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  • JOSE LUIS PEIXOTO Portugal, o país do sol morninho junho 2013

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    • Em junho, a convite do Le Monde Diplomatique, escrevi este texto para a secção “Un écrivain, un pays”. Penso que continua actual. Ler aqui o original português:http://pt.mondediplo.com/spip.php?article966

      Um escritor, um país

      Portugal, o país do sol morninho

      (arquivo: Junho de 2013)

      por José Luís Peixoto

      Passagem do tempo de trabalho de 35 para 40 horas, aumento da idade de reforma, diminuição das pensões, despedimentos na função pública… Com o novo plano de austeridade aprovado no passado dia 12 de Maio, Portugal prossegue a sua descida aos infernos. Os seus habitantes, os que partem e os que ficam, fazem o luto dos seus sonhos de futuro.

       

      Lisboa. O sol entra pela janela atrás de mim. Enche a sala inteira. Uma parte dessa luz pousa sobre o ecrã do computador onde escrevo. Debaixo da claridade, as palavras vão-se acrescentando a essa palidez, uma a uma, como se contribuíssem para a sua erosão.

      Nas conversas correntes, este é o sol que se aponta como uma das principais qualidades de Portugal. Normalmente, a estrutura desse discurso é: as pessoas só vêem o lado negativo das coisas, esquecem-se de valorizar o que dão como adquirido, que é o mais simples e que, no fundo, é o mais importante. Exemplo: o sol.

      Esta linha meteorológica de argumentação surge quase sempre como reacção aos noticiários. Nessas horas, falar do sol é um escape, uma defesa. Os portugueses estão traumatizados com os noticiários. Hoje, já podia haver uma palavra na língua portuguesa que caracterizasse especificamente a neura com que se fica depois de assistir aos noticiários. Se inventámos a palavra «saudade» para falar de um tipo particular de melancolia, já podíamos ter encontrado um termo que nomeasse esse mal-estar mal-humorado.

      Mas o sol também pode ser uma espécie de consolo. Quando se recebe a notícia de alguém que emigrou para o Reino Unido ou para a Suíça, uma das possibilidades estereotipadas de resposta é: «aposto que lá não têm este sol». Essa resposta permite um instante de ligeireza, um pequeno descanso. Por enquanto, ainda ninguém acredita que o governo chegue a privatizar o sol. Mas nunca se sabe.

      No Facebook, são muitos os que se queixam do primeiro Inverno passado em países com neve. Às vezes, nos comentários, têm a resposta de outros que foram para o Rio de Janeiro e que se queixam do Verão abafado, mais de trinta e cinco graus. Esse lugar-comum da globalização poderá ficar completo com a frase de algum ex-colega de universidade sobre as temperaturas em Luanda [1]. Nesse caso, os hipotéticos utilizadores do Facebook no Brasil e em Angola estariam a seguir o conselho do actual primeiro-ministro português que, há dois anos, sugeriu aos professores a emigração, justamente para esses países. Mas, quer se tenham exilado num país quente ou num país frio, todos estariam a contribuir para o orgulho do ex-ministro dos Assuntos Parlamentares que, transmitido em todos os noticiários, se mostrou satisfeito com a nova vaga de emigração portuguesa, tendo ficado muito impressionado com nível de educação desses novos emigrantes.

      Mais do que possa parecer à primeira vista, essas declarações encerram uma importante mudança de paradigma em relação à identidade nacional. Até aqui, em Portugal, «emigração» tinha um significado muito preciso, carregado de símbolos. Quando alguém mencionava essa palavra, referia-se principalmente a uma multidão de centenas de milhares de pessoas que saíram do país nos anos sessenta e setenta. Empurrados pela miséria da ditadura salazarista e pela guerra colonial, uma grande parte desses indivíduos atravessavam as fronteiras ilegalmente e quando chegavam a França era como se aterrassem no planeta Marte. Com muito pouca educação, os homens trabalhavam na construção civil e as mulheres faziam limpezas em casas privadas ou eram porteiras de prédios.

