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  • Um pouco da fantástica cultura baiana para o mundo!

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    in diálogos lusófonos

    Um pouco da fantástica cultura baiana para o mundo! xD

    O “lá ele” é uma das mais importantes expressões do idioma baianês,
    mais especificamente do dialeto soteropolitano baixo-vulgar. Segundo
    os léxicos, a expressão significa “outra pessoa, não eu” (LARIÚ,
    Nivaldo. Dicionário de baianês. 3ª ed. rev. e ampl. Salvador: EGBA,
    2007, s/n).

    A origem da expressão é ambígua. Alguns etimologistas atribuem seu
    surgimento às nativas do bairro da Mata Escura, enquanto outros
    identificam registros mais antigos no falar dos moradores do Pau
    Miúdo. O certo, porém é que o “lá ele” desempenha papel fundamental em
    um dos aspectos mais importantes da cultura da primeira capital do
    Brasil – a subcultura urbana do duplo sentido.

    Desde a mais tenra infância, os naturais da Soterópolis são treinados
    para identificar frases passíveis de dupla interpretação. Da mesma
    forma, os soteropolitanos aprendem desde cedo a engendrar artimanhas
    para que seu interlocutor profira expressões de duplo sentido.

    Assim, as pessoas vivem sob constante tensão vocabular, cuidando para
    não fazer afirmações que possam ser deturpadas pelo interlocutor. Para
    indivíduos do sexo masculino, por exemplo, é vedado conjugar na
    primeira pessoa inocentes verbos como “dar”, “sentar”, “receber”,
    cair”, “chupar” etc. O interlocutor sempre estará atento para, ao
    primeiro deslize, destruir a reputação de quem pronunciou a palavra
    proibida.

    Como antídoto para a incômoda prática, o “lá ele” surgiu como uma
    ferramenta indispensável na comunicação do soterpolitano. Assim, o
    indivíduo que falar algo sujeito a interpretações maliciosas estará a
    salvo se, imediatamente, antes da reação de seu interlocutor, falar em
    alto e bom som “lá ele!”

    Por exemplo, qualquer homem, por mais macho que seja, terá sua
    orientação posta em dúvida se falar “Neste Natal comi um ótimo peru”.
    Contudo, se sua frase for “Neste Natal comi um ótimo peru, lá ele!”,
    não haverá qualquer problema. No mesmo diapasão, confira-se:

    (i) se um colega de trabalho enviar um e-mail perguntando “vai dar
    para almoçar hoje?”, não se pode redarguir apenas “Sim”; deve-se
    reponder “Vai dar lá ele. Vamos almoçar”;

    (ii) se, na pendência do pagamento de polpudos honorários, um advogado
    perguntar ao outro “Já recebeu?”, a resposta deverá ser “Recebeu lá
    ele. Já foi pago”;

    (iii) ou, ainda, se alguém tiver a desdita a desdita de nascer no
    citado bairro do Pau Miúdo, o que poderá transformar sua vida em um
    interminável festival de chacotas, deverá sempre valer-se da ressalva:
    “eu sou do Pau Miúdo, lá ele”.

    Para melhor compreensão da matéria, reproduz-se abaixo um exemplo
    real, ocorrido no último domingo durante a transmissão do épico
    triunfo (vitória é coisa de chibungo, lá ele) do glorioso Esporte
    Clube Bahia sobre o Atlético de Alagoinhas:

    • Locutor: “Subiu o cartão amarelo?”
    • Repórter: “Subiu o amarelo e o vermelho.”

    • Locutor: “Mas você está vendo subir tudo!”

    • Repórter: “Lá ele!”

    Note-se que o “lá ele” pode sofrer variações de gênero e número, de
    acordo com a palavra que se pretende neutralizar. Se, antes de uma
    sessão do TJBA, alguém perguntar “Você conhece os membros da turma
    julgadora?”, deve-se objetar com veemência: “Lá eles!”. Ou se o
    cidadão for à Sorveteria da Ribeira e lhe perguntarem “Quantas bolas o
    senhor deseja?”, é de todo recomendável que se responda “Duas, lá
    elas, por favor”.

    A cultura duplo sentido oferece outros fenômenos da comunicação
    interpessoal. Veja-se, a título de ilustração, o sufixo “ives”.

    Em Salvador, não se pode falar palavras terminadas em “u”,
    principalmente as oxítonas. Independentemente de sexo, idade ou classe
    social, o indivíduo poderá ser mandado para aquele lugar (lá ele). A
    pronúncia de uma palavra que dê (lá ela) rima com o nome popular do
    esfíncter (lá ele) será prontamente rebatida com a amável sugestão.
    Para fazer face ao problema, a vogal “u” passou a ser costumeiramente
    substituída pelo sufixo “ives”.

    Destarte, o capitão da Seleção de 2002 é tratado como “Cafives”; o
    Estádio de Pituaçu virou “Pituacives”; o bairro do Curuzu se tornou
    “Curuzives”; a capital de Sergipe sói ser chamada de “Aracajives”; e
    as pessoas que atendiam pela alcunha de Babu, com frequência utilizada
    na Bahia para apelidar carinhosamente pessoas de feições simiescas, há
    muito tempo passaram a ser chamadas de “Babives”.

    Agora todos sabem usar “lá ele”! xD

    Autor desconhecido

  • terminologia de Angola

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    in diálogos lusófonos

     

