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  • e agora josé (drummond de andrade)

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    Carlos Drummond de Andrade – E Agora Jose

    Drummond na voz de Drummond

    poema “José” de Carlos Drummond de Andrade foi publicado originalmente em 1942, na coletâneaPoesias. Ilustra o sentimento de solidão e abandono do indivíduo na cidade grande, a sua falta de esperança e a sensação de que está perdido na vida, sem saber que caminho tomar.

    José

    E agora, José?
    A festa acabou,
    a luz apagou,
    o povo sumiu,
    a noite esfriou,
    e agora, José?
    e agora, você?
    você que é sem nome,
    que zomba dos outros,
    você que faz versos,
    que ama, protesta?
    e agora, José?

    Está sem mulher,
    está sem discurso,
    está sem carinho,
    já não pode beber,
    já não pode fumar,
    cuspir já não pode,
    a noite esfriou,
    o dia não veio,
    o bonde não veio,
    o riso não veio,
    não veio a utopia
    e tudo acabou
    e tudo fugiu
    e tudo mofou,
    e agora, José?

    E agora, José?
    Sua doce palavra,
    seu instante de febre,
    sua gula e jejum,
    sua biblioteca,
    sua lavra de ouro,
    seu terno de vidro,
    sua incoerência,
    seu ódio — e agora?

    Com a chave na mão
    quer abrir a porta,
    não existe porta;
    quer morrer no mar,
    mas o mar secou;
    quer ir para Minas,
    Minas não há mais.
    José, e agora?

    Se você gritasse,
    se você gemesse,
    se você tocasse
    a valsa vienense,
    se você dormisse,
    se você cansasse,
    se você morresse…
    Mas você não morre,
    você é duro, José!

    Sozinho no escuro
    qual bicho-do-mato,
    sem teogonia,
    sem parede nua
    para se encostar,
    sem cavalo preto
    que fuja a galope,
    você marcha, José!
    José, para onde?

    Análise e interpretação do poema

    Na composição, o poeta assume influências modernistas, como verso livre, ausência de um padrão métrico nos versos e uso de linguagem popular e cenários cotidianos.

    Primeira estrofe

    E agora, José?
    A festa acabou,
    a luz apagou,
    o povo sumiu,
    a noite esfriou,
    e agora, José?
    e agora, você?
    você que é sem nome,
    que zomba dos outros,
    você que faz versos,
    que ama, protesta?
    e agora, José?

    Começa por colocar uma questão que se repete ao longo de todo o poema, se tornando uma espécie de refrão e assumindo cada vez mais força: “E agora, José?”. Agora, que os bons momentos terminaram, que “a festa acabou”, “a luz apagou”, “o povo sumiu”, o que resta? O que fazer?

    Esta indagação é o mote e o motor do poema, a procura de um caminho, de um sentido possível. José, um nome muito comum na língua portuguesa, pode ser entendido como um sujeito coletivo, metonímia de um povo. Quando o autor repete a questão, e logo depois substitui “José” por “você”, podemos assumir que está se dirigindo ao leitor, como se todos nós fossemos também o interlocutor.

    É um homem banal, “que é sem nome”, mas “faz versos”, “ama, protesta”, existe e resiste na sua vida trivial. Ao mencionar que este homem é também um poeta, Drummond abre a possibilidade de identificarmos José com o próprio autor. Coloca também um questionamento muito em voga na época: para que serve a poesia ou a palavra escrita num tempo de guerra, miséria e destruição?

    Segunda estrofe

    Está sem mulher,
    está sem discurso,
    está sem carinho,
    já não pode beber,
    já não pode fumar,
    cuspir já não pode,
    a noite esfriou,
    o dia não veio,
    o bonde não veio,
    o riso não veio,
    não veio a utopia
    e tudo acabou
    e tudo fugiu
    e tudo mofou,
    e agora, José?

    Reforça a ideia de vazio, de ausência e carência de tudo: está sem “mulher”, “discurso” e “carinho”. Também refere que já não pode “beber”, “fumar” e “cuspir”, como se seus instintos e comportamentos estivessem sendo vigiados e tolhidos, como se não tivesse liberdade para fazer aquilo que tem vontade.