      A entrada para a União Europeia

      Se tivesse de escolher uma data, diria que a entrada para a União Europeia, em 1986, foi o momento em que se começou a tentar apagar essa emigração da imagem do país. A ideia de que já não éramos esse Portugal foi vendida com a entrada de dinheiro de Bruxelas e com a menor dependência das remessas dos emigrantes. Esse discurso vinha de encontro ao sentimento que os portugueses que não saíram do país mantinham em relação aos seus compatriotas emigrados. Especulando no domínio da psicologia social, diria que se tratava de uma espécie de inveja/vergonha: inveja dos carros e de outros objectos brilhantes que os emigrantes exibiam nas férias de Agosto; vergonha da baixa educação e daquilo que isso poderia dizer sobre si próprios. No fundo, vergonha de si próprios: um sentimento que muitos portugueses mantêm e alimentam.

      A este nível, após mais de duas décadas de rejeição e desprezo cultural em relação à emigração portuguesa, as declarações do ex-ministro dos Assuntos Parlamentares vêm dizer que esta emigração é muito diferente da outra. Nada de confusões com esse passado incómodo. Esta emigração, afinal, até deve ser motivo de orgulho. Essa é a mudança de paradigma a que me refiro.

      Não há dúvida de que a realidade é hoje bastante diferente daquilo que foram os anos sessenta e setenta. Hoje, as declarações do ex-ministro, bem como todas as críticas que espoletaram, foram bem noticiadas nos jornais, nas rádios e nas televisões. Nessas redacções, uma grande parte dessas notícias foram escritas por estagiários. Jovens licenciados, muito provavelmente a estagiar pela segunda ou pela terceira vez. No jornalismo, como em várias outras áreas profissionais, a quase exclusividade dos trabalhadores com menos de trinta anos são estagiários. Não têm qualquer remuneração, mas alimentam a esperança cega de virem a conseguir um contrato. Esquecem-se talvez de que, com contrato, teriam de receber salário. Não há falta de candidatos a estágio e, por isso, existe a impressão de que estagiar sem salário não é mau de todo. Pelo menos, tem-se resposta a dar quando alguém pergunta o que se está a fazer.

      Além disso, enquanto se está a estagiar num jornal, não se está a atender telefones num call center ou a atender clientes com o uniforme de uma multinacional de comida rápida. No contexto actual, depois de se estudar dezasseis anos, de se terminar uma licenciatura ou mesmo uma pós-graduação, fazer gratuitamente o trabalho que os profissionais mais estabelecidos não querem fazer é visto como uma possibilidade digna.

      Estes detalhes, como o sol, ajudam a suportar a tal neura pós-noticiários. Não é fácil. A tempestade de más notícias é constante. O paralelismo meteorológico seria um Inverno com a duração de anos, sem descanso. Às vezes, nos noticiários, há reportagens que tentam explicar alguns conceitos económicos aos cidadãos comuns. Então, com gráficos coloridos, explica-se a dívida ou repetem-se números, como os milhares de milhões de euros que o governo já gastou com a banca.

      Há aqueles que ouvem com atenção e que sentem a indignação a transformar-se rapidamente em impotência. Milhares de milhões de euros são muito pesados sobre os ombros de alguém sentado no sofá da sala, a ver televisão. E há também aqueles que já não ouvem. «Crise», «austeridade» são palavras que sinalizam os momentos em que aquilo que se está a dizer se transforma em ruído estático.

      Todos os dias há números novos a carregarem essas palavras, «crise», «austeridade». Há alguns tempos, chegaram os números da emigração. Os números oficiais e indiscutíveis, certificados pelo Instituto Nacional de Estatística. Essas entidades, já se sabe, têm sempre um ligeiro atraso; por isso, apresentaram agora os números de 2011. Ficou então comprovado pela ciência da estatística aquilo que já era do conhecimento público: a emigração cresceu 85% em relação ao ano anterior. A maioria desses emigrantes tinha entre 25 e 29 anos, mas também havia um número significativo de crianças e de adolescentes. O número de licenciados a emigrar aumentou 49,5% entre 2009 e 2011. 49,5%, como naquelas promoções em que o preço é 99,5 euros para não parecer tão caro.

      Números. Toda a gente já sabia que não há lugar em Portugal para a maioria dos recém-licenciados. Principalmente os próprios estudantes, a tirarem apontamentos para exames acerca de assuntos que, com muita probabilidade, não farão parte do seu quotidiano profissional. Se gostarem de literatura e tiverem sorte, pode ser que cheguem a arrumar livros numa cadeia de livrarias. Se gostarem de moda e tiverem sorte, pode ser que cheguem a distribuir fichas nos provadores de uma loja de roupas. Além disso, ouve-se dizer que, no Brasil, há boas oportunidades para arquitectos. Na Alemanha, precisam de enfermeiros, pagam bem e até dão aulas de alemão.

