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Junho 2012
Quando passeio pela ilha e a vejo em toda a sua beleza pura, não posso deixar de me admirar por ainda me causar espanto, ao fim de tanto tempo. Penso que já foi tão fotografada que corre o risco de se estragar, como uma mulher bonita.
Fomos para as bandas do Faial da Terra. Ali, entre o Mar e a encosta escarpada, vislumbrei o equilíbrio perfeito entre a Terra e o Mar. Vidas paradas… Suspensas…Terra fecunda que se oferece ao Homem numa eterna dádiva. Homens que vivem tão perto do Mar! Tão perto do Céu!
Da Terra ao mar é um passo que condensa tudo: sonho e infinito; busca e incerteza.
Uma luz mística surge ali, por detrás da escarpa, a criar ilusões e a envolver Terra e Mar em raios de fantasia.
A Terra é a âncora, o porto de abrigo, o ancoradouro de sonhos. Dela vimos. A ela regressamos.
O mar é a passagem.
Então pensei que o que a Natureza tem de mais belo é a sua inconsciência. É ser fantástica, mágica e misteriosa sem se aperceber. É maravilhar-nos com a sua beleza, apenas porque está ali, para regalo dos olhos.
Seguindo o curso da ribeira, subimos pela mata até à cascata do Salto do Prego. O caminho pedregoso não é fácil, principalmente porque vamos após uma noite de forte chuvada. A lama não facilita a vida aos caminheiros, mas lá vamos, sem querer dar o braço a torcer ao cansaço.
Fecho os olhos e inspiro aquela mistura perfeita de frescura e de vida que brota da mata de criptomérias, conteiras e incenseiros. De repente lembro-me de que subi aqui a primeira vez há 17 anos, com a família toda, mais o Onésimo e a Leonor, que fazem parte da família. Trazia o Afonso na barriga.
A partir de certa altura, em cada curva do caminho, julgamos já estar muito próximos, porque o barulho da cascata vai-se intensificando, brincando connosco ao esconde-esconde pelo meio das árvores. Subitamente, na pequena descida enlameada, olhamos à nossa esquerda e lá está ela, garbosa! Cascata feita de nuvens, rasgando a rocha num brotar constante. Num gesto abusivo de invasão, a água a medir forças com a Terra. A pureza da água no mito da origem brota do basalto negro e a ele regressa num ciclo de eterno retorno tão anterior a nós e que irá perdurar tão depois de nós…
É frágil a vida. Mas esta água e esta rocha não.
O Céu, que mal se vislumbra nesta luxúria de verdes, mantém-se imperturbável e sereno, pelo tanto que já viu.
Água abençoada, vinda do alto! Imagem duplicada de beleza, emoldurada pela silhueta das árvores que velam em silêncio…
Maria João Ruivo
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colectivolibertarioevora.wordpress.com
Leitura matinal na residência e sede da Aliança Libertária em Dili (Timor) -1932
A dado passo, Luísa Tiago de Oliveira, salientou a dimensão que teve durante, sobretudo, a década de 30 do século passado, a deportação de presos de índole social e política para aquelas terras distantes. Disse que, em Timor, chegaram a estar cerca de 500 deportados, a maior parte anarquistas e anarcosindicalistas da CGT, vítimas de repressão que se seguiu à instauração do regime ditatorial pós 1926. 500 deportados em Timor era muita gente, tantos como os brancos que integravam a administração da ilha, o que levantava, só por si, problemas de segurança.
Entre os anarquistas que estiveram em Timor há nomes como Arnaldo Simões Januário, de Coimbra, que depois veio a morrer no Tarrafal ou Manuel Viegas Carrascalão, nascido em S. Brás de Alportel, tipógrafo, secretário-geral das Juventudes Sindicalistas, por várias vezes preso, a última das quais em 1925, sendo condenado a 6 anos de degredo pelo Tribunal Militar e despachado para Timor em 1927, de onde nunca mais voltou. Este Manuel Viegas Carrascalão seria o fundador do clã Carrascalão (de que há ainda vários elementos ligados à actividade política timorense) e criou a fazenda “Algarve”, uma das mais prósperas (na altura) de Timor. Conduziu também a resistência à invasão japonesa nos anos 40.
Segundo Luisa Tiago de Oliveira a forma de encarar os deportados também variou de governador para governador. Muitos foram espalhados pela ilha de forma a não poderem criar laços fortes, numas vezes. Vezes houve, no entanto que os governadores tentaram integrar os deportados, incentivando-os a participarem na actividade económica e social da ilha e a desenvolverem as actividades que eram as suas. Terá havido mesmo uma padaria em Dili criada por anarquistas que fornecia o pão à população branca. Nessa altura, de maior distensão social, foi mesmo constituída uma Aliança Libertária de Timor, com sede e tudo, possuíndo um boletim informativo que teve pelo menos três números (aqui).