    Repete que “a noite esfriou”, numa nota disfórica, e acrescenta que “o dia não veio”, como também não veio “o bonde”, “o riso” e “a utopia”. Todos os eventuais escapes, todas as possibilidades de contornar o desespero e a realidade não chegaram, nem mesmo o sonho, nem mesmo a esperança de um recomeço. Tudo “acabou”, “fugiu”, “mofou”, como se o tempo deteriorasse todas as coisas boas.

    Terceira estrofe

    E agora, José?
    Sua doce palavra,
    seu instante de febre,
    sua gula e jejum,
    sua biblioteca,
    sua lavra de ouro,
    seu terno de vidro,
    sua incoerência,
    seu ódio — e agora?

    Lista aquilo que é imaterial, próprio do sujeito (“sua doce palavra”, “seu instante de febre”, “sua gula e jejum”, “sua incoerência”, “seu ódio”) e, em oposição direta, aquilo que é material e palpável (“sua biblioteca”, “sua lavra de ouro”, “seu terno de vidro”). Nada permaneceu, nada restou, sobrou apenas a pergunta incansável: “E agora, José?”.

    Quarta estrofe

    Com a chave na mão
    quer abrir a porta,
    não existe porta;
    quer morrer no mar,
    mas o mar secou;
    quer ir para Minas,
    Minas não há mais.
    José, e agora?

    O sujeito lírico não sabe como agir, não encontra solução face ao desencantamento com a vida, como se torna visível nos versos “Com a chave na mão / quer abrir a porta, / não existe porta”. José não tem propósito, saída, lugar no mundo.

    Não existe nem mesmo a possibilidade da morte como último recurso – “quer morrer no mar, / mas o mar secou” – ideia que é reforçada mais adiante. José é obrigado a viver.

    Com os versos “quer ir para Minas, / Minas não há mais”, o autor cria outro indício da possível identificação entre José e Drummond, pois Minas é a sua cidade natal. Já não é possível voltar ao local de origem, Minas da sua infância já não é igual, não existe mais. Nem o passado é um refúgio.

    Quinta estrofe

    Se você gritasse,
    se você gemesse,
    se você tocasse
    a valsa vienense,
    se você dormisse,
    se você cansasse,
    se você morresse…
    Mas você não morre,
    você é duro, José!

    Coloca hipóteses, através de formas verbais no pretérito imperfeito do subjuntivo, de possíveis escapatórias ou distrações ( “gritasse”, “gemesse”, “tocasse a valsa vienense”, “morresse”) que nunca se concretizam, são interrompidas, ficam em suspenso, o que é marcado pelo uso das reticências.

    Mais uma vez, é destacada a ideia de que nem mesmo a morte é uma resolução plausível, nos versos: “Mas você não morre / Você é duro, José!”. O reconhecimento da própria força, a resiliência e a capacidade de sobreviver parecem fazer parte da natureza deste sujeito, para quem desistir da vida não pode ser opção.

    Sexta estrofe

    Sozinho no escuro
    qual bicho-do-mato,
    sem teogonia,
    sem parede nua
    para se encostar,
    sem cavalo preto
    que fuja a galope,
    você marcha, José!
    José, para onde?

    É evidente o seu isolamento total (“Sozinho no escuro / Qual bicho-do-mato”), ” sem teogonia” (não há Deus, não existe fé nem auxílio divino), “sem parede nua / para se encostar” (sem o apoio de nada nem de ninguém), “sem cavalo preto / que fuja a galope” (sem nenhum meio de fugir da situação em que se encontra).

    Ainda assim, “você marcha, José!”. O poema termina com uma nova questão: “José, para onde?”. O autor explicita a noção de que este indivíduo segue em frente, mesmo sem saber com que objetivo ou em que direção, apenas podendo contar consigo mesmo, com o seu próprio corpo.

    O verbo “marchar”, uma das últimas imagens que Drummond imprime no poema, parece ser muito significativo na própria composição, pelo movimento repetitivo, quase automático. José é um homem preso à sua rotina, às suas obrigações, afogado em questões existenciais que o angustiam. Faz parte da máquina, das engrenagens do sistema, tem que continuar suas ações cotidianas, como um soldado nas suas batalhas diárias.

    Mesmo assim, e perante uma mundividência pessimista, de vazio existencial, os versos finais do poema podem surgir como um vestígio de luz, uma réstia de esperança ou, pelo menos, de força: José não sabe para onde vai, qual o seu destino ou lugar no mundo, mas “marcha”, segue, sobrevive, resiste.

