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boa filosofia popular
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quando fui hippie – a velhice é feita de memórias como estas de Bali
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a propósito desta música, dos anos 80, que devem ouvir antes de lerem o resto…
https://www.facebook.com/watch/?v=1790156457663031
recordo a minha estadia por Bali, 1974 e 1975, onde comprei um restaurante, vivi e estive quase a ficar a viver para sempre recordo esta descrição poética
467. bali (fev. 10, 1976) (em anexo)
I
tapem depressa esse sol imenso
apaguem o cinzento em todas as nuvens
consumam o ar respirável e grátis
(se ainda restar)
abatam a machado o castanho
das árvores verdes
drenem rios e mares
se ainda impolutos
nas pradarias plantem de concreto
gaiolas de gente
ocultem céus sob ondas esfumosas e azuláceas
(talvez grisalhas)
embalem-nos com místicas melopeias
estrídulos klaxons e apitos
ultra e infrassons
metálicos
mecânicos
como o homem
cantem do aço as palavras
de titânio
e do urânio façam diálogos atómicos
(sem esquecer plutónio, árgon e os outros)
escavem galerias subterrâneas
labirínticas
por fim
(se houver quem o faça)
semeiem cabeças de mulher
nos caules peciolados
o kif
o hash
o peyote
viagens de mescalina ao centro do mundo[1]
delirem com wakeman
os cogumelos mágicos
gigantes do riso
sem vontade nem siso
sensações novas por inventariar
seis horas sob chuva cósmica
celeste mergulho de cadentes estrelas
mil sóis
o ritmo primário
a cadência beat
memória ancestral
poesia mística de pedras por decifrar
o voo atávico
alento último no suor dos corpos
dança da chuva em trajo de circunstância
vindos de nem-eu-sei donde
marte, talvez
fantasmas antigos
soletram segredos esquecidos
castelos sem tempo
alquimias sem espaço
olhos dilatados nas lonjuras
lágrimas aceradas
espadas de gelo
sem medos
onde o cruzeiro do sul?
perguntam duas virgens
(fiz-me desentendido)
voguei no vento sobre as areias
ali mesmo
caminhámos séculos
até ao fim das bocas
esperma salgado
púbicas efluvescências
II
– Já destruíram a face ao planeta! – exclamo
pássaro algum entoou o cântico da meia-noite
é dia
esquecido de mim
perdido sem lembranças
ou nome
ou nexo
o sexo viril
húmido
pendente
de tuas ancas descarnadas
vagina sem dono
no pomo desta maçã
percorro deltas de fomes infenecidas
farejo bosques que urbe alguma sepultará
cerca da fogueira
teus ossos me ardem
remoçaste um parto louco
sedes irreprimidas
III
ANIMALS!
sussurra incrédulo o gordo careca
agita branco de raiva (ódio?) seu panamá
nasty pigs!
rosna a dona do pekinois rançoso
espojavam-se nas rochas
sem dunas
vasado o sémen no útero peregrino
gemia sussugante wonder alice
nas maravilhas do meu país
nuas órbitas
olhos e phallus
plástico transistor aos sapatos da jovem
sem pés
balinês de nove séculos
bikinis por vender
pele tostada e suja
ávidos de americanos turistas
o pregão infantil
o coloquial regateio do preço
ridiculamente pequeno
dez vezes menor
o exorbitante exagero do trabalho
dez vezes mais gratuito
duas notas de dólar por mil sorrisos
cheias mãos de antiquário
comprador de almas
sem sonhos
IV
longe o surf
o vulcão silente de kintamani
corais
tubarões
pesca artesana
a sombra supersónica dos jumbos
milhares flutuantes
vómito infrene de gente
esvaziar o bojo e (re)partir
busca antiga de sentir novo
despir dos hábitos a gravata
férias sem rosto
historietas futuras
tédio adiado
burguês camuflado às flores
camisa, shorts e soquetes
chapéu de palha e sombrinha
óculos fumados e charuto apagado
embuste inexperienciado
o juro da alienação quotidiana
salário vitalício
a casa
a sagrada família
esta a pausa breve
fotos instantâneas a três cores
souvenirs de imitação
bagagens de bugigangas
gorjetas também.
