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  • DANIEL DE SÁ E OS ERROS SOBRE OS AÇORES

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    Quase humor e povoamento
    Apesar de ser lastimável que se saiba tão pouco e se tenha inventado tanto acerca do povoamento dos Açores, há hipóteses de tal maneira estranhas que chegam a dar vontade de sorrir. Tanto em pequenos ensaios sem pretensões académicas como em sisudos livros de capa e lombada, pode encontrar-se surpresas divertidas. Outras há que não têm graça nenhuma. Procurando nos arquivos da memória, recordo algumas delas.
    Houve uma vez em que dei com uma informação intrigante. Dizia-se que Santa Maria fora povoada por degredados e velhos. Levei algum tempo a entender que velhos eram aqueles. Tratava-se, sem dúvida, de confusão com o apelido Velho, dos vários familiares de Gonçalo Velho Cabral que o capitão chamou para iniciar o povoamento da ilha.
    Quanto aos degredados, não foram eles tão frequentes quanto alguns pensam, nem se tratou nunca de perigosos facínoras. E parece ter havido uma certa resistência em receber ladrões, traidores e pessoas de religião não católica. Pelo que se conclui que a generalidade dos exilados não passaria de autores de faltas menores. Era preciso povoar as ilhas, pelo que qualquer pretexto servia para obrigar a vir gente para cá, sobretudo mulheres, já que os homens menos dificilmente se aventuravam ao desconhecido. Por isso aconteceu o triste caso de Catarina Fernandes. A rapariga não fez mais do que ter testemunhado a respeito de um assassínio a que assistira. Mas o infante D. Pedro, regente do Reino, mandou-a para o exílio aqui. Tinha apenas dez anos! Ela cumpriu outros dez de degredo, “nas ilhas de São Miguel”, até que foi perdoada (não se percebe de quê…) por D. Afonso V.
    Aparece também com frequência a alusão a escravos e negros entre os povoadores. Com algum exagero. Para São Miguel terão vindo doze casais de mouriscos, sob o mando de Jorge Velho, mas para provarem que e ilha era habitável. Também o Corvo foi primeiramente habitado por escravos, que o seu senhor, e dono da ilha, a ela enviava para a cultivarem. Outra referência habitual é a da vinda de judeus. Sobre este tema escreveu Eduardo Mayone Dias, no jornal Portuguese Times de New Bedford: “É bem provável que se houvessem fixado judeus nos Açores desde os primeiros tempos do povoamento. /…/ No entanto, como afirma o Professor Francisco dos Reis Maduro Dias, não existe qualquer documentação sobre esta presença.”
    A própria geografia dos Açores pode reservar-nos surpresas desconcertantes. Como aquela que considera Santa Maria dividida em duas partes. Uma, montanhosa; a outra, plana, que é… o Barreiro da Faneca. (A grande publicidade dada a esta magnífica paisagem talvez explique a confusão, bem como o facto de haver quem pense que dali saía o famoso barro de Santa Maria. Os púcaros da água sempre fresca ou os alguidares dos apetitosos chouriços eram feitos com argila da Flor da Rosa. A da Faneca não serve para olaria.)
    Ou então uma trapalhada que junta vários sítios num só, ao afirmar que no lugar da Praia, a que foi dado o nome de Lobo (sic), e que depois se chamou Vila do Porto, se construiu a primeira ermida de Santa Maria.
    Quanto à formação geológica das ilhas, há a preciosidade de um autor que, depois de dizer que a rocha foi formada por vulcões, revela o inimaginável – que a terra foi trazida pelo ar e pelo mar…
    A História feita por dedução nem sempre resulta… O erro mais generalizado, em que até historiadores credenciados têm incorrido, é o das famosas chaminés de Santa Maria, que alguém supôs terem resultado da influência de povoadores algarvios, que os não houve naquela ilha. Além disso, sendo as chaminés uma invenção do século XII, tardaram em fazer parte das casas dos pobres. Conforme escreveu André Brue (um alucinado que foi embaixador no Senegal, e que, apesar de ter estado uns meses na Terceira no início do século XVIII, teimava que os Açores pertenciam à África) a maioria das casas do Faial não tinha chaminé. As aparências (que neste caso entre Santa Maria e o Algarve nem sequer existem!) iludem. Mas facilmente se encontram outros exemplos que, embora não alterando tanto a verdade histórica, a distorcem consideravelmente. Foi o que aconteceu com o sotaque micaelense, que até os mais empenhados filólogos atribuíram a reminiscências de povoadores alentejanos da região de Nisa. Afinal, o que aconteceu foi uma viagem ao contrário. Em 1796 Pina Manique fez deslocar para o Alto Alentejo umas centenas de famílias de São Miguel, a fim de ocuparem herdades abandonadas. E o seu modo de falar terá permanecido naquela zona.
    Há um historiador que dá os topónimos Flor da Rosa e ponta do Marvão, em Santa Maria, também como provável herança alentejana. O primeiro talvez o seja, tanto mais que veio gente de Estremoz, que não fica longe daquela freguesia do concelho do Crato. Mas, segundo Gaspar Frutuoso, o nome da ponta do Marvão resulta de ter sido seu proprietário Francisco Marvão. Deste não regista Frutuoso a naturalidade, mas de João Marvão diz ser do Sabugal, pelo que o mais razoável é pensar que Francisco também o fosse. O mesmo historiador leu mal Frutuoso ao atribuir a origem do nome da Algarvia e o do Pico da Algarvia a duas mulheres e não a uma somente. Gaspar Frutuoso, ao falar do pico, diz que ele deve o nome a uma mulher do Algarve que ali viveu com o marido, e de quem herdou as propriedades quando enviuvou. E, para que não restem dúvidas de que se tratava da mesma pessoa, acrescenta “como tenho dito”.
    Ainda um outro equívoco, muito frequente sobretudo por parte de micaelenses mais bairristas, é o que respeita à criação da diocese. Ao contrário do que há quem pense, o Papa não se enganou. A haver engano, seria de D. João III ou do escrivão que fez a carta. E houve, porque nela falta a ilha de Santa Maria e se confunde São Miguel com a Terceira. No entanto, são sempre referidas Angra e a igreja do Salvador. Não podem subsistir dúvidas quanto à vontade de El-Rei. A vila de Angra era naquele tempo a mais notável dos Açores, com importância mundial na rota entre três mundos. O facto de D. João III a ter elevado à categoria de cidade, condição necessária para ser sede de uma diocese, e não Ponta Delgada, é prova segura da sua intenção.
    Daniel de Sá
  • judeus portugueses nas AMÉRICAS

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    DE DIÁLOGOS LUSÓFONOS
    Os judeus portugueses nas Américas
    [Este post integra-se num “blogburst” promovido por Jonathan Edelstein, destinado a celebrar Arrival Day, o Dia da Chegada, que assinala o aniversário do desembarque dos primeiros judeus em Nova Iorque, a 7 de Setembro de 1654]

    Nova Amsterdão. Gravura da autoria do cartógrafo Peter Schenk.
    Atlas Hecatompolis.