    Leia também a análise do poema No Meio do Caminho de Carlos Drummond de Andrade.

    Contexto histórico: Segunda Guerra Mundial e Estado Novo

    Para compreender o poema na sua plenitude é essencial termos em vista o contexto histórico no qual Drummond viveu e escreveu. Em 1942, em plena Segunda Guerra Mundial, o Brasil também tinha entrado num regime ditatorial, o Estado Novo de Getúlio Vargas.

    O clima era de medo, repressão política, incerteza perante o futuro. O espírito da época transparece, conferindo preocupações políticas ao poema e expressando as inquietações cotidianas do povo brasileiro. Também as condições de trabalho precárias, a modernização das indústrias e a necessidade de migrar para as metrópoles tornavam a vida do brasileiro comum numa luta constante.

    Carlos Drummond de Andrade e o Modernismo brasileiro

    O Modernismo brasileiro, que surgiu durante a Semana de Arte Moderna de 1922, foi um movimento cultural que pretendia quebrar os padrões e modelos clássicos e eurocêntricos, heranças do colonialismo. Na poesia, queria abolir as normas que restringiam a liberdade criativa do autor: as formas poéticas mais convencionais, o uso de rimas, o sistema métrico dos versos ou os temas considerados, até então, líricos.

    A proposta era abandonar o pedantismo e os artifícios poéticos da época, adotando uma linguagem mais corrente e abordando temas da realidade brasileira, como modo de valorizar a cultura e a identidade nacional.

    Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira, Minas Gerais, no dia 31 de outubro de 1902. Autor de obras literárias de vários gêneros (conto, crônica, história infantil e poesia), é considerado um dos maiores poetas brasileiros do século XX.

    Integrou a segunda geração modernista (1930 – 1945) que abraçou as influências dos poetas anteriores, e se focou largamente nos problemas sociopolíticos do país e do mundo: desigualdades, guerras, ditaduras, surgimento da bomba atômica. A poética do autor também revela um forte questionamento existencial, pensando no propósito da vida humana e no lugar do homem no mundo, como podemos ver no poema em análise.

    Em 1942, data de publicação do poema, Drummond estava de acordo com o espírito da época, produzindo uma poesia política que expressava as dificuldades diárias do brasileiro comum e as suas dúvidas e angústias, assim como a solidão do homem do interior perdido na cidade grande.

    Drummond morreu no Rio de Janeiro, dia 17 de agosto de 1987, na sequência de um infarto do miocárdio, deixando um vasto legado literário.

  • UBERABA – A CATEDRAL por Eduarda Fagundes

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    Nome Atual: Catedral do Sagrado Coração de Jesus
    Nome Anterior: Igreja Matriz

    Fonte:
    Autor Fotógrafo: Marise Romano
    Autor Restauração:
    Referência: Catedral de Uberaba
    Data: 2006


    Foto:
    Catedral do Sagrado Coração de Jesus – Praça Rui Barbosa (Centro – 2006/2007)

    Histórico – Catedral do Sagrado Coração de Jesus

    “A primeira Capela construída na região de Uberaba data de 1807, nas Cabeceiras do Córrego do Lajeado, Arraial da Capelinha, nas terras de propriedade de José Francisco de Azevedo. Em 1812, as imagens de Santo Antônio e São Sebastião, os padroeiros, foram entronizadas.

    Com a mudança, em 1815, dos moradores do Arraial da Capelinha para o novo Arraial da Farinha Podre, Uberaba atual, o Sargento-Mor, Antônio Eustáquio da Silva e Oliveira (Major Eustáquio), construiu uma nova Capela, na Praça Frei Eugênio, com a mesma invocação de Santo Antônio e São Sebastião, sendo benzida e liberada para as cerimônias religiosas, em 01 de dezembro de 1818. Em 02 de Março de 1820, com a instalação da Freguesia, esta Capela foi elevada à Categoria de Paróquia, e constituída em primeira Matriz.

    A capela foi demolida e uma outra construída no mesmo lugar, pelo Vigário Silva. Foi inaugurada em 20 de janeiro de 1828, e serviu ao culto até 1856. A atual Igreja Matriz teve as obras iniciadas em 1827. Com a morte do Major Eustáquio, em 1832, as obras ficaram paralisadas por vários anos.