V
no colmo da cabana o fumo denso
balbuciar desculpas
correr nu pelo palmar
beber o coco e o leite
vegetais
soja
vinho de arroz, chau ming e vantans[6]
ninhos de andorinha
acorda amor!
ácidos paranoicos
cogumelos azuis
tão só para ti
paola
a chinesa nascida em itália
marcello dormia com a heroína
bíblico moisés afagava em tróia
helena
jimmi hendrix em intravenosa experience
bev
a ruiva pintava originais de cetim
dick era ainda um dealer
foragido mas feliz
cérebros vazios
mas cheios
tão cheios
alheios
conversas jamais acabadas
empolgantes
no limiar infinito do genial
corpos balanceando cadenciados
afagos breves
sôfregos e sensuais
bebedeiras de suor sem calendário
cá fora o bailado sagrado de homens deuses
o self stabbing dos kris na carne crua[9]
terrífico ritual sem sangue nem dor
entre o êxtase e o clímax
caiem redondos de morte
atores da vida amadores
sacro licor os eleva de novo
investem frenéticos
descontrolados
oito possantes mãos os sustêm
macabro e belo espetáculo do barong[10]
iniciática peregrinagem
bali – a ilha
banjal tegal-buni o templo
civilização século XI
mescla hindú-nésia
kuta beach a praia
ngaben a cerimónia ao entardecer[11]
liberta do corpo a alma
a procissão
as flores
a grande festa da morte
oferendas na torre crematória
barcos cortejam as cinzas na noite
este o paraíso e já perdido
início?
fim?
viagem louca
a fome gelada de katmandu
o desprezo total em goa
lentos estádios da libertação
ardentes delírios tropicais
desconexa a fluente discursividade
arrastando da febre o esqueleto
comer sem fome
shop-suey
VI
janine a louca se masturba no térreo adobe da prisão
contrabando de narcóticos
denúncia premeditada
despeitado amante javanês
quinze lugares sentados
três os meses em atraso
amigos em trânsito
ávidos dentes nos perama’s cakes[15]
árida sede dos Pernod’s à Poppies[16]
joe cocker era tema no estrado
a dutch princesa olhava altiva
sotaque rolado
juntos entoamos hinos odiosos
à europa distante
brian parodiava liverpool mineiro
chegando bliss e o seu petiz-lord
(made in grosvenor – londres
em buckingham um queer
marido e M.P. [17])
vestia 1920’s com capeline
abominava libras sem ouro
como quem despreza
katut lembrava o mote
alguns saíam em curta trip[18]
“please! no gettin’ loaded on poppies!”[19]
sorriam-me “cum çtáz amigu”
e mais não sabiam
george encolhia ombros
lembrando a posse
resignada e terna joanne
dezoito apenas
brisbane [22]no início
topless e scarf [23]ao vento
rãs coaxavam no lago de nenúfares
ginsberg (alan) incómodo e desconhecido[24]
barry bongo[25] a tiracolo na guitarra
gestos adocicados
lenço cache-nez
púrpura e cetim
barry mckenzie
vinte filmes épicos
dez mil cervejas
uma austrália de compêndio
alice springs e o deserto vermelho[27]
clare declamava shakespeare sem saber
VII
mais tarde houve luar em legian
margret falava de sindicalismo ACTU[28]
éramos como jovens e ingénuos
helen ansiava banguecoque em reforços
vinte quilos de thai
todos pintávamos em silêncio
infernos de dante
o allighieri
viver num losmen[31] é regressar
à amizade original
ao sabor de início de mundo.
VIII
noutra qualquer manhã
domingo
javanese dudes[32] excursionavam
pele alvar
kamera ao peito
flashes ao pôr-do-sol
como japoneses que não eram
anette a vegetariana
fugia da praia
imaginando-me russo branco
num curto intervalo de calendários
amor com caráter de despedida
ao canto chorava um xilo(bambu)fone
uncle sam perdia ao xadrez
desatento espreitava-nos.
