridade as publicações em galego-português, também nas redes sociais. Ao invés de estarmos publicando notícias de meios espanholistas, publicarmos noticias com o nosso idioma.
    Aproveitar o momento político do Brasil pode ser algo importante, para mostrar que além de um país em crescimento com ofertas de emprego, para os galegos, há a vantagem de termos um idioma em comum, o que facilita muito no mercado de trabalho. A ousadia e a valentia de sempre dizer a verdade, sobre a realidade da Galiza, é importante. Já passou da hora de vencer todo esse auto-ódio que nos contamina de forma negativa, tirando a coragem e a força de muitos em falar a realidade e de lutar pelo seu país, livrando-se da colonização mental imposta pelo ‘Reino de Espanha’, por um pequeno Império fracassado, prepotente e complexado, em que infelizmente a Galiza tem sofrido por estar sendo Desgovernada por um partido que em nada representa o país, levando a Galiza ao retraso.
    PGL: Que visão tinhas da AGAL, que te motivou a te associares e que esperas da associação?
    JP: A nossa língua é extensa e útil, a nossa língua é internacional, e a AGAL cumpre perfeitamente esse papel como representante do nosso idioma, com muita seriedade e responsabilidade divulgando de forma séria o seu trabalho em prol da nossa língua e da realidade sócio-linguística do país. Levando ao conhecimento inclusive a nível internacional. Parabenizo a associação pelo grande trabalho que vem sendo realizado nesses 30 anos de existência, mostrando a internacionalidade da nossa língua em comum. Espero sempre o melhor e que esse trabalho cresça e continue recebendo todo o apoio merecido para dar continuidade a divulgação da nossa língua.
    PGL: Como vai ser o Brasil do futuro?
    JP: Espero que seja um país com menos desigualdade social, investindo em políticas sociais, fortalecendo a saúde pública como direitos de todos, com qualidade. Que o presidente ou presidenta que ali esteja, chegue a ONU, um dia no seu discurso, reivindicando e reconhecendo a liberdade e soberania de muitas nações como a Galiza.

    Conhecendo Jeanne Pereira

    • Um sítio web: são vários, principalmente os relacionados a política e escritos no nosso idioma em comum. Por exemplo, leio todos os dias a revista Carta Maior.
    • Um invento: o que traga beneficio à humanidade
    • Uma música: Apesar de Você (Chico Buarque)
    • Um livro: O Golpe de 64 e a Ditadura Militar, de Júlio José Chiavenato. Esse livro foi uma grande referência para mim, a nível político e um grande presente dado por meu pai, quando tinha apenas 15 anos de idade.
    • Um facto histórico: a independência da Galiza
    • Um prato na mesa: um caruru completo (comida baiana)
    • Um desporto: Fórmula 1
    • Um filme: O auto da compadecida, de Ariano Suassuna.
    • Uma maravilha: a descoberta da vacina contra o vírus da Sida
    • Além de brasileira: brasilega

     

    Comentários

    # Re: Jeanne Pereira: «O galego é português e o português é galego»Carlos Durão 21-10-2011 09:21

    Mal posso conter as bágoas, cara Jeanne, mulher valente: sei muito bem que estas belas frases tuas:”Há que sensibilizar e ter muita valentia”, “A ousadia e a valentia de sempre dizer a verdade, sobre a realidade da Galiza”, não são vazias, que és testemunha privilegiada da nossa situação precária, até tu própria pudeste comprovar em ti mesma essa prepotência, no fundo esse racismo do EE para quem não seja “como ele”; no teu imenso Brasil estaremos contigo, sempre, até pode ser que te visitemos alguns de nós; leva o meu forte, fundo, acarinhado abreço galego.

    Carlos

     

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  • A Pedra de Dighton, Colombo Português, descoberta da Austrália por um Português!

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    A Pedra de Dighton, Colombo Português, descoberta da Austrália por um Português!

    Os historiadores Renegados de Portugal!

    Esclarecimentos da História que é ensinada.Será que os interesses instalados alguma vez permitirão as correções?

    Por Manuel Luciano da Silva, Médico

    Infelizmente ainda continuam a existir várias dezenas de acontecimentos e personalidades históricas de Portugal que nunca foram pesquisadas nem diagnosticadas — com a técnica de autópsias — porque os chamados historiadores universitários preferem manter um estado de controvérsia para poderem usar mais paleio nas suas aulas e assim impressionar os seus alunos, revelando-se que são realmente sabichões!

    Estes professores são autênticos renegados da História de Portugal! Vamos encontrar a maior concentração de historiadores renegados nas Universidades Nacionais Portuguesas, porque ganham o mesmo, não investigando NADA!
    Há mais de 40 anos nas minhas viagens a Portugal, a primeira coisa que eu fazia era ir às livrarias e procurar livros escritos pelos vários historiadores de Portugal que tratassem dos Descobrimentos Portugueses. E gastei muita “massa” neste projeto!

    Em pouco tempo apercebi-me que esses livros foram escritos por historiadores que usaram uma grande variedade de adjetivos diferentes, não apresentando NADA de novo, mas todos eles tiveram o cuidado de emitir as suas “doutas opiniões” renegando os protagonistas ou os feitos históricos.

    Estes historiadores renegados não sabem fazer uma REFUTAÇÃO porque não sabem procurar, nem analisar, nem fazer uma autópsia a um documento ou a um monumento. Porquê? Porque estes historiadores renegados não saiem da sua universidade nem da biblioteca em sua casa, para se deslocar, irem aos locais onde se encontram os dados históricos e examiná-los com as técnicas científicas modernas.