    Vindo residir em Uberaba, em 1847, Antônio Borges Sampaio encontrou a Matriz nova inacabada, tendo apenas o telhado sobre os esteios e baldrames de aroeira, sem paredes nem assoalhos. Em 1848, o Cap. Joaquim Antônio Rosa retomou a sua construção cujas obras prosseguiram até 1856, sendo já celebrados na mesma, os ofícios religiosos. Esta Igreja passou por várias reformas e melhorias:

    • 1857 – Frei Eugênio construiu a Sacristia e o Adro.
    • 1859 – Joaquim Francisco Ananias construiu as duas torres, o coro, o arco-cruzeiro e o altar-mor.
    • 1868 – As torres foram revestidas de tijolos, argamassa e óleo.
    • 1874 – O relojoeiro Florêncio Forneri assentou o relógio em uma das torres.
    • 1880 – Foram colocados dois sinos, fundidos em Uberaba, por José Carlos Onofre.
    • 1889 – Vigário Carlos José dos Santos ordenou uma pintura externa na Igreja.
    • 1896 – As duas torres foram demolidas e edificada uma única torre, projetada pelo engenheiro Ataliba Vale, com características neogóticas.
    • 1899 – Com a transferência da sede do Bispado de Goiás para Uberaba, a Igreja Matriz alcançou as prerrogativas de Catedral.
    • 1907 – Com a inauguração da Igreja Sagrado Coração de Jesus (hoje Adoração Perpétua), para ser a Catedral, ela voltou a ser Matriz de Santo Antônio e São Sebastião.
    • 1926 – Dom Almeida Lustosa, 2º Bispo de Uberaba, transladou a Igreja Catedral para a Matriz de Santo Antônio e São Sebastião, com seu título de Sagrado Coração de Jesus, passando os Santos da primitiva Capela à Igreja da Adoração Perpétua.
    • 1933 – A matriz passou por sua última reforma total, permanecendo como está até os dias atuais. Foram acrescentados um transepto, capelas laterais e modificações no frontespício. O arquiteto responsável pelas obras foi Emanuel Giani.

    Atualmente é cercada por grades de ferro, tendo à frente a Imagem de Cristo e nas laterais as imagens de Santo Antônio e São Sebastião.”
    (ARQUIVO PÚBLICO DE UBERABA)

  • portugueses no holocausto

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    PORTUGUESES NO HOLOCAUSTO” : “Salvaram-se da Inquisição mas não das câmaras de gás”

    por Lusa

    Esther Mucznik , investigadora
    Esther Mucznik , investigadoraFotografia © Rui Coutinho – Global Imagens

    A investigadora Esther Mucznik afirma no livro “Portugueses no Holocausto” que os judeus descendentes de portugueses se “salvaram das fogueiras da Inquisição, mas não das câmaras de gás” nazis.

    Mucznik cita o caso “de um dos grandes pintores da escola holandesa”, Baruch Leão Lopes de Laguna, de origem portuguesa, que morreu em 1943, no campo de concentração de Auschwitz – e “com ele desapareceram quatro mil judeus de origem portuguesa na Holanda, que acabaram nas câmaras de gás”, acrescenta a investigadora.

    A autora de “Portugueses no Holocausto” lembra ainda que também havia luso-descendentes noutras partes da Europa, como deportados de Salónica, na Grécia, que acabaram mortos.

    A investigadora procurou o rasto de portugueses e descendentes de portugueses que morreram devido às políticas de exterminação racial da Alemanha nazi, mas também atos de salvação de vidas, como os do diplomata Aristides de Sousa Mendes, cuja “coragem e sensibilidade à dor que o rodeava foram determinantes no salvamento de milhares de pessoas”.

    Sousa Mendes não é o único. No Memorial dos Justos, em Jerusalém, consta também o nome de outro diplomata, Carlos Sampaio Garrido, e a investigadora cita ainda, entre outros, Alfredo Casanova, em Génova, Lencastre de Menezes, em Atenas, José Luís Archer, em Paris, Teixeira Branquinho, em Budapeste, e a infanta Maria Adelaide de Bragança que, em Viena, “não ficou indiferente ao sofrimento e não hesitou em ajudar a resistência”.