IX
quando as chuvas voltaram
fomos a bangli
no sopé do vulcão
o lago e a negra lava
fazia frio
disfarçados de turistas
ma non troppo
ouvíamos um classical[33] tão americano
anti-isto
anti-aquilo
(não mais me falaria
odiava desertores
antes isso!)
lascivo
comia os cabelos encarnados
zanguei natalie f.
um nome francês e sardas verdes
xaile nos ombros nus
unhas lilás e preto
e branco e azul ou
saudades de torremolinos
olé!
julie
hospedeira pan-am
fornicava no lençol de flanela
intenso aroma evolava do chilum[36]
um casal de múmias ocidentais regateava estatuetas falsas
na esquina em frente um teatro de sombras
big fatty mardej mercadejava sarongs[38]
a pequena dayú comia babi kecap[39] em molho doce
karen acenava um adeus
(e do futuro
uma voz gritava
era assim naquele tempo)
amarelecido retrato
tombou a meus pés
incomodado levantei-me
e saí.
[1] Rick Wakeman’s “Voyage to the centre of the earth”
[2]Kecak peça do folclore típico balinês (Bali, Indonésia) pronuncia-se kétchak
[3] woodcarven, arte escultural em madeira talhada e lavrada minuciosamente
batik, tipo de impressão a cores em tecidos, própria de Bali.
[4] espetadinhas de formiga assadas na brasa.
[5] especiaria muito picante à base de piri
[6] chau ming, massa alimentar chinesa, mais fina que esparguete
van tan, folhados fritos, típicos aperitivos chineses
[7] marijuana enrolada em pauzinhos atados e dopada em ópio
[8] diminutivo australiano para biscoitos
[9] Kris – adaga longa e recurvada. self-stabbing – autoflagelação com adaga.
[10] peça do folclore místico de Bali, séc. IX-XII
[11] cremação
[12] gado-gado, pronunciado gádú-gádú, salada vegetal típica da indonésia
[13] shop suey e cap cay (pron. tchá- tchái) comida típica chinesa, pequenos aperitivos feitos de legumes e vegetais em fogo forte.
[14] pronunciado bímo, transporte colectivo: pequena carrinha motorizada, com caixa fechada para passageiros, com capacidade de 6 a 15 pessoas, num espaço mais conducente ao transporte de quatro adultos.
[15] bolos de banana típicos do restaurante Perama.
[16] Poppies, bar mais conhecido e mais internacional de Kuta Beach, Bali, no início da década de 70. Arrasado em 1980 para dar lugar a mais um complexo turístico.
[17] queer – homossexual. M.P. membro do parlamento inglês.
[18] viagem em jargão de droga
[19] por favor não fiquem ‘pedrados’ no poppies.
[20] meat taco, enchilada, pão com carne á moda mexicana
[21] espécie de gelado ou sorvete de ananás
[22] importante urbe na costa nordeste da Austrália, capital do estado da Queenslândia
[23] topless – sem a parte superior (top) do bikini. scarf – lenço para o cabelo, cachecol, véu.
[24] alan ginsberg, poeta norte-americano, controverso e radical, famoso a partir dos anos 50.
[25] personagem típica de filmes australianos da década de 70, personalizando um australiano, mediano, e diferente dos restantes, europeizados.
[26] cabaia típica, originária da índia
[27] única cidade do interior desértico da austrália, no território norte, em pleno grande deserto vermelho.
[28] a central sindical australiana, Australian Confederation of Trade Unions
[29] massa alimentar chinesa, tipo esparguete que pode ser liso e chato ou muito fino, e servido em tipo sopa com vegetais, carne ou mariscos ou como prato principal acompanhado por vegetais, mariscos ou carnes
[30] thai , bob hope, dope – droga, marijuana da tailândia enriquecida com coca, ou mesclada com ópio
[31] losmen, casa comunitária: espaço habitacional aberto onde residiam os turistas mais económicos em bali, na década de 70
[32] saloios da ilha de java.
[33] típico, no pior sentido.
[34] a norte-americana e sul-vietnamita saigão cairia em 1975 nas mãos dos vietcongues, e estava assediada naquela época da guerra
[35] alusão sexual ao filme de marlon brando e maria schneider “o último tango”
[36] cachimbo cónico para fumar marijuana
[37] Eric Clapton “I shot the sheriff” LP 461 Ocean Boulevard
[38] vestido típico, tipo saia indiano e balinês
[39] pronunciado bábi kétchap carne de porco frita
[40] 11 fevereiro 1975, coroação milenária do rei do nepal
— bali (doc word)
I’VE BEEN TO BALI TOO 1974-1975 e o Francisco Sarsfield Cabral tb…
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Always good to remember this tune! good to remember but I was in Bali back in 74 and 75, tooooooo..
