O professor e escritor Victor Rui Dores (graciosense radicado na ilha do Faial) teve a gentileza de enviar-me uma foto de nós ambos, que encontrou no seu arquivo. Ele, de gravador em riste, entrevista-me – diz ele – para o jornal O Telégrafo, da Horta. Isto, em outubro de 1988, num banco da Praça da República. Ora, rememorando acontecimentos vários da minha biografia nesse ano, que eventualmente pudessem ser abordados em tão amistosa conversa, permito-me salientar alguns deles: Escrita de 2 novas peças teatrais – O MARIDO AUSENTE e OS DESERDADOS DA PÁTRIA –; estreia absoluta da tragicomédia D. JOÃO NO JARDIM DAS DELÍCIAS, com encenação de Carlos Avilez, no Teatro Experimental de Cascais; e 1ª edição da comédia VIAGEM A DAMASCO, em Angra do Heroísmo (Secretaria Regional da Educação e Cultura.
Mas Victor Rui Dores dedica-se também à crítica literária, com particular interesse pela produção de origem açoriana. A título de exemplo, transcrevo algumas das suas estimulantes opiniões sobre o meu romance A PAIXÃO SEGUNDO JOÃO MATEUS (Romance Quase de Cordel), publicado em 2011:
“Com mestria, desenvoltura e imaginação criadora assente na magia do verbo, Norberto Ávila recria, neste livro, o falar popular da ilha Terceira, explorando as suas particularidades lexicais e fonéticas.
“ A PAIXÃO SEGUNDO JOÃO MATEUS [ …. ] resulta de uma revisitação e de uma transposição de um texto dramático em verso [ … ] para a presente versão narrativa, o que é passível de colher de surpresa muitos leitores, desde o estilo surpreendente e a inesperada exploração linguística de que o livro dá conta.
“Gostei incondicionalmente da técnica prosódica usada e muito apreciei o referido velho João Mateus, poeta popular da Serreta, narrador, contador de histórias, autor, encenador e mestre de cerimónias (com treino de muitos anos a compor “inredos” para as danças carnavalescas.) [ … ]
“A PAIXÃO SEGUNDO JOÃO MATEUS é isso mesmo: o poder evocativo, a recriação de lugares e atmosferas, a revificação da língua portuguesa, ume escruta que bebe no húmus da nossa condição insular, as bruscas mudanças no embalo da frase, só possível graças ao engenho de um criador de muito mérito. Entre uma tradição e uma modernidade, a obra flui na desordem ordenada que lhe dá a sua espontaneidade, casticismo e naturalidade. Mais do que uma regionalização pela linguagem, há aqui o estado natural da fala – o falar terceirense [ … ].
“Livro sintomático da multividência açoriana, A PAIXÂO SEGUNDO JOÃO MATEUS vale por essa experiência linguística que há muito se não via na produção literária açoriana, e vale, sobretudo, pela profunda humanidade das suas personagens. Eis um grande livro para quem o souber ler.”
VICTOR RUI DORES – A Tribuna Portuguesa, USA (Modesto, Cali.)
Saiba mais sobre A PAIXÃO SEGUNDO JOÃO MATEUS no site em
https://bit.ly/2sDQlaE