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  • a Galiza é uma naçom!

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    A Galiza é uma naçom

    A Galiza é uma naçom no noroeste da Península Ibérica.Aqui houve povoamentos
    desde as épocas pré-históricas (3 000 a.C.). Segundo o grego Estrabão (c. 63 a.C. – 24
    d.C.) os habitantes deste extremo da península chamavam-se Kallakoi (Calaico). Os
    Romanos integraram esta parcela no seu Império já em finais do século I a.C.,
    passando a designar-se Gallaecia durante o reinado do Imperador Diocleciano no
    século III. Os Kallakoi não devem ser confundidos com os Galos da antiga Gália
    1. Os pré-celtas e os celtas da Galiza
    O estudo e o ensino deste tema são algo muito complexo, devido sobretudo à opinião
    persistente, tão divulgada como errónea, de que esta região fora a mais celtizada da
    península Ibérica. Os arqueólogos, historiadores e investigadores de todas as épocas
    (os eruditos sérios, face aos achados arqueológicos e com a ajuda dos escritos de
    gregos e romanos contam como pode ter sido e em que consistiu a chegada de certos
    grupos célticos a esta região. Estes estudiosos da história foram directamente às
    poucas fontes que podem manejar, sem se conformarem com traduções anteriores,
    muitas vezes mal interpretadas e que puderam ver as numerosas pegadas deixadas
    pelos celtas, ao longo e ao largo da Galiza, como os castros.
    Parece que alguns grupos (do povo celta que chegara até ao sul península Ibérica), não
    se deram bem nestas terras e iniciaram outra viagem migratória, em fases distintas
    etapas já tardias, para o norte, através de terras lusitanas. Nesta situação de
    emigrantes celtas desde o sul, pelo oeste, rumo ao norte, não chegam a estabelecer-se
    na região galaica até ao século I a.C. É o grupo conhecido como sefes, que se move por
    volta do século III a.C. quando alguns se situam entre o rio Tejo e o rio Douro e outros,
    seguem para a Galicia.
    Ao mesmo tempo que isto ocorria, produzia-se nas costas galaicas o desembarque de
    gentes nórdicas procedentes da Bretanha. A arqueologia acredita nisto através dos
    achados de Punta Neixón na ria de Arousa na Província de Pontevedra.
    Os celtas sefes encontraram estas terras bastante povoadas. Estrabão assegura que
    havia umas 50 tribos de povos diferentes, enquanto Plínio diz que eram mais de 65. O
    professor (historiador, arqueólogo e escritor) Florentino López Cuevillas na sua obra A
    civilización céltica na Galiza, depois de expor um estudo exaustivo sobre o aspeto
    político e geográfico, assegura que todas estas tribos, na maior parte, não eram celtas.
    A lista de tribos pré-célticas é bastante extensa:
    – Estrimios (relacionados com os Lígures (e comuns a países bretões, ingleses e
    irlandeses), que permaneceram até à chegada dos romanos),
    – Albianos, seurros, tiburos, bibalos, caporos, zoelas, nobiagoi, abii, tirii, veasmini,
    salassi, rilenii, helenii, grovii, etc., todos estabelecidos desde a Idade de Bronze, antes
    de 600 a.C.
    Esta é a base da população pré-céltica, que é a mesma que a normanda, inglesa e
    irlandesa. Destes povoadores procedem as semelhanças étnicas entre estes povos e
    não chegada dos celtas. As analogias entre galegos e irlandeses atuais não provêm
    dum parentesco céltico, mas duma comunidade étnica anterior que remonta a 2.000
    anos atrás.
    As tribos celtas dos sefes recém-chegadas sobrepuseram-se a estas mais antigas e
    adaptaram-se bastante bem, crê-se que pelo seu caráter afim indo-europeu. Foram os
    celtas os que se acomodaram e a sua influência foi, na maioria dos casos, tardia e
    esporádica, segundo se pode saber pela confirmação do estudo da arquitetura e a
    metalurgia. A dita povoação autóctone mais antiga conservou a sua destacada
    personalidade linguística e cultural e também soube intercambiar aspetos culturais
    com a civilização céltica. Houve um verdadeiro intercâmbio de costumes e de
    conhecimentos.
    2. Romanos, suevos e visigodos
    Os romanos entraram no ano 137 a.C. encontrando séria resistência, mas acabariam
    por conquistar a região que denominariam Gallaecia.
    Os suevos, 30.000 pessoas que só tinham 8.000 homens com capacidade para lutar,
    concentram-se entre o Douro e o Minho, na zona de influência de Braga. Chegaram no
    ano de 409, nomeando rei a Hermérico (409-438), que celebra um pacto ou foedus
    com Roma no ano de 410 pelo qual os suevos estabelecem o seu reino na província
    romana de Gallaecia e aceitam o imperador de Roma como o seu superior. Depois da
    morte de Hermérico reina Requila (438-448), a quem sucederá Requiário (448-456).
    Este último adotará o catolicismo no ano de 449. No ano de 456 tem lugar a batalha de
    Órbigo, que oporá visigodos e suevos, com a derrota destes últimos e que terá como
    consequência o assassinato de Requiário.
    Depois da derrota frente aos visigodos, o reino suevo dividir-se-á e governarão
    simultaneamente Frantão e Aguiulfo, desde 456 até 457, ano em que Maldrás (457-
    459) reunificará o reino para acabar sendo assassinado depois duma conspiração
    romano-visigoda que finalmente fracassará. Apesar de a conspiração não ter alcançado
    os seus verdadeiros propósitos, o reino suevo viu-se novamente dividido entre dois
    reis: Frumário (459-463) e Remismundo (filho de Maldrás) (459-469) que reunificaria
    novamente o reino do seu pai no ano 463 e que se veria obrigado a adotar o
    arrianismo no ano de 465 devido à influência visigoda.
    Após a morte de Remismundo entra-se numa época escura, que durará até ao ano de
    550, durante a qual desaparecem praticamente todos os textos escritos. O pouco que
    se sabe desta época é que mui provavelmente Teodemundo governou a Suévia.
    A época obscura terminará com o reinado de Karriarico (550-559) que se converterá
    novamente ao catolicismo no 550. Suceder-lhe-á Teodomiro (559-570) (não se
    confunda com Teodomiro, rei dos visigodos) durante o reinado do qual terá lugar o Iº
    Concílio de Braga (561). Miro (570-583) será o seu sucessor. Durante o seu reinado
    celebrou-se o IIº Concilio de Braga (572). Aproximadamente no ano de 577 inicia-se a
    guerra civil visigoda na que intervirá Miro que no ano 583 organizará uma expedição
    de conquista a Sevilla a qual fracassará. Durante o regresso desta expedição o rei
    morre. No reino suevo começam a produzir-se muitas lutas internas. Éborico (também
    chamado Eurico) (583-584) é destronado por Andeca (584-585) que falha a sua
    intenção de evitar a invasão visigoda dirigida por Leovigildo que se tornará efetiva
    finalmente no ano de 585, convertendo assim o rico e fértil reino suevo em mais uma
    região do reino godo.
    3. Reino independente
    Afonso I das Astúrias (739 – 757) foi o primeiro príncipe que começou a expansão do
    Reino Cristão. Desta forma a integração do Reino da Galiza no Reino das Astúrias
    ocorre entre o seu reinado e o de Ramiro I que a estende até Tui (854).
    Em 813, Afonso II o Casto, rei das Astúrias e Galiza, é informado pelo bispo Teodomiro
    de Iria Flávia da aparição duma luz sobre uma antiga capela. O rei chega a Santiago de
    Compostela e manda edificar uma igreja. Começa a lenda do Caminho de Santiago e
    Santiago de Compostela converte-se num centro de peregrinação da Cristandade.
    No ano de 910 Ordonho II converte-se em rei da Galiza (ver também Reino da Galiza)
    No ano de 997 Almansor inicia uma expedição de saques em terras cristãs e chega até
    Santiago de Compostela
    No ano de 1035 Fernando I O Magno herdou o reino de Castela do seu pai Sancho III O
    Maior, rei de Navarra, e no 1037 a sua esposa Sancha herdou os reinos de Leão e
    Galiza do seu irmão Bermudo III. (ver também Reino de Leão). À sua morte em 1065
    repartiu as suas possessões entre os seus 3 filhos: entregou Castela ao seu filho
    Sancho, Leão a Afonso e Galiza a Garcia. Mas em 1072 Afonso VI de Leão matou
    Sancho II de Castela e aprisionou por toda a vida Garcia de Galiza governando assim
    sobre os reinos dos seus irmãos até à sua morte em 1109
    O Reino da Galiza surgiu após a retirada muçulmana da zona que pouco antes ocupara
    o reino dos suevos. Em muitos momentos da sua história viu-se unido ao Reino das
    Astúrias e/ou ao Reino de Castela sendo nalguns casos difícil diferenciá-los.
    Oficialmente manteve-se como reino até 1833 ano em que foi dividido em quatro
    províncias e desaparecendo assim dos mapas.
    3. Outra visão da Galiza e de Portugal por Alexandre Banhos (2009)
    PODEMOS OS GALEGOS RECLAMAR O NOME DE GALEGO PARA A LÍNGUA COMUM?
    Comunicação no IX Colóquio da Lusofonia, Bragança 2009, Alexandre Banhos Campo
    Galiza e o seu projeto ibérico
    Nos feitos históricos há sempre um fator de oportunidade e outro em não pequena
    medida de azar. Mas nos fatos históricos há uma lei de ferro, -o que não se produzir no
    momento em que as circunstâncias são ou eram favoráveis ou propícias, nesse
    momento no que as ondas da história sobem a favor, já não há de se fazer. É dizer, que
    aquilo que não se faz no seu momento, muito difícil será alguma vez voltá-lo a fazer;
    ademais passado o momento mudam sempre as circunstâncias e estas som muito
    difíceis de reconstruir, e já nunca serão as mesmas.
    A Galiza foi de sempre um poderoso elemento da história europeia, o principal ator
    político peninsular, foi o primeiro reino independente constituído dentro do império
    romano no ano 411, foi muito pronto um dos grandes impérios da cristandade, junto
    ao império Bizantino e ao sacro-império Romano-Germânico, foi quem guiou e liderou
    a luta da “reconquista” frente a Espanha.
    Os galegos da velha Galiza Árta bra e Astúrica do norte do Cordal, os que nunca foram
    subjugados pelos muçulmanos, tinham-se pelos primeiros entre todos os peninsulares
    e não se abaixavam ante ninguém; a Galiza o território peninsular mais densamente
    povoado, inçado de linhagens nobres com os seus castelos e com capacidade para
    terem as suas forças de homens de lança (exércitos privados nobres de entre 100 e
    1000 lanças) que se tinham a sim próprios como iguais ao rei, eram o ator mais
    poderoso no jogo peninsular. As numerosas forças galegas eram o fator mais temível
    da península ibérica e já desde muito cedo senhores muçulmanos acabaram pagando
    tributo e aceitando o seu domínio.
    Os reis da Galiza não eram simples reis, muito cedo usufruíram o nome de
    imperadores e para quem é tão grande a própria Galiza originária resultava pequena, e
    assim todos os dias estavam a alargar os seus domínios para o leste e para o sul e com
    eles avançava o domínio da cruz frente ao da meia-lua. E nas cabeças dos reis da Galiza
    desde cedo estava o coroarem-se com a península ibérica toda como projeto
    “nacional” galego.
    A capital histórica da Galiza sempre foi Braga (por algo segue a ser a cidade primaz de
    Portugal), e pelos séculos VII e VIII eram os de Braga os galegos por antonomásia. Ao
    princípio do avanço muçulmano a cabeça da Galiza é trasladada desde Braga, a capital
    da Galiza desde que a Galiza existir como entidade política, para a cidade ártabra de
    Lugo, e os bispos de Lugo passam a ser cabeça da Galiza por delegação da vero caput
    Braga.
    O quadro político no que se insere o nascimento do reino de Afonso Henriques.
    Desde muito cedo o separatismo castelão, é dizer do convento oriental da província
    romana da Gallaecia de Diocleciano, Clunia, é algo que informa a política do reino da
    Galiza.
    Os castelãos não aceitam muito pacificamente a dominação ocidental, a galega; e os
    castelãos com Sancho III rei de Navarra, chamado pelos historiadores castelhanoespanhóis
    Sancho I rei de Castela -o primeiro com esse nome, quem a médio de uma
    simples boda com a herdeira do Condado de Castela separou o território, o qual falanos
    do fraco controlo que o arredismo castelão impusera ao controlo galaico.
    Os castelãos com ele sentiram por primeira vez um seu desenvolvimento longe do
    controlo galaico. A geopolítica que os colocou no espaço central peninsular ajudou de
    seguida, não pouco, ao seu sucesso.
    À sua morte – de Sancho III – o seu filho Fernando herda o reino de Castela, porém o
    azar e a fortuna farão que venha a ter a posse tamém do reino da Galiza –do império-
    (Galiza-Leão). A inércia e superior domínio cultural galaico fazerem há não pouco, para
    trazer de novo o centro cultural para o ocidente.
    Fernando I segue a sua morte a doutrina do seu pai e reparte territórios e posses aos
    seus cinco filhos, três reinos aos filhos: Sancho mais velho Castela; Afonso Leão. E
    Garcia, o mais novo, à Galiza do aquém dos Montes de Leão. Para as suas duas filhas:
    Urraca e Elvira foram respetivamente as cidades de Zamora e Toro.
    Garcia como rei dessa Galiza cujo nome já não abrangia todo o espaço cristão norte –
    ocidental peninsular, e sim estava limitada ao leste pelos Montes de Leão adota no seu
    reino, várias medidas: a primeira restaurar Braga como centro do reino e levar a
    cabeça de Lugo a Braga como correspondia, já não existiam razões para Lugo agir por
    delegação de Braga.
    Nessa Galiza de Garcia, Compostela a urbe que respondia ao projeto cristianizador de
    Carlo Magno suplanta a Iria Flávia como cabeça do maior bispado da Galiza, e é essa
    Compostela, a quem o Apostolo está a encher de Ouro e de ambições, quem, digamolo
    suavemente, não gosta de Garcia e a sua política bracarense.
    O reino da Galiza não era já um pequeno espaço no norte, pelo sul há já tempo que
    tem incluída a região conimbricense, e tem já por zonas a sua extrema no rio Tejo.
    Cobra ademais tributo das poderosas taifas de Badalhouce e Sevilha.
    Afonso quem herdara o reino de Leão, com o seu centro curial, pronto se sente
    imperador, e num golpe de mão com engano e colaboração de Sancho desfam-se de