I’VE BEEN TO BALI TOOhttps://www.facebook.com/watch/?v=1790156457663031a propósito desta música, dos anos 80, que devem ouvir antes de lerem o resto…
recordo a minha estadia por Bali, 1974 e 1975, onde comprei um restaurante, vivi e estive quase a ficar a viver para sempre recordo esta descrição poética
467. bali (fev. 10, 1976) (em anexo)
I
tapem depressa esse sol imenso
apaguem o cinzento em todas as nuvens
consumam o ar respirável e grátis
(se ainda restar)
abatam a machado o castanho
das árvores verdes
drenem rios e mares
se ainda impolutos
nas pradarias plantem de concreto
gaiolas de gente
ocultem céus sob ondas esfumosas e azuláceas
(talvez grisalhas)
embalem-nos com místicas melopeias
estrídulos klaxons e apitos
ultra e infrassons
metálicos
mecânicos
como o homem
cantem do aço as palavras
de titânio
e do urânio façam diálogos atómicos
(sem esquecer plutónio, árgon e os outros)
escavem galerias subterrâneas
labirínticas
por fim
(se houver quem o faça)
semeiem cabeças de mulher
nos caules peciolados
o kif
o hash
o peyote
viagens de mescalina ao centro do mundo[1]
delirem com wakeman
os cogumelos mágicos
gigantes do riso
sem vontade nem siso
sensações novas por inventariar
seis horas sob chuva cósmica
celeste mergulho de cadentes estrelas
mil sóis
o ritmo primário
a cadência beat
memória ancestral
poesia mística de pedras por decifrar
o voo atávico
alento último no suor dos corpos
dança da chuva em trajo de circunstância
vindos de nem-eu-sei donde
marte, talvez
fantasmas antigos
soletram segredos esquecidos
castelos sem tempo
alquimias sem espaço
olhos dilatados nas lonjuras
lágrimas aceradas
espadas de gelo
sem medos
onde o cruzeiro do sul?
perguntam duas virgens
(fiz-me desentendido)
voguei no vento sobre as areias
ali mesmo
caminhámos séculos
até ao fim das bocas
esperma salgado
púbicas efluvescências
II
– Já destruíram a face ao planeta! – exclamo
pássaro algum entoou o cântico da meia-noite
é dia
esquecido de mim
perdido sem lembranças
ou nome
ou nexo
o sexo viril
húmido
pendente
de tuas ancas descarnadas
vagina sem dono
no pomo desta maçã
percorro deltas de fomes infenecidas
farejo bosques que urbe alguma sepultará
cerca da fogueira
teus ossos me ardem
remoçaste um parto louco
sedes irreprimidas
III
ANIMALS!
sussurra incrédulo o gordo careca
agita branco de raiva (ódio?) seu panamá
nasty pigs!
rosna a dona do pekinois rançoso
espojavam-se nas rochas
sem dunas
vasado o sémen no útero peregrino
gemia sussugante wonder alice
nas maravilhas do meu país
nuas órbitas
olhos e phallus
plástico transistor aos sapatos da jovem
sem pés
balinês de nove séculos
bikinis por vender
pele tostada e suja
ávidos de americanos turistas
o pregão infantil
o coloquial regateio do preço
ridiculamente pequeno
dez vezes menor
o exorbitante exagero do trabalho
dez vezes mais gratuito
duas notas de dólar por mil sorrisos
cheias mãos de antiquário
comprador de almas
sem sonhos
IV
longe o surf
o vulcão silente de kintamani
corais
tubarões
pesca artesana
a sombra supersónica dos jumbos
milhares flutuantes
vómito infrene de gente
esvaziar o bojo e (re)partir
busca antiga de sentir novo
despir dos hábitos a gravata
férias sem rosto
historietas futuras
tédio adiado
burguês camuflado às flores
camisa, shorts e soquetes
chapéu de palha e sombrinha
óculos fumados e charuto apagado
embuste inexperienciado
o juro da alienação quotidiana
salário vitalício
a casa
a sagrada família
esta a pausa breve
fotos instantâneas a três cores
souvenirs de imitação
bagagens de bugigangas
gorjetas também.