    Expressões de Angola

    A B C D E F G I L M P Q R S T V W Z

    • A
      ACA – Expressão que significa, de acordo com a entoação ou situação, enfado, repugnância, surpresa; alegria, alívio, espanto.
      AJINDUNGADO – Temperado com jindungo, picante.
      ALAMBAMENTO – Dote do noivo à família da noiva, regra geral em gado e outros animais domésticos, vestes, mantimentos ou dinheiro. O alambamento, condição fundamental para tramitação do noivado, é tratado entre as famílias dos nubentes, mesmo não se tratando do primeiro matrimónio. As regras variam ligeiramente, de etnia para etnia mas, princípio universal, a família da noiva obriga-se a devolvê-lo caso não se verifique a consumação do casamento ou em caso de divórcio. Também pode ser entendido como “tributo de honra prestado pelo noivo à família da noiva”.
      AMIGO DA ONÇA – Fraco amigo, amigo de “Peniche”.
      ANGOLAR – Antiga moeda que circulou em Angola entre 1928 e 1957 (a sua recolha terminou em 31 de Dezembro de 1959), tendo sido substituída pelo escudo.
      ANGOLENSE – Angolano; o natural, o habitante ou o que pertence ou se refere a Angola.
      ANHARA – Xana, planície arenosa, correspondente africano da charneca, na região central de Angola, atravessada por cursos de água, com vegetação rasteira formada principalmente por gramíneas e arbustos de pequeno porte, podendo apresentar-se alagada. O ongote (planta leguminosa arbustiva, com folhas compostas e flores minúsculas em pequenos cachos, característica da anhara angolana)é a típica personalidade vegetativa da anhara.
      ARMADO EM CARAPAU DE CORRIDAS – Armado em esperto, armado aos cucos.
      APAGAR O MAÇARICO – Morrer, lerpar, bater a caçuleta, fazer uafa.
    • B
      BAILUNDO – Reino do planalto central de Angola, fundado cerca de 1700 por Katiavala. Município e cidade da província do Huambo. Povo Vambalundu pertencente ao grupo etnolinguístico Ovimbundo . A designação Bailundo estendeu-se a todo o grupo. O falante de Umbundo; aquele ou o que pertence ou se refere a este grupo ou região; naturais do Huambo e Bié.
      BALEIZÃO – Gelado, sorvete; “Resultou do apelido de um fabricante desse gelado, o qual, em 1941, se havia estabelecido na cidade de Luanda.”
      BAMBI – (Cephalophus mergens) Pequeno antílope, também conhecido por cabra-do-mato, de pelagem castanha, com uma mancha mais escura ao longo da coluna dorsal; não ultrapassa 1m de comprimento, 55cm de altura ao garrote, 20cm de cauda e chifres direitos e delgados com 9cm de comprimento. Vive em matas fechadas, onde existam cursos de água próximos.
      BANGA – (Di-banga = envaidecer-se) Ostentação, presunção, vaidade; distinção, elegância, garbo. Causar sensação.
      BANZADO – Pensativo, admirado, assombrado, espantado, maravilhado.
      BATUCADA – Acto ou efeito de batucar; percussão do batuque; dança ou festa com batuques; barulho de batuques.
      BATUCAR – Fazer soar ou tocar o batuque; dançar ao som do batuque. Dar pancadas ou bater com as mãos num qualquer objecto a ritmo cadenciado. Bater aceleradamente (o coração).
      BATUQUE – (Ba atuka = local onde se salta e pula)Tuka saltar, pular. Instrumento de percussão; bombo, tambor. Apresenta formas e designações variadas de acordo com a região, aspecto, material utilizado na sua confecção e som produzido. O som produzido pela percussão do instrumento. Dança, divertimento ou festa com acompanhamento de batuques. Esta é a concepção mais moderna de batuque. Pode ter acompanhamento de vocalizações harmónicas, cânticos de cariz social, ou refrães apenas poéticos. Na verdade, o batuque é uma espontaneidade anímica dos povos africanos. Começou por ser uma manifestação que acompanhava os ritos fúnebres, tendente “à satisfação da alma a que se propicia semelhante folguedo, a fim de lhe minorar a tristeza, pelos entes que deixou. Nesta conformidade, as danças obituárias não constituem, como ordinariamente se julga, uma natural manifestação de folia, antes uma forma de expressão religiosa… Os batuques organizam-se de noite, geralmente começando à tardinha. Se respeitam a óbitos, podem durar noites inteiras, mesmo um mês.”
      BICANJOS – subúrbios, aldeias.
      BICHINHO DO MATO – Pessoa muito acanhada.
      BICUATAS – Tarecos.
      BITACAIA – Espécie de pulga criada (nos dedos dos pés).
      BICO-DE-LACRE – ( Estrilda astrild angolensis ) Ave passeriforme da família dos Estrildídeos, é um pequeno pássaro com 11,5 cm de comprimento originário de Angola. Devido à sua grande capacidade de sobrevivência em cativeiro emigrou para Portugal e Brasil, após a descolonização, foi solto na natureza e adaptou-se perfeitamente, integrando hoje a avifauna daqueles países. A plumagem é castanho-amarelada e tons de bege no peito, dorso e asas, peito com listras onduladas de branco e preto, ventre rosado, cauda vermelho-escura e bico cor de lacre. Apresenta uma banda ocular vermelha, larga e escura no macho e desmaiada e mais estreita ou inexistente na fêmea. Esta é mais pequena do que o macho e a plumagem é mais vistosa no macho e desmaiada na fêmea. O bico das crias é negro à nascença, torna-se alaranjado na primeira muda e só em adulto adquire o tom que dá o nome à espécie. Desloca-se em bandos numerosos que chamam a atenção pelos gritos estridentes incessantes. Vive em habitats abertos de silvados, savanas de gramíneas e espaços urbanos ajardinados. Alimenta-se no solo, de grãos, sementes e de toda a espécie de insectos, estes principalmente na altura de alimentação das crias. O ninho é construído no solo no meio do capim alto ou sob arbustos. É redondo e provido de um túnel de acesso, construído com raminhos, penas, palha e ervas. O macho constrói o abrigo e a fêmea dá-lhe o acabamento final, transportando penas e capim para o acolchoamento onde irá fazer a postura de 4-6 ovos que serão chocados pelos dois membros do casal, alternadamente de 2 em 2 horas, passando ambos a noite no ninho, durante cerca de 12 dias. Duas semanas depois de nascer as crias estão aptas a voar, embora continuem a ser alimentadas, durante algum tempo mais, pelos progenitores. Designa-se este por bico-de-lacre-comum já que existe outro bico-de-lacre de Angola; é o Estrilda thomensis , o bico-de-lacre-cinzento-de-angola, que tomou esta designação (thomensis) por se julgar, erradamente, ser originário de São Tomé e Príncipe. Difere do bico-de-lacre-comum essencialmente pelo colorido da plumagem, mais escura e sem as listras onduladas.
      BISSONDE – Formiga gigante que ferroava nas pessoas desprevenidas.
      BOMBÓ – Pedaços de mandioca descascada e demolhada. Depois de fermentada ou seca é moída, ou pisada, dando a fuba de bombó. Também se come assado, como acompanhamento para qualquer tipo de alimento.
      BOTECO – Botequim, bar de fracas qualidades.
    • C
      CABAÇA – Fruto da cabaceira, semelhante à abóbora, em forma de pêra, apresentando na parte superior uma espécie de gargalo pronunciado; pode ter a forma de um 8, em que o bojo inferior é maior do que o superior, estando separados por um estrangulamento. Em Angola tem uma grande importância ancestral pois sempre foi o recipiente por excelência para armazenamento de líquidos, depois de seco e oco.
      CABACEIRA – ( Lagenaria siceraria sin. Cucurbita spp) Planta anual vigorosa, trepadeira ou prostrada, da família das Curcubitáceas, que pode alongar-se por 5m de comprimento. Apresenta flores tubulares com 5 pétalas, brancas ou amareladas, com 4,5cm. É originária de África, embora hoje esteja também presente na Europa, Ásia e América. O fruto, a cabaça, é muito utilizado como recipiente.
      CABEÇA-DE-PEIXE – (ou CABEÇA DE PUNGO) São epítetos por que são conhecidos os naturais ou habitantes do distrito de Moçamedes / província do Namibe. O bairrismo das populações pretende as águas separadas: os alexandrenses (naturais de Porto Alexandre) reivindicam a designação cabeças-de-peixe e os moçamedenses cabeças-de-pungo. As designações derivam do facto destas populações viverem essencialmente da pesca.
      CABRA-DE-LEQUE – ( Antidorcas marsupialis angolensis ) Mamífero artiodáctilo da família dos Bovídeos, a cabra-de-leque, é uma pequena gazela de 75 cm de altura, 1m de comprimento para um peso de 40-50 kg. É uma das gazelas mais velozes, podendo a atingir os 90 km/h e pode, com facilidade, dar saltos de mais de 5 m. A pelagem é castanha-avermelhada, com uma barra castanha-escura nas laterais junto à delimitação do ventre, que é branco. A alvura do ventre prolonga-se pela parte interna das patas. A garganta é branca bem como a face, que apresenta uma lista escura que se prolonga dos olhos ao nariz. No final do dorso onde nasce a cauda, branca, apresenta um triângulo de longos pêlos brancos que se abrem em leque durante a corrida, empreendida sempre que pressente algum predador. O leque destaca-se, brilhante, na poeira levantada pela manada. Esta acção, sempre acompanhada de vistosas cabriolas que mais parecem elegantes passos de ballet, servem para indicar a posição aos companheiros que seguem na retaguarda. O leque abre-se também, dramaticamente, no momento da morte. Os chifres, em forma de lira de pontas convergentes, são pequenos, não ultrapassam os 50 cm, apresentam anéis bastantes vincados e são mais desenvolvidos no macho sendo que na fêmea são mais finos e não apresentam convergência nas pontas. A fêmea atinge a maturidade sexual entre os 7 e os 12 meses, ao passo que o macho a alcança aos 2 anos de idade. O período de gestação é de 6 meses. Vive nas savanas abertas e regiões semidesérticas. Alimenta-se da parte aérea das plantas, de raízes e tubérculos. Se os vegetais de que se alimenta contiverem, no mínimo, 10% de humidade, o animal não necessita de beber.
      CACETE – Pau que serve para dar cacetadas.
      CACIMBA – Cova, lagoa ou poço que recebe água das chuvas; buraco aberto para se procurar ou armazenar água. Estação fria dos trópicos; chuva miudinha, orvalho, relento.
      CACIMBADO – Quem ou o que recebeu cacimbo; húmido, molhado; enevoado, nublado. Neurótico, perturbado, triste, tristonho; aquele que sofre de perturbações psíquicas, mormente dos traumas provocadas pela guerra.
      CACIMBO – É poca das chuvas, Inverno. Humidade própria dos climas tropicais e equatoriais; chuva miudinha, orvalho, relento; época das chuvas.
      CAÇULA – O filho mais novo.
      CADA CARANGUEJO NO SEU LUGAR – Cada macaco no seu galho.
      CAFECO, UFEKO ou UFEKU – Mulher jovem, púbere.
      CAGAÇO – Medo, muito medo.
      CALCINHA – Pessoa toda não-me-toques.
      CALEMA – Fenómeno natural da costa ocidental africana, caracterizado por grandes vagas de mar. A ondulação forma-se no alto-mar e a ressaca origina correntes muito fortes que, dirigindo-se para a costa, rebentam estrondosamente, provocando grandes estragos.
      CALHAU COM OLHOS – Pessoa com muito poucas capacidades intelectuais, pouco inteligente.
      CALONJANDA – Expressão que quer dizer que alguém tem os pés tortos (virados para fora).
      CALULU – R ama da batata-doce. Prato típico de guisado à base de peixe ou carne, tendo como ingredientes (calulu de galinha) cebola, tomate, pau-pimenta, louro, jindungo , couve, quiabo , beringelas, e óleo de palma, engrossando-se o molho com farinha de trigo. Acompanha-se com arroz. Guisado de peixe, fresco e seco, tendo como ingredientes quiabo, abóbora, tomate, cebola, rama de cará ou de mandioca , jimboa e óleo de palma. É acompanhado de pirão ou funje . “Esta designação, usual entre as populações do Sul e Centro de Angola, corresponde, pela identidade da iguaria, à de funje de azeite de palma.