    Garcia encerra preso ao seu irmão Garcia e fai-se com a Galiza ocidental. O seu apoio a
    Compostela e o abandono da política bracarense do seu irmão, pronto lhe dá
    poderosos apoios na Galiza ártabra (e não é por casualidade que de Afonso VI o
    imperador, venham a repousar os seus restos em Compostela).
    Sancho o mais velho dos irmãos reis é não menos ambicioso que o seu irmão tamém
    ambiciona todo o de Afonso com o que de seguida não tudo é entendimento, mas as
    guerras constantes que o seu reino tem que levar contra Navarra e Aragão por
    determinar as extremas, facilitou o trabalho de Afonso, porém o feito de estar sempre
    em guerra preparou-o para se enfrentar a qualquer conquista, e acabou fazendo-se
    com todos os territórios do irmão, mas com eles não durou nem um ano. Assaltando
    Zamora, a fortaleça da sua irmã Urraca muito fidel de Afonso, faleceu, e Afonso
    acabou recuperando o velho império todo do seu pai já bastante alargado.
    Os Borgonhois
    Afonso VI tem vários matrimónios (5), concubinatos e relações com várias mulheres,
    do que ao final só vão resultar filhas sobreviventes. Do matrimónio-concubinato com a
    viúva do rei de Córdoba (a muçulmana Zaida – ainda que a historiografia cristianizou-a
    como Isabel) terá um filho e duas filhas. O primeiro Sancho a quem muito amava e era
    o seu olho e a quem queria de herdeiro, morre na batalha de Ucles (ano 1108) e isso
    dá-nos para conhecermos na crónica De Rerum Hispaniae do bispo de Toledo (cidade
    que Afonso conquistara), o pranto do rei pelo seu filho – o qual aparece inserido no
    texto latino na nossa língua galaico-portuguesa, o que nos vem a falar de qual era a
    língua do poder e da corte.
    Um dos matrimónios de Afonso VI, o segundo, foi com Constança de Borgonha (do que
    sobreviveu a filha Urraca), o que levará a ter certas relações com Borgonha e que de
    acolá venham ao reino nobres borgonhois como Raimundo e Henrique.
    O Rei Afonso casou a sua filha e herdeira Urraca, com Raimundo de Borgonha (ano
    1090), a quem se lhe garante o reino da Galiza, e a Teresa, uma rapazinha ainda muito
    nova, a quem tivera dumas relações com Jimena Nunes, com Henrique (ano 1095),
    quem é submetido a Raimundo com a obriga da guarda do limes sul da Galiza.
    Raimundo muito faz para gosto de Afonso, desde a fortificação da cidade de Castela
    conhecida por Ávila e nos textos antigos como A Vila, por ser território de fronteira, e
    alargando os territórios para o sul pola extrema do reino da Galiza (a Estremadura). Foi
    conquistando Santarém, assaltando as suas muralhas, que Raimundo de Borgonha
    faleceu.
    A Urraca viúva com o seu filho Afonso acha apoio protetor no poderoso bispo Gelmires
    de Compostela, e quando esta casa com Afonso o Batalhador rei de Aragão, pronto
    Gelmires -apoiando-se na vontade de Afonso VI faz rei da Galiza à criança (Afonso VII –
    Reimundes – no ano de 1111) filho de Raimundo e Urraca, pois nele tem Gelmires um
    instrumento das suas ambições políticas.
    Afonso Henriques
    Na Braga restaurada por Garcia não gostam da política imperial e desconsiderada da
    recém chegada Compostela e começa a dar-se uma conjunção de interesses entre as
    classes dominantes e o bispo de Braga.
    Henrique de Borgonha como conde de Portucale o condado ao sul da velha Galiza tem
    a inteligência política de passar despercebido, e ir construindo ali um governo local
    tranquilo, no que age e a vez não discute a autoridade real. O Bispo de Braga e desde
    muito cedo contrário a Compostela. A Compostela de Gelmires chegará a fazer uma
    expedição a Braga para roubar o espólio de santos ali depositado –Pio Latrocínio – e
    ganhar assim prestigio da vero caput para Compostela, frente a Braga, e ante o Papa.
    Henrique de Borgonha com Teresa (designada na historiografia como de Leão) tem um
    filho Afonso Henriques. E aceita-se que desde o ano do seu nascimento, 1109 até o
    1128 viveu em Guimarães.
    A mai estava muito ligada a nobreza do norte poderosa na corte de Leão e verdadeiros
    pares do rei.
    Porém a igreja de Braga e a nobreza local, que defendem os seus interesses empurram
    ao puto (14-15 anos) contra a mai para terem assim um maior controlo local,
    Em 1120, sob a direção do arcebispo de Braga, o puto Afonso tomou uma posição
    política oposta à da mãe, quem apoiava o partido dos Travas (poderosa família galega
    mui ligada a Gelmires nessa altura). O bispo, forçado a emigrar, levou consigo o infante
    que em 1122 se armou cavaleiro em Tui.
    Restabelecida a paz, voltaram ao condado. Entretanto, novos incidentes provocaram a
    invasão do Condado Portucalense por Afonso Reimundes (VII) da Galiza, Leão e
    Castela, quem em 1127 cercou Guimarães, onde se encontrava Afonso Henriques,
    sendo-lhe prometida a lealdade deste pelo seu aio Egas Moniz, Afonso VII desistiu de
    conquistar a cidade.
    Mas alguns meses depois, em 1128, as tropas de Teresa e Fernão Peres de Trava
    defrontaram-se com as de Afonso Henriques na batalha de São Mamede, tendo as
    tropas do nosso puto de 17 anos com a bênção do bispo de Braga saído vitoriosas – o
    que consagrou a sua autoridade no território portucalense, levando-o a assumir o
    governo do condado.
    Consciente da importância das forças que ameaçavam o seu poder concentrou os seus
    esforços em negociações junto da Santa Sé, Afonso Henriques sempre bem guiado
    pólo arcebispo de Braga Pedro (primaz da Galiza) com um duplo objetivo: alcançar a
    plena autonomia da Igreja portuguesa e obter o reconhecimento do Reino.
    Em 1139, depois de uma estrondosa vitória na batalha de Ourique contra um forte
    contingente mouro, D. Afonso Henriques recebe a coroa e a consagração de Rei de
    Portugal do bispo de Braga João Peculiar.
    Afonso VIII da Galiza e Leão
    Em 1230 morre em Sárria Afonso VIII com 82 anos e trás mais de sessenta anos de
    reinado na Galiza -na parte norte ou Ártabra desse território histórico – e Leão. Afonso
    estava velho e canso, vinha de passar os últimos 16 anos da sua vida em guerra com o
    seu filho Fernando, pois foi contra o parecer do pai proclamado rei de Castela, e para o
    seu pai esse feito equivalia a renuncia de quaisquer direitos sobre as coroas de Galiza e
    Leão
    Afonso VIII casara com duas parentes de segundo grau, Teresa de Portugal. prima
    direta, com quem tem duas filhas Sancha e Dulce (e um filho Fernando que faleceria),
    matrimónio que a igreja rompe e obriga a novo casamento (por detrás está
    Compostela). Rutura a que muito se resistiu pois estava fundamente namorado da sua
    esposa e logo com Berenguela filha de Afonso VIII de Castela, tamém prima direta,
    com quem tem a Fernando, mas este matrimónio a igreja consente e apoia pois estava
    na linha do programa imperial peninsular da Galiza e Compostela.
    O seu testamento é claro, as herdeiras dos seus tronos são as filhas de Teresa: Sancha
    e Dulce (cada uma o seu); e como garantes, a sua mai, o Rei de Portugal e a Ordem de
    Santiago. Qualquer solução incluída a união com Portugal é valida mas em nenhum
    caso a unificação com Castela.
    Fernando reclama (e paga muito). A Igreja da Galiza e de Leão está muito dividida e na
    maioria e contrária a Fernando, mas a intervenção do bispo de Compostela e os de
    Castela são decisivos para que o Papa declare ilegítimo o testamento do bom rei.
    Compostela e certas camadas nobres galegas sentem que com Fernando III controlam
    o centro peninsular, que o seu projeto imperial vai avante.
    Portugal nunca aceita o ilegítimo acordo.
    Com Fernando III, rei muito abençoado pola Igreja, que acabou por fazê-lo santo, o
    projeto central castelhano avança, a reconquista avança até o estreito de Gibraltar, em
    Sevilha e Toledo vai estar a corte sob a capa duma corte de nobres galegos, de língua
    galaico-portuguesa, com galegos que se enriquecem neste processo, de filhos dos
    nobres cortesãos que enviam os filhos a educarem-se com aios na Galiza, como o filho
    do rei e futuro rei Afonso X.
    Afonso X que brilhou nas nossas letras, porém foi quem impulsionou o primeiro
    estatuto dominante para a escrita da chancelaria em castelhano. Sancho IV seu filho
    ainda vai continuar ligado a tradição cultural galaica. A chegada ao trono com 9 anos
    do seu filho Fernando apaga não pouco essa tradição, sob novos tutores e aios o
    predomínio e domínio galaico da corte esvai-se, A nobreza galega e a igreja de
    Compostela será firme no apoio a este rei como ainda um dos seus e assim como ao
    seu filho Afonso XI e neto Pedro I.
    Os interesses imperiais de Castela e a sua visão peninsular triunfam definitivamente
    sobre os galaicos com o assassinato de Pedro I pelo mercenário bretom Douglesclin, e
    com a chegada ao trono de uma dinastia limpidamente castelhana sob o nome galaico
    dos trastámaras. As tropas galegas que se batem a prol de Pedro saem coa sua
    nobreza dirigente muito diminuída em influência.
    É a dinastia castelã dos Trastámaras a que vai tentar se apoderar de Portugal, que
    renasceu logo triunfante em Aljubarrota frente a Juam I de Castela (trastámara).
    Que houvesse passado se Afonso Henriques não fosse quem de iniciar um reino.
    A monarquia portuguesa frente ao modelo imperial do norte, sempre com aspirações
    peninsulares, centrou-se sobre sim própria e em consolidar pouco a pouco o seu
    território, que ficava de costas a península, mas aberto ao mar. Sancho I, Afonso II,
    Sancho II, esforçam-se nessa linha de conduta.
    Se o puto Afonso Henriques e a sua cabeça pensante, o bispo de Braga, nom fossem
    quem de achar um destino para o sul da Galiza alongado de projetos imperiais
    peninsulares, hoje teríamos a Galiza unificada desde a extremadura ao norte, mas a
    sua vida cultural e linguística não seria sequer tão pobre como a da Galiza atual. Seria
    muito semelhante a que se vive no âmbito asturo-leonês-mirandês é dizer no velho
    galaico-oriental (galor em palavras de Cosériu).
    Essa visão que Portugal tinha de sim próprio é a que o levará a ser um centro dum
    império com as costas viradas a península.
    O português da Galiza
    O galego da Galiza até para o mais ferrenho isolacionismo foi muito vivificado pólo
    português universal e da corte de Lisboa. O português da Galiza tirado o muito que
    sugou e continua a sugar do português, estaria limitado a uns dialetos rurais bastante
    fraturados e os seus utentes só teriam para beber e encher os ocos criativos do mesmo
    o castelhano, como é o que se passa nos restos que ficam do asturo-leonês.
    O sucesso da nossa língua e cultura (ao norte e ao sul do Minho) deve-se ao projeto
    que encetou Afonso Henriques virado de costas ao projeto imperial e originário
    galaico. Não temos direito a reclamarmos nada sobre o nome internacional da língua,
    já que se não fosse por Portugal nada seriamos nem nada teríamos ao norte e ao sul
    do Minho
    Afonso Henriques, da Galiza do sul fiz um Portuscale, um reino, e o galaico ou galego
    desse reino acabou por ter por nome o do próprio reino, o galeguíssimo nome de
    Portugal – português-.
    O português da Galiza está na situação que está, por não sermos quem de assumirmos
    que as falas galegas só podem viver no português universal, e que falarmos de galego
    como contraposição ao português universal -o verdadeiro galego – e seguirmos
    pagando as portagens imperais de Castela-Espanha.
    Assumirmos a língua como português da Galiza é o melhor jeito galego de chamarmos
    ao galego da Galiza para que poda ser ele mesmo e libertarmo-nos do ferrete
    esmagador castelhano, pois o futuro do galego-castelhano é só um só – espanhol -.
    APONTAMENTO FINAL
    Faz bem Portugal em estar sempre à espreita e com receio do que vem do norte do
    Minho, pois muito matute espanhol e espanholista se vende sob presunto galeguismo
    e muito projeto imperial espanhol ainda paira em cabeças galaicas no avanço cara a
    nada e cara nengures.
    Bibliografia:
    Menendez-Valdés Golpe, E. – Separatismo y Unidad (una mitificación histórica).
    SEMINARIO Y EDICIONES 1970.
    Sergio, António. – Breve Interpretação da História de Portugal. CLASSICOS AS DA
    COSTA 1981
    Lopes Suevos, Ramón. – Portugal no Quadro Peninsular. AGAL 1987
    Zebral Lopes, Manuel. – Manual galego Português de História Edição do autor 1996
    De Oliveira marques, A.H. História de Portuga (3 TOMOS)l. PALAS EDITORES, Lisboa
    1973
    Lopes, Fernão. Crónica d’el Rei João I de Boas memória. LIVROS EUROPA-AMERICA
    1981
    Oliveira Martins. História da Civilização Ibérica, LIVROS EUROPA-AMERICA
    Calvet de Magalhães, José. Breve história diplomática de Portugal, LIVROS EUROPAAMERICA
    1990
    Hermano Saraiva, José. História Concisa de Portugal, LIVROS EUROPA-AMERICA 1984
    González López, Emílio. Grandeza e Decadência do Reino da Galiza. ED. GALAXIA 1978
    González López, Emílio. Siempre de negro. ED. GALAXIA 1970
    Ribeiro, Orlando. La Formation de Portugal, Bruxelas 1939
    López Carreira, Anselmo. Os Reis da Galiza. A NOSA TERRA 2005
    López Teixeira, José António, Arredor da conformación do Reino da Galiza (711-910).
    Ed. TOXOSOUTOS 2003
    Biggs, Gordon. Diego Xelmirez. XERAIS UNIVERSITÁRIA 1983
    Barros, Carlos. Mentalidad Justiciera de los Irmandinhos, Siglo XV. SIGLO XXI DE
    ESPAÑA EDITORES 1990
    Barbosa Alvares, José Manuel. Atlas Histórico da Galiza. Edições Galiza 2008
    Merecem especial menção por terem sido os seus trabalhos muito influentes na
    perspetiva destas reflexões historicistas, Os múltiplos artigos e eflexões de Ernesto
    Vasquez Souza, e alguns trabalhos divulgativos do presidente da Associação Fala Ceive
    do Berzo, Xavier Lago Mestre.
    (Traduzido para português europeu. In Wikipédia 12 Dezembro 2005)
    coloquioslusofonia@gmail.com /lusofonia@sapo.pt
    Rede: http://www.lusofonias.net