Nesta sua passagem por Évora, Luísa Tiago de Oliveira falou-me duma foto desta altura. Encontrei uma semelhante agora no arquivo Mosca (foto no início do texto). Alguns destes anarquistas fixaram-se em Timor Leste (como o Carrascalão). Outros regressaram a Portugal. Outros ainda foram morrer ao Tarrafal, como Simões Januário. Foi, no entanto, uma geração que lutou e foi fortemente reprimida, deportada e, por fim, em muitos casos, barbaramente assasinada. Foram largas dezenas os anarquistas mortos nas prisões, nas fugas, nas greves, nos atentados e nas acções contra o fascismo que se começava a impôr em Portugal e por toda a Europa. Hoje começa a recuperar-se essa memória. De uma geração que lutou até ao fim, mas cujos ecos só hoje começam a fazer-se ouvir junto das gerações mais jovens, mantendo viva a chama do ideal libertário.
e.m.
Marcelina Guterres e Manuel Viegas Carrascalão (aqui)
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Adeus, rios; adeus, fontes
adeus, rios; adeus, fontes;
adeus, regatos pequenos;
adeus, vista dos meus olhos;
não sei quando nos veremos.
minha terra, minha terra,
terra onde me eu criei,
hortinha que quero tanto,
figueirinhas que plantei,
prados, rios, arvoredos,
pinhares que move o vento,
passarinhos piadores,
casinha do meu contento,
moinho dos castanhais,
noites claras de luar,
campainhas timbradoras
da igrejinha do lugar,
amorinhas das silveiras
que eu lhe dava ao meu amor,
caminhinhos entre o milho,
adeus para sempre a vós!
adeus, glória! adeus, contento!
deixo a casa onde nasci,
deixo a aldeia que conheço
por um mundo que não vi!
deixo amigos por estranhos,
deixo a veiga pelo mar,
deixo, enfim, quanto bem quero…
quem pudera o não deixar!…
mas sou pobre e, malpecado!
a minha terra n’é minha,
que até lhe dão prestado
a beira por que caminha
ao que nasceu desditado.
tenho-vos, pois, que deixar,
hortinha que tanto amei,
fogueirinha do meu lar,
arvorinhas que plantei,
fontinha do cabanal.
adeus, adeus, que me vou,
ervinhas do campo-santo,
onde meu pai se enterrou,
ervinhas que biquei tanto,
terrinha que nos criou.
adeus, Virgem da Assunção,
branca como um serafim;
levo-vos no coração;
vós pedi-lhe a Deus por mim,
minha Virgem da Assunção.
já se ouvem longe, mui longe,
as campanas do Pomar;
para mim, ai!, coitadinho,
nunca mais hão de tocar.
já se ouvem longe, mais longe…
cada bad’lada uma dor;
vou-me só e sem arrimo…
minha terra, adeus me vou!
adeus também, queridinha…
adeus por sempre quiçá!…
digo-che este adeus chorando
desde a beirinha do mar.
não me olvides, queridinha,
se morro de solidão…
tantas léguas mar adentro…
minha casinha!, meu lar!
(Rosalia de Castro, poeta galega 1837-1885)
Edições da Galiza/AGLP, pelo ilustre filólogo galego, Professor Dr. Higino Martins Esteves, segundo o Acordo Ortográfico da LP de 1990.
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Assim é a “Máfia Política”…….O “May be man” – Por Mia Couto<Existe o “Yes man”. Todos sabem quem é e o mal que causa. Mas existe o May be man. E poucos sabem quem é. Menos ainda sabem o impacto desta espécie na vida nacional. Apresento aqui essa criatura que todos, no final, reconhecerão como familiar.
O May be man vive do “talvez”. Em português, dever-se-ia chamar de “talvezeiro”. Devia tomar decisões. Não toma. Simplesmente, toma indecisões. A decisão é um risco. E obriga a agir. Um “talvez” não tem implicação nenhuma, é um híbrido entre o nada e o vazio.
A diferença entre o Yes man e o May be man não está apenas no “yes”. É que o “may be” é, ao mesmo tempo, um “may be not”. Enquanto o Yes man aposta na bajulação de um chefe, o May be man não aposta em nada nem em ninguém. Enquanto o primeiro suja a língua numa bota, o outro engraxa tudo que seja bota superior.
Sem chegar a ser chave para nada, o May be man ocupa lugares chave no Estado. Foi-lhe dito para ser do partido. Ele aceitou por conveniência. Mas o May be man não é exactamente do partido no Poder. O seu partido é o Poder. Assim, ele veste e despe cores políticas conforme as marés. Porque o que ele é não vem da alma. Vem da aparência. A mesma mão que hoje levanta uma bandeira, levantará outra amanhã. E venderá as duas bandeiras, depois de amanhã. Afinal, a sua ideologia tem um só nome: o negócio. Como não tem muito para negociar, como já se vendeu terra e ar, ele vende-se a si mesmo. E vende-se em parcelas. Cada parcela chama-se “comissão”. Há quem lhe chame de “luvas”. Os mais pequenos chamam-lhe de “gasosa”. Vivemos uma nação muito gaseificada.