      CAMACOUVE – Comboio de mercadorias que efectuava paragens em todas as estações e apeadeiros transportando correio e materiais diversos.
      CAMANGA – Diamantes.
      CAMANGUISTA – Negociante de diamantes.
      CAMAPUNHO – Pessoa desdentada dos dentes da frente.
      CAMBUTA – Pessoa de baixa estatura, um quase anão.
      CAMUECA – Mal-estar, doença.
      CAMUNDONDO – Natural de Luanda. Rato.
      COMBOIO MALA – Comboio do Caminho de Ferro de Benguela que transportava os passageiros entre a cidade do Lobito e Vila Teixeira de Sousa, mais tarde Dilolo.
      CANDINGOLO – Bebida confeccionada pelos nativos indígenas, sem qualquer qualidade mas com muito álcool, uma espécie de cachaça muito mais forte.
      CANDENGUE – Criança, miúdo, rapaz; o irmão mais novo.
      CANDINGOLO – Bebida licorosa preparada a partir da hortelã-pimenta. “Em sua preparação, entram normalmente as seguintes quantidades de ingredientes: 1 litro de álcool puro, 2 de água, 0,5 de açúcar branco e essência de hortelã-pimenta. Reduzido o açúcar a calda, junta-se esta, depois de esfriada, ao álcool, ministrando-se por fim, a essência.”
      CANDONGA – Permuta, contrabando.
      CANDONGUEIRO – Aquele que faz candonga.
      CANGALHO – Carro velho.
      CANGONHA – Liamba ou Diamba .
      CANGULO – Carrinho de mão.
      CANHANGULO – Arma antiga de fabricação caseira (regra geral).
      CANIÇO – Cana delgada.
      CAPANGA – Esbirro; guarda-costas, indivíduo que faz a segurança pessoal de alguém.
      CAPIM – Nome genérico por que são conhecidas as plantas gramíneas e ciperáceas, geralmente forraginosas; chegam a cobrir enormes extensões de terreno e atingem altura relativamente elevada após as chuvas, formando grandes pastos naturais; erva; relva.
      CAPINA – Capinação, Monda, Sacha. Acto ou efeito de capinar; desbaste do capim.
      CAPINAR – Mondar, Sachar. Cortar o capim, limpar o terreno de capim, mondar.
      CAPINZAL – Terreno coberto de capim.
      CAPOTA – (Numida meleagris) A capota, pintada, galinha-de-angola ou galinha-do-mato é uma ave Galiforme da família Numididae, oriunda de África, que tem a particularidade de apresentar a cabeça nua de penas, com uma crista ou capacete no topo e barbelas por baixo da base do bico. Estes apêndices servem, muito provavelmente, para a ave regular a temperatura do cérebro. A plumagem é cinzenta prateada com pintas brancas. Prefere os habitats semiáridos e a savana, mas também pode ser vista na orla de bosques ou florestas É uma ave monogâmica embora se junte em grandes bandos, fora da época de reprodução. Alimenta-se no solo e abriga-se nas árvores, sempre que isso é possível. O nome específico, bem como as pintas que lhe cobrem as penas por todo o corpo, estão ligadas à mitologia grega: as meleágridas, irmãs do herói Meleagro que morre após matar a própria mãe, ao chorarem a sua morte cobrem-se de lágrimas e são transformadas em aves cuja plumagem se cobre de pintas lacrimais. É uma ave de fácil domesticação.
      CAPUTO – Português; a Língua Portuguesa; aquele ou o que pertence ou se refere a Portugal.
      CARA DE CU À PAISANA – Cara de traseiras de tribunal, cara de poucos amigos.
      CARCAMANO – Sul-africano.
      CARDINA – Bebedeira, pifão, pifoa, piruca, piela.
      CARREIRO – Caminho estreito aberto no mato.
      CARIANGO – Biscato.
      CARÁ – (pomoea batatas) Nome popular porque é conhecida, nas regiões do Sul de Angola, a batata-doce. Utiliza-se na alimentação de duas formas: assado ou cozido, acompanhando uma grande variedade de pratos, ou isoladamente.
      CASA DE PAU-A-PIQUE – Cubata feita com paus e barro.
      CASQUEIRO – Pão
      CASSANJE – (também Ka + sanji = galinha pequena) Vale na região de Malanje, a zona angolana mais produtora de algodão. A “Baixa do Kassanje” é célebre pela cultura intensiva de algodão.
      CATATUA – Arara.
      CATUITUI – ( Uraeginthus angolensis) Pequena ave Passeriforme com 11,5 cm.
      CAVÚLA – Mulher tchingandji.
      CAXIPEMBE – Bebida alcoólica resultante da fermentação de batata-doce ou de cereais e posterior destilação.
      CAZUMBI – Alma de um antepassado, alma penada, espírito errante; feitiço.
      CELHA – Pipo de vinho cortado ao meio, e que servia para se tomar banho ou para lavar roupa.
      CHAFARICA – Pequeno estabelecimento.
      CHICORONHO – Natural de Sá da Bandeira.
      CHINGANJIS – (ou Tchinganjis) Homens vestidos com fatos feitos de palha e outros materiais, com máscaras e que diziam ser sobrenaturais.
      CHINGUE – Cubata, palhota. Nalgumas circunstâncias era uma aldeia de palhotas.
      CHIPALA – Cara, face, rosto.
      CHIPRULENTO – Pessoa ciumenta.
      CHITACA – Fazenda, roça.
      CHITAQUEIRO – Dono da chitaca.
      CHORAR LÁGRIMAS DE CROCODILO – Chorar falsas lágrimas.
      CHURRASCO – Frango assado na brasa.
      CIPAIO – Polícia africano, ordenança adstrito às Administrações de Concelho e aos Postos Administrativos. Pertenceu aos Serviços de Administração Civil e actuava junto da população autóctone. O cargo era desempenhado por naturais.
      CONDUTO – Berera, molho para acompanhar o pirão
      COTÓTÓ – Unha de fome, forreta.
      CUANHAMA – Povo pertencente ao grupo etnolinguístico Ambó, de língua Tchikwanyama uma das línguas étnicas de Angola; o falante desta língua; aquele ou o que pertence ou se refere a este povo. Uma antiga lenda pretende explicar a origem da designação Ova-kwa-nyama, “os da carne”: “Uma pequena fracção da tribo donga deslocou-se para a floresta, à procura de víveres. Encontrou tanta abundância de caça e de peixe que resolveu fixar-se ali. Quando deram esta notícia ao soba, ele enviou emissários, ordenando-lhes que regressassem à terra tribal. A aludida fracção da tribo não quis, porém, obedecer à ordem emitida pelo soba. Este acabou por dizer: “Deixai-os lá com a sua carne”.
      CUANZA – (ou Kuanza) O grande rio de Angola.
      CUBATA – Casebre de barro seco, coberto de capim seco, folhas de palma ou mateba. Pode, também, ser de tábuas de madeira ou de aproveitamento de chapas metálicas. Também pode variar a cobertura, principalmente nas zonas urbanas onde se utiliza muito a folha de chapa zincada.
      CUCA – Marca de cerveja.
      CÚRIA – Comida, refeição.
    • D
      DENDÉM – (ou Dendê ) Fruto (drupa) do dendezeiro, de cor laranja-avermelhado quando maduro, composto por uma capa fibrosa (epicarpo), uma noz e uma amêndoa da qual se extrai o óleo ou azeite de dendém, muito utilizado em culinária. Pode ser consumido como petisco, cozido ou assado. Em doçaria prepara-se uma iguaria macerando o fruto em açúcar e erva-doce. Azeite de dendém, óleo de dendém, azeite de palma ou óleo de palma . O óleo ou azeite preparado a partir do dendém.
      DENDEZEIRO – (Elaeis guineensis) Variedade de palmeira originária da África tropical que atinge 20-25m de a. Do seu fruto, o dendém, prepara-se o azeite ou óleo do mesmo nome. As folhas são utilizadas na cobertura de habitações tradicionais e da sua seiva prepara-se o malavo.
      DIAMBA ou Liamba – (Cannabis sativa) Planta herbácea da família das Canabináceas, variedade de cânhamo, cujas flores e folhas, depois de secas, são utilizadas fumando-se como droga alucinogénia. A droga fabricada a partir desta planta. O seu consumo provoca habituação.
      DÁ-ME LICENÇA QUE O TOPE? – Expressão usada no gozo, pondo os dedos indicador e médio em círculo, no olho
      DOIS E QUINHENTOS – Vinte e cinco tostões.
    • E
      EMBALA – (banza, libata, quimbo ou sanzala) Aldeia ou sanzala do soba; palácio real, morada do chefe supremo. Genericamente na embala vivem o soba, as suas mulheres, filhos, noras e respectiva descendência. As casas estão dispostas em rectângulo ou círculo formando um terreiro interior onde existe, pelo menos, uma árvore, geralmente uma mulemba, à sombra da qual o soba se reúne com o conselho de anciães para resolução de conflitos e administração da justiça.
      ERVA SANTA MARIA – Erva medicinal.
      ESPIRRA CANIVETES – Pessoa muito magra.
    • F
      FAROFA – Farinha-de-pau preparada a frio como salada: cebola picada, azeite, vinagre e água suficiente para descompactar. Original e tradicionalmente o vinagre é substituído por óleo de palma.
      FAZER CAPIANGO – Fazer gamanço, rapinar.
      FEIJÃO KALONGUPA – Feijão encarnado.
      FEIJÃO MACUNDE – Feijão-frade, “ciclistas”.
      FRUTA-PINHA – Variedade de anona ou Sape-sape.
      FUBA – Farinha moída em grão muito fino, a partir de batata-doce, mandioca, massambala, massango ou milho. Farinha de bombó, farinha de mandioca fermentada. Farinha de quindele, farinha de milho.
      FUBEIRO – Comerciante que vende fuba; comerciante reles; pessoa reles.
      FUNJE – Pasta de farinha de mandioca. Prepara-se batendo ou amassando a farinha com o luico, em água a ferver, até adquirir uma consistência pegajosa e sedosa. É acompanhado com caldo de peixe fresco, peixe seco ou muamba de carne, legumes e um molho próprio (para a confecção do funje ver FUNGERARD).
      FUNJADA – Funje com um bom conduto.
    • G
      GABIRU – Malandrão, sacripanta, vígaro.,
      GÂMBIAS – Pernas altas.
      GANDULO – Malandrão.
      GINGUBA – ( Macoca , Quifufutila ou Quitaba) Amendoim, planta da família das Faseoláceas ou Leguminosas, também conhecida por amendoim. As folhas apresentam quatro grandes folíolos ovados. As flores são amarelas e reunidas em espiga nas axilas das folhas. Depois de fecundada, a estrutura que envolve o ovário alonga-se e penetra no solo, onde amadurecem os frutos, vagens oblongas com 1-4 sementes. As sementes são comestíveis e delas se extrai um óleo alimentar. É utilizada na alimentação, torrada ou cozida, em variados pratos e em doçaria.
      GOMA – Instrumento musical de percussão; batuque, bombo, tambor. Tradicionalmente é construído de um tronco escavado de mafumeira, com as duas extremidades abertas. Uma delas é depois coberta com pele de antílope ou veado, apertada sob tensão. O seu tamanho varia de região para região, podendo atingir 1,5 m de comprimento, motivo pelo qual o tocador monta ou se encavalita no instrumento. A afinação é feita por aquecimento da pele. Apresenta formas e designações variadas de acordo com a região, aspecto, material utilizado na sua confecção e som produzido.
      GONGA – Gavião, ave de rapina.
      GUELENGUE – Mamífero artiodáctilo da família dos Bovídeos endémico que atinge 200 kg de peso, com a estatura de 1,20 m e 90 cm ao garrote. A pelagem é de tom castanho-acinzentado muito claro; o ventre, branco, é separado dos flancos por uma barra preta; a face é branca com riscas pretas na zona dos olhos e rodeando a parte alta do focinho; a cauda, de crina longa, é preta bem como as patas, acima dos joelhos. Ambos os sexos apresentam chifres, em forma de lança, anelados, longos e voltados para trás e para o alto, sendo os da fêmea (1m) mais compridos e mais finos do que os do macho (75cm). Habita territórios secos, em zonas semidesérticas de pequena pastagem e savanas abertas fazendo, por vezes, incursões aos bosques abertos em busca de pastagens. Alimenta-se de herbáceas, raízes, tubérculos e rizomas. Passa vários dias sem beber e pode ser encontrado muito longe das fontes de água.