    Em França, o português José Brito Mendes “arrisca a sua vida, escondendo a pequena Cecile”, cujos pais judeus tinham sido deportados para os campos da morte, como escreve a investigadora.

     

     

  • da Galiza (Pessoa, Inutilidades) por Isabel Rei

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    Da Galiza mensagem

    Inutilidades

    Pessoa no Livro do Desassossego: “Porque é bela a arte? Porque é inútil. Porque é feia a vida? Porque é toda fins e propósitos e intenções.”, era Bernardo Soares quem falava. Imaginemos Bernardo Soares, tristeiro apaixonado, enfastiado do capitalismo embrionário europeu, onde a primeira máquina já programava: fazer para algo.

    [É certo que o Livro do Desassossego não foi publicado até ao 1982
    mas a sua redação aconteceu nos começos do s. XX,
    sendo a morte do autor em 1935]

    Também Oscar Wilde no Retrato de Dorian Gray: “A Arte é completamente inútil”. O livro saiu do prelo em 1890, justamente quando a Era das Máquinas começava a invadir Europa. O escândalo foi maiúsculo e o autor redigiu várias cartas públicas na sua defesa.

    [Para os meus botões:
    O nosso dandy preferido deveu divertir-se como nunca!]

    Pela mesma época de industrialização massiva, António Machado (1875-1939), andaluz de ascendência galega, fiava uns versos que diziam:

    Sabe esperar, aguarda que la marea fluya
    —así en la costa un barco— sin que el partir te inquiete.
    Todo el que aguarda sabe que la victoria es suya;
    porque la vida es larga y el arte es un juguete.

    Y si la vida es corta
    y no llega la mar a tu galera,
    aguarda sin partir y siempre espera,
    que el arte es largo y, además, no importa.

    No começo do poder das máquinas “valer para algo” significava que a arte, a poesia, tinha o seu lugar prático numa cadeia de produção. Que a fariam encaixar no seu posto e fichar todos os dias. Que estaria desse modo realizando um labor proveitoso para a abstrata sociedade. Não consigo imaginar as páginas dum livro aprontando como um robô as tripas dum automóvel.

    Porém hoje a lógica das máquinas, do poder, nos possui. Tomamos a nossa pílula diária em chips, objeto essência do fazer para algo. Assumimos como natural a utilidade de tudo e quase não entendemos por que é necessária a beleza do inútil, do concibido para nada. A estética do artifício, do ilusionismo, da fantasia, a arte como uma prática em si mesma. Pela contra, aventuramos uns objetivos práticos para as artes

    [abrimos galerias visuais, tecemos fio musical, vemos produtos da marca Disney,
    contratamos empresas de marketing, organizamos concursos, outorgamos prémios,
    ingressamos nas enciclopédias, vendemos discos e livros
    e até imagens em duas, três, quatro dimensões]

    e disfarçamos de seriedade o brinquedo da invenção artística, o escutar por escutar, o ler por ler, qual o viver por viver. Esquecemos a noção da arte como artifício porque sim, máquina sem objetivo. Esquecemos que Arte é parte de Natura sem mais alvos do que existir a existência, essa colossal, poética e exemplar fantasia.

    Eugénio Granell (1912-2001)

    Eugénio Granell (1912-2001)

  • faleceu o maior retratista açoriano

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    Desapareceu fisicamente hoje o maior retratista de sempre dos Açores

    FALECEU ARISTIDES ÂMBAR

    Faleceu hoje às 9 horas da manhã de insuficiência cardíaca, no hospital de Ponta Delgada, Aristides Âmbar Raposo, um dos maiores artistas plásticos da atualidade. Natural dos Açores, Aristides Âmbar, impôs de forma natural, desde a adolescência, a sua genealidade, reconhecida pelas grandes vultos da pintura no nosso país e para além fronteiras para onde foram muitos dos seus quadros.
    O reconhecimento veio também, felizmente ainda em vida, pelo Presidente da República Prof. Cavaco Silva, que há dois anos o agraciou, numa homenagem nacional, com o grau de Comendador da Ordem de Mérito.
    Sendo um dos maiores retratistas do nosso tempo, desenhava um retrato como poucos. E, como se sabe, pintores há muitos, retratistas há muito poucos. Desenhou também, com uma sensibilidade quase extra-sensorial, naturezas mortas, reproduzindo sobremaneira a beleza dos verdes das nossas montanhas e vales, como o espelhado das nossas lagoas, jardins, parques e flores.
    Aristides Âmbar era natural da freguesia de São José, em Ponta Delgada. Tinha dois filhos, o Tim e a Tina, deixando ainda uma neta, Bárbara, mais conhecida por Baguinha, bem como muitos amigos que o veneravam, pessoal e profissionalmente.
    As artes nos Açores ficam mais pobres a partir de hoje com a partida deste enorme vulto do retrato.
    O corpo de Aristides Âmbar estará em câmara ardente na ermida do crematório do cemitério de São Joaquim em Ponta Delgada.
    À família, nesta hora difícil, endereçamos os nossos sentidos pêsames.

