Blog

  • Livraria Lello faz 116 anos e tem presentes para oferecer – Porto Secreto

    Views: 0

     

    https://youtu.be/_OqFaRICTZ0

    Ofelia de Souza explica-te por que escolher o Norte para sediar os seus eventos e é impossível não rir! A anunciou a vitória da campanha bem-humorada do

    Source: Livraria Lello faz 116 anos e tem presentes para oferecer – Porto Secreto

  • ÓBITO E. O. WILSON

    Views: 0

    Foto: Piotr Naskrecki
    IN MEMORIAM DO PROFESSOR WILSON
    Uma homenagem a E. O. Wilson do Parque Nacional da Gorongosa
    Os membros da equipa do Projecto da Gorongosa celebram a vida e o legado de Ed Wilson, o biólogo Americano conhecido como “o Darwin moderno” que faleceu no Domingo, 26 de Dezembro de 2021 aos 92 anos, e que foi uma luz inspiradora na restauração da Parque Nacional da Gorongosa, Moçambique.
    O Professor E.O. Wilson no Parque Nacional da Gorongosa. (Foto de Piotr Naskrecki)
    O encontro com um Ícone
    Quando o Professor Edward O. Wilson chegou pela primeira vez à Gorongosa em 2011, disse-nos: “Por favor, tratem-me por Ed.” A princípio, hesitámos em ser tão informais com o homem que nós – e muitos outros – consideramos o naturalista mais importante desde Charles Darwin. Mas, apesar do seu status de ícone, Ed era um igualitário no coração, apenas um menino do Alabama (EUA) que cresceu e se tornou um dos cientistas mais famosos do mundo.
    Ed foi o Professor Universitário Investigador em Entomologia (o estudo de insectos) na Universidade de Harvard (EUA) e a maior autoridade mundial em formigas. Escreveu 30 livros e mais de 300 artigos científicos, e ganhou duas vezes o Prémio Pulitzer de Não-Ficção Geral. Juntamente com uma longa lista de outros prémios e homenagens importantes, ele também recebeu a Medalha Nacional de Ciência dos Estados Unidos da América.
    Ed e o Fiscal Madeira recolhendo formigas no Parque Nacional da Gorongosa. (Foto de Piotr Naskrecki)
    O legado de Ed em ciência e conservação é imenso. Ele descobriu conceitos fundamentais que se tornaram a base de campos inteiramente novos: incluindo (entre outros), Sociobiologia e Biogeografia das Ilhas – esta última formalizou a única lei verdadeira em ecologia e forneceu uma base teórica para o campo da biologia da conservação. Junto com seu amigo Thomas Lovejoy, ele apresentou ao mundo o termo “biodiversidade”, que agora é uma palavra familiar.
    Durante décadas, Ed foi uma das vozes líderes e mais eloquentes do mundo para a proteção da biodiversidade. No seu livro de 1992, “The Diversity of Life ”, Ed conta a história de como a vida evoluiu neste planeta, como as espécies do mundo se tornaram diversas e como esta diversidade está agora ameaçada de extinção em grande escala. No seu livro de 1993, em que cunhou o termo “Biofilia” no título, ele explorou a conexão inata que nós, humanos, sentimos com todas as outras formas de vida na Terra.
    “Sempre foi o meu sonho explorar o mundo dos vivos, classificar todas as espécies e descobrir o que compõe a biosfera.”
    -E.O. Wilson
    Greg Carr, Presidente do Projecto da Gorongosa, acompanha Ed numa missão de recolha de formigas no Parque Nacional da Gorongosa. (Foto de Marc Stalmans)
    Amado por estudantes de todo o mundo e da Universidade de Harvard, onde leccionou, Ed também foi conselheiro de muitas das mais proeminentes organizações científicas e conservacionistas do mundo. Tudo isso seria suficiente para 100 carreiras científicas de sucesso. Mas o que é mais surpreendente e admirável é que ele não parou com estas conquistas.
    Nos seus últimos anos, Ed continuou a dedicar-se a educar o mundo sobre a natureza humana e a condição humana, e a preservar a diversidade biológica que tanto estimava. Foi esta missão crítica de conservação da natureza que o trouxe pela primeira vez a quase 13.000 quilómetros de Cambridge, Massachusetts, para o Parque Nacional da Gorongosa, em Moçambique, em 2011 – aos 82 anos.