      GULUNGO – (Tragelaphus scriptus) Mamífero artiodáctilo da família dos Bovídeos. O gulungo é um antílope africano de porte médio, com 1-1,5 m de comprimento e pesa de 25 a 80 kg. Distribui-se pelo Leste de Angola. Tímido e desconfiado, emite balidos quando perseguido ou perturbado. Vive, solitário ou aos pares, em bosques densos, pequenas montanhas ou savanas arbustivas, sempre perto de cursos de água permanentes. Alimenta-se de herbáceas, folhas, rebentos e frutos. As hastes do macho são curtas e espiraladas com pontas afiadas. O costado, percorrido por uma crina branca, é arqueado, tem orelhas grandes e cauda espessa. A pelagem é castanho-avermelhada com riscas brancas verticais nas partes laterais do tronco e manchas também brancas nas espáduas, quartos traseiros e face. A fêmea, que não possui armação, é mais pequena do que o macho e a sua pelagem é menos vistosa. Atinge a maturidade sexual dos 11 para os 12 meses, tem um período de gestação de 6 meses, com 1 cria por parto.
    • I
      IMBAMBAS – Tarecos, as coisas de uma casa.
      IMBONDEIRO – (Adansonia digitata) Árvore de porte gigante, da família das Bombacáceas. O tronco é grosso e bojudo, podendo atingir 20 m de altura e 10 m de diâmetro, chegando a armazenar 100.000 litros de água. Há exemplares que atingiram a idade de 3.000 anos. O seu fruto é a múcua. “… o imbondeiro é venerado no Leste de Angola e encarregado pela tradição de albergar determinados espíritos…”
      IMPALA – (Aepicerus melampus) Mamífero artiodáctilo da família dos Bovídeos com 50-60 kg de peso, a impala apresenta pelagem castanho-avermelhada, escurecendo no dorso e rosto, sendo que o ventre, os queixais, a linha dos olhos e a cauda são brancos. Uma zona de pêlos mais compridos do que o normal, de cor preta, cobre-lhe os calcanhares. Os chifres, esbeltos e só existentes no macho, podem atingir 1 m de comprimento e desenvolvem-se em forma de lira. A maturidade sexual é de 1 ano para os machos e 20 meses para as fêmeas com um período de 195 a 200 dias de gestação. É um antílope que vive na savana, em grandes manadas. Prefere zonas onde exista capim de porte baixo ou médio, com uma fonte de água por perto, condição que pode ser desprezada caso a erva seja abundante.
      IPUTA – Pirão.
      IR Á TUJE – Ir “a outra parte”.
      IR AOS GAMBUZINOS – Partida feita a um novo morador.
      IR PASTAR CARACÓIS – Ir pentear macacos, ir chatear outro.
      ISTO NÃO É CONGO ! – Expressão usada aquando das confusões naquele País.
      ISTO NÃO É DA MÃE JOANA ! – Aqui não é a casa da sogra!
    • J
      JINDUNGO – ( ou Gindungo ) Espécie de malagueta muito ardente e aromática, utilizada no tempero dos alimentos e confecção de molhos. Fruto do jindungueiro.
      JINDUNGUEIRO – Planta da família das pimentas, Solanáceas, nativa dos trópicos, que atinge 60-80 cm de altura e cujo fruto, o jindungo, é muito utilizado em culinária.
    • K
      KUANZA , Cuanza, Kwanza ou Quanza – O maior rio nascido em Angola, com uma extensão de 965 km e uma bacia hidrográfica de cerca de 148.000 km2. Nasce junto a Mumbué, no distrito do Bié, a uma altitude de 1.450 m e desagua no Atlântico, 40 km ao Sul de Luanda. É navegável até ao Dondo, a 200 km da foz. São seus afluentes, entre outros, os rios Kuiva, Luando e Lucala.
      KUATA – Agarra, apanha, pega, segura. Guerras de kuata! kuata! Guerras empreendidas, na época da escravatura, quer pelo exército português, quer pelos reinos angolanos mais poderosos, com o intuito de fazer escravos.
    • L
      LARICA – Estar cheio de traça, ter muita fome.
      LAUREAR O QUEIJO – Passear.
      LOMBI – ( LÔMBUAS ou SUANGA) Rama de alguns arbustos para condutos.
      LOSSAKAS E QUIABOS – Frutos verdes que se usam nos condutos.
      LUICO – Espécie de grande colher de pau ou bastão comprido com que se amassa ou bate o funje.
    • M
      MABOQUE – (Maboke ) Fruto do maboqueiro, de aspecto semelhante ao da laranja mas de casca muito dura (pericarpo ósseo) contendo inúmeras sementes envolvidas por uma abundante polpa gelatinosa com sabor agridoce ou sub-ácido. É também conhecido por laranja-do-natal e laranja-dos-macacos. Come-se ao natural ou temperado com açúcar. Pode também ser constituinte de salada de frutos, dando-lhe um sabor especial.
      MABOQUEIRO – ( Strychnos spinosa ) Arbusto de porte arbóreo, da família Lagoniaceae, muito ramificado. As pernadas e ramos são revestidos de uma grossa casca, com aspecto semelhante à cortiça. Produz um fruto muito apreciado, o maboque.
      MAFUMEIRA – ( Ceiba pentandra) (Eriodendron anfractuosum) Árvore frondosa da família das Bombacáceas que pode atingir 35 a 40 m de altura. O tronco é cilíndrico, sólido e grosso e atinge 3 m de diâmetro. A copa, arredondada ou plana, pode apresentar uma cobertura até 50 m. As folhas, caducas, são alternas e aglomeram-se nas extremidades dos ramos. As flores, dispostas em fascículos nas axilas de folhas que tenham caído, são grandes, com cinco pétalas brancas, rosadas ou douradas, muito perfumadas. O fruto é uma cápsula cheia de uma espécie de lã vegetal, designada capoca ou sumaúma, que envolve as sementes. A capoca é utilizada em colchoaria e das sementes extrai-se o óleo de capoca, usado no fabrico de sabões. A madeira é muito leve e suave e é, por isso, utilizada no fabrico de dongos isto é canoas compridas e relativamente largas.
      MACA – ( MAKA ) Conversa, dito, fala. Na tradição oral angolana as maka são “histórias narrativas de acontecimentos reais e verdadeiros ou tidos como tais… Evoca factos e acontecimentos do passado, uns verdadeiros, outros de origem lendária e fruto da imaginação, mas que se foram impondo como se de factos reais se tratasse.” Conversa decisória, conversação, assembleia pública ou familiar. Altercação, confusão, discussão, problema, sarilho.
      MAQUEIRO – Pessoa zaragateira.
      MALUVO – ( Marufo, Maruvo ) Bebida resultante da seiva fermentada das palmeiras, principalmente de palmito, bordão e matebeira. É uma bebida muito apreciada no Norte de Angola onde tem funções sociais precisas, como seja a cerimónia do alambamento, o final de uma maca ou o agradecimento ao voluntariado comunitário nas zonas rurais. Segundo uma lenda, o primeiro homem a extrair o marufo e a preparar o azeite de dendém foi Lenchá, escravo do Rei do Congo. A partir dessas descobertas nunca faltaram estas delícias na mesa do rei. Mas Lenchá levou as suas experiências ao ponto de deixar fermentar a seiva da palmeira, durante três dias. O rei achou o néctar delicioso e bebeu em doses elevadas. Apanhou a primeira bebedeira da sua vida . Com o rei viviam nove sobrinhos. Makongo, o mais velho, vendo o rei em tal estado julgou-o às portas da morte. Fez crer às mulheres do rei que tal situação resultava do veneno que lhe fora ministrado por Lenchá. Chamou os oito irmãos, levaram o escravo para longe de Banza Congo e queimaram-no vivo. O rei, ao acordar da bebedeira, estranhou a presença dos sobrinhos junto ao seu leito. Perguntou por Lenchá, o seu escravo querido. Posto ao corrente da situação proferiu sentença imediata contra a acção estúpida dos sobrinhos: seriam queimados, como o haviam feito ao seu servo. Antes, porém, que a sentença fosse executada, os nove sobrinhos fugiram da cidade e, atravessando o rio Zaire, formaram os nove reinos que passariam a constituir Cabinda.
      MANDA CHUVA – Patrão.
      MANDIOCA – ( Manihot utilíssima) Planta herbácea tuberosa, da família das Euforbiáceas, de grandes folhas divididas, flores pouco vistosas dispostas em cacho, muito utilizada na alimentação. É a base alimentar de muitos povos de Angola. Os tubérculos são utilizados de formas variadas. Expostos ao calor e moídos produzem a farinha de pau e a fuba de bombó com que se confecciona o funje. Também se consome em cru. Com as folhas prepara-se a quizaca. Tiras de mandioca secas ao sol, as macocas
      MANDIOQUEIRA – Termo popular que também designa a mandioca.
      MANGA – Fruto da mangueira. É uma drupa de forma ovóide oblonga com 15-25 cm de comprimento, de cor verde-amarelada, amarela ou avermelhada quando madura. A polpa é amarela, sumarenta e fibrosa.
      MANGA DE CAPOTE – Macarrão.
      MANGONHA – Farsa, mentira. Indolência, moleza, preguiça.
      MANGONHAR – Dar-se à mangonha, mandriar, molengar, preguiçar.
      MANGONHEIRO – Indolente, calaceiro, mandrião, molengão, preguiçoso.
      MANGUEIRA – ( Mangifera indica) Árvore da família das Anacardiáceas de copa densa e arredondada, tronco grosso, que chega a atingir 20 m de altura, com ramos numerosos que lhe dão um porte majestoso. As folhas de cor verde-escuro são perenes, coriáceas, simples, de forma lanceolada ou oblonga, com 15-30 cm de comprimento. As flores, que nascem em panículas piramidais terminais, são pequenas e de cor verde-amarelada. O fruto, a manga, é muito apreciado.
      MANGUITO – Gesto obsceno.
      MARIMBA – Instrumento musical do grupo dos idiofones, semelhante ao xilofone e constituído por uma cadeia de cabaças, servindo de caixa de ressonância, encimada por uma série de faixas de madeira ou metal (teclas) que são percutidas com uma baqueta apropriada. Pode apresentar corpo direito (recto) ou curvo, com quinze a dezanove teclas, havendo notícia de marimbas com mais de vinte teclas. Em cerimónias religiosas é comum uma marimba ter tamanho reduzido, apenas duas a quatro teclas.
      MASSAROCAS – Espigas de milho.
      MATA-BICHO – Pequeno-almoço (de faca e garfo).
      MATABICHAR – Tomar o pequeno-almoço.
      MATACO – Bunda, nádegas, traseiro.
      MATARRUANO – Patego.
      MATETE – Papa de farinha de milho.
      MATRINDINDE – Insecto ortóptero saltador, semelhante ao gafanhoto, com 7-10 cm, de cor arroxeada que, com a vibração das asas, produz um som semelhante ao da cigarra. O seu aparecimento indicia o início da época do cacimbo. Chega, por vezes, a constituir uma praga.
      MATUMBO – Estúpido, tacanho, ignorante, inculto, provinciano.
      MERENGUE – Ritmo de dança muito animado.
      MESSENE – Mestre, mestre de ofício, professor.
      MILONGO – Medicamento, remédio; qualquer fármaco.
      MISSANGA – Pequenas contas de vidro ou outro material com que se confeccionam colares, pulseiras e outros adereços, também utilizadas nas tranças dos penteados tradicionais. Há designações variadas para as missangas usadas em cerimónias tradicionais. Variedades de missangas adoptadas em colares ou relicários consagrados aos espíritos.
      MOKOTÓ – Pé de boi preparado para confeccionar comida.
      MORINGA – Bilha de água de gargalo estreito.
      MORRO – Monte, outeiro.
      MUAMBA ou Moamba – Líquido ou molho oleoso obtido por cozedura de massa de dendém pisado. Prato típico de guisado de galinha ou outras aves, carne de vaca ou peixe, com o referido molho, tendo como temperos e ingredientes azeite, alho, cebola, quiabo e jindungo. Dizendo-se simplesmente Muamba, está a referir-se a de galinha. Sendo de outra carne ou de peixe é necessário especificar, Muamba de… Tradicionalmente é acompanhado de funje ou pirão, mas também o pode ser com arroz. Também designa contrabando, negócio ilegal.
      MUCANDA – Carta, bilhete, papel; qualquer escrito. Recado.
      MÚCUA – Fruto do imbondeiro, constituído por uma massa ácida comestível e um emaranhado de fibras que envolvem as sementes.
      MUCUBAL – Povo Ovakuvale do grupo etnolinguístico Herero , que vive essencialmente da pastorícia.
      MUKENKO – Murro.
      MULEMBA – (Ficus thonningii sin. F. welwitschii) Figueira africana. Árvore sarmentosa da família das Moráceas, de seiva leitosa. Apresenta um porte elevado, chegando a 15-20m de altura, e a copa é volumosa e muito ramificada, sendo muito apreciada pela sombra que produz. Dá-se em terrenos secos e arenosos. Apresenta raízes aéreas, conhecidas popularmente por barbas. Os frutos, figos, que nascem nas axilas das folhas, com 8-12 mm de diâmetro, atraem uma grande variedade de pássaros. É a árvore real angolana, já que à sua sombra se reuniam os chefes e reis. Mulemba-xietu a mulemba da nossa terra.