V
no colmo da cabana o fumo denso
balbuciar desculpas
correr nu pelo palmar
beber o coco e o leite
vegetais
soja
vinho de arroz, chau ming e vantans[6]
ninhos de andorinha
acorda amor!
ácidos paranoicos
cogumelos azuis
tão só para ti
paola
a chinesa nascida em itália
marcello dormia com a heroína
bíblico moisés afagava em tróia
helena
jimmi hendrix em intravenosa experience
bev
a ruiva pintava originais de cetim
dick era ainda um dealer
foragido mas feliz
cérebros vazios
mas cheios
tão cheios
alheios
conversas jamais acabadas
empolgantes
no limiar infinito do genial
corpos balanceando cadenciados
afagos breves
sôfregos e sensuais
bebedeiras de suor sem calendário
cá fora o bailado sagrado de homens deuses
o self stabbing dos kris na carne crua[9]
terrífico ritual sem sangue nem dor
entre o êxtase e o clímax
caiem redondos de morte
atores da vida amadores
sacro licor os eleva de novo
investem frenéticos
descontrolados
oito possantes mãos os sustêm
macabro e belo espetáculo do barong[10]
iniciática peregrinagem
bali – a ilha
banjal tegal-buni o templo
civilização século XI
mescla hindú-nésia
kuta beach a praia
ngaben a cerimónia ao entardecer[11]
liberta do corpo a alma
a procissão
as flores
a grande festa da morte
oferendas na torre crematória
barcos cortejam as cinzas na noite
este o paraíso e já perdido
início?
fim?
viagem louca
a fome gelada de katmandu
o desprezo total em goa
lentos estádios da libertação
ardentes delírios tropicais
desconexa a fluente discursividade
arrastando da febre o esqueleto
comer sem fome
shop-suey
VI
janine a louca se masturba no térreo adobe da prisão
contrabando de narcóticos
denúncia premeditada
despeitado amante javanês
quinze lugares sentados
três os meses em atraso
amigos em trânsito
ávidos dentes nos perama’s cakes[15]
árida sede dos Pernod’s à Poppies[16]
joe cocker era tema no estrado
a dutch princesa olhava altiva
sotaque rolado
juntos entoamos hinos odiosos
à europa distante
brian parodiava liverpool mineiro
chegando bliss e o seu petiz-lord
(made in grosvenor – londres
em buckingham um queer
marido e M.P. [17])
vestia 1920’s com capeline
abominava libras sem ouro
como quem despreza
katut lembrava o mote
alguns saíam em curta trip[18]
“please! no gettin’ loaded on poppies!”[19]
sorriam-me “cum çtáz amigu”
e mais não sabiam
george encolhia ombros
lembrando a posse
resignada e terna joanne
dezoito apenas
brisbane [22]no início
topless e scarf [23]ao vento
rãs coaxavam no lago de nenúfares
ginsberg (alan) incómodo e desconhecido[24]
barry bongo[25] a tiracolo na guitarra
gestos adocicados
lenço cache-nez
púrpura e cetim
barry mckenzie
vinte filmes épicos
dez mil cervejas
uma austrália de compêndio
alice springs e o deserto vermelho[27]
clare declamava shakespeare sem saber
VII
mais tarde houve luar em legian
margret falava de sindicalismo ACTU[28]
éramos como jovens e ingénuos
helen ansiava banguecoque em reforços
vinte quilos de thai
todos pintávamos em silêncio
infernos de dante
o allighieri
viver num losmen[31] é regressar
à amizade original
ao sabor de início de mundo.
VIII
noutra qualquer manhã
domingo
javanese dudes[32] excursionavam
pele alvar
kamera ao peito
flashes ao pôr-do-sol
como japoneses que não eram
anette a vegetariana
fugia da praia
imaginando-me russo branco
num curto intervalo de calendários
amor com caráter de despedida
ao canto chorava um xilo(bambu)fone
uncle sam perdia ao xadrez
desatento espreitava-nos.