    Os nomes de família dos primeiros judeus americanos soam estranhamente familiares: Dias, Costa, Cardozo, Faro, Ferreira, Fonseca, Gomes, Lucena, Navarro, Nunes, Henriques, Machado, Maduro, Mendes, Mesquita, Pacheco, Peixotto, Pereira, Pinto, Penha, Seixas… Eram portugueses. Judeus portugueses do século XVII. Muitos deles “cristãos-novos”, que finalmente descartavam a capa que foram obrigados a envergar para escapar às fogueiras inquisitoriais; que ali procuravam abrigo, um refúgio da intolerância que mergulhava Portugal numa histeria de fanatismo sanguinário, que acabou por arrastar o país para um abismo do qual ainda hoje se sentem cicatrizes profundas. Os judeus portugueses chegaram a Nova Iorque a 7 de Setembro de 1654, quando a cidade era holandesa e ainda se chamava Nieuw Amsterdam. Faz hoje 351 anos.
    Os primeiros vieram do Brasil, alguns depois de emigrarem primeiro de Lisboa para a Holanda. E tal como já acontecia na Holanda, estes emigrantes judeus de Nova Iorque eram conhecidos como “gente da Nação Portuguesa” (ver Hebrews of the Portuguese Nation). Mas para seguir a génese da comunidade judaica portuguesa em Nova Iorque é necessário primeiro viajar até ao Brasil colonial do século XVII, mais concretamente a Pernambuco, um território de extensão considerável capturado pelos holandeses em 1630.
    Os judeus tinham desempenhado o seu papel na descoberta e colonização do Brasil. Desde 1500, quando Pedro Alvares Cabral desembarcou nas Terras de Vera Cruz acompanhado por Gaspar da Gama, um “cristão-novo”, até 1654, altura em que os portugueses expulsaram os holandeses, navegadores, pioneiros e colonos judeus ajudaram a moldar a história do Brasil. A Inquisição não tinha ainda atravessado o Atlântico e a distância emprestava uma ilusão de segurança. Muitos dos que ali chegavam eram deportados, condenados ao degredo por suspeita de judaísmo, transformando o território virtualmente numa colónia penal. Mesmo assim, o espectro inquisitorial pairava ainda na penumbra e sobre os judeus pesava o receio de poderem ser repatriados para Portugal a mando dos tribunais da Inquisição.
    Num contraste extremo com o obscurantismo inquisitorial que dominava a península Ibérica, em Pernambuco a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais – responsável pela administração dos territórios da coroa dos Países Baixos nas Américas – proclamara logo de início, de forma inquestionável, a liberdade de consciência e de culto entre as populações das suas colónias:
    “A liberdade dos espanhóis, portugueses e nativos, quer sejam [católicos] romanos ou judeus, será respeitada. A ninguém será permitido que os moleste ou os sujeite a inquirições em matéria de consciência ou nas suas casas privadas; e ninguém os ouse inquietar ou perturbar ou causar-lhes dano – sob pena de punição arbitrária ou, dependendo das circunstâncias, de severa e exemplar reprovação.”
    in “Leis e Regimentos das Índias Ocidentais”, citada por Arnold Wiznitzer, “The Records of the Earliest Jewish Community in New York” (1957).
    Apesar de algumas tentativas por parte de clérigos para restringir estas liberdades (especialmente contra os católicos, tidos como inimigos naturais dos calvinistas), a Companhia Holandesa das índias Ocidentais reafirmaria por várias vezes os princípios de tolerância. Perseguidos pela Inquisição em Portugal, este pedaço de “Brasil Holandês” aparecia aos olhos dos judeus portugueses como um oásis de tolerância, que lhes permitia praticar a sua religião livremente, libertando-os do receio, constante e real, das torturas inquisitoriais ou da morte nas fogueiras dos “autos-de-fé”. E assim foi durante 24 anos. No Pernambuco holandês, sob a administração de João Maurício de Nassau, a comunidade de emigrantes judeus de Portugal floresceu, fundando a primeira sinagoga das Américas, a Kahal Tzur Israel (Comunidade Rochedo de Israel), em 1637.
    A 26 de Janeiro de 1654 as tropas portuguesas reconquistam o Recife com um ataque de proporções épicas, comandadas pelo general luso-brasileiro Francisco Barreto de Menezes – que a partir de então ficaria conhecido como “o restaurador de Pernambuco” –, pondo fim ao domínio holandês naquela região do Brasil.

    Fólio do manuscrito de “Regras Benéficas e Restrições” para o governo da Sinagoga Shearith Israel, escrito em português e inglês, lavrado em Nova Iorque, em 1728. (clique na imagem para ampliar)
    Os termos da rendição, assinados em Taborda, perto do Recife, são generosos para com os derrotados, dando aos holandeses um prazo de três meses (que seria prorrogado por mais três) para se retirarem do território recém conquistado, período durante o qual, segundo os mesmos termos, “não serão molestados ou vexados e serão tratados com respeito e cortesia.” Surpreendentemente, o general Barreto de Menezes mostra uma tolerância muito pouco habitual ao permitir igualmente (ajudando até) a saída dos judeus portugueses, apesar destes terem passado a ficar sob a alçada da Inquisição, o que lhe teria à partida vedado qualquer possibilidade de clemência. A lei exigia a deportação imediata dos judeus para Portugal.
    A 20 de Fevereiro de 1654 os funcionários do tesouro real efectuaram um inventário de todas as casas no Recife e Maurícia anotando os seguintes nomes como “judeus proprietários de casas e lojas”: Jacob Valverde, Moisés Netto, Moisés Zacutto, Jacob Fundão, Moisés Navarro, David Atias, Benjamin de Pina, Abraão de Azevedo, João de Lafaia; Gil Correa, Gabriel Castanha, Gaspar Francisco da Costa, Fernão Martins, Duarte Saraiva e David Brandão. Outras aparecem mencionadas no inventário como “casa de judeus”, mas o nome dos seus proprietários não consta do documento.
    Devido à escassez de embarcações holandesas que possibilitassem uma evacuação total, o general Barreto de Menezes ofereceu navios portugueses para transportar os judeus e assim os ajudar a escapar à Inquisição. Este gesto não seria esquecido, e os anais da história judaica portuguesa registam ainda hoje o nome de Francisco Barreto de Menezes, católico e “cristão-velho”, como um homem de nobre carácter – um hassid umot ha’olam (gentio justo e íntegro do mundo.)
    Ao todo, 16 navios portugueses foram colocados à disposição dos seus compatriotas judeus pelo general Barreto de Menezes e a esmagadora maioria das cerca de 150 famílias judias do Brasil Holandês partiu em direcção à Holanda. Alguns optaram por ficar nas colónias holandeses nas Caraíbas onde, ainda hoje, a predominância de nomes de família portugueses (e a linguagem litúrgica) entre os judeus sefarditas do Suriname e de Curaçao prova essa ligação ancestral (ver também bloGUSblog: A estrela oculta do sertão, sobre os descendentes dos judeus portugueses que ainda restam no sertão brasileiro.)
    Corsários, piratas e a intolerância religiosa ibérica tornariam ainda mais complicada a já difícil viagem de alguns deste judeus. Em Amsterdão, o rabino português Saul Levi Morteira – professor de Baruch Spinoza e mais tarde seu “excomungador” – deu conta dos percalços sofridos por uma destas embarcações no livro Providência de Deus com Israel, um manuscrito não publicado do qual apenas restam seis cópias:
    “O navio foi capturado pelos espanhóis, que queriam entregar os pobres judeus à Inquisição. Ainda assim, antes de poderem cumprir os seus ímpios desígnios, o Senhor fez aparecer um navio francês que libertou os judeus dos espanhóis, levando-os depois para África, posto o que chegaram salvos e em paz à Holanda.”
    Um outro navio, atacado por piratas ao largo do cabo de Santo António, em Cuba, seria também resgatado por um barco francês – o Sainte Cetherine, comandado pelo capitão Jacques de la Motthe. A 7 de Setembro de 1654, com 23 judeus portugueses a bordo, o Sainte Cetherine aporta a Nieuw Amsterdam, na ilha holandesa de Manhattan, a cidade que mais tarde passaria a ser conhecida como Nova Iorque. Era o primeiro grupo de judeus a chegar a América do Norte. Faz hoje precisamente 351 anos.
    Destas vinte e três pessoas – homens, mulheres e crianças – sabe-se hoje muito pouco. São seis famílias, encabeçadas por quatro homens e duas viúvas. Só os seus nomes são mencionados nos registos oficiais. Mesmo assim é fácil adivinhar-lhes a proveniência: Abraão Israel Dias, Moisés Lumbroso, David Israel Faro, Asher Levy, Enrica Nunes e Judite Mercado.
    A princípio, reticente, o governador holandês Peter Stuyvesant opôs-se à permanência dos judeus, escrevendo aos seus superiores argumentando que “se deixamos vir os judeus não tardam a vir os papistas.” O desespero de Stuyvesant aumentaria ainda mais quando os judeus apresentaram uma petição à Companhia Holandesa das Índias Ocidentais para poder fazer na Nova Amsterdão o que faziam em Pernambuco – viver livremente. A resposta da companhia foi favorável :
    “Após muita deliberação, resolvemos dar provimento à petição apresentada por certos mercadores [judeus] da Nação Portuguesa, julgando-a favorável, para que eles possam viajar e comerciar com e na Nova Holanda e viver dentro dos seus limites.”
    Em 1664, Nieuw Amsterdam passa para a coroa britânica e muda de nome. Dai para a frente será New York. Por volta de 1695, apesar de algumas restrições, os judeus tinham a sua primeira sinagoga improvisada, e a 8 de Abril de 1730 era dedicada a primeira sinagoga de raiz da comunidade que, logo à chegada, em 1654, escolhera o nome de Shearith Israel (Remanescente de Israel). Até ao final do século XIX tiveram duas línguas “sagradas”, ditadas pelos genes, pela fé e pelo apelo da memória. Faziam-se as orações em hebraico. Em português escreviam-se os documentos.