      Em alguns momentos, estupidamente, tentou transformar-se esta questão numa conflito geracional. Chamaram «mimados» a estes jovens, descreveram as dificuldades das gerações anteriores, quiseram comparar os obstáculos que se colocaram a uns e a outros. Os mais velhos vieram dizer que no seu tempo era pior. Os mais novos escreveram nas paredes que agora é que é pior. Não se chegou a nenhuma conclusão. Nesse debate, ficaram em silêncio os mais velhos que assistem de perto e que sofrem com as dificuldades dos seus próprios filhos e netos. E, também, ficaram em silêncio os mais jovens a quem custa ser um peso para os pais e avós. Nenhuma geração é estanque.

      É preciso dizer alguma coisa

      É preciso dizer alguma coisa. Em Setembro do ano passado, um oceano de milhares de pessoas encheu as ruas das principais cidades. E, este ano, no mês de Março, Portugal teve as suas maiores manifestações desde a revolução de 1974. As multidões precisavam de falar, como se estivessem quase a asfixiar e respirassem palavras. Cada indivíduo dessas multidões precisava de falar, o Facebook deixou de ser suficiente. Por isso, cada um trouxe o seu cartaz feito de casa. Muitas vezes, com insultos: expressão máxima da frustração perante a verborreia. Perante todos os argumentos, bem articulados, sem hesitações, apenas insultos simples: ladrões.

      Esses insultos nasceram de algo muito fundo, acumulado todos os dias ao longo dos últimos anos. Noticiários sucessivos e aquela sensação de neura com que se fica todos os dias, todos os dias, acumulada. A sensação de que pode sempre piorar e de que vai piorar.

      É preciso fazer alguma coisa: nem que seja ir para Londres, dividir um quarto com um amigo, trabalhar num bar; nem que seja ir para o Luxemburgo, viver provisoriamente com os tios da namorada, trabalhar numa fábrica ou na construção civil, exactamente como os emigrantes dos anos sessenta. Aliás, apesar de o novo estereótipo afirmar que a actual emigração portuguesa é constituída apenas de trabalhadores altamente qualificados, a verdade é que também é feita de muitos com pouca educação e de outros que, mesmo emigrando, acabam por se ter de conformar com empregos muito abaixo das suas qualificações.

      O desafio que se coloca aos jovens portugueses não é evidente. A razão principal dessa dificuldade tem a ver com o facto de serem muitos e de cada um deles acreditar em ambições próprias. Entre esses, são poucos os que sonharam com um trabalho repetitivo, pouco desafiante, mal remunerado e de total precariedade. Actualmente, em Portugal, estabilidade profissional para um jovem com menos de trinta anos significa um contrato de seis meses. Aos outros resta o desemprego ou uma existência feita de «recibos verdes» [2], sem qualquer vínculo com a entidade patronal.

      Não apresento percentagens, estou cansado de percentagens como quase todos neste país. Refiro-me aos jovens com menos de trinta anos mas poderia, facilmente, subir a referência até faixas etárias mais altas. A instabilidade é a mesma. Às vezes, ouço pessoas a defenderem que todos suportariam melhor esta situação se nunca tivessem tido a oportunidade de ambicionar outro futuro, se não tivessem passado anos a acreditar que seriam designers ou professores de Filosofia. Que raciocínio triste. Poderá chamar-se «vida» à passagem do tempo se não tiver sonho, desejo, ambição?

      Muito indirectamente, numa coisa, o ministro tem razão. Enquanto portugueses, devemos ter orgulho nos nossos compatriotas que procuram uma vida melhor fora de Portugal. Ao fazê-lo, demonstram coragem e uma série de qualidades que caracterizam este povo naquilo que tem de melhor. Mas, acrescento, esse orgulho é o exactamente o mesmo que devemos àqueles que tiveram de abandonar o país nos anos sessenta e setenta. Ao fazê-lo, demonstraram essas mesmas qualidades. Sei do que falo. Sou o filho orgulhoso de um pedreiro e de uma empregada doméstica dos subúrbios de Paris.