  • ODE AO 16º COLÓQUIO DA LUSOFONIA EM SANTA MARIA Prof. Doutor Li Changsen (James)

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    ODE AO 16º COLÓQUIO DA LUSOFONIA EM SANTA MARIA

    A brisa de primavera de Macau é ainda fresquinha,

    O cheiro de Outono de Santa Maria já vem daquela ilha.

    A distância não separa o profundo sentimento amistoso,

    O colóquio demonstra o espírito do povo ilhéu generoso.

    A história da lusofonia está na mentalidade minha,

    O impacto cultural atravessa o mar, o rio e a montanha.

    A milagre não é feito por Deus misterioso,

    Pois, o mundo foi criado pelo homem laborioso.

    A convivência de diversos povos é uma vareta mágica,

    Que tem forjado grande solidariedade étnica,

    Independentemente do limite de espaço e de tempo;

    O Sol nascente ilumina toda a Praia Formosa,

    Exaltando novas perspectivas da Ilha-Mãe graciosa,

    Que lembram belas pérolas na Oceânia Atlântica.

    27 de Junho de 2011

    Prof. Doutor Li Changsen (James)

    INSTITUTO POLITÉCNICO DE MACAU

  • PRESENÇA JUDAICA NA LÍNGUA PORTUGUESA

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    PRESENÇA JUDAICA NA LÍNGUA PORTUGUESA
    EXPRESSÕES E DIZERES POPULARES EM PORTUGUÊS
    DE ORIGEM CRISTÃ-NOVA OU MARRANA

    Jane Bichmacher de Glasman (UERJ)

    O objetivo do presente trabalho é apresentar alguns exemplos de influência judaica na língua portuguesa, a partir de uma ampla pesquisa sócio-linguística que venho desenvolvendo há anos. A opção por judaica (e não hebraica) deve-se a uma perspectiva filológica e histórica mais abrangente, englobando dialetos e idiomas judaicos, como o ladino (judeu-espanhol) e o iídiche (alemão), entre os mais conhecidos, além de vocábulos judaicos e expressões hebraicas que passaram a integrar o vernáculo a partir de subterfúgios e/ ou corruptelas, cuja origem remonta à bagagem cultural de colonizadores judeus, cristãos-novos e marranos.