    Apenas três exemplos:
    Vou citar apenas três casos históricos que têm sido e continuam a ser renegados pelos chamados grandes historiadores de Portugal.

    (1) As inscrições portuguesas gravadas na Pedra de Dighton pelo navegador Miguel Corte Real em 1511.
    (2) A Portugalidade do Navegador Cristóvão Colon, ou Colombo.
    (3) A Descoberta da Austrália pelo Navegador Cristóvão de Mendonça em 1522.

    Nós, Médicos, ao ensinarmos Medicina apresentamos o doente em frente da classe para os alunos fazerem perguntas ao doente sobre os sinais e sintomas e depois discutimos todos juntos o diagnóstico e o tratamento da doença.
    É assim que se deve ensinar. Era assim que os Professores de História deviam também fazer. Apresentar diretamente aos alunos a matéria a ser diagnosticada e deixar os alunos refutar ou concordar com o diagnóstico corrente.

    Todos os alunos se devem envolver para que a aprendizagem seja muito mais proveitosa. A atitude de “Magister dixit” era usada no tempo da Idade Média. Agora, nos tempos modernos, isso está fora de moda!

    Para se fazer o diagnóstico das inscrições gravadas na Pedra de Dighton é preciso usar-se as técnicas da Arqueologia e mais especificamente as técnicas da Epigrafia.

    As inscrições gravadas na Pedra é que são a prova irrefutável do diagnóstico. Não é qualquer pergaminho que possa existir em Portugal.
    Mas até à data (2010) ainda NÃO veio NENHUM historiador especifico universitário de Portugal examinar no local a face da Pedra de Dighton que agora está protegida dentro dum museu, em Berkley, Massachusetts, E. U. A.
    Como é que podem fazer o diagnóstico correto das inscrições a mais de três mil milhas de distância? Isso é ser um profissional desonesto!

    As inscrições da Pedra de Dighton são muito simples. Constam de:
    (1) Nome do Capitão, Miguel Corte Real, ao centro
    (2) Os Escudos Nacionais Portugueses em forma de “U” e “V”
    (3) Quatro Cruzes da Ordem de Cristo com extremidades em 45º.
    (4) Data de 1S11 com o algarismo em formato de um S maiúsculo.

    Colombo Português

    Os historiadores renegados de Portugal ainda andam mais assanhados com este tema do Navegador Cristóvão Colon ou Colombo ser Português. Porquê? Eles aprenderam erradamente que este navegador nasceu em Génova e depois passaram anos a ensinar a mesma asneira.