      MULEQUE – Rapaz, criado, moço de recados. Malandro, preguiçoso, vadio.
      MUSSEQUE – Começou por designar os terrenos agrícolas pobres e arenosos, situados fora da orla marítima e em redor das cidades. A designação tornou-se extensível ao bairro de lata, bairro pobre, na cintura urbana das grandes cidades, principalmente em Luanda.
      MUXIMA – Vila e município da província do Bengo, na margem esquerda do rio Cuanza. É célebre a Igreja de Nossa Senhora da Muxima, ou da Conceição, de culto à Virgem Maria.
      MUXITO – Mata ou bosque denso.
      MUZONGUÊ – Guisado com peixe seco e fresco, com bastante jindungo e farinha de pau.
    • P
      PEITO-CELESTE – Este nome advém do colorido das penas do peito, azul celeste vivo no macho, sendo que as fêmeas além de um colorido menos vivo apresentam o ventre bege. O canto do macho é agradável e vigoroso. Vive em pequenos bandos, preferindo os terrenos cultivados, o campo aberto e a savana, mas também frequenta os limites urbanos desde que haja charcos de água por perto. Embora no campo seja mais fácil ocupar os ninhos abandonados pelos tecelões e outros pássaros, também constrói o seu próprio ninho com pedacinhos de mato seco e capim, chegando a fazê-lo na cobertura de colmo das cubatas. A sua postura é de 3 a 4 ovos. Alimenta-se de insectos, grãos, sementes e verdura fresca.
      PENEIRENTA – Pessoa vaidosa.
      PICADA – Estrada de terra batida de 3.a categoria.
      PILDRA – Prisão, chossa, xilindró.
      PILIM – Dinheiro, taco, carcanhol, bago, kumbú.
      PIPI – Pessoa vaidosa, calcinhas.
      PIRÃO – Iguaria gastronómica. Coze-se, conjuntamente, peixe fresco e seco com batata-doce ou mandioca. A água da cozedura, ainda quente, é temperada com óleo de palma ou azeite de oliveira, cebola e tomate, formando um caldo leve, o muzonguê. Acompanha-se com farinha de mandioca embebida no caldo. Embora o termo se tenha generalizado para o prato em si, é à farinha assim preparada que a designação é devida. Por acomodamento, em Angola deve chamar-se funje a massa confeccionada com fuba de mandioca e pirão a confeccionada com fuba de milho e similares. O pirão é característico das regiões do centro e Sul de Angola.
      PIRAR A ROSCA – Entrar em parafuso, ficar meio choné.
      PITANGA – Fruto comestível da pitangueira, de forma globosa, polarmente achatado, sulcado longitudinalmente e de aspecto brilhante. A polpa, alaranjada ou vermelha quando madura, tem um sabor adocicado, levemente ácido ou agridoce.
      PITANGUEIRA – Planta arbustiva da família das Mirtáceas, originária da América do Sul, muito provavelmente do Brasil. Pode atingir o porte de árvore, com 6 a 10 m de altura, com copa piramidal, tronco de 30 a 50 cm de diâmetro e cujo fruto, a pitanga, é muito apreciado. As folhas variam do vermelho ao verde-brilhante, da juventude à idade madura. As flores, genericamente, são brancas e aromáticas com floração abundante.
      PÓPILAS! – Chissa! Possa! Arre! Porra!
      PUNGO – Peixe perciforme marinho.
    • Q
      QUIABEIRO – (Hibiscus esculentus) Erva anual da família das Malváceas, de porte erecto que atinge cerca de 1m de altura, cultivada pelas folhas, frutos, sementes e fibras. O fruto, o quiabo, é muito utilizado em culinária.
      QUIABO – Fruto do quiabeiro , também designado quingombo , em forma de cápsula cónica, de consistência viscosa quando maduro, muito utilizado em culinária, nomeadamente na muamba.
      QUIMBANDA – (Kimbanda, Kimbandeiro, Quimbandeiro) Curandeiro; aquele que pratica a medicina tradicional. O quimbanda na tradição cultural bantu, como supremo ocultista, tem uma amálgama de poderes: é, simultaneamente, adivinho, curandeiro e feiticeiro.
      QUIMBO – (Embala, Libata, Sanzala) Aldeia rural tradicional, aldeia indígena, povoado, sanzala.
      QUINDA – Cesto sem asas, que servia para transportar cereais.
      QUISSÂNGUA – Bebida fermentada feita com milho ou com fuba.
      QUISSANJE ou Quissange – Instrumento musical do grupo dos lamelofones, constituído por uma tábua ou placa de madeira, onde estão fixadas várias palhetas ou lâminas de bordão, bambu ou metal, presas a um cavalete. Apresenta de sete a dezasseis palhetas, ou mesmo vinte e duas (muito raro). Pode ser-lhe adaptada uma cabaça truncada que serve de caixa de ressonância ou amplificador. O instrumento mantém-se preso entre as duas mãos e os dedos polegares fazem vibrar as palhetas.
      QUITANDA – Banca, tenda ou loja de comércio; negócio, venda; tratava-se, originalmente, de produtos hortícolas frescos, tendo-se esta acepção tornado extensível a qualquer tipo de comércio praticado nas mesmas condições. Tabuleiro, maleta ou quinda onde o vendedor ambulante transporta os produtos.
      QUITANDEIRO – Aquele que faz negócio em quitanda, dono de quitanda, pequeno comerciante, vendedor ambulante.
    • R
      REBITA – ( Massemba ) Farra de sanzala. Embora considerada tipicamente angolana, proveniente da área do quimbundo, resultou da aculturação, provavelmente de grupos étnicos portugueses. Posteriormente à sua formação, este bailado, em nova incorporação lusitana, foi, por esses elementos, designada por rebita. E o termo, antes restrito ao seu meio, generalizou-se à massa popular. Este género de diversão foi muito usado pelas gentes de Benguela, Catumbela e Bié.
      REVIENGA – Finta de corpo, movimento rápido em zig-zag, volteio rápido.
    • S
      SACANA – Malandro, sacariôto, sacripanta.
      SANGA – Cântaro ou pote de barro para transportar ou conservar água. Pote onde cai a água, filtrada por pedra porosa própria para purificá-la, ou o próprio conjunto pedra/pote.
      SANZALA ou SENZALA – Aldeia rural tradicional.
      SAPE-SAPE – ( Annona spp) Árvore da família das Anonáceas, também conhecida por anoneira. A árvore pode atingir 15 m de altura. As folhas, alternas, são perenes e de cor verde-escura. O fruto, cordiforme e coberto de saliências espinhosas, é segmentado, com um diâmetro de 10-12 cm, coloração exterior variando do amarelo-esverdeado ao vermelho quando o fruto está amadurecido e polpa branca de sabor adocicado. As folhas são utilizadas na medicina tradicional.
      SECULO – Ancião, velho; conselheiro do soba; homem respeitável. Corresponde a Cota, entre os quimbundos.
      SEMBA ou REBITA – Dança tradicional angolana caracterizada pelas umbigadas (sembas) dos dançarinos. Na sua forma mais genuína a dança é acompanhada por coros de sátira social a acontecimentos do quotidiano ou políticos.
      SÉTIMO ANO DE PRAIA – 4.a classe.
      SIPAIO – Polícia africano, geralmente adstrito às Administrações de Concelho e aos Postos Administrativos. Pertenceu aos Serviços de Administração Civil e actuava junto da população autóctone. O cargo era desempenhado por naturais.
      SIRIPIPI ou SERIPIPI – ( Colius castanotus) Pássaro frugívero, da família dos Coliídeos, o siripipi-de-benguela, também conhecido por rabo-de-junco-de-rabadilha-vermelha, é uma ave com 35 cm de comprimento e 45-60 g de peso nativa de Angola, característica por apresentar, em ambos os sexos, uma crista e cauda duas vezes superior ao tamanho do corpo. A plumagem é cor-de-canela, a face é negra, o peito e garganta cinzentos, o ventre alourado pálido e a rabadilha vermelha. O ninho, em forma de taça, é construído pelo casal, oculto entre a vegetação e por vezes junto ao solo, com materiais vegetais e penas. A fêmea põe 2-5 ovos que são incubados por ambos, durante 2-3 semanas. A incubação começa no momento da postura do primeiro ovo, o que provoca que o ninho tenha crias em vários estádios de desenvolvimento. Os juvenis estão aptos a voar ao fim de 17 dias. Vive em matas e na orla das florestas. Voa pausadamente, dado o comprimento da cauda, em bandos de 5-8 indivíduos em fila indiana. Alimenta-se de rebentos, folhas e frutos de vegetação variada.
      SOBA – Autoridade tradicional, chefe do quimbo ou sobado; chefe tribal, régulo. O soba, em certas regiões, é escolhido pelo conselho de sobas; noutras a sucessão é matrilinear, sucedendo-lhe um sobrinho, filho de uma irmã.
      SOBADO – Território sob administração de um Soba.
      SUMAÚMA – Enchimento seco mas muito fofo para almofadas e colchões.
      SURRIADA GALINHA ASSADA – Expressão acompanhada de gesto com os dedos, a fazer pouco de outra pessoa
    • T
      TABAIBEIRA – (Opuntia ficus indica) Figueira-da-índia; Piteira.
      TABAIBO – Designação que se dá no Sul de Angola, por influência madeirense, ao fruto da figueira-da-índia ou tabaibeira. De forma ovóide, achatado nos pólos e recoberto de inúmeros espinhos, tem uma polpa muito sumarenta e sabor agridoce.
      TACANHO – Panhonha, patarôco.
      TACULA – (Pterocarpus tinctorius) Árvore de grande porte que chega a atingir 20 m de altura, endémica das matas de Angola. A madeira, de grande dureza e resistência, branca ou vermelha com veios vermelhos, é usada em mobiliário. É uma madeira de enorme beleza.
      TAMARINDEIRO – (Tamarineiro, Tamarinheiro, Tambarineiro) (Tamarindus indica) Árvore de tronco grosso, folhas pinadas e flores amarelo-avermelhadas, que fornece boa madeira e frutos comestíveis, o tamarindo.
      TAMARINDO – Fruto do tamarindeiro, comestível e também utilizado em farmacologia.
      TCHINDELE – Homem branco
      TEMPO DE CAPARANDANDA – Há muito tempo, tempo antigo.
      TIPOIA – Palanquim de tecido p/ transportar pessoas.
      TORTULHOS – Cogumelos grandes.
      TRINCA-ESPINHAS – Pessoa muito magra.
      TUQUEIA – Peixe miúdo (seco) pescado nas anharas de Camacupa e do Moxico.
    • U
      UMBUNDO – Povo do grupo etnolinguístico Ovimbundo e uma das línguas étnicas de Angola. O falante desta língua; aquele ou o que pertence ou se refere a este grupo.
    • V
      VENDER A BANHA DA COBRA – Vender com muita lábia, vender bem aquilo que não presta.
      VIMBAMBAS – Tarecos, as coisas de casa.
      VISSAPA ou Bissapa – Moita, sarça, silvado.
    • W
      WELWITSCHIA – ( Welwitschia mirabilis) Planta descoberta pelo botânico austríaco Frederico Welwitsch no século XIX. “A primeira informação que deste vegetal chegou à Europa transmitiu-a o seu descobridor a Sir William Hooker, reputado homem de ciência, em carta, escrita de Luanda, a 16 de Agosto de 1860… Tem a Welwitschia o tronco obcónico, de cor acastanhado, que se eleva poucas polegadas acima do terreno e é na parte superior achatado, bilobado e deprimido lateralmente, atingindo por vezes catorze pés de circunferência no seu máximo desenvolvimento. Segue-se-lhe, internando-se pelo solo, uma forte raiz, que só muito para a extremidade se ramifica e se divide em radículas. Das origens dos dois lóbulos nascem duas únicas folhas, largas, rijas e persistentes, que se estendem pela superfície da terra, fendendo-se com a idade. E junto à inserção das folhas partem duas hastes ou pedúnculos sustentando pinhas escarlates, em cujas escamas se abrigam flores solitárias. A Welwitschia é curiosíssima, não apenas por invulgar, mas ainda por se apresentar sempre repetida quase exclusivamente de numerosos indivíduos da mesma espécie que dão ao terreno um aspecto especial deveras interessante… A Welwitschia existe, porém, somente no Distrito de Moçâmedes.
    • X
      XANA ou Chana – Planície, savana, charneca africana.
      XINDELE – Branco, indivíduo de raça branca; Amo, senhor, patrão.
      XINGAR – Injuriar, praguejar.
      XITACA ou Chitaca – Pequena propriedade agrícola de subsistência; terreno para plantação; lavra.
    • Z
      Zamberenguenjê – estar com os azeites, estar zangado.Ver mais
  • adagiário popular açoriano