    Dois rabinos da Sinagoga Portuguesa de Nova Iorque: H. Pereira Mendes (séc. XIX) e David de Sola Pool (séc. XX).
  • sotaques dos açores victor rui dores

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    os sotaques dos Açores estudados e reproduzidos por VICTOR RUI DORES
    http://videos.sapo.pt/dWfT2qv7Pev7OmhfDZzr
  • ALEXANDRE BANHOS “Os povos sem memória acabam sendo vegetais sem futuro”

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    “Os povos sem memória acabam sendo vegetais sem futuro”

     

    Intervenção de Alexandre Banhos na celebração em Montalegre dos aniversários do Gallaeciorum Regnum e de Afonso Henriques primeiro rei de Portugal

     

    Segunda, 19 Dezembro 2011 00:00
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    PGL – Os 1.600 anos do reino da Gallaecia e os 900 do nascimento de D. Afonso Henriques foram tema dedebate no Ecomuseu de Barroso – Espaço Padre Fontes que decorreu o passado 26 de novembro. Orlando Alves, vice presidente da Câmara Municipal de Montalegre, impulsor do ato, no que colaborava aFundaçom Meendinho, presidiu a cerimônia, acompanhado por Barroso da Fonte e Alexandre Banhos, oradores da noite.
    Orlando Alves, também vereador de Cultura, formalizou a abertura da palestra justificando o ato por não terem os portugueses “a verdadeira noção da importância [de] Portugal” e porque só o conhecimento das fraquezas do passado possibilita “transformá-las em forças” de futuro.
    1600 aniversário do nascimento do Gallaeciorum Regnum
    Alexandre Banhos falou do 1600 aniversário do nascimento do Gallaeciorum Regnum em Braga, “capital histórica da Gallaecia”, no ano de 411, ponderando os factos de ser o primeiro reino que se constituiu como tal dentro das fronteiras do Império Romano, de acunhar moeda e de chamar-se com o nome do povo que morava no território (Reino dos galaicos).
    Enquanto nos países da Europa se celebram solenemente os aniversários de acontecimentos de menor relevância relativa, na Galiza e Portugal não foi difundido como é devido um acontecimento que marcou o nascimento como pleno sujeito histórico da nacionalidade comum. O Banhos lembrou que “os povos sem memória acabam sendo vegetais sem futuro, e para os que o seu passado lá fica esvaído nas trevas”. E encorajou aos assistentes a “[combater] o mal da desmemória no nosso povo com a única cura de rememorar, um bocado de abelência social e esclarecimento”.
    O estabelecimento do reino suevo foi recebida pelos galaicos como uma bênção ”por os libertarem da escravidão das dívidas e do fisco imperial”. Na Galiza, os germanos “misturaram-se de seguida com o povo que os acolheu, adotaram a religião da maioria e deixaram a deles, integraram os galaico-romanos na suas empresas e governação, impulsionaram novos modos de governança.”
    Os concílios, a organização do território no Parrochiale Suevum ou Divisio Teodomiri, o latim proto-galaico que viria dar na língua portuguesa, o arco de ferradura e igrejas como as de Bande e Viseu, a estabilidade dos limites fronteiriços, a rica toponímia, a antroponímia até há bem pouco ainda dominante e algumas palavras emblemáticas do nosso léxico foram alguns dos contributos do Reino dos Galaicos à nossa história e à civilização europeia que repassou o palestrador galego.
    Após quase 200 anos de vida independente, o reino dos suevos seguiu condicionando a história da nação, pois “na Ibéria visigótica a Gallaecia foi sempre um reino distinto e inconfundível com a Espanha, que permaneceu e continuou distinto na sua governação”, como mostram os concílios e sua condição de principado autônomo dentro do reino visigodo. Essa primitiva articulação da nação, cuja antiga condição talvez obrigara aos romanos a reconhecerem uma província chamada Gallaecia séculos depois de sua incorporação ao Império, fez possível que a Galiza se safara da invasão e a dominação muçulmana: ”Salvou-se com um penhor, uma coima que não teve longa duração. As dioceses da Galiza, com a própria Braga, são as únicas dioceses peninsulares que tiveram continuidade no tempo e nunca ficaram vagas”. E conclui: “Frente ao muçulmano, é a Galiza, o poder que o vai enfrentar. Só a Galiza aparece nos textos muçulmanos e dos demais reinos cristãos da Europa, francos, lombardos, anglo-saxões, normandos… E essa Galiza era já verdadeiro Portugal.”
    9º centenário do nascimento de Afonso Henriques
    Barroso da Fonte, autor do livro Afonso Henriques 900 anos, a obra de mais pormenor nas circunstâncias do nascimento do reino de Portugal, que remonta ao nascimento no Porto no ano de 868 do condado Portucalense, falou do 9º centenário do nascimento do primeiro rei de Portugal em 1109, em Guimarães. O historiador transmontano assinalou os fatores e interesses que se desenvolveram nas elites no sul da Galiza, que era quem impulsionava a reconquista e os avanços para o sul, contrapostos com o norte.
    Com o Rei Garcia desaparece o condado Portucalense ao deslocar a cabeça primaz do reino delegada em Lugo à restaurada Braga, que passa a ser o centro e cabeça do reino como em direito histórico correspondia. Isso foi contestado pela nova e ambiciosa sede compostelana, que pronto moverá todo para submeter a Braga a sua dependência. Deposto o rei galego, em Braga não gostam da política imperial e desconsiderada da recém chegada Compostela e começa a dar-se uma conjunção de interesses entre o bispo de Braga, verdadeiro fator do processo que virá, e as classes dominantes locais.
    A divisão do reino da Galiza por Afonso VI entre Raimundo de Borgonha, esposo de sua primogênita Urraca, e Henrique de Borgonha, que desposou a Teresa, filha ilegítima, e com que se restaura o condado de Portucale; o controle por Gelmirez e os Traba do filho daqueles, Afonso Reimundes, proclamado rei em Compostela com oito anos; o Pio latrocínio das relíquias dos santos de Braga pelo bispo compostelano; a discreta consolidação da governação de Henrique; o nascimento de seu filho Afonso Henriquez; a residência em Guimarães, e a oposição, morto o pai, do menino Afonso, sob o auspício de Paio Mendes, o bispo de Braga, à política de sua mãe, aliada dos Trava; o exílio em Tui acompanhando ao bispo bracarense, que o armou cavaleiro; a coroação em Leão de Afonso Reimundes; a decisiva batalha de São Mamede, que consagra a autoridade de Afonso Henriques no território portucalense, são os momentos fundamentais cujo estudo apresenta o historiador português, e que concluem com as negociações do Bispo Paio junto da Santa Sé para alcançar a plena autonomia da Igreja de Braga e obter o reconhecimento do condado de Portucale como um reino.
    Troca de ideias
    Após das intervenções houve um longo e muito participativo debate em volta destas importantes referências históricas da Galiza e Portugal. Nele, Alexandre Banhos exprimiu a alegria que como galego sente por existir Portugal, e afirmou “que não acreditava em que se se mantiver o velho território unificado naquela altura, vier a existir algures a maravilha que foi, e é, Portugal, (ou Galiza) arredada de Castela”.
    O sucesso de Afonso Henríquez e da Gallaecia bracarense, verdadeiro cerne da velha nação, que deu lugar a Portugal, graças ao maravilhoso milagre da sua separação e nascimento como Estado diferenciado, fez que a velha Gallaecia continuasse no mundo, –pois sendo tal já era sempre verdadeiro Portugal-, e que a nossa língua e cultura seja um referente internacional.
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  • POEMAS À MINHA GALIZA LUSÓFONA