      Portugal é um país envelhecido que, ainda assim, assiste à partida dos seus jovens. O sol entra pela janela atrás de mim. Enche esta sala onde estou. As palavras, como o país inteiro, cansam-se debaixo desta claridade. Há momentos em que as próprias palavras parecem querer desistir. E sentimo-nos derrotados por algo que nunca chegámos a conhecer. Damos-lhe um rosto que inventámos a partir do nosso próprio medo. É preciso fazer alguma coisa. É preciso fazer alguma coisa neste país. O toque ameno do sol é um fraco consolo, não é suficiente para compensar toda a esperança que nos falta.

      JOSÉ LUÍS PEIXOTO *

      * Escritor. Autor, entre outras obras, de Livro, Quetzal, Lisboa, 2010.

      quinta-feira 2 de Janeiro de 2014

      Notas

      [1] Ler Augusta Conchiglia, «Angola socorre Portugal», Le Monde diplomatique – edição portuguesa, Maio de 2012.

      [2] Os pagamentos em recibos verdes, que não permitem quaisquer direitos, são feitos de forma maciça. Ler Marie-Line Darcy e Gwenaëlle Lenoir, «Em Portugal, os “recibos verdes” são o rosto da precariedade», Le Monde diplomatique – edição portuguesa, Janeiro de 2011.

    • Em junho, a convite do Le Monde Diplomatique, escrevi este texto para a secção “Un écrivain, un pays”. Penso que continua actual. Ler aqui o original português:http://pt.mondediplo.com/spip.php?article966
      Ou ler aqui a tradução francesa:

    (mais…)

  • TUGU-indonesia-vinho-e-cancoes-portuguesas-nas-tradicoes-de-ano-novo-dos-tugu-

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    https://www.tsf.pt/vida/interior/indonesia-vinho-e-cancoes-portuguesas-nas-tradicoes-de-ano-novo-dos-tugu-3611206.html
    Indonésia: vinho e canções portuguesas nas tradições de Ano Novo dos Tugu – TSF
    tsf.pt
    Na Indonésia, os Tugú visitam a família e os amigos e pedem perdão nas últimas horas da passagem do ano. Apesar de estarem no maior país muçulmano do mundo, eles cruzam tradições e comida muçulmana com vinh
  • pico FOTO AÉREA 2013

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    Sexta-feira, 27 de Dezembro de 2013

    SOCIEDADE | Fotografia aérea mostra perspectiva interessante do Pico

    O Pico nunca se exime de proporcionar aos fotógrafos, sejam profissionais ou amadores, momentos inéditos e, senão inéditos, quase sempre deslumbrantes

    A «meia broa», troço de mar entre os ilhéus e o porto da Madalena, vista de um ângulo raro, pela objetiva de José Leonildo Dias

    Nesta fotografia de José Leonildo Dias, publicada hoje no Facebook, pode ver-se, de um ângulo só acessível a quem viaja de avião, no caso um “regresso de Lisboa”, a “meia broa”, troço de mar com pouco mais de um quarto de milha, entre os ilhéus e o Porto da Madalena, que foi, em dias de mar do Norte, um desafio aos antigos mestres das velhas lanchas do Pico e continua a ser, hoje, um quebra-cabeças dos que governam embarcações com destino à vila da “fronteira”, apesar de os meios de navegação já serem outros.

    Bem vísivel está também o quebra-mar que faz parte da requalificação em curso do principal porto da ilha do Pico, escala incontornável do Triângulo e uma das mais apreciadas portas de entrada – porque se entreabre perante a montanha mais alta de Portugal – de quantas dão acesso às ilhas do arquiélago açoriano.

  • poesia ONDJAKI

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    “Talvez o princípio fosse a chuva assim descendo sobre a terra para a cobrir de lama fértil e cogumelos. A chuva costuma anunciar-se de longe e avança sobre a distância ligando o chão gretado da seca e dos tempos. A chuva sara o próprio ar e é mãe, pai, tecto, templo para todos os viventes grandes e pequenos. Cai sobre a terra ávida vinda não se sabe bem de onde e lambe-lhe as cicatrizes até criar vida de novo a cada ciclo de vento e terra.
    De onde eu venho a chuva usa uma voz fininha para falar uma língua de sopros, rente-ao-chão e faz crescer com a lava dessa voz o mundo em volta. Os miúdos aprendem cedo a conhecer os sons da fala, a forma como muda na dobra do vento. (…)”
    … [paula tavares, “como veias finas na terra”, ed. Caminho, p.30]
    Ondjaki Ondjaki isto, sim, é poesia. em força. (está disponível em portugal, pela Caminho. no brasil, saiu pela PALLAS, que reúne a obra completa da autora.)
    • Ondjaki Ondjaki isto, sim, é poesia. em força. (está disponível em portugal, pela Caminho. no brasil, saiu pela PALLAS, que reúne a obra completa da autora.)
  • RAFAEL FRAGA E ZECA MEDEIROS