    Muitos destes historiadores renegados escrevem livros e artigos a defender a teoria que ele nasceu em Génova e alguns chegaram até a receber prémios do Governo Italiano e claro que agora não têm “cojones” para admitir que o que têm estado a ensinar aos seus alunos está errado! Nós em medicina mudamos de diagnóstico sem acanhamento nenhum, porque queremos o bem do doente, queremos curar o doente.
    Não tomamos uma atitude “daqui não saio, daqui ninguém me tira”, como acontece com os historiadores! Para se fazer o diagnóstico científico da Portugalidade do Navegador Cristóvão Colon, é muito fácil se examinarmos os documentos coevos sem inventarmos fantasias baseadas na cabala ou imagens em espelho! Basta concentrarmo-nos nos seguintes dados:
    (1) Duas Bulas Papais de 3 e 4 de maio de 1493, que existem na Biblioteca do Vaticano, apresentando os seus textos totalmente escritos em latim, mas tendo o nome do Navegador escrito em português antigo ou seja: Cristofõm Colon.
    (2) A Sigla do Navegador é muito simples se soubermos os significados da pontuação grega e certos termos próprios em latim e hebraico. Estas interpretações seriam um exercício fora do vulgar para todos os alunos de história.
    (3) O Monograma do nome Salvador Fernandes Zarco
    (4) A Bênção hebraica para o Filho Legítimo Diogo Colon
    (5) O Brasão do Cristóvão Colon com as Quinas de Portugal
    (6) Os 40 topónimos portugueses que o Navegador pôs a muitas ilhas das Caraíbas depois das quatro viagens que ele fez.
    (7) Já se fizeram as análises do ADN em 477 homens oriundos de Espanha, do sul de França e do Norte de Itália, os quais assinaram os seus nomes testemunhando que eram descendentes diretos do Navegador. Os resultados científicos provaram que NENHUM destes 477 IMPOSTORES tinha um cromossoma Y igual ao cromossoma Y do filho Fernando Colon e ao cromossoma Y do irmão Diogo Colon, (irmão do Navegador), os quais foram encontrados nos seus respetivos ossos preservados nos mausoléus na Catedral de Sevilha. Portanto já podemos concluir que baseados nos estudos científicos do ADN o Navegador Cristóvão Colon não podia ter sido italiano, nem francês, nem espanhol !!!
    Descoberta da Austrália por um Português!
    Description: http://4.bp.blogspot.com/_U75TPM79uJY/TOz9cYZI0GI/AAAAAAAABY4/Uk7zjfl47zc/s200/austr%25C3%25A1lia.bmp
    Exemplo dum Mapa da Coletânea Vallard mostrando a Costa Oriental da Austrália
    NÃO foram os historiadores renegados portugueses que descobriram que o Português Cristóvão de Mendonça, mandado pelo Rei D. Manuel I em 1522, foi à procura da “Ilha do Ouro”, chegando a dar a volta total ao continente australiano, registando toda a sua viagem em mapas coevos, com 120 topónimos portugueses, cujas cópias fazem parte da Coleção Vallard que está preservada na Biblioteca de Huntington em San Marino na Califórnia perto de Los Angeles, Estados Unidos da América.
    Já foram escritos quatro livros por autores australianos — dois em inglês e dois em português — a afirmar que foi o Cristóvão de Mendonça que descobriu a Austrália 250 anos ANTES do inglês Francis Drake lá ter abordado. [Nota: Chrys Chrystello tem documentado estes eventos desde 1985 ver http://www.dightonrock.com/adescobertadaaustraliapelosportu.htm )
    Aqui estão os dados apresentados pelos dois autores australianos:
    “The Secrete Discovery of Australia” = “Descoberta Secreta da Austrália” pelo Advogado Kenneth McIntyre. Tradução da Fundação do Oriente. E o outro livro publicado na Austrália pelo jornalista científico Peter Trickett com o título de “Beyond Capricorn” – “Para além do Capricórnio” publicado já em Portugal.
    Ambos estes livros apresentam dados arqueológicos:
    (1) as ruínas dum Forte Português na Austrália;
    (2) uma peça de chumbo usada pelos portugueses na pesca;
    (3) uma peça de faiança portuguesa;
    (4) um canhão português do século XVI e ainda;
    (6) 15 mapas mostrando a costa marítima da Austrália com 120 topónimos portugueses.
    Todos estes 15 mapas em pergaminho estão preservados numa caixa sem oxigénio na Biblioteca de Huntington,
    em San Marino na Califórnia, formando a famosa Coletânea de Vallard.
    Os Historiadores Renegadores vão perder!
    Não temos dúvida absolutamente nenhuma que os historiadores renegados de Portugal vão perder estas três batalhas:
    (1) da Pedra de Dighton, (2) do Colombo Português e (3) da descoberta da Austrália por Cristóvão de Mendonça em 1522.
    Entretanto é realmente uma pena que esta vitória final tarde a chegar porque quem continua a perder é Portugal!
    Não vou mencionar aqui os nomes dos historiadores renegados porque eles não merecem essa consideração. Pela sua teimosia vão morrer e não vão deixar nome nenhum na História de Portugal !
    O Almirante Teixeira da Mota, que foi um grande pesquisador da Cartografia Portuguesa, antes de morrer, foi o único que aplaudiu as pesquisas de Kenneth McIntyre concordando com a descoberta da Austrália pelo Português Mendonça.
    Devemos lembrar que durante o reinado de D. Manuel I, conhecido como “Rei da Pimenta”, porque pagava mal aos cartógrafos que trabalhavam na Casa da Índia, 62 desses cartógrafos portugueses saíram de Portugal e foram trabalhar para a Espanha, França, Holanda e Inglaterra.
    Muitos mapas portugueses que existem hoje no mundo foram feitos por esses cartógrafos que passaram a ser chamados de “Traidores”.
    Com a destruição da Casa da Índia pelo Terramoto de 1755, hoje não teríamos a Coleção Vallard que foi feita na Escola Cartográfica de Dieppe, em França, pelos tais cartógrafos “Traidores” portugueses que abandonaram o Rei D. Manuel I.
    Felizmente que a Coleção Vallard existe hoje para maior glória da História de Portugal! Com a confirmação da descoberta da Austrália por Cristóvão de Mendonça em 1522, podemos afirmar doravante que os navegadores portugueses descobriram o GLOBO TODO e não apenas dois terços!

     



    Cumprimentos e abraços
  • Morreu Aristides Pereira, primeiro Presidente de Cabo Verde

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    Memória 
    
    quinta-feira, 22 de Setembro de 2011 | 10:13  Imprimir  Enviar por Email     
    
    Morreu Aristides Pereira, primeiro Presidente de Cabo Verde
    
    
    O primeiro Presidente da República de Cabo Verde Aristides Pereira morreu hoje nos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC), avançou à Lusa a ministra da Saúde daquele país, Cristina Fontes Lima. 
    Aristides Pereira, de 87 anos, estava em Portugal desde início de agosto, tendo sido operado em Coimbra na sequência de fractura no colo fémur agravada pela condição de diabético.
    
    Diário Digital / Lusa 
  • Machimbombo

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    O termo “Machimbombo” generalizou-se em Angola (região de Luanda, sobretudo) para designar os autocarros de transportes públicos. Supunha-se que era um termo gentílico, mas afinal acabámos por constatar que é um vocábulo levado de Portugal para Angola em princípios do século XX.
    Veja o documento histórico abaixo. O artigo está muito bem escrito com ortografia antiga.Uma preciosidade!

    Machimbombo é uma palavra portuguesa que significa elevador mecânico, mas que caiu totalmente em desuso em Portugal – mas, como se refere nesta anterior resposta, de uso corrente em Angola e em Moçambique.

    O que se transcreve em baixo é a história – e a morte – do antecessor do emblemático elétrico 28 de Lisboa, conforme notícia da revista Ilustração Portuguesa n.º 386, em 17 de julho de 1913. Chamava-se, então, “Machimbombo da Estrela“.

    E, do que dela pelo menos parece legítimo concluir, é a comprovação de que a palavra machimbombo, provinda do inglês machine pump, já se usava em Portugal no início do século XX.

  • O VERDADEIRO SIGNIFICADO DA PALAVRA TREM

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    O VERDADEIRO SIGNIFICADO DA PALAVRA TREM

    Interessante que o assunto mineirês veio à tona logo no dia em que alguns transtornos foram causados pelo seu desconhecimento por parte de alguns jornalistas, que escreveram a seguinte manchete: – ‘ Trens batem de frente em Minas.’