    Há uma significativa probabilidade estatística de brasileiros descendentes de ibéricos, principalmente portugueses, terem alguma ancestralidade judaica. A base histórica para tal é a imigração maciça de judeus expulsos da Espanha, em 1492, para Portugal, devido à contigüidade geográfica e às promessas (não cumpridas) do Rei D. Manuel I, que traziam esperança de sua sobrevivência judaica como tal. Mesmo com a expulsão de Portugal em 1497, os judeus (além dos cristãos-novos e dos cripto-judeus ou marranos) chegaram a constituir 20 a 25% da população local.

    Sefaradim (de Sefarad, Espanha, da Península Ibérica) procuraram refúgio em países próximos no Mediterrâneo, norte da África, Holanda e nas recém-descobertas terras de além-mar nas Américas, procurando escapar da Inquisição. Até hoje é controversa a origem judaica ou criptojudaica de descobridores e colonizadores do Brasil, para onde imigraram incontáveis cristãos-novos, alternando durante séculos uma vida como judeus assumidos e marranos, praticando o judaísmo secretamente (fora os que permaneceram efetivamente católicos), de acordo com os ventos políticos, sob o domínio holandês ou a atuação da Inquisição, variando de um clima de maior tolerância e liberdade à total intolerância e repressão.

    Comparando apenas sob o ponto de vista cronológico, nem sempre lembramos que, enquanto o Holocausto na Segunda Guerra Mundial foi tão devastador, especialmente nos quatro anos de extermínio maciço de judeus, a Inquisição durou séculos, pelo menos três dos cinco da história “oficial” do Brasil, isto é, após o descobrimento. Tantos séculos de medo, denúncias, processos e mortes, geraram, por um lado, um ambiente psicológico de terror para os judeus e cristãos novos no Brasil; por outro, um anti-semitismo evidente ou subliminar que permaneceu arraigado na população, inclusive como autodefesa e proteção.

    Uma característica do comportamento de cristãos-novos “suspeitos” foi procurar ser “mais católicos do que os católicos”, buscando sobreviver à intolerância e determinando práticas sócio-culturais e lingüísticas.

    A citada alternância entre vidas assumidamente judaicas e marranas, praticando judaísmo em segredo, com costumes variados, unificados pela “camuflagem” de seu teor judaico, gerou comportamentos e aspectos culturais (abrangendo rituais, superstições, ditados populares, etc.) que se arraigaram à cultura nacional. A maioria da população desconhece que muitos costumes e dizeres que fazem parte da cultura brasileira têm sua origem em práticas criptojudaicas. Apresentarei alguns exemplos bem como suas origens e explicações, a partir da origem judaica “marrana”.

    “Gente da nação” é uma das denominações para designar marranos, judeus, cristãos-novos e cripto-judeus, embora existam diferenças entre termos e personagens.

    Cristãos-novos foi denominação dada aos judeus que se converteram em massa na Península Ibérica nos séculos XIII e XIV; é preconceituosa devido à distinção feita entre os mesmos e os “cristãos-velhos”, concretizado nas leis espanholas discriminatórias de “Limpieza de Sangre” do século XV.

    Criptojudeus eram os cristãos-novos que mantiveram secretamente seu judaísmo. Gente da nação era a expressão mais utilizada pela Inquisição e Marranos, como ficaram mais conhecidos. Embora todos fossem descendentes de judeus, só poucos voltaram a sê-lo, e em países e épocas que o permitiram.

    O próprio termo “marrano” possui uma etimologia diversificada e antitética. Unterman (1992: 166), conceitua de forma tradicional, como “nome em espanhol para judeus convertidos ao cristianismo que se mantiveram secretamente ligados ao judaísmo. A palavra tem conotação pejorativa” geralmente aplicada a todos os cripto-judeus, particularmente aos de origem ibérica. Em 1391 houve uma maciça conversão forçada de judeus espanhóis, mas a maioria dos convertidos conservou sua fé. Já Cordeiro (1994), com base nas pesquisas de Maeso (1977), afirma que a tradução por “porco” em espanhol tornou-se secundária diante das várias interpretações existentes na histografia do marranismo.

    Para o historiador Cecil Roth (1967), marrano, velho termo espanhol que data do início da Idade Média que significa porco, aplicado aos recém-convertidos (a princípio ironicamente devido à aversão judaica à carne de porco), tornou-se um termo geral de repúdio que no século XVI se estendeu e passou a todas as línguas da Europa ocidental.

    A designação expressa a profundidade do ódio que o espanhol comum sentia pelos conversos com quem conviviam. Seu uso constante e cotidiano carregado de preconceito turvou o significado original do vocábulo. Em “Santa Inquisição: terror e linguagem”, Lipiner (1977) apresenta as definições: “Marranos: As derivações mais remotas e mais aceitáveis sugerem a origem hebraica ou aramaica do termo. Mumar: converso, apóstata. Da raiz hebraica mumar, acrescida do sufixo castelhano ano derivou a forma composta mumrrano, abreviado: Marrano. Tratar-se-ia, pois de um vocábulo hebraico acomodado às línguas ibéricas. Marit-áyin: aparência, ou seja, cristão apenas na aparência. Mar-anús: homem batizado à força. Mumar-anus: convertido à força. Contração dos dois termos hebraicos, mediante a eliminação da primeira sílaba”. Anus, em hebraico, significa forçado, violentado.

    Antes de exemplificar a contribuição lingüística marrana, convém ressaltar que a vinda dos portugueses para o Brasil trouxe consigo todos os empréstimos culturais e lingüísticos que já haviam sido incorporados ao cotidiano ibérico, desde uma época anterior à Inquisição, além de novos hábitos e características; muitas palavras e expressões de origem hebraica foram incorporadas ao léxico da língua portuguesa mesmo antes de os portugueses chegarem ao Brasil. Elas encontram-se tão arraigadas em nosso idioma que muitas vezes têm sua origem confundida como sendo árabe ou grega. Exemplo: a “azeite”, comumente atribuída uma origem árabe por se assemelhar a um grande número de palavras começadas por “al-” (como alface, alfarrábio, etc.), identificadas como sendo de origem árabe por esta partícula corresponder ao artigo nesta língua. O artigo definido hebraico é a partícula “a-” e “azeite” significa, literalmente, em hebraico “a azeitona” (ha-zait).

    Apesar da presença judaica por tantos séculos, em Portugal como no Brasil, as perseguições resultaram também em exclusões vocabulares. A maior parte dos hebraísmos chegou ao português por influência da linguagem religiosa, particularmente da Igreja Católica, fazendo escala no grego e no latim eclesiásticos, quase sempre relacionados a conceitos religiosos, exemplos: aleluia, amém, bálsamo, cabala, éden, fariseu, hosana, jubileu, maná, messias, satanás, páscoa, querubim, rabino, sábado, serafim e muitos outros.

    Algumas palavras adotaram outros significados, ainda que relacionados à idéia do texto bíblico. Exemplos: babel indicando bagunça; amém passando a qualquer concordância com desejos; aleluia usada como interjeição de alívio.

    O preconceito marca palavras originárias do hebraico usadas de forma depreciativa, como: desmazelo (de mazal – negligência, desleixo), malsim (de mashlin – delator, traidor), zote (de zot / subterrâneo, inferior, parte de baixo – pateta, idiota, parvo, tolo), ou tacanho (de katan – que tem pequena estatura, acanhado; pequeno; estúpido, avarento); além de palavras relacionadas a questões financeiras, como cacife, derivada de kessef = dinheiro.

    Dezenas de nomes próprios têm origem hebraica bíblica, como: Adão, Abraão, Benjamim, Daniel, Davi, Débora, Elias, Ester, Gabriel, Hiram, Israel, Ismael, Isaque, Jacó, Jeremias, Jesus, João, Joaquim, José, Judite, Josué, Miguel, Natã, Rafael, Raquel, Marta, Maria, Rute, Salomão, Sara, Saul, Simão e tantos outros. Alguns destes, na verdade, são nomes aramaicos, oriundos da Mesopotâmia, como Abraão (Avraham), que se incorporaram ao léxico hebraico no início da formação do povo hebreu.

    Podemos citar centenas de nomes e sobrenomes de judaizantes e números de seus dossiês, desde a instalação da Inquisição no Brasil, a partir dos arquivos da Torre do Tombo, em Lisboa, e de livros como Wiznitzer (1966), Carvalho (1982), Falbel (1977), Novinsky (1983), Dines (1990), Cordeiro (1994), etc. Sobrenomes muito comuns, tanto no Brasil como em Portugal, podem ser atribuídos a uma origem sefardita, já que uma das características marcantes das conversões forçadas era a adoção de um novo nome. Muitos conversos adotaram nomes de plantas, animais, profissões, objetos, etc., e estes podem ser encontrados em famílias brasileiras, até hoje, em número tão grande que seria difícil enumerá-los. Exemplos: Alves, Carvalho, Duarte, Fernandes, Gonçalves, Lima, Silva, Silveira, Machado, Paiva, Miranda, Rocha, Santos, etc. Não devemos excluir a possibilidade da existência de outros sobrenomes portugueses de origem judaica.

    Porém é importante ressaltar que não se pode afirmar que todo brasileiro cujo sobrenome conste dos processos seja descendente direto de judeus portugueses; para se ter certeza é necessária uma pesquisa profunda da árvore genealógica das famílias.

    Há ainda algumas palavras e expressões oriundas do misticismo judaico, tão desenvolvido na idade média. O estudo do Talmud e da Cabalá trouxe também contribuições do aramaico, como a conhecida expressão “abracadabra”, que é tida pela nossa cultura como uma “palavra mágica” (num sentido fabuloso), mas que, na realidade pode ser traduzida como “criarei à medida que falo” (num sentido real e sólido para a cultura judaica).

    Algumas palavras também designam práticas judaicas ou formas de encobri-las, especialmente observável nos costumes alimentares. Por exemplo: os judeus são proibidos pela Torá de comer carne de porco, porque tem os cascos fendidos e não rumina, sendo, portanto, impuro. Para simular o abandono desse princípio e enganar espiões da Inquisição, os cristãos-novos inventaram as alheiras, embutidos à base de carne de vitelo, pato, galinha, peru – e nada de porco. Após algumas horas de defumação já podem ser consumidos. Da mesma forma, peixes “de couro” (sem escamas) não serviam para consumo.