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    ao celebrar 40 anos de vida literária criei um capítulo GALIZÓFONA

    501 partir ii (a uma galiza lusófona)

    partir!
    cortar amarras
    como se ficar fosse já um naufrágio
    ficar
    como quem parte nunca
    partir
    como quem fica nas asas do tempo
    partir!
    cortar grilhetas
    como se viver fosse uma morte adiada
    vencer ameias
    cortar amarras
    velas ao vento
    olhar o mundo
    descobrir liberdades
    esta a mensagem
    levar o desespero
    ao limiar
    até erguer a voz
    sem medos
    até rasgar as pedras
    e o ventre úbere
    semear desencanto
    sorrir
    à grande utopia
    nascer
    de novo
    dar o salto
    transpor a fronteira
    entre o ter e o ser
    imaginar
    como só os loucos sabem
    e então chegaste
    com primaveras nos dedos
    e liberdade por nome
    loucas promessas insinuavas
    despontaste
    como quem acorda horizontes perdidos
    demos as mãos
    sabor de início do mundo
    pendão das palavras por dizer
    esta a revolução
    minha bandeira por desfraldar
    s. martinho do porto, setembro, 5, 1976/lomba da maia, açores fev 13, 2011

    525. Galiza como Hiroshima mon amour

    acordaste e ouviste o teu hino
    bandeira desfraldada ao vento
    ao intrépido som
    das armas de breogán
    amor da terra verde,
    da verde terra nossa,
    à nobre lusitânia
    os braços estende amigos,
    desperta do teu sono
    pega nos irmãos
    caminha pelas estradas
    ergue bem alto a tua voz
    diz a quem te ouvir quem és
    orgulhosa, vetusta e altiva
    indomada criatura
    nenhum poder te subjugará
    nenhum exército te conquistará
    nenhuma lei te amiquilará
    és a Galiza mon amour

    528. ah como eu gostava 16/11/2011

    portugal lembra o filho ingrato
    que sai de casa levando as malas
    cresce como um sem-abrigo
    vivendo de expedientes
    sujo, maltrapilho e destituído
    mas orgulhosamente só e independente
    altivo olha a galiza do tempo dos aguadeiros
    da pobreza, fome e sofrimento
    e sente-se superior
    não reconhece pai ou mãe
    nem partilha um cobertor
    comporta-se como assaltante
    aliado ao invasor
    esqueceu a história e perdeu os genes
    ah como eu gostava de ser galego

     

    530. pesadelo zoológico 3 dezembro 2011 à concha rousia

    s castelhano
    onhei estar num circo
    era um leão amestrado
    o domador espanhol
    senti-me galego
    eles não sabem
    que não há leões domados
    vivem anestesiados
    um dia acordam
    sem ronronar em castrapo
    vou esperar pelo chicote
    desobediente
    aguardo que ele erga a cadeira
    estreleje o látego
    e me mande falar
    aí direi ao castelhano
    já chega de circo
    o palhaço és tu.
    acordei e não vi bandeiras de castela

     

    531. lendas da minha galiza 11 dez 2011

    Galiza és tão especial
    quando sorris
    por que não sorris sempre?
    és tão bela
    quando ris com gargalhadas cristalinas
    por que não ris sempre?
    és tão amorosa
    quando falas e cicias
    por que não falas sempre?
    no meu quintal tenho um poço
    sempre cheio de palavras
    onde vou buscar inspiração
    é lá que busco amores
    como se fora o monte das Ánimas
    na era dos Templários
    quando os cervos eram livres e não havia lobos
    foi lá que aprendi a tua história
    depois de Ith filho de Breogán
    ir à Torre de Hércules
    divisar Eirin a Verde
    morto Ith, perdidas as Cassitérides
    aprisionados os Ártabros
    resta visitar Santo Andrés de Teixido
    duas vezes de morto
    que não o visitei uma de vivo
    e esta história queda silente
    nos livros e na memória dos velhos
    por que não a aprendem os nenos?
    agora que o rio Minho passa caladinho
    para não despertar os meninos
    hoje quando fui ao poço
    encontrei-o seco e mirrado
    sem um fio de água sequer
    não havia pardais nas árvores
    nem flores no jardim
    senti o coração trespassado
    as lágrimas secaram-me
    aºao trespassado Castelaer
    caladinho
    fincado no chão
    pios e polinia fadas ou sereias
    atopei umas Meigas
    a dançar com o Dianho
    foi então que o vi, o Chupacabras
    estandarte de Castela
    não mais haveria fadas ou sereias
    cronópios e polinópios
    vou juntar ferraduras, alho e sal
    colares de conchas e tesouras abertas
    esconjuro-vos ó meigas castelhanas
    que me salve o burro farinheiro
    vou ao banho santo em Lanzada (sansenxo)
    hei de te encontrar minha moura encantada
    não tenho medo de travessuras de Trasgos
    nem Marimanta ou Dama de Castro
    sem temor da Santa Companhatravessuras de Trasgos
    a
    a Santa Companha
    nem do Nubeiro vagueando
    entre tempestades e tormentas
    hei de te encontrar minha moura encantada
    e brotará áuga do meu poço
    escreverei os versos e serão mágicos
    erguerei a tua flâmula
    no poste mais alto e cantarei
    Galiza livre sempre

     

    532. genevieve 13 dez 2011

    genevieve era nome de mulher
    um restaurante japonês
    no meio de chinatown
    sorrisos largos e astutos
    mansos como o rio minho
    olhos profundos amendoados
    como o canon do sil
    prometia ribeiras sacras
    seios amplos acolhedores
    como as rias baixas
    genoveva da galiza
    amazonaom saudades de arousamazona
    s
    amazonaaa em sidney
    um pai na argentina
    uma mãe em paris
    com saudades de arousa
    promovia sushi com saké
    loucas bebedeiras em galego

     

    533. concha é nome de guerra 13 dezembro 2011

    para ti não há música nem dança
    apenas as artes marciais
    guerrilheira de montes e vales
    urdidora de emboscadas
    sob a copa das amplas árvores
    brandes teu gládio de palavras suaves
    não usas as falas do inimigo
    vingas a dor de seres galega
    a montanha que herdaste sozinha
    prenhada de mar na ilha dos nossos
    o povo desaparecido da Rousia aldeia
    esse recanto insuspeito ao virar da raia
    onde fui a férias em 2005 sem te saber
    eu que nasci galego do sul
    sendo galego de Celanova
    apartado de meus irmãos e irmãs
    séculos de história ao desbarato
    distavam mares que nunca navegámos
    montes que nunca escalámos
    estrelas que jamais enxergámos
    até um dia em que surgiste
    vestias azul e branco orlada a ouro
    estandarte do nosso reino
    ciciavas liberdades por atingir
    sonhos por realizar
    brandias a tua utopia
    numa mesma lusofonia