    Os mineiros, obviamente, não deram a devida importância, já que para eles isto quer dizer apenas que duas coisas bateram. Poderia ter sido dois carros, um carro e uma moto, uma carroça e um carro de boi; ou
    até mesmo um choque entre uma mala de viagem e a mesa de jantar.

    Movido pela curiosidade, resolvi então consultar o Aurélio. E vejam o que diz:

    trem [Do francês/inglês. train.] Substantivo masculino.
    1 Conjunto de objetos que formam a bagagem de um viajante. 2.Comitiva, séquito. 3. Mobiliário duma casa. 4. Conjunto de objetos apropriados para certos serviços… 5. Carruagem, sege. 6. Vestuário, traje, trajo. 7.Mar. G. Bras. Grupamento de navios auxiliares destinados aos serviços (reparos, abastecimento, etc.) de uma esquadra. 8. Bras. Comboio ferroviário; trem de ferro. 9. Bras. Bateria de cozinha. 10. Bras. MG C.O. Pop. Qualquer objeto ou coisa;
    coisa, negócio, treco, troço: ‘ensopando o arroz e abusando da pimenta, trem especial, apanhado ali mesmo, na horta.’ (Humberto Crispim Borges, Cacho de Tucum, p. 186). 11 .Bras. MG S. Fam. Indivíduo sem préstimo, ou de mau caráter; traste.

    Vejam que o sentido de comboio ferroviário é apenas o 8º, e ainda é considerado um brasileirismo.

    Comentei o fato com um amigo especialista em etimologia, que me esclareceu a questão: o comboio ferroviário recebeu o nome de trem justamente porque trazia, porque transportava, os trens das pessoas.
    Vale lembrar que nessa época o Brasil possuía uma malha ferroviária com relativa capilaridade e o transporte ferroviário era o mais importante. Assim, era natural que as pessoas fizessem essa associação.

    Moral da estória:
    O mineiro é, antes de tudo, um erudito. Além de erudito, ainda é humilde e aceita que o pessoal dos outros estados tripudie da forma como usa a palavra trem. Na verdade, acho que isso faz parte do ‘espírito cristão do mineiro’. Ele escuta as gozações e pensa: que sejam perdoados, pois não sabem o que dizem.

    Recebi sem indicação da AUTORIA.
  • São Tomé e Príncipe: exigem-se mais esforços na área da educação

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    São Tomé e Príncipe: exigem-se mais esforços na área da educação

    Segundo os observadores São Tomé e Príncipe precisa de continuar a trabalhar para atingir os Objetivos para o Desenvolvimento do Milénio no setor da Educação

    Termina em Junho a primeira fase do projeto para a iniciativa de educação acelerada – Fast Track – para a qual o Banco Mundial investiu 3.6 milhões de dólares, cerca de 2,5 milhões de euros. Segundo o especialista em Educação do Banco mundial, Geraldo Martins, a instituição vai continuar a apoiar São Tomé e Príncipe para que em 2015 consiga atingir os Objetivos do Desenvolvimento do Milénio neste setor.
    “São Tomé e São Tomé e Príncipe está no bom caminho para o cumprimento desses objetivos”. Quem o diz é o responsável do setor da Educação do Banco Mundial para São Tomé e Príncipe, Geraldo Martins, depois da visita efetuada àquele país para fazer a avaliação ao cumprimento dos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio. Geraldo Martins salienta: “Em 2004 o país tinha indicadores de educação relativamente fracos, mas hoje a taxa de conclusão do ensino básico é superior a 60 por cento, o que representa um progresso enorme em relação à situação de 2004. Cerca de 312 mil manuais escolares foram distribuídos nos últimos quatro anos a todos os níveis do ensino básico, fazendo com que todos os alunos tenham um manual das duas principais disciplinas, isto é matemática e língua portuguesa. De uma maneira em geral esses progressos são importantes”.
    Projeto de “Iniciativa de educação acelerada” dá os seus frutos
    O Banco Mundial invstiu 2,5 milhões de euros no projeto Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: O Banco Mundial invstiu 2,5 milhões de euros no projeto “Fast Track” de educação acelerada em São Tomé e Príncipe. Na foto: logótipo do Banco Mundial; continente africano com pano de fundoAinda não é possível medir a qualidade de ensino existente em São Tomé e Príncipe, mas nestes últimos quatro anos, desde que o projeto de iniciativa de Educação acelerada – Fast Track – começou a ser implementado, foi possível mudar o ensino no país. “Foi implementado em três anos e durante esse período foram construídas e reparadas salas de aula ao nível do ensino básico e pré escolar, foram adquiridos e distribuídos manuais escolares aos alunos do ensino básico para além de ser reaberta a escola de formação de professores de São Tomé e Príncipe”, acrescentou o especialista em educação do Banco Mundial.
    Alargar o ensino básico até à sexta classe e promover a igualdade de género no acesso à educação básica, são medidas já implementadas pelo governo são-tomense. Segundo o professor do ensino básico de Ribeira Afonso e Colónia Açoriana, Nelson Diogo, essas medidas podem ajudar o país atingir em 2015 os Objetivos do Desenvolvimento do Milénio no setor da educação. “Com o alargamento do parque escolar até à sexta classe, mesmo a lugares longínquos como Ribeira Afonso, Colônia Açoriana, Angra Toldo, San Fenícia – lugares onde, sobretudo, as meninas não tinham acesso ao estudo devido à distância e problemas da própria família – hoje já é possível estudarem”, sublinha o professor.
    Ensino básico são-tomense : inscritas 93 por cento das crianças do país
    No ensino básico, que compreende a pré escolar e o 1. e 2. ciclos, estão inscritos 43.074 alunos, cerca de 93% das crianças no país, segundo dados do Ministério da Educação são-tomense. No ensino básico de São Tomé e Príncipe estão inscritas 93% das crianças no país. Na foto: panorâmica da roça Agostinho NetoBildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: No ensino básico de São Tomé e Príncipe estão inscritas 93% das crianças no país. Na foto: panorâmica da roça Agostinho Neto
    Os avanços positivos de São Tomé e Príncipe para atingir em 2015 a universalização do ensino básico não impedem que o Banco Mundial lance uma chamada de atenção: é que, segundo Geraldo Martins, o país tem que continuar a trabalhar na melhoria da qualidade do ensino: “Quando um país tem uma taxa de repetência com dois dígitos não é bom em termos de eficiência e mesmo em termos de qualidade de educação”, sublinhou.
    Geraldo Martins acrescentou que ainda há muita coisa que falta fazer para melhorar a qualidade da educação ao nível da formação de professores: “A escola de formação de professores de São Tomé e Príncipe EFOPE ficou muitos anos sem funcionar e, graças a este projeto, retomou as suas atividades há três anos; e neste momento está a formar vários professores depois de muitos anos em São Tomé e Príncipe”, disse Geraldo Martins.
    Também é preciso apostar na reciclagem dos professores que estão já no sistema, pois segundo o especialista do Banco Mundial “cerca da metade desses professores não têm formação pedagógica continua”. O objetivo de São Tomé e Príncipe até 2015 é garantir o acesso universal à educação básica no país.
    Autor: Edlena Barros
    Revisão : António Cascais
  • o crime do vale do Tua