IX
quando as chuvas voltaram
fomos a bangli
no sopé do vulcão
o lago e a negra lava
fazia frio
disfarçados de turistas
ma non troppo
ouvíamos um classical[33] tão americano
anti-isto
anti-aquilo
(não mais me falaria
odiava desertores
antes isso!)
lascivo
comia os cabelos encarnados
zanguei natalie f.
um nome francês e sardas verdes
xaile nos ombros nus
unhas lilás e preto
e branco e azul ou
saudades de torremolinos
olé!
julie
hospedeira pan-am
fornicava no lençol de flanela
intenso aroma evolava do chilum[36]
um casal de múmias ocidentais regateava estatuetas falsas
na esquina em frente um teatro de sombras
big fatty mardej mercadejava sarongs[38]
a pequena dayú comia babi kecap[39] em molho doce
karen acenava um adeus
(e do futuro
uma voz gritava
era assim naquele tempo)
amarelecido retrato
tombou a meus pés
incomodado levantei-me
e saí.
[1] Rick Wakeman’s “Voyage to the centre of the earth”
[2]Kecak peça do folclore típico balinês (Bali, Indonésia) pronuncia-se kétchak
[3] woodcarven, arte escultural em madeira talhada e lavrada minuciosamente
batik, tipo de impressão a cores em tecidos, própria de Bali.
[4] espetadinhas de formiga assadas na brasa.
[5] especiaria muito picante à base de piri
[6] chau ming, massa alimentar chinesa, mais fina que esparguete
van tan, folhados fritos, típicos aperitivos chineses
[7] marijuana enrolada em pauzinhos atados e dopada em ópio
[8] diminutivo australiano para biscoitos
[9] Kris – adaga longa e recurvada. self-stabbing – autoflagelação com adaga.
[10] peça do folclore místico de Bali, séc. IX-XII
[11] cremação
[12] gado-gado, pronunciado gádú-gádú, salada vegetal típica da indonésia
[13] shop suey e cap cay (pron. tchá- tchái) comida típica chinesa, pequenos aperitivos feitos de legumes e vegetais em fogo forte.
[14] pronunciado bímo, transporte colectivo: pequena carrinha motorizada, com caixa fechada para passageiros, com capacidade de 6 a 15 pessoas, num espaço mais conducente ao transporte de quatro adultos.
[15] bolos de banana típicos do restaurante Perama.
[16] Poppies, bar mais conhecido e mais internacional de Kuta Beach, Bali, no início da década de 70. Arrasado em 1980 para dar lugar a mais um complexo turístico.
[17] queer – homossexual. M.P. membro do parlamento inglês.
[18] viagem em jargão de droga
[19] por favor não fiquem ‘pedrados’ no poppies.
[20] meat taco, enchilada, pão com carne á moda mexicana
[21] espécie de gelado ou sorvete de ananás
[22] importante urbe na costa nordeste da Austrália, capital do estado da Queenslândia
[23] topless – sem a parte superior (top) do bikini. scarf – lenço para o cabelo, cachecol, véu.
[24] alan ginsberg, poeta norte-americano, controverso e radical, famoso a partir dos anos 50.
[25] personagem típica de filmes australianos da década de 70, personalizando um australiano, mediano, e diferente dos restantes, europeizados.
[26] cabaia típica, originária da índia
[27] única cidade do interior desértico da austrália, no território norte, em pleno grande deserto vermelho.
[28] a central sindical australiana, Australian Confederation of Trade Unions
[29] massa alimentar chinesa, tipo esparguete que pode ser liso e chato ou muito fino, e servido em tipo sopa com vegetais, carne ou mariscos ou como prato principal acompanhado por vegetais, mariscos ou carnes
[30] thai , bob hope, dope – droga, marijuana da tailândia enriquecida com coca, ou mesclada com ópio
[31] losmen, casa comunitária: espaço habitacional aberto onde residiam os turistas mais económicos em bali, na década de 70
[32] saloios da ilha de java.
[33] típico, no pior sentido.