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  • mia couto e premio camoes

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    Eis o discurso
    de Mia Couto ao receber o Prêmio Camões!

    Mia Couto partilha Prémio Camões com a gente anónima de Moçambique

    rr.sapo.pt

    Embora muitos moçambicanos não saibam escrever ou sequer falar português, são co-autores dos seus livros
    Eis o discurso
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    Embora muitos moçambicanos não saibam escrever ou sequer falar português, são co-autores dos seus livros
  • As misteriosas descobertas arqueológicas nos Açores

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    As misteriosas descobertas arqueológicas nos Açores

    expresso.sapo.pt

    São dezenas de estruturas em pedra ou escavadas na rocha encontradas em várias ilhas dos Açores e estão a gerar polémica, porque parecem apontar para a presença humana no arquipélago muito antes da chegada dos portugueses.
    https://expresso.pt/multimedia/fotogalerias/misteriosas-descobertas-arqueologicas-nos-acores=f812970

    São dezenas de estruturas em pedra ou escavadas na rocha encontradas em várias ilhas dos Açores e estão a gerar polémica, porque parecem apontar para a presença humana no arquipélago muito antes da chegada dos portugueses.

    Amultiplicação de descobertas arqueológicas no Corvo, na Terceira e noutras ilhas dos Açores está a provocar polémica, porque parece indicar a presença de navegadores muitos séculos antes da chegada oficial dos portugueses, em 1427 (Diogo de Silves).

    Celtas, fenícios, cartagineses, romanos podem ter passado pelo arquipélago, porque o regresso ao Mediterrâneo ou ao norte da Europa de qualquer barco que viajasse ao longo da costa africana teria de ser feito pela chamada volta do Atlântico, por causa da direção dominante dos ventos de nordeste.

    Essa rota passava precisamente pelo grupo central das ilhas dos Açores e pelos seus dois melhores portos naturais: Angra do Heroísmo, na Terceira, e Horta, no Faial.

    Faltam sondagens, escavações e datações por radiocarbono para se tirarem conclusões definitivas, mas se fosse provada a origem pré-portuguesa dos achados arqueológicos, a História teria de ser rescrita, tanto no que diz respeito à descoberta das ilhas como ao paradigma da navegação no Atlântico.

    Félix Rodrigues, professor catedrático da Universidade dos Açores, que descobriu e estudou em profundidade alguns destes achados, vai mais longe e afirma ao Expresso: “Seria a maior descoberta arqueológica da Europa dos últimos 100 anos”.

    Mapa da ilha do Corvo, com a localização dos achados arqueológicos. São cerca de 100 estruturas que parecem hipogeus (túmulos escavados na rocha) como os da região do Mediterrâneo
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    Mapa da ilha do Corvo, com a localização dos achados arqueológicos. São cerca de 100 estruturas que parecem hipogeus (túmulos escavados na rocha) como os da região do Mediterrâneo

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  • HISTÓRIA DOS JUDEUS EM PORTUGAL

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    História dos Judeus em Portugal

    Carvalho is one of the most ancient Portuguese family name. The reason why a lot of Sepharadic jews adopted that name and other typical Portuguese names is that it was the safest way of
  • da lava ao vinho (Pico e outras ilhas)

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    De Lavas a Wine, documentário do jovem Nuno Sá Pessoa. Este é o link, recomendo. Muito bonito, Urbano Bettencourt !
    https://vimeo.com/31239839
    https://www.youtube.com/watch?v=TrXzQWHUVzk
  • açores autonomia1 verão quente

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    http://youtu.be/_LxRQ8RkxIk

     

    Reportagem Açores Verão Quente Açoriano

    www.youtube.com