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    Canção do Medo (José Medeiros | arranged by Rafael Fraga) http://t.co/X3Ju1fQQ19 via @youtube

    25 Anos de música original nos Açores – 2010 CD/DVD pack | music recorded at Teatro Micaelense, Azores (Portugal) Track: Canção do Medo

    Minela e Zeca Medeiros – “Bons olhos te vejam” do disco “cinefilias e outras incertezas”

     

    Música e letra: José Medeiros Arranjo de Ricardo J.Dias António Pinto: Guitarra de 12 cordas Marino de Freitas: Baixo acústico ..

    25 Anos de música Original nos Açores: Bailado da Garça (José Medeiros | arranged by Rafael Fraga): http://t.co/X5plpNphnA via @youtube

     

    Bailado da Garça (José Medeiros | arranged by Rafael Fraga) https://www.youtube.com/watch?v=BgfdxQDg_Ag

     

    25 Anos de música original nos Açores – 2010 CD/DVD pack | music recorded at Teatro Micaelense, Azores (Portugal)

  • DAR O PITO – tradições (vila real – de trás-os-montes)

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    DIA DE DAR O PITO

    …a tradição assim o manda em Vila Real…
    Dia 13 de Dezembro, dia de Santa Luzia é dia de dar o Pito … a tradição assim o manda em Vila Real!!!!

    E assim reza a história:

    “Conta-se que os pitos de Santa Luzia foram inventados por Ermelinda Correia, que veio a ser mais tarde a Irmã Imaculada de Jesus. Esta rapariga tinha um defeito: era muito gulosa. Este facto obrigou os seus pais a enclausurarem-na no convento de Santa Clara, na esperança de transformar o pecado em virtude.

    A Irmã Imaculada tornou-se devota de Santa Luzia, padroeira dos cegos e das coisas da vista. Um certo dia estava a irmã aplicar os curativos nos seus doentes (feridas, contusões e inchaços nos olhos), com uns pachos de linhaça, que eram uns quadrados de pano cru onde se colocava a papa, dobrando as pontas para o centro para não verter a poção – usados como pensos para os ferimentos, quando de repente teve uma visão.

    Correu para a cozinha e fez a massa de farinha e água e cortou-a em pequenos quadrados. Tinha consigo o cibo do açúcar que lhe cabia na ração, e fez uma compota de abóbora. À imagem dos pachos dobrou a massa por cima da compota e levou ao forno a cozer. A seguir despachou-se a escondê-los, pois estava proibida de ser gulosa.

    A caminho cruzou-se com a madre superiora que era cega. A madre perguntou desconfiada, o que leva no tabuleiro, cheirando o perfume adocicado a Irmã Imaculada, apressa-se a responder que são pachos de linhaça para os doentes do dia seguinte.

    À noite na cela, a irmã Imaculada sossegou a alma, e não sequer se sentia culpada, pois sempre ouviu dizer que “do que não se vê, não se peca”.

    DIA DE DAR O PITO ...a tradição assim o manda em Vila Real... Dia 13 de Dezembro, dia de Santa Luzia é dia de dar o Pito ... a tradição assim o manda em Vila Real!!!! E assim reza a história: "Conta-se que os pitos de Santa Luzia foram inventados por Ermelinda Correia, que veio a ser mais tarde a Irmã Imaculada de Jesus. Esta rapariga tinha um defeito: era muito gulosa. Este facto obrigou os seus pais a enclausurarem-na no convento de Santa Clara, na esperança de transformar o pecado em virtude. A Irmã Imaculada tornou-se devota de Santa Luzia, padroeira dos cegos e das coisas da vista. Um certo dia estava a irmã aplicar os curativos nos seus doentes (feridas, contusões e inchaços nos olhos), com uns pachos de linhaça, que eram uns quadrados de pano cru onde se colocava a papa, dobrando as pontas para o centro para não verter a poção - usados como pensos para os ferimentos, quando de repente teve uma visão. Correu para a cozinha e fez a massa de farinha e água e cortou-a em pequenos quadrados. Tinha consigo o cibo do açúcar que lhe cabia na ração, e fez uma compota de abóbora. À imagem dos pachos dobrou a massa por cima da compota e levou ao forno a cozer. A seguir despachou-se a escondê-los, pois estava proibida de ser gulosa. A caminho cruzou-se com a madre superiora que era cega. A madre perguntou desconfiada, o que leva no tabuleiro, cheirando o perfume adocicado a Irmã Imaculada, apressa-se a responder que são pachos de linhaça para os doentes do dia seguinte. À noite na cela, a irmã Imaculada sossegou a alma, e não sequer se sentia culpada, pois sempre ouviu dizer que "do que não se vê, não se peca".
  • NO PICO MANUEL DA COSTA JUNIOR O MÚSICO