[34] a norte-americana e sul-vietnamita saigão cairia em 1975 nas mãos dos vietcongues, e estava assediada naquela época da guerra
[35] alusão sexual ao filme de marlon brando e maria schneider “o último tango”
[36] cachimbo cónico para fumar marijuana
[37] Eric Clapton “I shot the sheriff” LP 461 Ocean Boulevard
[38] vestido típico, tipo saia indiano e balinês
[39] pronunciado bábi kétchap carne de porco frita
[40] 11 fevereiro 1975, coroação milenária do rei do nepal
à esqª com o Francisco Sarsfield Cabral …. – Bali (doc word)
(ver memórias em https://blog.lusofonias.net/2019/08/09/a-velhice-e-feita-de-memorias-como-estas-de-bali/
2,840,722 Viewso chef matou a cabra: polémicas vegan e outras (politicamente corretas, claro)
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Joao Paulo Esperanca added 3 comments.
Joao Paulo Esperanca
A malta com os fetiches dos animaizinhos anda cada vez mais alucinada. Alguns só comem erva, outros comem carne mas pensam que esta aparece por geração espontânea nos frigoríficos dos hipermercados, sem que isso envolva a morte de animais.
Do artigo: «(…) também recebeu vários elogios na mesma rede social. ”As cabras são pestes, caçamo-las para comê-las diariamente… elas matam as nossas árvores e arbustos nativos se não matarmos algumas”, diz um fã da Nova Zelândia.(…)»
O cozinheiro está sob fogo cerrado nas redes sociais. Uncharted estreia em Portugal em Agosto.PUBLICO.PTO cozinheiro está sob fogo cerrado nas redes sociais. Uncharted estreia em Portugal em Agosto.A malta com os fetiches dos animaizinhos anda cada vez mais alucinada. Alguns só comem erva, outros comem carne mas pensam que esta aparece por geração espontânea nos frigoríficos dos hipermercados, sem que isso envolva a morte de animais.
Do artigo: «(…) também recebeu vários elogios na mesma rede social. ”As cabras são pestes, caçamo-las para comê-las diariamente… elas matam as nossas árvores e arbustos nativos se não matarmos algumas”, diz um fã da Nova Zelândia.(…)»
ligação aeroporto Ponta Delgada, finalmente
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José Pacheco shared a link to the group: Azores Today.Autocarro vai ligar aeroporto de Ponta Delgada à cidade [Vídeo] | Fonte: RTP Açores (clique neste link para ver o video) ….. < Clique na imagem para ler mais > #azorestoday
AZORESTODAY.COM|BY AZORES TODAYNotícias e eventos diários dos Açores e das Comunidades Açorianas. Daily news and events from the Azores and the Azorean Communities.QUANDO AS MULHERES PRECISAVAM DE AUTORIZAÇÃO PARA SAÍREM DO PAÍS
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Cá por coisas
Desta vez a Clara F. Alves acertou em cheio na mouche! Porque a memória é – muito – importante.É para ler. Mesmo.
“Tão felizes que nós éramos
Anda por aí gente com saudades da velha portugalidade. Saudades do nacionalismo, da fronteira, da ditadura, da guerra, da PIDE, de Caxias e do Tarrafal, das cheias do Tejo e do Douro, da tuberculose infantil, das mulheres mortas no parto, dos soldados com madrinhas de guerra, da guerra com padrinhos políticos, dos caramelos espanhóis, do telefone e da televisão como privilégio, do serviço militar obrigatório, do queres fiado toma, dos denunciantes e informadores e, claro, dessa relíquia estimada que é um aparelho de segurança.Eu não ponho flores neste cemitério.Nesse Portugal toda a gente era pobre com exceção de uma ínfima parte da população, os ricos. No meio havia meia dúzia de burgueses esclarecidos, exilados ou educados no estrangeiro, alguns com apelidos que os protegiam, e havia uma classe indistinta constituída por remediados. Uma pequena burguesia sem poder aquisitivo nem filiação ideológica a rasar o que hoje chamamos linha de pobreza. Neste filme a preto e branco, pintado de cinzento para dar cor, podia observar-se o mundo português continental a partir de uma rua. O resto do mundo não existia, estávamos orgulhosamente sós. Numa rua de cidade havia uma mercearia e uma taberna. Às vezes, uma carvoaria ou uma capelista. A mercearia vendia açúcar e farinha fiados. E o bacalhau. Os clientes pagavam os géneros a prestações e quando recebiam o ordenado. Bifes, peixe fino e fruta eram um luxo.