Governar não é, como muitos pensam, tomar conta dos interesses de uma nação. Governar é, para o May be Man, uma oportunidade de negócios. De “business”, como convém hoje, dizer. Curiosamente, o “talvezeiro” é um veemente crítico da corrupção. Mas apenas, quando beneficia outros. A que lhe cai no colo é legítima, patriótica e enquadra-se no combate contra a pobreza.
Afinal, o May be man é mais cauteloso que o andar do camaleão: aguarda pela opinião do chefe, mais ainda pela opinião do chefe do chefe. Sem luz verde vinda dos céus, não há luz nem verde para ninguém.
O May be man entendeu mal a máxima cristã de “amar o próximo”. Porque ele ama o seguinte. Isto é, ama o governo e o governante que vêm a seguir. Na senda de comércio de oportunidades, ele já vendeu a mesma oportunidade ao sul-africano. Depois, vendeu-a ao português, ao indiano. E está agora a vender ao chinês, que ele imagina ser o “próximo”. É por isso que, para a lógica do “talvezeiro” é trágico que surjam decisões. Porque elas matam o terreno do eterno adiamento onde prospera o nosso indecidido personagem.
O May be man descobriu uma área mais rentável que a especulação financeira: a área do não deixar fazer. Ou numa parábola mais recente: o não deixar. Há investimento à vista? Ele complica até deixar de haver. Há projecto no fundo do túnel? Ele escurece o final do túnel. Um pedido de uso de terra, ele argumenta que se perdeu a papelada. Numa palavra, o May be man actua como polícia de trânsito corrupto: em nome da lei, assalta o cidadão.
Eis a sua filosofia: a melhor maneira de fazer política é estar fora da política. Melhor ainda: é ser político sem política nenhuma. Nessa fluidez se afirma a sua competência: ele sai dos princípios, esquece o que disse ontem, rasga o juramento do passado. E a lei e o plano servem, quando confirmam os seus interesses. E os do chefe. E, à cautela, os do chefe do chefe.
O May be man aprendeu a prudência de não dizer nada, não pensar nada e, sobretudo, não contrariar os poderosos. Agradar ao dirigente: esse é o principal currículo. Afinal, o May be man não tem ideia sobre nada: ele pensa com a cabeça do chefe, fala por via do discurso do chefe. E assim o nosso amigo se acha apto para tudo. Podem nomeá-lo para qualquer área: agricultura, pescas, exército, saúde. Ele está à vontade em tudo, com esse conforto que apenas a ignorância absoluta pode conferir.
Apresentei, sem necessidade o May be man. Porque todos já sabíamos quem era. O nosso Estado está cheio deles, do topo à base. Podíamos falar de uma elevada densidade humana. Na realidade, porém, essa densidade não existe. Porque dentro do May be man não há ninguém. O que significa que estamos pagando salários a fantasmas. Uma fortuna bem real paga mensalmente a fantasmas. Nenhum país, mesmo rico, deitaria assim tanto dinheiro para o vazio.
O May be Man é utilíssimo no país do talvez e na economia do faz-de-conta. Para um país a sério não serve.
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From: mlmedeiros[ saudades-sefarad] partilhou :
América Portuguesa |
Em sua diáspora pelo mundo, os conversos portugueses, encontraram um porto seguro nas colônias ultramarinas Portuguesas, em especialmente no Brasil: A América Lusitana.
Entre os séculos XVI à XVIII, a grande maioria dos conversos que saíram de Portugal escolheram o Brasil como destino.
Isso se deveu não só as facilidades, já que as colônias nada mais eram que os quintais da metrópole, mas também a possibilidade de crescimento econômico e ascensão social.
Todavia, dois grupos distintos de Cristão-novos podiam ser observados entre os que decidiram cruzar o Atlântico:
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Interrogatórios do Sto. Ofício |
As notícias de prosperidade dos conversos portugueses no Brasil, não tardaram a chegar em Portugal, que logo cuidou de despachar visitadores do Sto. Oficio as capitanias mais prosperas do Brasil.
A primeira Visitação do Sto. Ofício ao Brasil aconteceu entre de 1591 – 1595. Em 1624, nada menos que 245 Conversos já haviam sido processados.
Engenho Camaragib |
Entre os anos de 1649 – 1748, entre os processados, encontramos 18 brasileiros de origem conversa executados no Largo do Róssio em Lisboa.
O Judaísmo, na maior parte do tempo, esteve presente na vida dos conversos portugueses de forma oculta no Brasil.
Em 1580 já se tinham notícias de várias Esnogas que funcionavam em Engenhos pertencentes a Conversos Portugueses.
Entre as primeiras Esnogas Secretas do Brasil, encontramos a do Engenho Camaragibe, Engenho Muribeca, ambos em Pernambuco, e a do Engenho Matoim na Bahia.
Um momento impa para os judeus conversos no Brasil, ocorreu durante a ocupação do Nordeste Setentrional pela Companhia das Índias Ocidentais.
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Invasão Holandesa do Nordeste do Brasil |
in diálogos lusófonos