    Passando às expressões, apresento alguns exemplos, sua origem e explicação:

    “Ficar a ver navios” – Em 1492 foi determinado que os judeus que não se convertessem teriam de deixar a Espanha até ao fim de julho. Centenas de milhares então se fixaram em Portugal. O casamento do rei D. Manuel com D. Isabel, filha dos Reis Católicos, levou-o a aceitar a exigência espanhola de expulsar todos os judeus residentes em Portugal que não se convertessem ao catolicismo, num prazo que ia de Janeiro a Outubro de 1497. O rei Dom Manuel precisava dos judeus portugueses, pois eram toda a classe média e toda a mão-de-obra, além da influência intelectual. Se Portugal os expulsasse logo como fez a Espanha, o país passaria por uma crise terrível. Na realidade D. Manuel não tinha qualquer interesse em expulsar esta comunidade, que então constituía um destacado elemento de progresso nos setores da economia e das profissões liberais. A sua esperança era que, retendo os judeus no país, os seus descendentes pudessem eventualmente, como cristãos, atingir um maior grau de aculturação. Para obter os seus fins lançou mão de medidas extremamente drásticas, como ter ordenado que os filhos menores de 14 anos fossem tirados aos pais a fim de serem convertidos. Então fingiu marcar uma data de expulsão na Páscoa. Quando chegou a data do embarque dos que se recusavam a aceitar o catolicismo, alegou que não havia navios suficientes para os levar e determinou um batismo em massa dos que se tinham concentrado em Lisboa à espera de transporte para outros países. No dia marcado, estavam todos os judeus no porto esperando os navios que não vieram. Todos foram convertidos e batizados à força, em pé. Daí a expressão: “ficaram a ver navios”. O rei então declarou: não há mais judeus em Portugal, são todos cristãos (cristãos-novos). Muitos foram arrastados até a pia batismal pelas barbas ou pelos cabelos.

    “Pensar na morte da bezerra”: frase tão comumente dita por sertanejos quando querem referir-se a alguém que está meditando com ares de preocupação: “está pensando na morte da bezerra”. Registram as denunciações e as confissões feitas ao Santo Oficio, a noção popular, naquele distante período, do que seria o livro fundamental do judaísmo: a Torá. De Torá veio Toura e depois, bezerra, havendo inclusive quem afirmasse ter visto em cara de alguns cristãos-novos, o citado objeto, com chifres e tudo.

    “Passar a mão na cabeça”, com o sentido de perdoar ou acobertar erro cometido por algum protegido, é memória da maneira judaica de abençoar de cristãos-novos, passando a mão pela cabeça e descendo pela face, enquanto pronunciava a bênção.

    – Seridó, região no Rio Grande do Norte, tem seu nome originário da forma hebraica contraída: Refúgio dele. Porém, não é o que escreve Luís da Câmara Cascudo, indicando uma origem indígena do nome da região, de “ceri-toh”. Em hebraico, a palavra Sarid significa sobrevivente. Acrescentando-se o sufixo ó, temos a tradução sobrevivente dele. A variação Serid, “o que escapou”, pode ser traduzido também por refúgio. Desse modo, a tradução para o nome seridó seria refúgio dele ou seus sobreviventes.

    – Passar mel na boca: quando da circuncisão, o rabino passa mel na boca da criança para evitar o choro. Daí a origem da expressão: “Passar mel na boca de fulano”.

    – Para o santo: o hábito sertanejo de, antes de beber, derramar uma parte do cálice, tem raízes no rito hebraico milenar de reservar, na festa de Pessach (Páscoa), um copo de vinho para o profeta Elias (representando o Messias que virá, anunciado pelo Profeta Elias).

    “Que massada!” –usada para se referir a uma tragédia ou contra-tempo, é uma alusão à fortaleza de Massada na região do Mar Morto, Israel, reduto de Zelotes, onde permaneceram anos resistindo às forças romanas após a destruição do Templo em 70 d.C., culminando com um suicídio coletivo para não se renderem, de acordo com relato do historiador Flávio Josefo.

    “Pagar siza” significando pagar imposto vem do hebraico e do aramaico (mas = imposto, em hebraico de misa, em aramaico).

    “Vestir a carapuça” ou “a carapuça serve para …” vem da Idade Média inquisitorial, quando judeus eram obrigados a usar chapéus pontudos (ou com três pontas) para serem identificados.

    “Fazer mesuras” origina-se na reverência à Mezuzá (pergaminho com versículos de DT.6, 4-9 e 11,13-21, afixado, dentro de caixas variadas, no batente direito das portas).

    “Deus te crie” após o espirro de alguém é uma herança judaica da frase Hayim Tovim, que pode ser traduzido como tenha uma boa vida.

    “Pedir a bênção” aos pais, ao sair e chegar em casa, é prática judaica que remonta à benção sacerdotal bíblica, com a qual pais abençoam os filhos, como no Shabat e no Ano Novo.

    “Entrar e sair pela mesma porta traz felicidade” bem como o costume de varrer a casa da porta para dentro, costume arraigado até os dias de hoje, para “não jogar a sorte fora” é uma camuflagem do respeito pela Mezuzá, afixada nos portais de entrada, bem como aos dias de faxina obrigatória religiosa judaica, como antes do Shabat (Sábado, dia santo de descanso semanal) e de Pessach.

    “Apontar estrelas faz crescer verrugas nos dedos” era a superstição que se contava às crianças para não serem vistas contando estrelas em público e denunciadas à Inquisição, pois o dia judaico começa no anoitecer do dia anterior, ao despontar das primeiras estrelas, dado necessário para identificar o início do Shabat e dos feriados judaicos.

    Para concluir, gostaria de mencionar um tema polêmico decorrente deste intercâmbio cultural-religioso: sua influência no português, em vocábulos que adquiriram uma conotação pejorativa e negativa. Os mais discutidos são: judeu, significando usurário, o verbo judiar (e o substantivo judiação) com o sentido de maltratar, torturar, atormentar. Seja sua origem a prática de “judaizar” (cristãos-novos mantendo judaísmo em segredo e/ ou divulgando-o a outros), seja como referência ao maltrato e às perseguições sofridas pelos judeus durante a Inquisição, o fato é que, sem dúvidas, sua conotação é negativa, e cabe a nós estudiosos do assunto e vítimas do preconceito, esclarecer a população e a mídia, alertando e visando à erradicação deste uso, não só pelo desgastado “politicamente correto”, que leva a certos exageros, mas para uma conscientização do eco subliminar de um longo passado recente, Pelo qual não basta o pedido de perdão, se não conduzir a uma mudança no comportamento social.

    Referências Bibliográficas

    CARVALHO, Flávio Mendes de. Raízes judaicas no Brasil. São Paulo: Arcádia, 1982.

    CORDEIRO, Hélio Daniel. Os marranos e a diáspora sefaradita. São Paulo: Israel, 1994.

    DINES, Alberto. Vínculos do fogo. São Paulo: Cia. das Letras. 1990.

    FALBEL, Nachman & GUINSBURG, Jacó. (org.) Os marranos. São Paulo: CEJ; USP, 1977.

    GONSALVES DE MELLO, José Antonio. Gente da Nação In: Revista do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano. 1979.

    HOLANDA FERREIRA, Aurélio Buarque de. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

    HOUAISS, Antonio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

    LIPINER, Elias. Santa inquisição: Terror e linguagem. Rio de Janeiro. Documentário, 1977.

    MAESO, David Gonzalo. A respeito da etimologia do vocábulo ‘marrano’. São Paulo, CEJ, 1977.

    NOVINSKY, Anita. A inquisição. São Paulo: Brasiliense, 1983.

    ROTH, Cecil (ed.) Enciclopédia judaica. Rio de Janeiro. Tradição, 1967.

    UNTERMAN, Alan. Dicionário judaico de lendas e tradições. Rio de Janeiro: Zahar, 1992.

    WIZNITZER, Arnold. Os judeus no Brasil Colonial. São Paulo: Pioneira, 1966.
    __._,_.___
  • a primeira cronologia da literatura portuguesa 1128-2000

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    Chronology of Portuguese Literature: 1128-2000
    Author: Rogério Miguel Puga
    Date Of Publication: Aug 2011
    Isbn13: 978-1-4438-3003-4
    Isbn: 1-4438-3003-8

    This is the first Chronology of Portuguese Literature to be published in any language. It presents a comprehensive year-by-year list of significant and representative works of literature published mainly in Portuguese from 1128 to the beginning of the current millennium. As a reference tool, it displays the continuity and variety of the literature of the oldest European country, and documents the development of Portuguese letters from their origins to the year 2000, while also presenting the year of birth and death of each author. An ideal resource for students and academics of Portuguese literature and Lusophone cultures.

    Rogério Miguel Puga holds a PhD on Anglo-Portuguese Studies (FCSH, New University of Lisbon), was a Lecturer at Institute of Education and Sciences (ISEC, Lisbon, 2000-2005), Assistant Professor at the University of Macao (2007-2009) and is now a Senior Researcher at the Centre for English, Translation and Anglo-Portuguese Studies (CETAPS, New University of Lisbon), where he also teaches. He is a research collaborator at Centre for Overseas History (CHAM, New University) and the Centre for Comparative Studies (University of Lisbon), and an invited researcher at the University of Macau (History Department). He has published several studies on Anglo-Portuguese literary and historical relations, the Portuguese and British Empires, and on Lusophone and Anglophone Literatures, namely: The Portuguese Historical Novel (Lisbon, 2006), A World of Euphemism: Representations of Macao in the Work of Austin Coates. City of Broken Promises as Historical Novel and Female Bildungsroman (Lisbon, 2009), and The English Presence and Anglo-Portuguese Relations in Macao (1635-1794) (Lisbon, 2009). He is the editor of the European Journal of Macao Studies (Portugal), and subject editor for the journal Romance Studies (United Kingdom).

    Price Uk Gbp: 39.99
    Price Us Usd: 59.99

    http://www.c-s-p.org/Flyers/Chronology-of-Portuguese-Literature–1128-20001-4438-3003-8.htm

  • brasil e xenofobia

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    A XENOFOBIA sempre apareceu mais ou menos em certos períodos da história dos povos, mas não acredito que tal sentimento tenha sido alguma vez geneneralizado. Em relação aos brasileiros e portugueses tal generalização nunca ocorreu. Eu pelo menos não acredito! Mas vamos ler o artigo abaixo, que nos fala de um tempo em que ocorreu uma certa xenofobia contra os portugueses em certos locais. Vamos compreender melhor este sentimento.

    Portugueses e brasileiros

    Relação teve períodos de xenofobia

    Vitor Amorim de Angelo*
    Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

    A palavra xenofobia significa aversão ao que é estrangeiro. Ouvimos essa expressão com bastante frequência neste início de século 21, quando milhares de pessoas tentam migrar em direção, principalmente, aos Estados Unidos e à Europa. Nesses lugares, há movimentos xenófobos contra a população estrangeira, acusada, entre outras coisas, de disputar os já escassos postos de trabalho com a população local.

    Seja como for, xenofobismo não é um comportamento novo, nem tampouco diz respeito à história dos Estados Unidos e dos países da Europa, apenas. Durante o período imperial, sobretudo, havia no Brasil um forte sentimento xenófobo em relação aos portugueses. Compreender como se deu esse comportamento e analisar a posição assumida pelos cidadãos lusitanos no Novo Continente ajuda a entender melhor esse aspecto importante – porém, nem sempre ressaltado – da história brasileira.