A fruta vinha da província, onde camponeses de pouca terra praticavam uma agricultura de subsistência e matavam um porco uma vez por ano. Batatas, peras, maçãs, figos na estação, uvas na vindima, ameixas e de vez em quando uns preciosos pêssegos.
As frutas tropicais só existiam nas mercearias de luxo da Baixa. O ananás vinha dos Açores no Natal e era partido em fatias fininhas • para render e encharcado em açúcar e vinho do Porto para render mais. Como não havia educação alimentar e a maioria do povo era analfabeta ou semianalfabeta, comia-se açúcar por tudo e por nada e, nas aldeias, para sossegar as crianças que choravam, dava-se uma chucha embebida em açúcar e vinho. A criança crescia com uma bola de trapos por brinquedo, e com dentes cariados e meia anã por falta de proteínas e de vitaminas. Tinha grande probabilidade de morrer na infância, de uma doença sem vacina ou de um acidente por ignorância e falta de vigilância, como beber lixívia. As mães contavam os filhos vivos e os mortos era normal. Tive dez e morreram-me cinco. A altura média do homem lusitano andava pelo metro e sessenta nos dias bons. Havia raquitismo e poliomielite e o povo morria cedo e sem assistência médica. Na aldeia, um João Semana fazia o favor de ver os doentes pobres sem cobrar, por bom coração. Amortalhado a negro, o povo era bruto e brutal. Os homens embebedavam-se com facilidade e batiam nas mulheres, as mulheres não tinham direitos e vingavam-se com crimes que apareciam nos jornais com o título ‘Mulher Mata Marido com Veneno de Ratos’. A violação era comum, dentro e fora do casamento, o patrão tinha direito de pernada, e no campo, tão idealizado, pais e tios ou irmãos mais velhos violavam as filhas, sobrinhas e irmãs. Era assim como um direito constitucional. Havia filhos bastardos com pais anónimos e mães abandonadas que se convertiam em putas. As filhas excedentárias eram mandadas servir nas cidades. Os filhos estudiosos eram mandados para o seminário. Este sistema de escravatura implicava o apartheid. Os criados nunca dirigiam a palavra aos senhores e viviam pelas traseiras. O trabalho infantil era quase obrigatório porque não havia escolaridade obrigatória. As mulheres não frequentavam a universidade e eram entregues pelos pais aos novos proprietários, os maridos. Não podiam ter passaporte nem sair do país sem autorização do homem. A grande viagem do mancebo era para África, nos paquetes da guerra colonial. Aí combatiam por um império desconhecido. A grande viagem da família remediada ao estrangeiro era a Badajoz, a comprar caramelos e castanholas. A fronteira demorava horas a ser cruzada, era preciso desdobrar um milhão de autorizações, era-se maltratado pelos guardas e o suborno era prática comum.
De vez em quando, um grande carro passava, de um potentado veloz que não parecia sujeitar se à burocracia do regime que instituíra uma teoria da exceção para os seus acólitos. O suborno e a cunha dominavam o mercado laborai, onde não vigorava a concorrência e onde o corporativismo e o capitalismo rentista imperavam. Salazar dispensava favores a quem o servia. Não havia liberdade de expressão e o lápis da censura aplicava-se a riscar escritores, jornalistas, artistas e afins. Os devaneios políticos eram punidos com perseguição e prisão. Havia presos políticos, exilados e clandestinos. O serviço militar era obrigatório para todos os rapazes e se saíssem de Portugal depois dos quinze anos aqui teriam de voltar para apanhar o barco da soldadesca. A fé era a única coisa que o povo tinha e se lhe tirassem a religião tinha nada. Deus era a esperança numa vida melhor. Depois da morte, evidentemente. ”
Clara Ferreira Alves in “A Pluma Caprichosa”, jornal Expresso
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J M Domingues Silva shared a link to the group: TIMOR NO CORACAO.
Aterrar em Dili – Timor Leste.
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J M Domingues Silva shared a link to the group: TIMOR NO CORACAO.
Reviver Dili através de drone.
A cidade de Dili – Timor Leste
Maio de 2017YOUTUBE.COMjá poluiu o suficiente hoje, veja as suas metas aqui
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240,489 ViewsEl fotógrafo Antoine Repesse ha acumulado basura durante 4 años para mostrar las consecuencias de nuestro estilo de vida diario y sobreconsumo.
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