     

    536. elegia à AGLP 16 dez 2011
    viver numa ilha é prisão
    sair dela é impossível
    nem com a velocidade da chita
    nem com a força do elefante
    nem com o mergulho do cachalote
    de nada servem passaportes
    nem vistos consulares
    só água nos rodeia
    preciso saber nadar
    viver na Galiza é prisão
    sair dela é possível
    mas não elimina os carcereiros
    não abate as grades do cárcere
    não liberta do cativeiro
    mas nas árvores de NottinGaliza
    há sempre uma Concha dos Bosques
    ou um Ângelo Merlim
    um Joám Pequeno Evans Pim
    um frei Tuck Montero Santalha
    e seu bando de lusofalantes
    manejando o arco
    invencível besta da lusofonia
  • Onésimo Almeida na antologia bilingue

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    interessante texto sobre Onésimo de Almeida e a antologia bilingue de autores açorianos contemporâneos na sua apresentação na universidade do minho (Braga) dia 6 de dezembro

    http://www.lusofonias.eu/cat_view/91-iniciativas-e-apoios/58-apoios/115-antologias.html?view=docman

    Almedina-Braga, 6 de Dezembro de 2011
    Apresentação do livro Antologia Bilingue de Autores Açorianos Contemporâneos
    Onésimo e a questão da Literatura Açoriana
    Em vez de oferecer uma visão geral sobre esta Antologia Bilingue de Autores Açorianos Contemporâneos, optei por destacar um autor que nela figura: o Professor Onésimo Teotónio de Almeida. Confesso, desde já, o meu gosto pessoal pela prosa de Onésimo, pela sua limpidez, pelo seu humor (vd. “Que nome é esse, ó Nézimo?”, integralmente nesta antologia). Porém, a minha escolha, hoje, recai sobre um trecho não ficcional que extraí de A questão da literatura açoriana e que também consta da presente antologia:
    Embora haja quem suponha estéril o debate sobre a existência ou não de uma literatura açoriana, pessoalmente vejo nele uma riquíssima mina de elementos – dados, ideias perspetivas, conceitos, especulações, interpretações, explicações, análises – que refletem mundividências, posições teóricas sobre estética, pontos de vista sobre uma realidade humana num espaço geográfico específico (os Açores) de muitos dos melhores nomes das letras dos Açores. […] os textos de intervenção n[esse] debate […] representam a consciencialização teórica, uma explicitação de pontos de vista, intenções, demarcação e distanciamento de posições da parte exatamente de quem se tem preocupado por conjugar os Açores como tema, ou utilizá-los como espaço ou pano de fundo dentro do qual se move a realidade por eles criada ou recriada nos seus textos.
    Com certeza não será este o local, nem esta a hora, de debater a existência ou não da Literatura Açoriana. Questão apriorística, paradoxal, porquanto a sua formulação já expressa a identidade que está a questionar. Da mesma forma, esta antologia também não pretende dar nenhuma resposta a esta questão. Por outro lado, de maneira bem eloquente, a seleção de textos antologiados apresentam-nos as tais conjugações (a que Onésimo se referia) dos Açores como tema, as tais utilizações dos Açores como espaço ou pano de fundo, enfim, a tal realidade de formatação açoriana. Pode, então, o leitor conhecer, ainda que de forma fragmentária, os temas, os motivos, as histórias, as particularidades da língua e os demais recursos retórico-literários que fornecem os argumentos àqueles que defendem a existência de uma Literatura Açoriana. Claro que não se dispensa a leitura integral das obras — De resto, uma antologia é sempre um convite à procura da obra integral – e só assim se poderá formular uma opinião informada. Pela minha parte, reconheço obras que falam da experiência humana. Sem dúvida, obras que resultam de vivências próprias e estilos pessoais. Mas obras que espelham o mundo, os homens e as mulheres que nele vivem. Utilizando palavras de Claudio Guillén obras “entre o Uno e o Diverso”.
    A presente antologia acentua a universalidade das obras antologiadas. Promove-as e facilita que elas cumpram um propósito supranacional, de certa forma, enunciado por Goethe quando anunciava a chegada de uma Weltliteratur: cada literatura local tem um papel a desempenhar na grande sinfonia da Literatura Mundial. E, não abandonando a metáfora, esta antologia desempenha este papel a dois instrumentos: a Língua Portuguesa e a Língua Inglesa.
    Diz Onésimo no fim do mesmo artigo que “quem lucrará com isso [o reconhecimento da Literatura Açoriana] será a Literatura Portuguesa. Ficará menos monocórdica. E monótona.”. Depois desta antologia bilingue, independentemente de reconhecermos ou não a existência de uma Literatura Açoriana, quem lucra é a Literatura do Mundo: fica ainda mais polifónica e acessível a um maior número de leitores.
    João Peixe
    Doutorando da Fundação para a Ciência e Tecnologia
    Centro de Estudos Humanísticos
    Instituto de Letras e Ciências Humanas
    Universidade do Minho
  • O valor económico da língua portuguesa pode ser potenciado

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    O valor económico da língua portuguesa pode ser potenciado

     

    A Língua Portuguesa é um património muito acima da sua actual valorização (José Paulo Esperança). É fundamental que Portugal aposte, economicamente, nos países lusófonos (Sousa de Macedo).

    09-12-2011

    «O Valor Económico da Língua Portuguesa» foi o tema de uma conferência organizada pelo Observatório da Língua Portuguesa e que teve como conferencistas o professor universitário José Paulo Esperança e o ex-secretário de Estado das Comunidades Luís Sousa de Macedo. E se para o docente a Língua Portuguesa é um património muito acima da sua actual valorização, para Sousa de Macedo é fundamental que Portugal aposte, economicamente, nos países lusófonos. “Uma língua é tanto mais valiosa quanto mais parceiros de utilização tiver, porque quanto mais pessoas a conhecerem, maior será esse valor”, lembrou o professor José Paulo Esperança, na abertura da conferência, realizada no passado dia 29 de Novembro, na Fundação Cidade de Lisboa.
    Falada actualmente por mais de 240 milhões de pessoas em todo o mundo – 3,7 por cento da população mundial – a língua portuguesa representa, em termos económicos 4 por cento do valor mundial, sublinhou o professor José Paulo Esperança.
    O docente universitário – que integrou a equipa que realizou o estudo «O Valor Económico da Língua Portuguesa», encomendado pelo Instituto Camões (IC) e desenvolvido por 10 investigadores do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) – defendeu que “a proximidade linguística é um fator importante” nas relações económicas de Portugal, já que “países com uma língua comum têm maior facilidade em fazer negócios”.
    Apesar de apenas 6 por cento das exportações nacionais se destinarem a países de expressão portuguesa, o saldo comercial é favorável, já que Portugal importa desses mesmos países, apenas 3 por cento do total do volume de importações, referiu José Paulo Esperança.
    O professor afirmou ainda haver um aumento do interesse na língua falada por oito países – Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau e Timor Leste – dando como exemplo a sua presença ma internet. Segundo o Barômetro Calvet das línguas no mundo, é de 34,4509 o índice de penetração da língua portuguesa na Internet (dados de Novembro de 2009). O português é já o oitavo idioma em número de artigos divulgados na Wikipédia e ocupa o 15º lugar no índice «traduções de língua de origem». “Num período de dez anos, o português foi a língua que mais cresceu em termos de acesso na internet”, afirmou o docente.
    José Paulo Esperança revelou ainda que a sua procura como língua estrangeira está a crescer exponencialmente em países de língua espanhola “como a Argentina e o Uruguai” onde, acrescentou “já é um idioma mais procurado do que o inglês”.
    Mesmo assim, o investigador defende que é importante a definição de estratégias para a sua dinamização. “O Português é um património superior à sua atual valorização”, defendeu, acrescentando que este valor abaixo das potencialidades da língua ocorre “muito por uma inércia e indefinição tanto a nível de entidades públicas como privadas”.
    “A língua promove relações e o seu valor para as empresas e para os países pode ser potenciado, já que o estudo («O Valor Económico da Língua Portuguesa») revelou que as indústrias e os serviços em que ela é um elemento chave, representam 17 por cento do Produto Interno Bruto de Portugal”, alertou.
    Já Luis Sousa de Macedo recordou que a língua portuguesa é o veículo de comunicação de milhões de lusófonos na diáspora, com destaque para os 4,5 milhões de portugueses e luso-descendentes. Nesse sentido, foi ainda mais longe ao afirmar que “já que língua e cultura são factores de aproximação”, falar português “é tão importante” que as empresas portuguesas elegeram como mercados fundamentais “a África lusófona e o Brasil”.
    “Neste momento de crise económica, é crucial apostar nos países onde ao longo de séculos criamos uma ligação de proximidade, com destaque para o Brasil e Angola”, defendeu o ex-secretário de Estado das Comunidades e actual administrador da Fundação PT.
    Inserida no 1º Ciclo de Conferências do Observatório da Língua Portuguesa – que teve como temáticas anteriores «Que Política para a Língua Portuguesa?» e «A Internacionalização da Língua Portuguesa» – a palestra reuniu vários estudiosos da língua portuguesa. As três conferências tiveram por objetivo ser um espaço de reflexão e debate de ideias sobre questões relevantes da língua de Camões e ainda motivar a sociedade civil para a importância da II Conferência Internacional sobre Língua Portuguesa no Sistema Mundial que será realizada em Portugal no próximo ano.
    17 por cento do PIB de Portugal