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    Um artigo de Daniel Deusado, jornalista (JN – 08SET2011).
    Atentamente,
    Célia Quintas.
    NOVAS BARRAGENS = CRIMES
    O JN trazia esta semana dois artigos que se interligam profundamente. Num, o Norte como região turística preferida dos portugueses, sobretudo pela natureza e paisagem. No outro, o retrato da futura barragem do Tua. Questão: é possível destruir um rio como o Tua e manter-se a ficção de que o turismo é o maior activo do país?
    As barragens foram propagandeadas por Salazar como o milagre da energia barata e são hoje responsáveis por uma parte da produção de electricidade nacional, além de terem melhorado o controlo do caudal dos rios. Foi assim por todo o Mundo. Mas já se evoluiu muito desde então e hoje percebe-se melhor que elas têm um custo implícito, porque os ecossistemas vão sendo profundamente alterados e a nossa saúde paga todos os dias a factura…
    Infelizmente, para a maioria das pessoas, isto é conversa. O que importa é se a conta da luz é mais barata. Começo então por aqui: o plano de barragens posto em marcha pelo Governo Sócrates inclui uma engenharia financeira tipo “scut” cujo custo só vamos sentir daqui a uns anos de forma brutal – e aí já será tarde. Uma plataforma de organizações ambientais entregou esta semana à troika um documento que explica onde nos leva o plano da outra “troika” (Sócrates-Manuel Pinho-António Mexia). As 12 obras previstas que incluem novas barragens e reforço de outras já existentes produzem apenas o equivalente a três por cento de energia eléctrica do país, mas vão custar ao Orçamento do Estado e aos consumidores 16 mil milhões de euros… O documento avisa que a conta da electricidade vai, a prazo, incluir um agravamento de 10% para suportar mais este negócio falsamente “verde”. A EDP, a Iberdrola, etc., receberão um subsídio equivalente a 30% da capacidade de produção, haja ou não água para produzir. Mesmo paradas, recebem. A troika importa-se com isto?
    Os especialistas das organizações ambientais dizem, desde o princípio, que as novas barragens poderiam ser evitadas se houvesse aumento de capacidade das barragens existentes. Era mais barato e a natureza agradecia. Infelizmente a EDP apostou milhões para conseguir novas barragens, e isso incluiu antecipação de pagamentos de licenças que ajudaram o ex-ministro das Finanças Teixeira dos Santos a cobrir uma parte do défice de 2009, além da mais demagógica e milionária campanha publicitária da década, em que se fazia sonhar com barragens como se fossem os melhores locais do Mundo para celebrar a natureza…
    Estes monstros de betão vão agora destruir dois rios da região do Douro, desnecessariamente. O Sabor, por exemplo, é uma jóia de natureza ainda selvagem. À medida que o turismo ambiental cresce globalmente, mais Portugal teria a ganhar com um Parque Natural do Douro Internacional ainda inóspito, genuíno. Já não será assim. A barragem em construção inclui uma albufeira de 40 quilómetros onde se manipula o rio de trás para a frente, com desníveis súbitos, acabando com a vida fluvial endógena e o habitat das espécies em redor.
    Não menos grave é a destruição do rio Tua e da centenária linha do comboio. Uma vez mais o argumento é “progresso” – os autarcas e as populações acreditam que os trabalhadores da construção civil, que por ali vão andar por uns anos a comer e a dormir nas pensões locais, garantem a reanimação da economia… Infelizmente, não vêem o fim definitivo daquela paisagem e da mais bela história ferroviária de Portugal. Uma linha erigida a sangue, suor e lágrimas. Única. E que deveria ali ficar, mesmo que não fosse usada ou rentável, até ao dia em fosse entendida como um extraordinário monumento da engenharia humana e massivamente visitada enquanto tal.
    Ao deixarmos cometer mais estes crimes, em troca de um mau negócio energético, não percebemos mesmo qual o nosso papel no Mundo. Esquecemos que a Natureza nos cobra uma factura muito pesada quando destruímos a fauna e a flora. Estamos a comprometer a qualidade da água e das colheitas de que precisamos para viver, com consequências para a nossa saúde e a das gerações vindouras. Se ainda não sabemos isto, sabemos zero. E ainda por cima vamos pagar milhões. É triste.
  • autobiografia Saramago