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    O DIRETOR DO MUSEU DO PICO E A MÚSICA

  • a língua em Goa

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    https://www.youtube.com/watch?v=bavV-mUBVuc~

     

    Portuguese Goa (Lingua Vida Em Portugues)
    A glimpse into Goa’s Portuguese past and its long forgotten remnant – the Portuguese language. (From the documentary “Língua – Vidas em Português”)
  • O ASSOCIADO DA AICL E MEMBRO DA ABL EVANILDO BECHARA REAGE

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    ABL reage às críticas ao acordo

    Para imortal da Academia, adiamento da obrigatoriedade da reforma ortográfica é “lamentável” e protestos, “inconsistentes”

    Por Evanildo Bechara

     

     

    Volta e meia aparecem críticas – quase sempre tolas ou mal argumentadas – ao acordo ortográfico de 1990. Agora que um inócuo e lamentável decreto, assinado em 27 de dezembro, prorroga até o fim de 2015 o prazo da transição de suas bases no Brasil, acreditamos que aproveitem esses críticos o intervalo para, estudando-as melhor, não lancem tantas injúrias desconexas a um texto preso a uma tradição mais que centenária.
    A lei ortográfica traz a chancela do que de melhor em ciência uma legião de autoridades em filologia portuguesa nos legou de há muito. Eles dotaram nossa língua de um sistema ortográfico convencional tão perfeito quanto possível, diminuindo as dificuldades que a tarefa oferece para harmonizar a história e a pronúncia com a norma escrita.
    Para muitas línguas, como inglês e francês – e, em certa medida, podemos incluir o português lusitano – lembrou Ferdinand de Saussure que a ortografia é mais um disfarce do que uma vestimenta. Esta filiação histórica do acordo devem os críticos levá-la em conta em primeiro lugar: ele não é produto isolado dos princípios formulados por uma plêiade de notáveis que, desde 1885 e, em 1904, com a Ortografia Nacional, de Aniceto dos Reis Gonçalves Viana, lançou os fundamentos de um sistema gráfico, científico e racional, que transmitiu à reforma de 1911 e aos acordos de 1943 e 1945 os fundamentos deste tão injuriado texto que agora defendemos.
    Os autores desta façanha linguística e pedagógica têm sido inúmeros, entre os quais, além de Viana, Carolina Michaëlis de Vasconcelos, José Leite de Vasconcelos, Gonçalves Guimarães, Ribeiro de Vasconcelos, Rebelo Gonçalves, Sousa da Silveira, Daltro Santos, José de Sá Nunes e Antônio Houaiss, os quatro últimos brasileiros.
    Ainda que o novo sistema penda mais para o lusitano de 1945 do que para o brasileiro de 1943, e por isso teremos de alterar mais que eles, o Brasil não mediu esforços em implementar as novas regras, por todas as razões pedagógicas, culturais, políticas e de prestígio internacional de que se reveste este esforço para alcançarmos, todos, a unidade essencial da língua portuguesa, nesta área.

     

    Má interpretação alimenta protesto português
    Leitura duvidosa de artigo do acordo estimula desconfiança lusitana com a reforma, escreve Bechara

    Das críticas à 5ª edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, com o qual a ABL começou a implementar o acordo de 1990, a principal foi que o Volp aplica normas não contempladas no texto da lei. 
    Essas normas, no entanto, estavam presentes ou dentro do espírito que orientou as novas normas, ou de hábitos tradicionais, correntes em Portugal ou no Brasil, existentes nos sistemas de 1943 ou 1945, vigentes na tradição ortográfica e refletidas nos melhores dicionários.
    A primeira desarrazoada censura entre portugueses consiste na denúncia de que a ABL não poderia encetar esta tarefa sem que antes os sete signatários representantes de seus governos não compusessem um vocabulário ortográfico comum, previsto no artigo 2º do texto oficial.