    O estudo «O Valor Económico da Língua Portuguesa», focado na realidade portuguesa, avaliou o impacto da proximidade linguística em quatro dimensões: comércio externo, investimento directo estrangeiro em Portugal, fluxos de turismo e fluxos migratórios. Os dados iniciais permitiram perceber que as indústrias e os serviços em que a língua portuguesa é um elemento chave, representam 17 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) de Portugal.
    Encomendado pelo Instituto Camões (IC) em Setembro de 2007, e desenvolvido por uma equipa de investigadores do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), o estudo confirmou o elevado peso da proximidade linguística nas relações de Portugal com o exterior. “O papel da língua é um facilitador significativo nas dimensões de intercâmbio analisadas”, lê-se nas conclusões do estudo que apontam a área das migrações e a do Investimento Directo de Portugal no Estrangeiro (IDPE) como aquelas onde neste momento, a língua portuguesa tem mais peso.
    Nesta área, revelou que Brasil e Angola representaram “19 por cento do total da saída de investimento directo a partir de Portugal, no período de 1996-2007”. No mesmo período, embora menos significativa, “também à entrada se verifica um peso superior ao «natural» do investimento directo oriundo principalmente do Brasil e de Angola, representando 13% do total”, refere o documento.
    Idioma oficial em oito países, o português é uma das seis línguas mais faladas no mundo.
    Ana Grácio Pinto
  • DO IBERISMO AO 1º DEZEMBRO in ChrónicAçores vol.2

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    16.5. Do Iberismo ao 1º de dezembro
    Gostava JC de ter algumas réstias do sempiterno otimismo mas a
    desoladamente, a sua reserva, está no nível mínimo desde há déca-das. Mas quando, ano após ano, a chuva cai dentro de casa e alaga o chão ou móveis como se não houvesse teto, tem de assumir a péssi-ma qualidade das casas e que os ”mestres” de construção não passam de biscateiros incapazes de fazerem a obra como deve ser. Mas se vai a um restaurante o resultado é similar com um serviço deficiente a preços de luxo, se vai a um mecânico automóvel idem aspas. E o mesmo se passa na saúde, na justiça, na ignorância santa dos novos professores, na incompetência dos que governam e dos que são man-dados. É esta a tradição. Não é de hoje, vem de longe como consta-tou hoje ao traduzir este parágrafo
    Enquanto a Terceira e as ilhas próximas resistiam ao assalto dos espanhóis à Coroa portuguesa, S. Miguel franqueou-lhes a entrada. Esta diferença deveu-se ao facto de o Corregedor Ciprião de Figueiredo estar sedeado em Angra. Fiel apoiante do Prior de Crato, terá proferido a frase “antes morrer livres que em paz sujeitos”. Por outro lado, a capitania de S. Miguel estava na mão da influente família Gonçalves da Câmara. Além disso, residia nessa altura em São Miguel o Bispo dos Açores, D. Pedro de Castilho, fiel a Filipe II. Viria a ser Vice-Rei de Portugal em paga da sua fidelidade à causa castelhana. Mais tarde, o Capitão do Donatário de São Miguel receberia o título de Conde de Vila Franca.
    Abundam assim os que esquecem o terror do domínio castelhano e
    pressurosos querem entregar o país ao vizinho ibérico.
    Miguel Urbano Rodrigues escrevia em 2006:
    151

    J. Chrys Chrystello
    Os iberistas, ao esboçarem uma Espanha pletórica de energias, de
    progresso e criatividade, simulam esquecer que o país exibe a mais
    alta taxa de desemprego da UE. Não aludem ao racismo e à xenofobia
    …onde os imigrantes, sobretudo os magrebinos, equatorianos e colom-
    bianos são mais discriminados.
    Há três décadas a Espanha não existia como parceiro comercial. Hoje
    ocupa o primeiro lugar nas importações portuguesas. A banca espanho-
    la conquistou uma parcela importante. O mesmo ocorre com a hotelaria
    e grandes transnacionais como El Corte Inglês e Zara. As imobiliárias
    espanholas invadem as cidades. … no Alentejo capitalistas espanhóis
    compraram já as melhores terras no Alqueva. Adquiriram milhares de
    hectares para criação de porcos, lagares e plantação de oliveiras e vinhas. Essa invasão é festejada pelo Governo de Sócrates e pela grande burguesia. … Agradecem. Com a espontaneidade da nobreza
    de 1383 a saudar D João De Castela e a nobreza de 1580 a alinhar
    com Filipe II. Essa forma de dominação económica encobre uma moda-
    lidade de intervenção imperial. “Alentejo Popular”(Beja) 02-11-06
    Portugal atingiu tal irrelevância que ninguém se surpreenderia se
    passasse a dependência espanhola, como se de banco se tratasse.
    Como se estivéssemos a falar de abrir um escritório no litoral já que
    o interior está desertificado de gentes e de economias de mercado viáveis. Por outro lado, despontam a nível governamental, iniciativas de união ibérica, nem sempre dissimuladas, que causam engulhos. Por ser um estudioso do assunto que condensou o que JC pensa, sigamos Carlos Fontes em Lusotopias
    O iberismo é um fenómeno do séc. XIX como resposta à teoria das
    grandes nações então em voga. …as pequenas estariam condenadas
    a serem absorvidas pelas grandes, tal como teria acontecido entre os
    animais onde os mais fortes extinguiram os mais fracos (darwinismo).
    Sempre que a situação é melhor no outro lado da fronteira, a integra-
    ção de Portugal em Espanha surge aos olhos dos iberistas como a
    solução para resolver a crise, sem trabalho… as mortes de dois ibe-
    ristas assumiram enorme carga simbólica na história portuguesa, sendo
    continuamente evocadas. A morte do Conde de Andeiro, fidalgo galego,
    foi assumida como o símbolo de liberdade de um povo que recusa as
    ingerências externas. Acabou por ascender a elevada posição na corte,
    tendo recebido de D. Fernando o título de Conde de Ourém, pondo-se
    152