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    Autobiografia
    fjs
    Nasci
    numa família de camponeses sem terra, em Azinhaga, uma pequena povoação
    situada na província do Ribatejo, na margem direita do rio Almonda, a
    uns cem quilómetros a nordeste de Lisboa. Meus pais chamavam-se José de
    Sousa e Maria da Piedade. José de Sousa teria sido também o meu nome se o
    funcionário do Registo Civil, por sua própria iniciativa, não lhe
    tivesse acrescentado a alcunha por que a família de meu pai era
    conhecida na aldeia: Saramago. (Cabe esclarecer que saramago é
    uma planta herbácea espontânea, cujas folhas, naqueles tempos, em épocas
    de carência, serviam como alimento na cozinha dos pobres). Só aos sete
    anos, quando tive de apresentar na escola primária um documento de
    identificação, é que se veio a saber que o meu nome completo era José de
    Sousa Saramago… Não foi este, porém, o único problema de identidade
    com que fui fadado no berço. Embora tivesse vindo ao mundo no dia 16 de
    Novembro de 1922, os meus documentos oficiais referem que nasci dois
    dias depois, a 18: foi graças a esta pequena fraude que a família
    escapou ao pagamento da multa por falta de declaração do nascimento no
    prazo legal.
    fjs
    Talvez
    por ter participado na Grande Guerra, em França, como soldado de
    artilharia, e conhecido outros ambientes, diferentes do viver da aldeia,
    meu pai decidiu, em 1924, deixar o trabalho do campo e trasladar-se com
    a família para Lisboa, onde começou a exercer a profissão de polícia de
    segurança pública, para a qual não se exigiam mais “habilitações
    literárias” (expressão comum então…) que ler, escrever e contar.
    Poucos meses depois de nos termos instalado na capital, morreria meu
    irmão Francisco, que era dois anos mais velho do que eu. Embora as
    condições em que vivíamos tivessem melhorado um pouco com a mudança,
    nunca viríamos a conhecer verdadeiro desafogo económico. Já eu tinha 13
    ou 14 anos quando passámos, enfim, a viver numa casa (pequeníssima) só
    para nós: até aí sempre tínhamos habitado em partes de casa, com outras
    famílias. Durante todo este tempo, e até à maioridade, foram muitos, e
    frequentemente prolongados, os períodos em que vivi na aldeia com os
    meus avós maternos, Jerónimo Melrinho e Josefa Caixinha.
    fjsFui
    bom aluno na escola primária: na segunda classe já escrevia sem erros
    de ortografia, e a terceira e quarta classes foram feitas em um só ano.
    Transitei depois para o liceu, onde permaneci dois anos, com notas
    excelentes no primeiro, bastante menos boas no segundo, mas estimado por
    colegas e professores, ao ponto de ser eleito (tinha então 12 anos…)
    tesoureiro da associação académica… Entretanto, meus pais haviam
    chegado à conclusão de que, por falta de meios, não poderiam continuar a
    manter-me no liceu. A única alternativa que se apresentava seria entrar
    para uma escola de ensino profissional, e assim se fez: durante cinco
    anos aprendi o ofício de serralheiro mecânico. O mais surpreendente era
    que o plano de estudos da escola, naquele tempo, embora obviamente
    orientado para formações profissionais técnicas, incluía, além do
    Francês, uma disciplina de Literatura. Como não tinha livros em casa
    (livros meus, comprados por mim, ainda que com dinheiro emprestado por
    um amigo, só os pude ter aos 19 anos), foram os livros escolares de
    Português, pelo seu carácter “antológico”, que me abriram as portas para
    a fruição literária: ainda hoje posso recitar poesias aprendidas
    naquela época distante. Terminado o curso, trabalhei durante cerca de
    dois anos como serralheiro mecânico numa oficina de reparação de
    automóveis. Também por essas alturas tinha começado a frequentar, nos
    períodos nocturnos de funcionamento, uma biblioteca pública de Lisboa. E
    foi aí, sem ajudas nem conselhos, apenas guiado pela curiosidade e pela
    vontade de aprender, que o meu gosto pela leitura se desenvolveu e
    apurou.
    Quando
    casei, em 1944, já tinha mudado de actividade, passara a trabalhar num
    organismo de Segurança Social como empregado administrativo. Minha
    mulher, Ilda Reis, então dactilógrafa nos Caminhos de Ferro, viria a
    ser, muitos anos mais tarde, um dos mais importantes gravadores
    portugueses. Faleceria em 1998. Em 1947, ano do nascimento da minha
    única filha, Violante, publiquei o primeiro livro, um romance que
    intitulei A Viúva, mas que por conveniências editoriais viria a sair com o nome de Terra do Pecado. Escrevi ainda outro romance, Clarabóia, que permanece inédito até hoje, e principiei um outro, que não passou das primeiras páginas: chamar-se-ia O Mel e o Fel ou talvez Luís, filho de Tadeu…
    A questão ficou resolvida quando abandonei o projecto: começava a
    tornar-se claro para mim que não tinha para dizer algo que valesse a
    pena. Durante 19 anos, até 1966, quando publicaria Os Poemas Possíveis , estive ausente do mundo literário português, onde devem ter sido pouquíssimas as pessoas que deram pela minha falta.
    Por
    motivos políticos fiquei desempregado em 1949, mas, graças à boa
    vontade de um meu antigo professor do tempo da escola técnica, pude
    encontrar ocupação na empresa metalúrgia de que ele era administrador.
    No final dos anos 50 passei a trabalhar numa editora, Estúdios Cor, como
    responsável pela produção, regressando assim, mas não como autor, ao
    mundo das letras que tinha deixado anos antes. Essa nova actividade fjspermitiu-me
    conhecer e criar relações de amizade com alguns dos mais importantes
    escritores portugueses de então. Para melhorar o orçamento familiar, mas
    também por gosto, comecei, a partir de 1955, a dedicar uma parte do
    tempo livre a trabalhos de tradução, actividade que se prolongaria até
    1981: Colette, Pär Lagerkvist, Jean Cassou, Maupassant, André Bonnard,
    Tolstoi, Baudelaire, Étienne Balibar, Nikos Poulantzas, Henri Focillon,