     

    “Artigo 2.º – Os Estados signatários tomarão, através das instituições e órgãos competentes, as providências necessárias com vista à elaboração, até 1.º de janeiro de 1993, de um vocabulário ortográfico comum da língua portuguesa, tão completo quanto desejável e tão normalizador quanto possível, no que se refere às terminologias científicas e técnicas.”

     

    Defender a tese segundo a qual não cabe levar em conta a restrição final do artigo é lançar cruelmente aos redatores a pecha de escritores bisonhos. Todo o texto traz elementos indiscutíveis de que esse entendimento não cabe.
    O artigo 2º se refere a vocabulário diferente daquele preocupado com a linguagem primária, cujo acervo lexical é constituído de vocábulos plurívocos, polissêmicos e estruturáveis. Na realidade, refere-se a vocabulário comum de termos de natureza técnica e científica, cujos integrantes são unívocos e refratáveis à estruturação.
    O início do artigo, por sua vez, não se refere a “técnicos” de linguagem que, pela vida fora, têm composto as bases normativas e os vocabulários acadêmicos em Portugal e no Brasil; refere-se a “instituições e órgãos competentes” de natureza técnica e científica, convocados para a tarefa de aproximar os termos técnicos e científicos correntes em tão largo espaço geográfico e cultural da língua. (E.B.)

     

  • Escravos e Traficantes no Império Português

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    Lê? Escravos e Traficantes no Império Português
    Escravos e Traficantes no Império Português

    Título:Escravos e Traficantes no Império Português
    O comércio negreiro português no Atlântico durante os séculos XV a XIX

    Escravos e Traficantes no Império Português

    Coleção: História Divulgativa

    Nr de páginas:
    +/- 376 + 16 Extratextos

    ISBN:978-989-626-478-9

    Formato:16 x 23,5 x 2,0

    Encadernação: Brochada

    Editora : A Esfera dos Livros

    SOBRE O AUTOR
    Arlindo Manuel Caldeira, licenciado em História, é investigador do Centro de História de Além-Mar (Universidade Nova de Lisboa). A sua principal área de pesquisa é a História de África (particularmente Angola e golfo da Guiné), sobre a qual tem publicado vários livros e dezenas de artigos.