    ChrónicAçores:
    .
    na crise de 1383-85, ao serviço de Castela. Foi assassinado, em 1383, por D. João, mestre de Avis e futuro rei de Portugal. A sua nefasta ação traduziu-se numa violenta guerra civil.
    Já a morte de Miguel de Vascon-celos exprime simbolicamente a afir-mação da identidade cultural de um povo, após a opressão de 60 anos. Após a morte deste esbirro, o povo português travou com a Espanha, durante 28 anos, uma sangrenta guerra na Europa e na América do Sul pela defesa da sua liberdade e dignidade.
    …E como já ninguém estuda História, estes episódios perdem
    a força, não são transmitidos de geração para geração, perde-se a
    memória coletiva do povo. Continuemos com Carlos Fontes:
    Nas últimas décadas, órgãos de comunicação social usando da
    liberdade de expressão, têm procurado abrir fraturas na sociedade.
    O seu objetivo é simples:
    1. Mostrar através de “sondagens” encomendadas ou “discussões”
    públicas que na sociedade portuguesa existe um grupo cujo objetivo é a
    dissolução do Estado português;
    2. Dar “voz” à hipotética minoria iberista portuguesa. Ao mesmo
    tempo, a imprensa espanhola mostra aceitação à possível integração.
    3. Os supostos iberistas não constituem uma corrente de opinião nem
    um movimento organizado.
    A imprensa trabalha no terreno das hipóteses…introduzindo elementos de discórdia e desmoralização coletiva.
    Oliveira Martins (1845-1894) é o melhor exemplo dos esbirros iberistas.
    É difícil de determinar a causa do profundo ódio que manifestava pelos
    seus concidadãos e o país. Foi um típico vira-casaca: anarquista, socia-
    lista, republicano, monárquico, liberal, antiliberal. Defendeu a liberdade,
    mas também a ditadura. Atacou os ditadores, mas apoiou João Franco,
    Muitas das suas ideias foram aplicadas por ditadores (Sidónio Pais ou
    Oliveira Salazar).
    Antero de Quental (1869) era um confesso iberista, dois anos depois já nem fala no assunto, e mais tarde abomina a ideia. Algo idêntico ocorreu com Teófilo Braga. …
    Durante as legislativas de setembro 2009 – a TVI -, canal de TV controlado por espanhóis interferiu diretamente na campanha eleitoral, e…afastou a “jornalista” (Manuela Moura Guedes) que promovia uma campanha de propaganda contra o governo socialista… e a comuni-icação social espanhola procurava lançar nova campanha em defesa das teses iberistas, apoiada numa “sondagem” da Universidade de Salamanca, com a colaboração de alienados no ISCTE (Lisboa).
    153

    J. Chrys Chrystello
    A razão por que se escolheu este tema e as citações supra para esta
    crónica é a data que ora se celebra, o dia da Restauração da Indepen-
    dência de 1 de dezembro de 1640. Para que os mais jovens nunca o
    esqueçam e deixem de a tratar como um dia sem aulas. Infelizmente,
    é para a maioria, um dia como qualquer outro nos Açores, sem que
    o povo se dê conta do seu significado:
    “…arrebatados do generoso impulso, saíram todos das carroças e
    avançaram ao paço. .. D. Miguel de Almeida, venerável e brioso, com a
    espada na mão grita: Liberdade, portugueses! Viva El-Rei D. João IV”
    A ideia de nacionalidade esteve por trás da restauração da inde-
    pendência plena de Portugal após 60 anos de monarquia dualista.
    Cinco séculos de governo próprio haviam forjado a nação, fortalecen-
    do a rejeição da união com o vizinho. A independência fora sempre um
    desafio a Castela. Foram sucessivas e acerbas as guerras, as únicas
    que Portugal travou na Europa. Para a maioria, os Habsburgo eram
    usurpadores, os Espanhóis inimigos e os seus partidários, traidores.
    Culturalmente, avançara depressa a castelhanização de 1580 a 1640.
    Autores e artistas gravitavam na corte espanhola, aceitavam padrões
    espanhóis e escreviam cada vez mais em castelhano, contribuindo para
    a riqueza espanhola. Dão a impressão errada de decadência cultural
    após 1580. A perda da individualidade cultural era sentida por muitos
    portugueses, com reações diversas a favor da língua pátria e da sua
    expressão em prosa e poesia. Contudo, os intelectuais sabiam perfei-
    tamente que os seus esforços seriam vãos sem a recuperação da
    independência política. O Império Português atravessava uma crise
    com a entrada em jogo de holandeses e ingleses. Perdera o mono-
    pólio comercial (Ásia, África e Brasil) e a Coroa, a nobreza, o clero
    e a burguesia haviam sofrido severos cortes de receitas.
    Os Espanhóis reagiam contra a presença portuguesa nos seus ter-
    ritórios, mediante vários processos, entre os quais a Inquisição. Isso
    suscitou grande animosidade nacionalista em Portugal aprofundan-
    do o fosso entre os dois países.
    Margarida, duquesa de Mântua, neta de Filipe II, exerceu o governo
    de Portugal, de 1634 a 1640, como vice-rei e capitão-general. Econo-
    micamente, a situação piorara desde 1620 ou até antes. Os produtores
    sofriam com a queda dos preços do trigo, azeite e carvão. A crise
    afetava as classes baixas, cuja pobreza aumentou sem disfarces. O
    agravamento dos impostos tornava a situação pior. A solução apre-
    sentava-se fácil e óbvia: a Espanha, causa de todos os males.
    154

    J. Chrys Chrystello
    A conspiração independentista congregava um grupo heterogé-
    neo [nobres, funcionários da Casa de Bragança e elementos do clero
    (alto e baixo)]. Em novembro de 1640 conseguiram o apoio formal
    do duque de Bragança. Na manhã do 1º de dezembro, um grupo de
    nobres atacou a sede do governo (Paço da Ribeira), prendeu a du-
    quesa de Mântua, matou e feriu membros da guarnição militar e
    funcionários, como o Secretário de Estado, Miguel de Vasconcelos.
    Dizia Camões: “Também dos Portugueses alguns traidores houve,
    algumas vezes…” (Os Lusíadas, C. IV, 33). Seguidamente, os re-
    voltosos percorreram a cidade, aclamando o novo estado, secun-
    dados pelo entusiasmo popular. Em todo o Portugal, metropolitano
    e ultramarino, a notícia da mudança do regime foi recebida e obe-
    decida sem qualquer dúvida. Só Ceuta permaneceu fiel a Filipe IV.
    D. João IV entrou em Lisboa a 6 de dezembro. Proclamar a separa-
    ção fora fácil. Mais difícil seria mantê-la. Tal como em 1580, em 1640 os
    portugueses estavam longe de unidos. As classes inferiores mantinham
    a fé nacionalista em D. João IV, mas o clero e a nobreza, com laços em
    Espanha, hesitava e a medo alinhava com o duque de Bragança.
    O novo monarca estava numa posição pouco invejável. Tornava-se
    necessário justificar a secessão não como usurpador, mas a reaver o
    que por direito legítimo lhe pertencia. Abundante bibliografia (em
    Portugal e fora dele) procurou demonstrar direitos reais do duque
    de Bragança. Se o trono jamais estivera vago de direito, em 1580
    ou 1640, não havia razões para eleição em cortes, o que retirava
    ao povo a importância que teria, fosse o trono declarado vago.
    Todo o reinado (1640-56) foi orientado por prioridades. Primeiro, a re-
    organização do aparelho militar, reparação de fortalezas das linhas
    defensivas fronteiriças, fortalecimento das guarnições e obtenção de
    reforços no estrangeiro. Paralelamente, a intensa atividade diplomática
    nas cortes da Europa, para obter apoio militar e financeiro, negociar
    tratados de paz ou de tréguas, o reconhecimento da Restauração, e a
    reconquista do império ultramarino. A nível interno, a estabilidade de-
    pendeu, do aniquilamento de toda a dissensão a favor de Espanha.
    A guerra da Restauração mobilizou todos os esforços e absorveu
    enormes somas. Pior, impediu o governo de conceder ajuda às ata-
    cadas possessões ultramarinas. Mas, se o cerne do Império, na Ásia,
    foi sacrificado, salvou a Metrópole da ocupação espanhola.
    155