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    Caros,

    Recebi do autor e divulgo.

    onésimo

    _____________________________
    Adoro os Açores e tenho uma costelita açoreana — dado ter cumprido parte do meu serviço militar no BAG 1, em Ponta Delgada, em Agosto e Setembro de 1973 —, pelo que resolvi fazer um pequeno trabalho pessoal (sem qualquer outra pretensão, que não seja a divulgação) sobre o Adagiário Popular Açoriano e o Cancioneiro Geral dos Açores, ambos de ARMANDO CORTES-RODRIGUES.
    Aqui vão os respectivos “links”:
    Peço desculpa pelo atrevimento, agradeço antecipadamente a atenção que possa, eventualmente, prestar a este assunto e espero que goste.
    Por favor, aceite um abraço e os cumprimentos do
    ============================================
    José Augusto Macedo do Couto

    Rua de Moçambique, 405-A, Hab- 3-G
    4100-349 PORTO
    PORTUGALEmail: jamcouto1@me.com

    Bairro da Vilarinha

  • CULTURA E MENTIRAS MIA COUTO

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    Revista África21

    “Cultura e mentiras”, por Mia Couto

    Redação revista África21
    25/10/2012 09:23
    “Grave é fazer uso de uma cultura de falsa identidade do tipo nós africanos somos assim para credenciar a dominação histórica de um determinado grupo ou para justificar o injustificável”.

    Brasília – “Grave é fazer uso de uma cultura de falsa identidade do tipo nós africanos somos assim para credenciar a dominação histórica de um determinado grupo ou para justificar o injustificável”

    Leio hoje que um terço da população swazi vive numa condição de fome e completamente dependente da ajuda alimentar de emergência. Enquanto isso, chegam notícias que o Rei da Swazilândia gasta milhões de dólares na aquisição de um avião particular e na compra de moradias de luxo para as suas dezenas de esposas.

    A justificação usada é que a opulência e ostentação dos chefes africanos é uma questão «cultural». A cultura é, com frequência, usada como lixívia para lavar imoralidades e uma forma de colocar como «estranha e estrangeira» preocupações de mudança. O argumento é este: quem critica o Rei da Swazilândia está culturalmente alienado dos valores «africanos». Invoca-se a tradição «africana» para justificar práticas eticamente inaceitáveis na África dos nossos dias. Na realidade essa «tradição» é invocada de forma truncada, esquecendo-se duas coisas: a primeira é que a tradição também sugere outras obrigações (hoje convenientemente esquecidas) e, a segunda, é que essa tradição é, em grande parte, uma construção feita e refeita ao longo do tempo.

    Persiste uma confusão deliberada entre cultura e tradição. A cultura é um grande saco, tão grande que pode lá caber tudo. É muitas vezes um expediente que pode ser usado para sancionar o intolerável. Eu vejo, por exemplo, que se criou entre nós uma desculpa comum para justificar a falta de pontualidade. Não é só entre nós mas em todo o continente. Dizermos chegar atrasado é uma «questão cultural». Mais grave ainda: imputamos essa falta de pontualidade àquilo que uns designam de «cultura africana».