    Jacques Roumain, Hegel, Raymond Bayer foram alguns dos autores que
    traduzi. Outra ocupação paralela, entre Maio de 1967 e Novembro de 1968,
    foi a de crítico literário. Entretanto, em 1966, publicara Os Poemas Possíveis, uma colectânea poética que marcou o meu regresso à literatura. A esse livro seguiu-se, em 1970, outra colectânea de poemas, Provavelmente Alegria, e logo, em 1971 e 1973 respectivamente, sob os títulos Deste Mundo e do Outro e A Bagagem do Viajante
    , duas recolhas de crónicas publicadas na imprensa, que a crítica tem
    considerado essenciais à completa compreensão do meu trabalho posterior.
    Tendo-me divorciado em 1970, iniciei uma relação de convivência, que
    duraria até 1986, com a escritora portuguesa Isabel da Nóbrega.
    Deixei a editora no final de 1971, trabalhei durante os dois anos seguintes no vespertino Diário de Lisboa como coordenador de um suplemento cultural e como editorialista. Publicados em 1974 sob o título As Opiniões que o DL teve,
    esses textos representam uma “leitura” bastante precisa dos últimos
    tempos da ditadura que viria a ser derrubada em Abril daquele ano. Em
    Abril de 1975 passei a exercer as funções de director-adjunto do
    matutino Diário de Notícias, cargo que desempenhei até Novembro
    desse ano e de que fui demitido na sequência das mudanças ocasionadas
    pelo golpe político-militar de 25 de daquele mês, que travou o processo
    revolucionário. Dois livros assinalam esta época: O Ano de 1993,
    um poema longo publicado em 1975, que alguns críticos consideram já
    anunciador das obras de ficção que dois anos depois se iniciariam com o
    romance Manual de Pintura e Caligrafia, e, sob o título Os Apontamentos , os artigos de teor político que publiquei no jornal de que havia sido director.
    Sem
    emprego uma vez mais e, ponderadas as circunstâncias da situação
    política que então se vivia, sem a menor possibilidade de o encontrar,
    tomei a decisão de me dedicar inteiramente à literatura: já era hora de
    saber o que poderia realmente valer como escritor. No princípio de 1976
    instalei-me por algumas semanas em Lavre, uma povoação rural da
    província do Alentejo. Foi esse período de estudo, observação e registo
    de informações que veio a dar origem, em 1980, ao romance Levantado do Chão,
    em que nasce o modo de narrar que caracteriza a minha ficção novelesca.
    Entretanto, em 1978, havia publicado uma colectânea de contos, Objecto Quase, em 1979 a peça de teatro A Noite, a que se seguiu, poucos meses antes da publicação de Levantado do Chão, nova obra teatral, Que Farei com este Livro?. Com excepção de uma outra peça de teatro, intitulada A Segunda Vida de Francisco de Assis e publicada em 1987, a década de 80 foi inteiramente dedicada ao romance: Memorial do Convento, 1982, O Ano da Morte de Ricardo Reis, 1984, A Jangada de Pedra, 1986, História do Cerco de Lisboa , 1989. Em 1986 conheci a jornalista espanhola Pilar del Río. Casámo-nos em 1988.
    Em consequência da censura exercida pelo Governo português sobre o romance O Evangelho segundo Jesus Cristo
    (1991), vetando a sua apresentação ao Prémio Literário Europeu sob
    pretexto de que o livro era ofensivo para os católicos, transferimos,
    minha mulher e eu, em Fevereiro de 1993, a nossa residência para a ilha
    de Lanzarote, no arquipélago de Canárias. No princípio desse ano
    publiquei a peça In Nomine Dei, ainda escrita em Lisboa, de que seria extraído o libreto da ópera Divara,
    com música do compositor italiano Azio Corghi, estreada em Münster
    (Alemanha), em 1993. Não foi esta a minha primeira colaboração com
    Corghi: também é dele a música da ópera Blimunda, sobre o romance Memorial do Convento, estreada em Milão (Itália), em 1990. Em 1993 iniciei a escrita de um diário, Cadernos de Lanzarote, de que estão publicados cinco volumes. Em 1995 publiquei o romance Ensaio sobre a Cegueira e em 1997 Todos os Nomes e O Conto da Ilha Desconhecida . Em 1995 foi-me atribuído o Prémio Camões, e em 1998 o Prémio Nobel de Literatura.
    fjs
    Em
    consequência da atribuição do Prémio Nobel a minha actividade pública
    viu-se incrementada. Viajei pelos cinco continentes, oferecendo
    conferências, recebendo graus académicos, participando em reuniões e
    congressos, tanto de carácter literário como social e político, mas,
    sobretudo, participei em acções reivindicativas da dignificação dos
    seres humanos e do cumprimento da Declaração dos Direitos Humanos pela
    consecução de uma sociedade mais justa, onde a pessoa seja prioridade
    absoluta, e não o comércio ou as lutas por um poder hegemónico, sempre
    destrutivas.
    Creio ter trabalhado bastante durante estes últimos anos. Desde 1998, publiquei Folhas Políticas (1976-1998) (1999), A Caverna (2000), A Maior Flor do Mundo (2001), O Homem Duplicado (2002), Ensaio sobre a Lucidez (2004), Don Giovanni ou o Dissoluto Absolvido (2005), As Intermitências da Morte (2005) e As Pequenas Memórias (2006). Agora, neste Outono de 2008, aparecerá um novo livro: A Viagem do Elefante, um conto, uma narrativa, uma fábula.
    fjs
    No
    ano de 2007 decidiu criar-se em Lisboa uma Fundação com o meu nome, a
    qual assume, entre os seus objectivos principais, a defesa e a
    divulgação da literatura contemporânea, a defesa e a exigência de
    cumprimento da Carta dos Direitos Humanos, além da atenção que devemos,
    como cidadãos responsáveis, ao cuidado do meio ambiente. Em Julho de
    2008 foi assinado um protocolo de cedência da Casa dos Bicos, em Lisboa,
    para sede da Fundação José Saramago, onde esta continuará a
    intensificar e consolidar os objectivos a que se propôs na sua
    Declaração de Princípios, abrindo portas a projectos vivos de agitação
    cultural e propostas transformadoras da sociedade.
    Nota – Depois de A Viagem do Elefante, José Saramago escreveu Caim e O Caderno I e O Caderno II, livros que não chegou a acrescentar à sua Autobiografia.
    © José Saramago 2010
  • Como o falante galego é visto em Portugal?