    ChrónicAçores:
    Portugal não dispunha de exército moderno, as forças terrestres
    escassas na fronteira, as coudelarias extintas e os melhores generais
    lutavam pela Espanha na Europa. Isto explica por que motivo a guerra se limitou a operações fronteiriças de pouca envergadura.
    Do lado espanhol, a Guerra dos Trinta Anos (até 1659) e a questão
    da Catalunha (até 1652) atrasavam ofensivas de vulto. A guerra, que se
    prolongou por 28 anos, teve altos e baixos até se assinar o Tratado de
    Lisboa,1668, entre Afonso VI de Portugal e Carlos II de Espanha, em
    que este reconhece a independência do nosso País. (Adaptado de
    Oliveira Marques, “A Restauração e suas Consequências”, in História de
    Portugal, vol. II, Lisboa, ed. Presença, 1998, pp. 176-201).
    Hoje anda muita gente com passaporte português a celebrar o 1º
    de dezembro como desastre ou deplorável evento. Esquecem que se
    tratou da reconquista da liberdade do povo e da nação subjugada
    pelo poder dinástico dos Filipes de Castela. Mais vale um povo
    pobre e livre do que rico na gaiola dourada com as cores do reino
    de Espanha. Assim o dizem os galegos que se acercam das origens
    portuguesas preservando a língua e cultura comuns. A memória dos
    homens é curta e ninguém sabe nem evoca o jovem Miguel da Paz
    (n. 1499) que seria Rei de Portugal e de Espanha se não morresse
    aos dois anos. Infelizmente morreu e este “se” é desconhecido dos
    portugueses, clamem ou não pelo regresso ao trono espanhol.
    São deveras interessantes os “pequenos detalhes” que determinam
    o curso da História e que vieram legalizar de pleno direito a sucessão de
    Filipe II ao trono de Portugal em 1580, por morte sem descendência do
    herdeiro varão, cardeal D. Henrique (68 anos), 9º filho do rei D. Manuel I
    A candidatura de Filipe era fortíssima e indiscutível e resultava do ca-
    samento da filha terceira de D. Manuel I, com Carlos V (I de Espanha),
    pais de Filipe I de Portugal (II de Espanha). Paradoxalmente, antes da
    candidatura de Filipe ao trono, a situação poderia ter sido invertida,
    unificando as coroas ibéricas “para o lado português”. Em 1499, fora
    proclamado herdeiro das coroas de Portugal e de Espanha, Miguel da
    Paz, primeiro filho de D. Manuel I com Isabel, filha dos Reis Católicos.
    Azar dos portugueses ou conspiração castelhana, morreu com 2 anos.
    Por estas e outras razões os portugueses serão sempre saudosistas,
    dos espanhóis, de Salazar e do sonho chamado 25 de abril.
    in CHRÓNICAÇORES UMA CIRCUM-NAVEGAÇÃO POR J CHRYS CHRYSTELLO ED CALENDÁRIO DE LETRAS 2011
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    J. Chrys Chrystello
    — Quem garante que Portugal estaria melhor como província espa-
    nhola do que independente? (Os galegos dizem que não)
    — Quem garante que não seria Portugal uma célula independentista,
    tipo ETA, (aliada ou não à Galiza)?
    E se fosse ao contrário e o Reino de Espanha fosse uma província
    de Portugal? Que aconteceria aos Bourbon? Só tinham utilidade nos
    EUA. Lá emborcam todos os Bourbon que encontram. Infelizmente,
    aqui ao lado, entronizam-nos e chamam-lhes Reis.
  • Malaca povos cruzados

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    NOTICIA PUBLICADA PELO CLUBE RAIZES

    Malaca 500 anos – Portugal ao longe | Clube Raízes

    Viagens pela História e pelo Património

    Malaca 500 anos – Portugal ao longe

    (Photography by: Antony D’Cruz)
    Comemoram-se este ano os 500 anos da conquista da cidade – entreposto comercial – de Malaca,
    na Malásia, pelas forças portuguesas, comandadas por Afonso de Albuquerque.
    Malaca, do outro lado do mundo, no continente asiático, apesar da grande distância a que se encontra de Portugal,
    mantém uma comunidade de origem portuguesa que tenta manter vivas as raízes lá deixadas desde o século XVI.
    É grande o amor que esta comunidade nutre por Portugal, traduzido na manutenção dos nomes portugueses,
    comuns na maior parte destas famílias, e de mostrar aos outros, através das canções e das danças de influência lusa,
    da prática do catolicismo, da transmissão familiar da língua portuguesa localmente falada, preservada desde o tempo
    de Albuquerque. A origem portuguesa é, para esta comunidade, um orgulho que pretendem manter. As
    comemorações tiveram o seu ponto alto nos finais de Outubro, com atividades diversas onde prevaleceu a ligação
    histórica, cultural e religiosa a Portugal. Nelas esteve presente o Cónego António Rego, que além de participar na
    missa, ofereceu à comunidade uma imagem da padroeira de Portugal, Nossa Senhora da Conceição. Reproduzimos
    aqui as palavras de António Rego sobre a sua participação nas comemorações em Malaca, publicadas no site da Agência
    Ecclesia e também no semanário figueirense ”O Dever”, de 10 de novembro.

    Portugal ao longe

    Mesmo sem se entender a língua, ou falando um português do tempo de Afonso de Albuquerque, há

    um povo que aí encontra a sua identidade, a venera, reza e ama com um enternecimento comovedor

    500 anos não são nada na história. Andar 12 mil quilómetros de avião aos
    solavancos, chegar a um lugar, ver uma pequena fortaleza, dois barquinhos a percorrer a cidade como se fossem duas
    imagens de santos, os jovens numa correria para os acompanharem, alguns mais tisnados, junto ao mar a cantar melodias
    portuguesas tão distantes do original nas palavras como nas melodias, as casas marcadas por uma cruz, o bairro conhecido
    tanto como português, como cristão, faz, a quem chega, ainda que não seja pela primeira vez, estremecer de emoção por
    o povo a que pertence ser o mesmo que ali vive naquele bairro simples de pescadores. Não sabem o nome do presidente
    da República nem do Cardeal-Patriarca de Lisboa, mas sentem-se transportados a uma origem que sendo, para um
    recém-chegado igual ao resto do povo de Malaca, traz um registo indefinido de fé e portugalidade próximos e naturais sem
    a mais pequena discussão sobre o laicismo, separação de poderes, profano e sagrado, passado e presente. Sabe-se que,
    mesmo sem se entender a língua, ou falando um português do tempo de Afonso de Albuquerque, há um povo que aí
    encontra a sua identidade, a venera, reza e ama com um enternecimento comovedor. Expliquei que a imagem de Nossa
    Senhora de Fátima é a mais conhecida do mundo. Mas a que os portugueses agora lhes ofereceram é de Nossa Senhora
    da Conceição, foi coroada por um rei português e é a nossa padroeira. Foi um grupo de quinze jovens portugueses do
    ensino superior que levou o bandolim, a guitarra, o traje, a voz, um sorriso doce com um imenso respeito e dignidade,
    que acordou no coração dos presentes não apenas uma casa portuguesa, mas um povo lá dentro, com uma identidade
    para além do fado. “Aqui sou mais do que eu”, diria Pessoa. E nada disto foi de organização burocrática. Aconteceu pela
    sensibilidade de quem cá passou e se apercebeu que por vezes, quanto mais longe se está mais se ama Portugal. E a fé
    que o integrou e integra, mudados os tempos e as vontades.

    António Rego

    e veja também:
    http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.pl?&id=87938

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