    A Corte no Rio de Janeiro

    É verdade que, como colônia de Portugal, o Brasil sempre foi um dos destinos mais comuns para os portugueses. Contudo, foi com a transferência da Família Real para a América, em 1808, que essa situação se intensificou. Antes de mais nada, porque não foram apenas os membros da realeza lusitana que vieram para o Brasil, mas, sim, a Corte inteira.

    Para se ter a real dimensão do problema, com a transformação do Rio de Janeiro em sede da Corte, a cidade logo aumentou sua população em cerca de 50% – embora, é claro, nem todo esse percentual fosse de portugueses. Ainda assim, os lusitanos que chegaram junto com a Família Real passaram a ocupar postos de poder e privilégio, o que, de certa forma, era natural para quem integrava a Corte.

    Tal situação, de outro lado, contribuiu para alimentar um sentimento contrário aos portugueses. Ou seja, o xenofobismo em relação aos lusitanos. Junto com os membros da Corte, vieram para o Brasil, logo após a transferência da Família Real, muitos comerciantes e funcionários públicos (para preencher os cargos da burocracia estatal) portugueses, reforçando ainda mais a questão xenófoba.

    Posições políticas dos portugueses

    Naturalmente, como cidadãos de Portugal e beneficiários da ordem política estabelecida, os portugueses tendiam a querer manter seu status quo. Por isso, eram comuns as manifestações de apoio ao rei dom João 6° e mesmo a dom Pedro 1°. Este, embora tenha declarado a Independência do Brasil, era português e governou dialogando com seus compatriotas que aqui viviam.

    Em vários momentos da história brasileira, as posições políticas assumidas pelos portugueses os isolaram ainda mais dos brasileiros, acentuando o xenofobismo. Quando o governo de Pedro 1° já estava bastante desgastado, por exemplo, alguns lusitanos decidiram fazer uma manifestação de apoio ao imperador. Nas ruas do Rio de Janeiro, acabaram se enfrentando a pedras e garrafas com brasileiros, na chamada Noite da garrafadas.

    Em 1820, quando teve início em Portugal a Revolução Liberal do Porto, que, entre outras coisas, propôs a recolonização do Brasil (já bastante autônomo naquele momento), muitos portugueses (especialmente os que viviam nas províncias do Norte e Nordeste da colônia) apoiaram uma causa contrária às aspirações autônomas do Brasil.

    Difícil relação com os portugueses

    Em linhas gerais, a relação entre brasileiros e portugueses, ao contrário do que se possa pensar hoje em dia, nem sempre foi tão cordial. Pelo contrário. Em determinados momentos da nossa história, o sentimento xenófobo em relação aos lusitanos se intensificou bastante. Muitas vezes, em razão das posições políticas dos próprios portugueses.

    Exemplo significativo, nesse sentido, foi o apoio de portugueses à restauração – isso é, à volta de dom Pedro 1° ao Brasil, quando o imperador já havia abdicado ao trono.

    Evidentemente, esse é apenas um aspecto da relação entre brasileiros e portugueses e do comportamento destes diante dos interesses próprios do Brasil. Não pode, portanto, ser generalizado a todos os portugueses, sob o risco de desconsiderarmos a complexa rede de interesses que se formou na colônia, especialmente no século 19.

    O que é certo, contudo, é que em diversos momentos daquele período aflorou um xenofobismo bastante acentuado contra os portugueses. Ou pelo menos parte deles.

    *Vitor Amorim de Angelo é historiador, mestre e doutorando em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Carlos.

    http://educacao.uol.com.br/historia-brasil/portugueses-e-brasileiros-relacao-teve-periodos-de-xenofobia.jhtm

  • >DAMÃO A JOIA DA COROA

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    O menos falado pedaço da “Índia portuguesa” é, sem dúvida, Damão. Da sua antiga glória restam dois fortes, impressionantes no tamanho e na preservação, e uma pequena comunidade que mantém algo da cultura portuguesa.

    CARAVELA DE PEDRA

    Não me consola muito saber que os portugueses de quinhentos sofreram ainda mais que eu para chegar a Damão. As viagens para a Índia podiam demorar muitos meses, e Damão fica a Norte de Goa e de Mumbai (antiga Bombaim), pelo que teria de se adicionar mais algum tempo de viagem para lá chegar, fosse por mar ou por terra. Mas ainda hoje é complicado.
    Fachada de um forte português em Damão, Índia
    Fachada de um forte português em Damão, Índia

     

    As adoráveis contradições indianas, que incluem passar de cidades onde qualquer mendigo fala inglês, como Mumbai, para outras onde só sabem a língua local – para além do hindi oficial, creio eu -, fazem com que coisas aparentemente simples, como descobrir de onde partem os transportes, seja um verdadeiro trauma.
    E depois é preciso conseguir apanhar o autocarro certo. Já para não falar da vocação suicida dos condutores, ou do estado dos veículos, verdadeiras sucatas sobre rodas onde se pode escrever o nome no pó dos assentos, e onde a única maneira de marcar lugar é fazer como os locais, e atirar uma criança lá para dentro pela janela quando o autocarro ainda está a entrar no terminal. E depois há a questão de valer a pena ou não.
    Não vim negociar em especiarias nem espalhar a fé cristã, o meu interesse vagueia entre uma espécie de curiosidade histórica, de ver em que se transformou este importante entreposto comercial português do século XVI, e conhecer as particularidades dos pequenos territórios da União Indiana.
    À primeira vista, Damão não é propriamente um lugar bonito. Até chegarmos aos dois fortes: o pequeno, com o cemitério cristão, uma igreja e um campo relvado de futebol para os miúdos; e o grande, junto às muralhas do qual os pescadores trabalham, no meio dos barcos embandeirados.

    A HERANÇA PORTUGUESA EM DAMÃO

    Que estamos na Índia ninguém o pode ignorar. O trânsito ruidoso, abundante e caótico, os cheiros apetitosos da comida e de incenso, o chinfrim de buzinas misturado com música e a confusão de gente nas ruas, não nos deixam imaginar qualquer outro lugar. Muitos homens usam o trajo branco típico do estado do Guzerate, cujo chapelinho lembra os vendedores de gelados de antigamente.
    Pescador numa praia de Damão, Índia
    Pescador numa praia de Damão

     

    O território de Damão é um enclave territorial com apenas trezentos e oitenta quilómetros quadrados e a forma de uma pequena escama, quase imperceptível no imenso mapa da Índia. Mas tem a sua própria assembleia, desde 1987, e as suas leis muito próprias. Uma delas, comum aos outros ex-territórios portugueses, é a permissividade em relação ao álcool.
    Quem chega por terra vindo de algures no Guzerate, estado onde o hinduísmo tem muito peso e onde impera a lei seca, fica logo surpreendido com a abundância de bares. E caso se fique durante um fim-de-semana ou feriado, chega a ser difícil encontrar alojamento na cidade, com centenas de indianos a chegarem de lugares onde as bebidas alcoólicas são proibidas, para passarem uns dias em cheio.
    O rio Daman Ganga divide a cidade em duas: a Norte, Nani Daman, o Pequeno Damão, e do lado oposto, fica o Grande, Moti Daman. Nascida na foz, com vista para o rio e o mar, a cidade tem fartura de água e de pescadores, e o cheiro a peixe sobrepõe-se a todos os outros. Os barcos engalanados com bandeirinhas coloridas, suspensas de uma teia confusa de mastros finos, alinham-se ao longo da tira de areia escura da praia. Alguns pescadores remendam redes, enquanto outros espalham peixes minúsculos numa rampa junto ao areal, para secarem. Algumas estatuetas de deuses, pequenas e tão negras como a areia, jazem por ali, talvez para dar sorte e protecção. Mas o que atrai a atenção de quem chega à costa são os dois fortes portugueses, à sombra dos quais se desenrola a vida quotidiana desta cidade piscatória: frente a frente, de um lado e do outro do rio, o pequeno forte de Nani e o grande de Moti parecem dois gigantescos barcos de pedra, atracados à espera da maré.
    Interior de igreja, Damão, Índia
    Interior de igreja, Damão, Índia

     

    A cidade estende-se do lado do forte mais pequeno, e muitos prédios já o ultrapassam em altura. A cruz e a imagem de S. Jerónimo, que lhe dá o nome, continuam por cima do arco da entrada; lá dentro resta uma igreja – agora usada como escola – e um cemitério cristão. A avaliar pelos polícias, em cujos crachás se lêem nomes como Silva e Pereira, e também pelas meninas que passam de saia e blusa, em vez do sari ou da túnica, mais comuns nas hindus, parte da população parece ter mantido o cristianismo. Alguns ainda dizem mesmo algumas palavras em português, mas não encontrei ninguém que passasse para além dos cumprimentos e de algum vocabulário solto; no entanto, de regresso a Portugal, soube que o português ainda se estuda e que a cidade de Damão celebrou um acordo de geminação com Coimbra.
    A vista sobre Moti Daman e a imensa linha escura do forte, com a sua parede escura coberta de musgo, é impressionante. No arco da entrada, uma velha placa diz-nos que estamos na Rua Martim Afonso, e uma das primeiras casas está assinalada como sendo aquela onde viveu Bocage, tenente da Marinha antes de desertar. A atmosfera torna-se mais arcaica à medida que percorremos a rua central, bem sombreada, onde vamos encontrando edifícios antigos bem portugueses, como o Palácio do Governador ou a igreja do Bom Jesus. Do lado de fora, alguns pescadores limpam os seus barquinhos de aspecto frágil, enquanto outros acartam enormes blocos de gelo pendurados em paus, para conservar o pescado. E tendo como cenário os imponentes fortes portugueses, as actividades habituais do cais parecem fazer parte de um qualquer filme antigo.