    “Escravos e Traficantes no Império Português, O comércio negreiro português no Atlântico durante os séculos XV a XIX”, por Arlindo Manuel Caldeira, A Esfera dos Livros, 2013, é um livro admirável, tem por detrás uma exaustiva pesquisa que assegura um retrato abrangente do tráfico de escravos, da sua origem até à sua abolição, no espaço do império português.
    Numa escrita direta, o autor foge de evasivas ou subterfúgios para enquadrar a problemática do negócio dos escravos, explicando que a escravatura estava presente em todas as sociedades africanas antes da chegada dos portugueses, depois dos espanhóis, a seguir dos holandeses, franceses e britânicos. Os africanos não foram vítimas passivas do “infame comércio”. As elites locais participaram conscientemente do negócio, tirando proveito e auferindo lucros significativos. Os colonizadores portugueses nunca estiveram em condições de interferir diretamente nas guerras entre os povos locais. Arlindo Caldeira, se mais necessário fosse, cita os autores que visitaram estes locais e que possuíam conhecimentos seguros sobre as atividades económicas desenvolvidas pelos portugueses. Por exemplo, um importante autor, André Álvares de Almada, no final do século XVI, escreveu que os Mandingas do rio Gâmbia vendiam muitos escravos, “uns obtidos em guerras e juízos mas muitos outros em furtos”; na Guiné, os Bijagós, hábeis marinheiros, realizavam as suas incursões por mar para obterem escravos que depois vendiam aos portugueses. Feito este importante esclarecimento sobre matéria que ainda paira, qual fantasma traumático, sobre muitas consciências, traça um correto enquadramento das principais áreas de resgate: Arguim, os “rios da Guiné”, São Jorge da Mina, o reino do Congo e Angola. Dá para perceber que a rota estratégica para as Américas partia do golfo da Guiné e Angola foi o fornecedor crucial.
    O historiador tem uma comunicação persuasiva, qualquer relato prende o menos iniciado nesta vertente da História. Por exemplo, o capítulo “A Difícil Travessia” é palpitante, clarifica o transporte dos escravos do interior do continente para a costa, descreve as mercadorias que serviam de moeda de troca: os escravos eram comprados com algodões indianos, bebidas alcoólicas, tecidos, argolas de metal, noz-de-cola, armas, cavalos. São invocados testemunhos sobre a amputação de uma mão aos escravos que morriam, como testemunho a dar ao patrão. Temos aqui todas as peripécias antes do embarque, no momento da partida, durante a viagem, a sobrecarga dos navios, as condições a bordo, a gravíssima questão da água, a alimentação e até a sexualidade a bordo.
    E depois documenta-se o comércio propriamente dito, com os seus lucros e perdas. O autor desmonta uma ideia feita acerca da elevada rentabilidade do comércio negreiro, descreve a evolução da posição do Estado português durante os séculos XV a XIX. Passa em revista a natureza de mercadores, armadores e contratadores, são histórias emocionantes, é fácil perceber que o próprio Santo Ofício se envolvia em questões políticas, perseguia mercadores de escravos e a história de Manuel Batista Peres, um cristão-novo que fez fortuna em Cartagena das Índias, é elucidativa. Afinal, estes negociantes portugueses monopolizavam o comércio dos escravos em prejuízo dos comerciantes espanhóis, era necessário abatê-los. É uma escrita vibrante que toma conta do leitor, seguimos sem desvio de atenção a história de João de Oliveira que foi vendido como escravo e que se tornou senhor de escravos, acompanhamos os negócios de D. José I e família, clero e aristocracia em duas poderosas companhias, a do Grão-Pará e Maranhão e Pernambuco e Paraíba.
    Na segunda parte da obra, dedicada a último século do tráfico de escravos, a prosa emocionante não afrouxa, somos envolvidos na evolução das mentalidades, percebe-se a exigência britânica no abolicionismo, verificamos como o tráfico resistiu muito para além das leis que o interditavam. O historiador escreve mesmo: “Estes últimos negreiros atlânticos canalizam para o Brasil quantidades de mão-de-obra escrava a um ritmo muito acima de qualquer período anterior, empenham recursos técnicos como nunca se vira até aí, obtêm lucros inimagináveis umas décadas antes… E, tudo isto, numa época em que o tráfico de escravos já estava a ser condenado pelos espíritos mais abertos em todo o mundo ocidental e a maior potência da época colocara no Atlântico o melhor da sua Marinha de guerra para impedir o trânsito dos navios negreiros”.
    No século XVIII, as três maiores praças de comércios de escravos no Brasil eram Pernambuco, Baía e Rio de Janeiro. Estes três centros importadores cresceram ao longo desse século e viriam mesmo a tornar-se os principais centros importadores do século XIX. Em 1810, em consequência do tratado luso-britânico de Aliança e Amizade, Portugal aceitou restrições ao tráfico, que demorou algumas décadas a desaparecer. Neste particular, o autor descreve os últimos negreiros, caso de Francisco Félix de Sousa, o Conde de Ferreira e a lendária D. Ana Joaquina, mas regista igualmente D. Maria Correia, Ângelo Lisboa, Arsénio de Carpo e João Francisco de Azevedo Lisboa, conhecido por Azevedinho, entre outros. O Conde de Ferreira continua a ter o seu nome ligado à filantropia, o seu nome consta na fachada de uma rede de escolas e há mesmo no Porto um conhecido hospital psiquiátrico com o seu nome. Quando se abriu o seu testamento, foi uma verdadeira caixa de surpresas, o traficante de escravos e capitalista de sucesso convertia-se num generoso filantropo em hospitais, asilos e outras obras de assistência. O autor recorda também o barão de Água-Izé, tinha propriedades da ilha do Príncipe, investiu na produção de café e mais tarde na cultura do cacau. De premeio, negociava escravos para as suas feitorias em Moçâmedes e S. Tomé e Príncipe.
    escravatura
    Um livre de indiscutível importância, o essencial do tráfico de escravos fica aqui registado em todas as suas vicissitudes. Como o autor observa: “Para a História fica o poder dos números: entre 1450 e 1860 quase treze milhões de africanos foram traficados no lucrativo comércio de escravos do Atlântico. Perto de seis milhões desses escravizados foram transportados em navios com a bandeira de Portugal ou do Brasil”.

     

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