    Leia versão integral na edição impressa da revista África21 (N.º 68, outubro 2012). Para assinar a revista contacte: jbelisario.movimento@gmail.com

  • o regresso das bruxas LUIZ FAGUNDES DUARTE

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    O regresso das bruxas
    by Luiz Fagundes Duarte on Saturday, 22 September 2012 at 08:09 ·

    Li numa edição recente do DI que as bruxas chegaram a Florianópolis com os açorianos que ali aportaram em meados do século XVIII. Esta frase, a propósito de um livro para crianças lançado recentemente pelo escritor brasileiro Cláudio Fragata, cujo título – Uma História Bruxólica – não engana ninguém, pôs-me em pé os poucos cabelos que me restam.

    Uma sensação que se me afigurou mais aguda depois de ter lido o romance The Undiscovered Island [A Ilha Encoberta], do escritor americano Darrell Kastin, onde tropeçamos em casas assombradas, navios fantasmas, sereias merencóricas e descendentes de Inês de Castro que deambulam por estas nossas ilhas, sobretudo no Pico e no Faial, em busca de homens desaparecidos no mar e de papéis enigmáticos por eles deixados em terra (este romance muito interessante e bem feito, apesar de publicado em 2009, ainda não teve, que eu saiba, uma tradução para Português, sendo de supor que os professores de “literatura açoriana” da Universidade dos Açores já terão metido mão à obra, como seria seu mister).

    Mas que não se enganem os meus queridos leitores: se eu fiquei de cabelos em pé (e mais: com pele de galinha por todo o corpo) não foi com medo das bruxas que os nossos antepassados exportaram para o Brasil, ou dos fantasmas que escritores norte-americanos com ascendência açoriana teimam em vir desmascarar nas nossas Ilhas Afortunadas. Não senhores! Eu fiquei assim, porque me apercebi de que andamos a desperdiçar capital.

    Ou seja, e no que diz respeito às bruxas, e embora o escritor brasileiro não diga que as bruxas açorianas emigraram todinhas para Santa Catarina (acho que sempre nos ficaram algumas por cá, embora, provavelmente, não as de melhor qualidade), a verdade é que se um povo despreza aquilo que de melhor tem e o deixa partir-se portas afora – como terá acontecido com as nossas simpáticas bruxinhas dos tempos pombalinos, ou, mais recentemente, com a nossa agricultura – poderá, no mínimo, ser apelidado de louco: tanta falta que nos faz um bom grupo de bruxas que nos ajudem a resolver os nossos problemas actuais… E sejamos honestos: não creio que o programa eleitoral da dr.ª Berta Cabral, por muitos plim-plins que ela faça com a sua varinha mágica, consiga levar-nos a algum lado sem a ajuda de uma boa bruxa – até porque é muito possível que, entretanto, o governo da República que ela apoia e pelo qual anseia, e que se nos tem revelado o melhor exemplo de Casa Assombrada que possamos imaginar, dê o seu derradeiro suspiro – fornecendo assim matéria fresca para um novo romance do supradito escritor americano.

    Bem vistas as coisas, faltam-nos as bruxas, sobejam-nos os fantasmas…

     

     

    Luiz Fagundes Duarte22 September 08:11

     

     

    (no diXL, de Angra do Heroísmo)

  • URBANO BETTENCOURT (Que paisagem apagarás, 2010)

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    URBANO BETTENCOURT (Que paisagem apagarás, 2010)

    1.                       VOZES NO CÉU DE DUBLIN

    Para Adelaide e Vamberto Freitas

    Vozes no céu de Dublin

    by Urbano Bettencourt on Monday, 27 August 2012 at 18:59 ·

                                                                                   

                                                                                               Para Adelaide e Vamberto Freitas

     

     Havia uma mulher sentada junto ao murete de pedra, nessa meia tarde de um Outono precoce  em que visitámos  as ruínas da Abadia de Howth.

     

    O guia turístico adquirido na recepção do hotel informava que Howth  “has long been a favoured dwelling place for writers”, mas, referida a Dublin, qualquer indicação sobre a presença literária na cidade será sempre redundante. Assim, a manhã esgotara-se  entre a visita ao Dublin Writers’ Museum  e a demorada passagem pela Martello Tower, aliás,  James Joyce Tower, cujos recantos e escadarias pareciam ressumar ainda a inquietação difusa perante a ameaça de uma eventual invasão napoleónica .

     

    A voz de Buck Mulligan, que nos havia transportado até aos alvores do século XIX num andamento pausado e a rondar a monotonia, adquiriu   uma súbita vivacidade  ao descrever o  memorial joyceano. E ganhou  uma inesperada gama de modulações e registos  quando se pôs a evocar os acontecimentos dessa luminosa manhã de Junho de mil novecentos e quatro em que Leopold Bloom saiu   de casa para comprar rins de carneiro e, ao entrar no talho, pediu tomates, num particular momento de perturbação espacial e linguística cujo eco o escritor  Arménio Vieira faria  chegar às ilhas de Cabo Verde.

    Em Howth não houve qualquer Buck Mulligan a falar-nos do remoto prestígio da Abadia e do fascínio que exerceu sobre os intelectuais da Europa medieval. Vagueámos  pelo seu interior, tentando apenas surpreender ainda um possível  rumor de passos e as vozes dos homens que ali, um dia, construíram o seu mundo por entre o recolhimento e a contemplação da  Ireland’s Eye, separada de terra por um curto braço de mar e, mesmo assim, ilha longínqua, entregue ao seu destino de solidão e abandono. E tudo isso se harmonizava, enfim, com a melodia que a mulher sentada junto ao murete se pusera, entretanto, a entoar.

     

    Nessa noite, Briege Murphy cantava no Howth’s Abbey Center. Mas só quando começou a  interpretar “The sea” me apercebi de que ela era, afinal,  a mesma mulher que nós  surpreendêramos junto às ruínas da Abadia. A  sua voz desenhava um fio melódico que se erguia no ar em movimentos oscilantes, acentuados pelo  dedilhado sóbrio do violão,  e nessa ondulação devo ter pressentido os ritmos marítimos de Saint-John Perse, o fluxo e refluxo das suas marés verbais,  dos seus versos desmaiando sobre o  corpo de uma  ilha da memória. Talvez tenha mesmo tentado perseguir no rasto dessa voz  o remoto apelo do mar que secretamente ecoa na poesia de Emanuel Félix. O mesmo mar que   traçou para sempre o destino de Enrico Mreule, levando-o a trocar o fechado  Mediterrâneo pelo Atlântico infindo,  sem saber que este era, afinal,   esse outro mar de Claudio Magris e onde tudo acontece.

     

    Lentamente, porém, a canção ganhava corpo nas palavras de uma dorida história de amor  em que uma mulher a pouco e pouco se perdia  de si mesma nas repetidas  ausências do seu homem no imenso Atlântico  selvagem: he takes a piece of me with him, each time he leaves the shore. Depois, uma fina amargura invadia os versos e a melodia até desembocar num   desabafo derradeiro em que tudo era já sem remédio nem consolação: he won’t stay home for me, cause my love he has a mistress, she’s the sea. De  súbito, naquela história de enamoramento e ciúme chegavam-me os ecos da belíssima abertura do romance  Saudade, de Katherine Vaz,  e nela vibrava  a voz de Conceição Cruz, como se José Francisco tivesse decidido perder-se em definitivo da terra. E  dei comigo a pensar como será bom saber que,  de cada vez que sucumbirmos ao íntimo chamamento do mar,  uma voz de mulher há-de erguer-se para chorar-nos o destino e a perdição.

     

    Assim, longe dos Açores e da Califórnia, ouvindo Briege Murphy no Howth’s Abbey Center, eu era ao mesmo tempo leitor  e personagem do romance de Katherine Vaz.

     

    (Que paisagem apagarás, 2010)

     

  • PEDRO DA SILVEIRA, GUERRA DA CAL E ROSALIA 1959

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    PEDRO DA SILVEIRA, autor açoriano
    , CASTELO DE VILA NOVA DE CERVEIRA, SETEMBRO 1959

    INSCRITO SOBRE A ÁGUA D’UM RIO

    (a Ernesto Guerra da Cal e também em memória de Rosalía de Castro e de João Verde)

    Há um cais no outro lado;
    Atrás do cais, árvores;
    Além das árvores, uma casa.
    Montes ao longe:
    Mais perto, verdes,
    Azulados os outros.

    Com uma espingarda em cada olho
    E nas mãos uma espingarda,
    Um fantasma assombra o cais.

    A água olha-o, calada.
    Calada, foge.
    Desgostosa.
    Mas feliz.

    Pedro Laureano Mendonça da Silveira (Fajã Grande, 5 de Setembro de 1922 — Lisboa, 2003), mais conhecido por Pedro da Silveira

  • urbano bettencourt áfrica frente e verso

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    O TERROR

    POR CAM

    A natureza do terror abre uma espécie de fenda no pensamento: “escrever um poema após Auschwitz é um acto bárbaro, e isso corrói até mesmo o conhecimento daquilo que tornou impossível escrever poemas.” (Theodor Adorno). Celan, com o seu poema “Todesfuge” [“Fuga da morte”], versos nos quais evoca o horror da Shoah [Holocausto], levou muitos a questionarem o veredicto adorniano.

    Entre nós, a guerra colonial calou muitas vozes – não apenas as dos homens que física e mentalmente tombaram na guerra real, mas também as dos outros, as dos sobreviventes, quer a tenham directamente sofrido, quer não. É claro que há a excepção de Manuel Alegre, na poesia, e de Lobo Antunes, na ficção, ou os esforços antológicos de João de Melo, mas não muito mais (parece existir agora, muito recentemente, um movimento em sentido contrário). Falamos disto como se fosse uma necessidade – será mesmo? O problema é que não sabemos se a ausência se deve a uma espécie de recusa ética e, digamos, ontológica, ou se a outras razões menos compreensíveis (aceitáveis?). Ninguém saberá – mas a questão – porque se corta das nossas experiências estéticas o terror – existe, como as bruxas (que las hay, las hay).