     

    PÉROLAS E TÂMARAS

    Desde 1531 que esta área do Golfo de Cambaia, na foz do rio Daman Ganga, funcionava como entreposto comercial. Os fortes portugueses foram construídos em meados no século XVI, e a presença lusa já estava literalmente de pedra e cal em 1559 – mas uma placa na entrada do forte Grande lembra que, antes da conquista portuguesa, existia aqui uma fortificação muçulmana.
    Praia em Damão, Índia
    Praia em Damão, Índia

     

    As fortificações serviam, sobretudo, para defender as mercadorias que por aqui passavam em trânsito, entre o Golfo Pérsico e a costa africana, nomeadamente Mombaça e Mogadíscio. Os ataques tanto podiam vir de terra como do mar, protagonizados pelo sultão de Cambaia, por piratas ou mesmo por “concorrentes”, como os ingleses e os holandeses. O principal comércio era constituído por cavalos persas, aljôfar (pérolas pequenas e irregulares) e tâmaras; o tabaco do Brasil também veio a tornar-se um dos mais importantes bens transaccionados.
    Durante a colonização inglesa, Damão continuou a fazer parte de Portugal quase de forma simbólica, com alguma presença militar a marcar a posse de um território que já não tinha a função e utilidade que teve nos séculos XVI e XVII. Em 1961, catorze anos após a independência, a União Indiana invadiu os três territórios que constituíam a Índia Portuguesa (Goa, Damão e Diu), incorporando-os politicamente no território a que sempre pertenceram.
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  • fetiche >A história de um vocábulo de sete partidas…

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    A história de um vocábulo de sete partidas…
    FETICHE– do fr. Fétiche, der. Do port. Feitiço (Clédat, Brachet, Stappers). G. Viana, Apost.I, 451, Vocabulário, entende que êste galicismo, bem arraigado aliás, deve ser subsituído por manipanso. “Le mot portugais feitiço (forme savante facticio) sest introduit dans le français sous la forme fétiche, et ainsi modifié est revenu dans le vocabulaire portugais, sans faire aucunement disparaître sa forme antérieure (A. Coelho, Romania, 1873, Formesdivergentes des mots portugais). Fernando Ortiz afirma que o vocábulo fétiche foi lançado na circulação pela famosa obra de Ch. De Brosses, Du culte des dieux fétiches ou Parallèle de lancienne religion de l Egypte avec la religion actuelle de Nigritie (1760), em cuja página 18 consta que a origem do português antigo fetiffo (?), da raiz latina fatum. Alega que segundo a Enciclopédia Britânica, o vocábulo já tenha sido usado e explicado pelo holandês Bosman (A new and acurate description of the coast of Guinea, trad. Ingl., Londres, 1721, pgs. 121 e seguintes). Acrescenta ainda que a palavra, escrita ás vezes fetifto e fetiftoes, aparece usada por ingleses no século XVII (The Golden Coast, or a description osf Guinney, anônima, Londres, 1665, pgs. 72, 76, 77, 78, etc).
    Repositório da Universidade de Lisboa http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/3127/2/ulsd60289_td_annexes1.pdf
    Não há vez em que não dê três espirros seguidos ou se me parta uma unha sem razão aparente, que voz condoída me não diga que isso é obra de feitiçaria, bruxedo, feitiço, praga, mau olhado, inveja, quebranto, maldição familiar, etc., que nos dicionários ocupam muitas páginas as explicações para o mesmo malefício. Relativamente a esses fenômenos, considerados muitas vezes “sobrenaturais” , mas que com maior propriedade deviam ser considerados “imaginários” o que me desafia, é entender a possibilidade de alguém crer neles!
    A Portugal coube ser a pátria linguística do “feitiço”. Um certo dia, provavelmente do século XIV, alguém, com imaginação e saber linguístico, tomou o vocábulo latino “factius” [artificial, manufaturado], reformou-o, transformando-o no adjetivo “FEETISSO”, com o mesmo sentido.
    José Pedro Machado(filólogo, arabista: 1914 – 2005), transcreve do Boletim de Segunda Classe da Academia das Ciências de Lisboa o primeiro registo comprovativo da existência do termo: há de ter o dicto sancristam huum cesto grande feitiço em que andem os monges…
    Fenômeno frequente na vida das palavras, o termo evoluiu na forma, semanticamente e nas suas funções, e tornou-se fértil, dando origem, como Feitiço, a FEITICEIRO e FEITIÇARIA, já documentados nos éditos em que, em 1385 e 1405, D. João I proíbe os seus súbditos de “obrar feitiços ou ligamentos ou chamar diabos”.
    A história de FEITIÇO é uma história comum a muitos vocábulos: após dois séculos de vida no país, emigra para França em 1605, sob a forma de FÉTISSO. De França a Inglaterra, um salto sobre o Canal, e FÉTISSO E FÈTISSERO instalam-se, sob a mesma forma, no léxico inglês.
    É correntemente aceite a versão francesa da galicização do termo, que, em 1669, se transformaria em FÉTICHE o qual, por sua vez, emigraria para Inglaterra, que se limitaria a anglicizar-lhe a grafia, para FETISH, e…para Portugal, em 1873.
    Na realidade, outra palavra tinha nascido no léxico português, como no francês e no inglês.
    FETICHE é agora, em português, um objeto a que se presta culto, a que se dedica um interesse obsessivo ou irracional, gerador de atração sexual compulsiva, objeto de perversão sexual.
    Segundo o dicionário francês Petit Robert, porém, FÉTICHE era, já no século XVII, o nome dado pelos brancos aos objetos de culto das civilizações ditas primitivas. E acrescenta: “Em África, objeto animal, vegetal ou mineral com poder sobrenatural, benéfico ou malévolo”.
    Este novo sentido, justificaria a opinião dos que, sem explicações, defendem como origem de FETICHE a Guiné onde FETISSO e FETISSERO, introduzidos no século XV pelos colonizadores portugueses, eram, no século XVII, respetivamente o deus e o sacerdote da religião indígena o que comprovaria que, sem sombra de dúvida, o tão português FEITIÇO é, na verdade, também ele, um vocábulo de sete partidas.
    Adaptado do artigo De Feitiços, feiticeiros e de um vocábulo das sete partidas , de Maria Vila Fabião, in Revista Tempo Livre, nº227, Junho 2011, www.inatel.pt
  • (Re)ler Onésimo Almeida faz bem à alma, onésimo almeida

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    Foi recentemente lançado no mercado português, pela editora Clube do Livro,
    o mais recente livro de Onésimo Almeida, em forma de antologia que reúne,
    num volume de 395 páginas, alguns dos seus melhores textos. Esta é a primeira
    antologia de textos deste prolífico escritor, e ao apostar nesta edição, em
    que o seu autor apenas Onésimo – Português sem Filtro O best of da “escrita onemesiana”

    escreveu uma breve nota prévia, a editora

    proporciona ao público português (e não só) este recomendável best of da “escrita
    onemesiana”. Onésimo Almeida é, indubitavelmente, um dos melhores escritores
    portugueses da atualidade, e é com agrado que os seus ávidos leitores saudarão
    o aparecimento desta antologia.

    Se ler uma obra deste prolífico escritor é já em si um prazer, este é ainda
    maior quando, num único livro estão reunidos algumas das suas melhores
    crónicas, que ele apelida sagazmente de “ensaios em mangas de camisa”. Assim
    sendo, neste volume ora editado, encontramos uma seleção de textos de cinco
    obras suas, a saber Sapa(teia) Americana, Que Nome É Esse, ó Nésimo? – e
    outros advérbios de dúvida, Rio Atlântico, Onze Prozemas (e um final
    merencório), e Aventuras de um Nabogador & outras estórias-em-sanduíche. Os textos selecionados foram dispostos tematicamente nos cinco capítulos que compõem esta portentosa obra, intitulados, respetivamente “Da Portugalite Crónica”,
    “Da Lapa Atlântica”, “Da Margem Luso-Americana do Rio”, “Do Imenso Mar
    Americano” e “Por Esse Mundo em Cata de Sentido”.

    (Re)ler este autor é entrar no seu mundo, composto por vários mundos, o de
    ambas das margens do Rio Atlântico, o do meio deste rio, e de muitos outros.
    Onésimo Almeida é, na verdadeira aceção do termo, um cidadão do mundo, e a
    o (re)lermos os seus textos acompanhamo-lo nas suas viagens por diversos
    quadrantes.
    O seu estilo peculiar de dizer as coisas cativa-nos logo às primeiras
    linhas e à medida que passamos as páginas ficamos literalmente agarrados às suas
    palavras, e queremos ler mais e mais e mais. O humor é uma arma, quando
    utilizado com conta, peso e medida, e este autor sabe utilizá-la, na dose certa,
    com mestria. Ao longo da leitura de algumas destas crónicas damos por nós a
    rir a bandeiras despregadas com o modo pelo qual ele descreve várias
    situações. Mas para além do riso, alguns textos deste autor também nos fazem
    pensar, e muito, ao acompanharmos o seu raciocínio sobre diversos temas, que
    apesar de já terem sido escritos há algum tempo, ainda fazem parte da
    atualidade.
    Este escritor consegue dizer muito em poucas palavras, pois escreve, à boa
    maneira americana, to the point, sem entrar em muitos devaneios nem
    floreados inócuos. E esse facto leva-nos a fruir avidamente os seus textos, que se
    seguem em catadupa.

    Apesar de viver nos Estados Unidos há várias décadas, Onésimo Almeida tem
    os Açores e Portugal no seu coração, mas essa afetividade não o inibe de
    tecer, por vezes, juízos críticos sobre a(s) realidade(s) portuguesas que tão
    bem conhece. No mundo que talvez lhe seja mais familiar, a L(USA)lândia, este
    autor colhe um manancial de histórias e estórias que transcreve para o
    papel de um modo peculiar. Ler os seus textos é ficar a conhecer, de um modo
    realista, os açorianos e o caráter dos homens das ilhas. E também sobre o que
    é ser emigrante, e sofrer com a ausência da terra natal, e das vicissitudes
    que os expatriados têm que lidar no seu quotidiano, no país to Uncle Sam,
    que é mais tio para uns do que outros.

    Ao longo da sua vida de escritor, Onésimo Almeida tem recebido inúmeras
    críticas positivas sobre a sua produção literária, e na parte final desta obra,
    encontramos alguns excertos de comentários aos seus livros de diversos
    autores reputados, a saber, Eugénio Lisboa, Urbano Tavares Rodrigues, Maria
    Alzira Seixo, João de Melo, João Maurício Brás, Fernando Venâncio, Ana Paula
    Coutinho, Ungulani Ba Ka Khosa, George Monteiro, Gabriel Magalhães, David
    Brookshaw, Vamberto Freitas, Francisco Fagundes, Pedro Teixeira Neves e Dinis
    Borges, que vêm confirmar e sublinhar os dotes criativos deste prolífico autor.
    Mas para além destes, esta obra encontra-se ainda enriquecida com um
    Posfácio da autoria de Miguel Real, que traçou uma interessante análise aos textos
    que compõem esta fantástica antologia.

    Diz o autor que “O nome estranha-se. As estórias entranham-se.” E de que
    maneira. Depois de ler este autor ficamos mais ricos, mais cultos, e
    sobretudo mais alegres e bem-dispostos, e nunca esqueceremos as suas narrativas que, à vez, nos alegram, comovem, e educam.

    (Re)ler Onésimo Almeida faz bem à alma, e no estado atual que Portugal
    atravessa, precisamos de algo a que nos agarrar, algo que nos distraia do
    cinzentismo e negativismo que abafa e sufoca o país. (Re)ler Onésimo Almeida não
    será a solução para os nossos problemas atuais, mas com certeza que nos
    dará outro ânimo para enfrentá-los. Aqui fica pois uma sugestão cultural para
    ajudar a combater o nosso triste fado.

