Hoje fui à apresentação do álbum de fotografias das visitas do ministro Casal Ribeiro ao Faial e ao Pico na Biblioteca Pública e Arquivo Regional João José da Graça. Este álbum, adquirido pela nossa Biblioteca em Lisboa, reporta em imagens, algumas delas da Foto Jovial, as deslocações do governante em 1945 e 1950.
Casal Ribeiro, foi chefe de gabinete do famoso ministro Duarte Pacheco e depois subsecretário e secretário de Estado, tendo, finalmente, sobraçado a pasta das Obras Públicas e Comunicações.
Na visita de 1945, ainda como subsecretário de Estado, José Frederico do Casal Ribeiro Ulrich amarou na baía da Horta a bordo de um “clipper” e, em 1950, já como ministro, veio num navio de guerra. As suas passagens por esta zona dos Açores, principalmente a segunda, estão profusamente documentadas no álbum, com cerca de uma centena de fotografias legendadas.
Naqueles anos, no país, assistia-se a uma vaga de grandes obras públicas, que também atingiu as ilhas adjacentes. Por exemplo, através das fotografias do álbum, ficam a conhecer-se projetos, obras em execução ou executadas e inaugurações no Faial, como o Bairro das Angústias (Pedreira), o Bairro da Boavista (Matriz), o Bairro da Carreira (Castelo Branco), o Asilo da Infância Desvalida (Colégio de Santo António), as instalações dos serviços agrícolas, em São Lourenço e na Caldeira (nomeadamente a “casa da batata”), as Termas do Varadouro (projeto), o Estádio Fayal Sport (projeto), obras de beneficiação do porto e outros investimentos.
A apresentação do álbum, pelo Dr. Luís Sousa, chefe da Divisão de Arquivos da Biblioteca, despertou-me especial interesse pois, no cartaz de divulgação do evento, vislumbrei meu avô paterno Casimiro Gonçalves. De facto ele lá está, na sua qualidade de presidente da Junta de Freguesia de Castelo Branco.
A minha memória começou a trabalhar e aqui ficam algumas lembranças, baseadas no que meu pai me contou e com a ajuda de meu irmão, para que o relato seja o mais rigoroso possível.
Meu avô aparece nas fotografias da visita de Casal Ribeiro ao Bairro da Carreira, certamente como anfitrião e apesar da presença de figuras gradas da ilha terá dito algumas palavras (lia e escrevia muito mal). Pelo menos a legenda de uma das imagens do álbum, em que parece estar a falar, refere que ele se encontrava a agradecer uma condecoração que lhe foi entregue.
Foi a partir deste dado que as recordações saltaram!
Na realidade, para além das responsabilidades como presidente da junta, meu avô foi um contribuidor na construção dos Bairros da Carreira e da Lombega.
Certo dia, o responsável pelas Obras Públicas no Faial deslocou-se à obra do Bairro da Carreira, certamente numa ação inspetiva, desagradando, não sei porquê, a meu avô, que o mandou abandonar o local. Fica o registo deste episódio algo pitoresco, que não sei a quem abona, pois um e outro teriam as suas razões.
A construção dos Bairros foi antecedida de uma deslocação de meu avô a Lisboa (era natural de Óbidos e, devido à sua atividade comercial, deslocava-se com alguma frequência à capital), onde foi recebido pelo presidente do Conselho (Governo). A condecoração concedida por Salazar, que atrás mencionei, terá tido relação com esta audiência, presumo. A minha família tem fotografias do momento.
Meu avô disse ao chefe do Governo que pretendia apoio para a construção dos Bairros e acrescentou quanto necessitava. Salazar achou pouco e meu avô explicou que a população da freguesia iria ajudar, nomeadamente com materiais e mão-de-obra. O governante entregou a meu avô um “cartão de visita” seu, que também está guardado e que meu pai interpretava como uma forma de facilitar o contacto com o gabinete da presidência do Conselho, mas que, tanto quanto eu sei, nunca foi utilizado com esse propósito.
Nunca falei sobre política com meu avô, apesar de ele ter falecido 10 anos depois do 25 de Abril. No entanto, tenho a firme convicção, por diversos motivos, que a democracia não era um regime que ele apreciasse.
Neste aspecto, há um episódio, que já relatei noutra ocasião e que ilustra o que acabo de dizer: Num ajuntamento de pessoas, não sei em que circunstâncias, na Praça da República, na Horta, meu avô ter-se-á dirigido aos presentes dizendo que Salazar deveria ser cortado aos bocadinhos e cada pedaço distribuído por todas as terras de Portugal. Esta afirmação levou a algumas desconfianças por parte da polícia política do regime de então e meu avô terá sido abordado para explicar o sentido das suas palavras, respondendo que o valor e o exemplo de Salazar eram tais que, espalhados pelo país, seriam um estímulo para o desenvolvimento do território nacional.
Demagogia, diriam hoje os analistas!
(Meu avô aparece na fotografia da esquerda em pose discursiva)