    O novo livro de Urbano Bettencourt (Piedade, Pico, Açores, 1949-), “África Frente e Verso” (Ponta Delgada, Letras Lavadas, 2012) mergulha na guerra (já o tinha feito antes, e alguns dos poemas e textos deste livro apareceram justamente em livros anteriores). A sua experiência da guerra colonial (Guiné) acompanha-o (homem e poeta) até hoje – o último poema deste livro, “Agostos”, vem datado de 2011. Nos melhores momentos deste livro, como em “Da ilha carn(av)al”, de 1973, esbatem-se as fronteiras entre géneros e ficam as palavras na eterna luta do dizer o inominável (não apenas a guerra, ou o terror…). E delas ressalta, quem sabe se pela intensidade do vivido, outra intensidade, outra beleza (porque não?), porque a palavra é justa (ali), porque faz embater em nós ritmos, conjugações inesperadas, mas sempre com a força do retorno ao espaço e ao tempo do terror, espécie de ética de que Urbano parece não querer abdicar (e que, aqui e ali, parece tolher-lhe o impulso do dizer – questão controversa e longa de debater).

    O plural de Agosto, trazido à liça lá em cima, é um modo do Urbano religar tempos, o do tempo em que uma “metralha e fogo e luz / e um homem deixou no adobe da parede / o seu retrato de cinza.”, o tempo em que “sobre uma esteira podia morrer-se de loucura / num corpo a corpo de vencidos, / desafiando a sombra da outra morte. A que vem / por detrás e por diante, da direita e da esquerda, / e deixa os seus dentes de chumbo na carne destroçada.” – e o tempo, o nosso de agora, o dos “pares que se devoram / nos jardins de cimento” “Não há chuvas neste Agosto. A calma / vibra nos telhados, as guerras trazem outros nomes, / outros donos. E talvez seja assim que tudo tem de ser. / E talvez seja este o melhor dos mundos.”

    É mesmo preciso religar coisas. Ou não.

  • VULTOS TIMORENSES

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    uma história esquecida da segunda guerra...
    J M Domingues Silva21 August 20:30

    uma história esquecida da segunda guerra mundial

    “No dia 19 de Setembro de 1945, data a todos os títulos memorável na nossa história, a bandeira da Pátria desfraldava-se orgulhosamente em todas as localidades importantes e em muitas povoações timorenses enfim libertadas da opressão estrangeira.” – José dos Santos Carvalho, “Vida e Morte em Timor Durante a Segunda Guerra Mundial”, 1970.

    Aileu

    Em Aileu (Timor Leste) ergue-se um monumento evocativo dos militares portugueses, e respectivas famílias, que se suicidaram aquando da invasão de Timor Leste pelas tropas imperiais japonesas no decorrer da Segunda Guerra Mundial, vítimas da propaganda dos Aliados os militares portugueses estavam convictos de que eles próprios e as suas famílias seriam barbaricamente torturados e violados.

    D. Aleixo Corte-Real (régulo timorense), lá onde se mistura a lenda com a História, recusou em reconhecer a soberania japonesa sobre o território, afirmando: “Sou Português, e só os Portugueses me podem prender!”. O resultado: as forças invasoras executaram-no não só a ele, como toda a sua família. A colonização de Timor contava com a presença de Portugal e da Holanda, resta-me realçar que foram os timorenses do lado português que organizaram a resistência aos japoneses, aliados da Itália fascista e da Alemanha nazi, com o propósito de restabelecer a soberania portuguesa no território (a foto que ilustra este artigo é uma vista parcial da cerimónia aquando desse restabelecimento, cujo 65º aniversário passará certamente em branco). A Administração Portuguesa do território foi internada em campos de concentração japoneses. Salazar, tentando manter a necessária neutralidade (violada pelos japoneses) de Portugal não prestou qualquer auxílio aos portugueses presentes no território, nem aos que estavam detidos pelos japoneses, nem aos que participaram nas bolsas de resistência à ocupação, em nome de Portugal.

    Portugueses contra o Eixo

    Embora não sendo das fontes mais fiáveis (encontra-se completamente esgotada a obra “Timor – Ocupação Japonesa durante a Segunda Guerra Mundial” de Carlos Vieira da Rocha, publicado em 1996 pela Sociedade Histórica da Independência de Portugal) creio ser digno de nota a seguinte entrada da Wikipédia portuguesa referente à Segunda Guerra Mundial:

    “Em Timor ocorrem os únicos combates em que participam forças portuguesas durante a guerra. Apesar de nunca se estabelecer formalmente o estado de guerra entre Portugal e o Japão, militares e voluntários civis portugueses combatem ao lado das tropas australianas e holandesas contra os invasores japoneses. Na Austrália, é inclusive formada a primeira unidade militar pára-quedista portuguesa, que é lançada na retaguarda das linhas japonesas, para realizar operações de guerrilha contra os invasores.”

    Com base no citado “Vida e Morte”, “Todos os portugueses que então aí viviam, fossem eles timorenses, metropolitanos, goeses, madeirenses, africanos ou macaenses, estiveram sujeitos a prolongado e pertinaz suplício que estóica e patrioticamente suportaram”.

    A mesma obra numera as baixas do lado português: “muitas centenas de timorenses assassinados, mortos em combate ou falecidos na prisão e, entre os não-nativos de Timor, pelo menos, trinta e sete assassinados, dez mortos em combate, seis mortos por suicídio, vinte falecidos ao abandono no interior da ilha onde andavam foragidos e oito que miseravelmente acabaram os seus dias no cárcere japonês”.

    Encontra-se ainda disponível a obra “Timor na 2.ª Guerra Mundial — O Diário do Tenente Pires” de António Monteiro Cardoso (Centro de Estudos de História Contemporânea, ISCTE, 2007) que inclui, como o título indica, o diário de um dos oficiais portugueses que participou activamente na guerrilha contra a invasão nipónica.

    Ausência de memória

    Antes de lerem esta minha curta chamada de atenção, quantos dos leitores estavam a par deste episódio referente à Segunda Guerra Mundial? Muito poucos certamente, as nossas escolas estão mais preocupadas em ensinar banalidades em vez da História nacional, é portanto normal que tal se reflicta não só nos nossos governantes, mas também entre aqueles que se declaram como alternativa a estes… é triste, mas é o Portugal que ainda vamos tendo.

    Post-Scriptum – No dia 16 irá decorrer, nas instalações da Biblioteca Nacional, uma Homenagem a António Telmo. Às 18h será apresentada a obra “O Portugal de António Telmo” (Guimarães, 2010) com a presença de Pedro Sinde, Renato Epifânio, Rodrigo Sobral Cunha, Miguel Real e o filósofo Pinharanda Gomes. 2010 tem-nos sido pesado em baixas, há que aproveitar as cada vez mais raras oportunidades para homenagear e recordar os nossos maiores pensadores, pelo andar da carruagem chegará o dia em que também estes poderão desaparecer nas areias do tempo, há que os recordar.

    O Diabo, Semanário Independente
    14 de Setembro, 2010.


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    Não esquecer João Bosco,como um vulto da...
    Maria João Moniz Barreto22 August 12:49
    Não esquecer João Bosco,como um vulto da cultura timorense.
    Em casa do pintor timorense João Bosco

    Um encontro feliz na viagem de regresso de Jaco para Dili.
  • AGUALUSA NAÇÃO CRIOULA

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    É O PRÓPRIO AUTOR QUE SUGERE ESTA LEITURA

              Livro: Nação Crioula – José Eduardo Agualusa

    Agualusa foi um escritor que sempre me chamou a atenção. Sabe quando você vai na livraria e acaba reparando sempre no mesmo livro (ou autor)? Pois bem, comigo foi assim. Não escondo que a edição l-i-n-d-a da Lingua Geral (tem Capas de Quinta com ela aqui) tenha uma participação nessa atração. Mas não deve ser só isso. Outros livros que nunca li e que me provocam isso: Dublinenses do Joyce, Grandes Esperanças do Dickens, Norwegian Wood do Murakami e outros.

    Bem, voltamos ao Agualusa. Não sabia por onde começar, ia passar uma semana na casa dos meus pais e resolvi levar alguma coisa dele. Dei uma olhada na Travessa do Ouvidor e fiquei em dúvida entre Nação Crioula e Estação das Chuvas, o primeiro ganhou, já que a personagem principal do segundo era uma historiadora (de Histórias com H eu já tenho as minhas). Acontece que eu também estava procurando a biografia da Sylvia Plath, e como o livro era relativamente novo ninguém na livraria sabia muito bem onde ele estava. Foi uma comoção geral, e quando o livro apareceu acabei levando só ele e esqueci o Agualusa. Logo que voltei pro Rio esse erro foi sanado na livraria do cinema. Não me arrependo.

    O livro é escrito de forma epistolar (cartas), e a leitura é muito fluida. Suas 200 páginas passam pela gente deixando uma vontade de mais. Quem escreve as cartas é Fradique Mendes – sim, aquele – entre 1868 e 1888. Esse português chega em Luanda e começa a escrever sobre o que encontra, o que entende e o que o deslumbra. Por diversas situações sua vida se move entre Portugal, Angola e Brasil. O fim do tráfico negreiro, a possibilidade de abolição e  as relações transatlânticas estão presentes em todo o livro. Ele é triste como o período pede, mas também tem a beleza triste que algumas personagens exigem.

    O romance de Fradique e Ana Olímpia não é perfeito nem explicado, e por isso me pareceu tão real. Ana Olímpia é uma personagem linda. Mas descobri-la durante o livro é um prazer que não pretendo tirar de quem ler esse texto.

    Fui ainda surpreendida por um viés auto reflexivo do livro. Já disse algumas vezes que tenho problemas com livros pretensamente metalinguísticos, acho que nem sempre eles cumprem o que prometem. Com Nação Crioula foi diferente, ele não se mostrou logo de cara “meta”, mas foi recebido assim no meu coração.

    Encontrei algumas passagens especialmente bonitas, mas acabei não marcando por serem longas. Duas vezes li um par de páginas que gostei, mas não marquei. Acho que foi o capricho da edição que me reprimiu.

    De toda forma, quero ler mais desse autor. Não sei qual será o próximo, mas ele aparecerá.