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    Como o falante galego é visto em Portugal?
    
    A esta pergunta de um leitor , Carlos Rocha, responde no Ciberdúvidas da língua portuguesa assim:
     
    Há realmente um grande desconhecimento em Portugal acerca das afinidades linguísticas com a Galiza. Perante um falante de galego, é típico um português tentar falar castelhano, muitas vezes porque não reconhece o que ouve como língua ainda muito próxima da que fala a sul do rio Minho. Lembro-me, por exemplo, de que, durante a crise do Prestige no final de 2002, os noticiários portugueses normalmente legendavam as respostas das entrevistas feitas aos habitantes do litoral galego; muitos deles falavam um galego que, apesar da “geada” (troca do "g" por um som parecido com o "jota" castelhano), tinha uma entoação familiar para ouvidos portugueses. Este comportamento dos canais de televisão em Portugal parecia obedecer ao atavismo de considerar castelhano tudo o que se fala para lá da fronteira. Penso ainda que a identidade galega nem sempre é clara para o português médio ou popular. Assim, é curioso que, dialetalmente, nem sempre um
     galego é apenas um habitante da Galiza. Por exemplo, no Alentejo um galego pode ser um natural das Beiras (Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa). E suspeito que no Norte e no Centro de Portugal, em algumas regiões que não fazem fronteira com a Galiza, um zamorano, um salmantino ou até um estremenho de Cáceres – não sei se de Badajoz – sejam todos galegos (o que pode ter alguma verdade histórica em casos como os de San Martín de Trevejo, Valverde del Fresno e Eljas). É claro que também acontece que alguns (ou muitos?) portugueses ficam baralhados quando começam a ler o que se escreve a norte do Minho. É como se dissessem: «o que se passa, que os espanhóis andam a escrever num português estranho?» Recordo que há cerca de dez anos se dedicou um excelente número da revista Colóquio Letras (Fundação Calouste Gulbenkian) à cultura galega. Nele, a prof.ª Pilar Vázquez Cuesta abordava
     justamente o desconhecimento com que os portugueses (quase sempre não acadêmicos, mas também há acadêmicos) costumam “brindar” os galegos, quando se trata de falar dos laços comuns. Para esta situação contribui certamente o fato de a História ter dificultado desde muito cedo a descoberta ou o reforço desse elo: quando, com D. Dinis, os documentos notariais portugueses passaram a ser escritos na língua que se desenvolvera no Noroeste da Península e a que historicamente poderíamos chamar galego, o reino de Portugal já existia há mais de um século. Assim, ao querer dar nome ao “galego” que se falava do Minho ao Algarve, esse nome foi muito logicamente português, visto que se estava a designar o idioma do Reino de Portugal e do Algarve. Explica-se, deste modo, que se fale em português antigo, não porque se negue a relação ou mesmo a identificação com o galego, mas talvez porque se pensa que o Condado e, depois, Reino de
     Portugal é que deu consciência idiomática coletiva a uma parte dos dialetos galegos – os que eram falados pelos portugueses. Sobre este assunto, recomendaria uma obra que dedica alguns capítulos ao problema da designação da língua na faixa ocidental da Península: Ramón Mariño Paz, Historia da Lingua Galega, Santiago de Compostela, Sotelo Blanco, 1998.
    
    Carlos Rocha :: 30/06/2006 
    
    http://ciberduvidas.pt/pergunta.php?id=18099