  • >A lenda e a história TIMOR LESTE

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    Timor-Leste
    Antes da história, a pré-história e, antes desta, a lenda. Do “avô lafaek” ao período colonial e à independência, numa presença humana com pelo menos 30 mil anos.
    Jun032011

    A lenda e a história

    Escrito por Manuel Rito
    Antes da história, a pré-história e, antes desta, a lenda.

    Lenda

    Em vez de lenda, podemos dizer que é um totemismo que circula nas tradições timorenses sobre as origens de Timor-leste.
    O “totemismo” é uma etiqueta colectiva tribal, que tem um carácter religioso. Um totem é um objecto, animal ou planta a que se presta culto por uma sociedade organizada em torno de um símbolo. Em relação a ele, as coisas são classificadas em sagradas ou profanas.
    É neste sentido que se pode orientar a lenda do “avô lafaek” que circula, entre as populações timorenses. Esta ilha, que tem o formato físico de um crocodilo, terá tido origem num antepassado crocodilo que, de terras distantes, aqui chegou. Transportava em seu dorso um menino que o tinha ajudado em momentos difíceis. Chegado a estas paragens, cansado e com fome, o crocodilo tentou devorar a criança que o tinha ajudado, mas aconselhado pelos outros animais, desistiu e por ali ficou. Quando pensava regressar às origens, sentiu que o corpo se ia imobilizando e se transformava em pedra e terra, crescendo, crescendo cada vez mais, mantendo a mesma forma, até ao tamanho actual.
    Quando foi isto?
    Ninguém pergunta pelo tempo. As pessoas apenas acreditam na mensagem que recebem de seus pais e a vão transmitindo aos descendentes.
    – Toda a gente acredita na mensagem e na veracidade desta lenda.
    a
    Pré-história
    As cavernas de Tutuala, na zona de Lospalos, atestam a existência de timorenses há cerca de 30.000 anos. Alguns vestígios arqueológicos ali encontrados dizem que a primitiva população era composta sobretudo por caçadores e agricultores.
    Está comprovada a existência de um comércio esporádico entre o Timor e a China a partir do século VII, na venda de escravos, cera de abelha e sândalo, que cobria praticamente toda a ilha. Por volta do século XIV, os habitantes de Timor pagavam um imposto ao reino de Java.
    a

    História

    A história de Timor-Leste nasce com a chegada dos portugueses, que levaram, nos mesmos barcos, a Bíblia e os canhões, a fé e o império, a cruz e a espada. Terão chegado entre os anos 1512 e 1515. Solor, Flores e Timor foram provavelmente as primeiras ilhas a ser visitadas pelos portugueses, ao princípio à procura de cera e madeiras de sândalo.
    Trata-se de uma ilha dispersa no oceano de milhares de ilhas da insulíndia e do imenso império português de então.
    Camões fala de Timor: “Ali também Timor, que o lenho manda / Sândalo, salutífero e cheiroso” (X-134-1).
    Em 1595 aparecem na região os holandeses. Os portugueses refugiam-se em Cupão – hoje Kupang – ocidente da ilha, e depois em Lifau (Oe-kusi).
    Em 1651 os holandeses instalam-se definitivamente em Timor Ocidental em troca da soberania de Portugal sobre Solor e flores.
    Na prática, eram os dominicanos que governavam a ilha. Só em 1701 é formalmente criado o cargo de governador de Timor. As autoridades tradicionais são integradas na hierarquia militar portuguesa, atribuindo aos liurais a patente de coronel, aos chefes de suco a de major e aos chefes de aldeia a de capitão.
    No decorrer do século XVIII os holandeses vão empurrando os portugueses para a zona oriental e são obrigados a deslocar a capital de Lifau para Dili, zona da família dos Belos. Em 1702 chegou de Portugal o primeiro governador, e deu-se início à organização colonial do território. No século XIX Timor fica em estado de total abandonado, por falta de missionários e por constante acossamento da Holanda. Em 1859 Portugal entrega Solor e Flores e marcam-se os limites de Timor entre os dois países.
    Em 1912 acontece a mais célebre rebelião no interior da Ilha contra Portugal através do liurai Boaventura Munafahi.
    Só em 1914, a Sentença Arbitral assinada entre Portugal e os Países Baixos terminou com os conflitos entre os dois países, fixando as fronteiras que hoje dividem a ilha, tendo como base as duas grandes famílias, Bakenos (a oeste) e Belos (a leste).
    Em 1930 Salazar transforma Timor num local de degredo destinado os opositores do regime.
    Entretanto as forças japonesas entraram em Timor-Leste em Fevereiro de 1942 para expulsar as forças australianas que tinham ocupado o território em Dezembro de 1941. Os Aliados (australianos e holandeses) enfrentaram as forças japonesas, a fim de evitar que, a partir de Timor, pudessem passar à Austrália. Muitos timorenses deram a vida lutando ao lado dos Aliados, entre os quais se destacou um célebre régulo Dom Aleixo.
    Em 1945, a Administração Portuguesa foi restaurada em Timor. Seguiu-se um período de quase três décadas em que não se manifestaram movimentos rebeldes ou independentistas.
    As guerras (anos 1960) nas colónias africanas não encontraram eco na longínqua Timor. A razão para a ausência de sentimentos independentistas poderá residir no facto de o domínio português ter funcionado, ao longo de séculos, como defensor da identidade étnica, cultural e política da região face aos vários expansionismos em acção na Insulíndia; além disso, a presença portuguesa não assumiu um carácter de excessiva exploração económica, visto que a precária economia timorense era dominada por uma pequena burguesia de origem chinesa.
    Conhecido no passado como “Timor Português”, foi colónia portuguesa até 1975. A 28 de Novembro de 1975, depois de uma curta guerra civil, foi proclamada a independência da República Democrática de Timor-Leste. Imediatamente a 7 de Dezembro foi invadida pela Indonésia. Oficialmente, as Nações Unidas continuaram a considerar o território como português até 1999. Foi, porém, anexado pela Indonésia e contado como a sua 27.ª província com o nome de “Timor Timur”.
    Durante 24 anos Timor mergulhou na violência fratricida e o último governador português, Mário Lemos Pires, sem orientações de Lisboa e sem forças militares suficientes abandonou a capital e refugiou-se na ilha de Ataúro. A Indonésia justificou a invasão alegando a defesa contra o comunismo, o que lhe garantiu apoio do governo dos EUA e da Austrália, entre outros, mas que não impediu a sua condenação pela Comunidade Internacional.
    À invasão indonésia seguiu-se uma das maiores tragédias do pós II Guerra Mundial. Calculam-se em duzentas mil as vítimas de combates e chacinas. A população rural, nas áreas da guerrilha, era concentrada em “aldeias” indonésias.
    Simultaneamente, tentou-se integrar Timor na Indonésia tanto no plano cultural (proibição do ensino do português e a islamização), como no plano demográfico (javanização) quer ainda no plano político (integração de Timor na Indonésia como sua 27ª província). Acrescenta-se ainda a exploração das riquezas naturais através de um acordo com a Austrália para explorar o petróleo no Mar de Timor.
    No terreno, a guerrilha não se rendeu, embora com escassos recursos materiais, humanos e financeiros e apesar de ter sofrido pesados desaires, como a deserção de dirigentes e a perda de outros, pela morte em combate de Nicolau Lobato ou por detenção de Xanana Gusmão. Embora reduzida a umas escassas centenas de homens mal armados e isolados, conseguiu, ultimamente, alargar a sua luta ao meio urbano e manter no exterior uma permanente luta diplomática, através de Ramos Horta e, em muitas circunstâncias, com o apoio da Igreja Católica local, liderada por D. Carlos Ximenes Belo, bispo de Díli.
    – Devido à tragédia do cemitério de Santa Cruz, à crise económica da Indonésia e à atribuição do Prémio Nobel a dois timor’oan, em 30 de Agosto de 1999, os timorenses, na sequência de um referendo promovido pelas Nações Unidas, votaram por esmagadora maioria pela independência, pondo fim a 24 anos de ocupação indonésia.
    Em 20 de Maio de 2002 a independência foi restaurada e as Nações Unidas entregaram o poder ao primeiro Governo Constitucional de Timor-Leste.
  • >Mirandês vai ter primeiro romance histórico

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    Mirandês vai ter primeiro romance histórico

    No dia 10 de Junho é lançado em Bragança o primeiro romance escrito em mirandês, a segunda língua oficial reconhecida em Portugal. «La Bouba de La Tenerie» é um livro da autoria de Amadeu Ferreira, especialista na língua falada no norte transmontano.
    O romance vai ter também uma versão em português, intitulada «Tempo de Fogo». Amadeu Ferreira utiliza o pseudónimo Francisco Niebro para assinar ambas as edições daquele que é o primeiro romance escrito em mirandês.
    As obras são baseadas em «factos históricos» e a acção decorre no «berço» da língua mirandesa, retratando o «ambiente sufocante que se viveu nas aldeias desta região durante a inquisição», contou.
    Segundo Amadeu Ferreira, este romance histórico passa-se no ano de 1619 e a acção centra-se, sobretudo na agora vila de Sendim, tendo como personagem principal um frade homossexual queimado pela inquisição.
    O nome do personagem principal é ficcionado, assim como muito do enredo que, no entanto relata também factos e personagens reais da época que o autor descobriu numa investigação que precedeu a escrita a documentos históricos, nomeadamente na Torre do Tombo.
    Amadeu Ferreira começou a escrever em «2002/2003» e a obra ficou pronta no verão de 2009.
    A particularidade é que o original foi escrito em mirandês e a versão portuguesa surgiu do desafio lançado ao autor pela editora Âncora, que publica agora as duas versões.
    Este é o primeiro romance escrito originalmente em mirandês depois das várias traduções que Amadeu Ferreira tem feito, nos últimos anos, de obras conhecidas como as histórias do Astérix ou os Lusíadas de Luís Vaz de Camões.
    Jurista de formação, Amadeu Ferreira é natural de Sendim, Miranda do Douro, e tem-se destacado como estudioso e impulsionador do mirandês, apesar de desenvolver a sua actividade em Lisboa na Faculdade de Direito e na vice-presidência da CMVM, a Comissão de Mercados de Valores Mobiliários.
    A apresentação do romance «duplo» será feita por Teresa Martins Marques, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, e Alfredo Cameirão, escritor mirandês e professor do ensino secundário.

    A cerimónia terá lugar dia 10 de Junho no Centro Cultural Adriano Moreira, em Bragança, em contará com o apoio da Academia de Letras de Trás-os-Montes e da Câmara Municipal local.

    Fonte: Café Portugal