    Uma luz inspiradoa
    O Ed visitou a Gorongosa três vezes entre 2011 e 2014 e tornou-se um farol para o Projecto de Restauração da Gorongosa. Além de efectuar a sua própria pesquisa de campo sobre insectos (especialmente as suas amadas formigas) no Parque, Ed aconselhou as nossas equipas de ciência e conservação enquanto desenvolviam planos e objectivos de restauração.
    Ele foi o nosso consultor na criação do nosso laboratório de ciências, que baptizamos em sua homenagem: “O Laboratório E.O. Wilson de Biodiversidade ”. Não é apenas um lugar para conduzir pesquisas biológicas numa remota paisagem natural Africana, o laboratório é um lugar onde uma nova geração inteira de líderes conservacionistas Moçambicanos, e descendentes acadêmicos de Ed, está a ser treinada. Alguns continuam a sua investigação sobre formigas, das quais cerca de 200 espécies foram identificadas durante as suas visitas à Gorongosa.
    “O Professor Wilson ampliou a sua compreensão científica da vida num amor por todas as criaturas vivas e um respeito pela dignidade de todos os seres humanos. Ele ensinou a todos nós que a autoconsciência é uma maravilha abençoada, a variedade de formas vivas é miraculosa e a adoração pela Natureza uma actividade espiritual. ”
    Greg Carr, Presidente do Projecto da Gorongosa
    Ed com membros das equipas de ciência e conservação do Parque Nacional da Gorongosa durante a abertura do Laboratório E.O. Wilson de Biodiversidade em 2014.
    Em 2014, Ed publicou um livro sobre as suas descobertas e aventuras na Gorongosa intitulado “Uma Janela para a Eternidade: um Passeio de um Biólogo pelo Parque Nacional da Gorongosa ”. Para ilustrar o livro, Ed solicitou fotos de Piotr Naskrecki, Director Adjunto do Laboratório E.O. Wilson de Biodiversidade. Para Piotr, a colaboração no livro foi fruto de uma longa parceria profissional e amizade pessoal:
    “Eu considerava o Prof. Wilson não apenas o meu herói, mentor e inspiração para toda a vida, mas também um bom amigo. Apesar das várias ordens de magnitude da sua antiguidade (em todos os sentidos da palavra), ele sempre me fez sentir que eu poderia abordá-lo a qualquer momento, com questões grandes e pequenas. A sua generosidade era ilimitada, os seus conselhos sempre valiosos, o seu espírito incomparável em optimismo. Eu sou quem eu sou e faço o que faço principalmente por causa dele. E a melhor parte é que ele exerceu esse tipo de influência em legiões inteiras de pessoas, jovens e velhos, ao longo de toda a sua carreira. O seu legado consiste não apenas numa quantidade monumental de descobertas científicas, ramos inteiramente novos das ciências biológicas e influência sem paralelo na conservação da natureza, mas, igualmente importante, nos milhões de sementes que ele plantou na mente das pessoas. Sempre carregarei a tocha da sua paixão pela vida na Terra e a busca por entendê-la e protegê-la. Perdemos um ícone e um líder, mas não o seu espírito, e o nosso laboratório e os estudantes são uma parte importante do seu legado.”
    Além de livros e artigos, Ed também foi um comunicador científico incansável em filmes e programas de televisão. Durante o seu tempo na Gorongosa, apareceu em vários documentários de alto perfil, incluindo “The Guide” (da realizadora vencedora de um Óscar da Academia, Jessica Yu); “Parque da Gorongosa: Renascimento do Paraíso”, uma série de TV em 6 partes em horário nobre para a PBS e para a National Geographic; e um documentário de 90 minutos para a PBS sobre a vida e carreira de Ed chamado “Of Ants and Men”.
    Na épica série da BBC “África”, Sir David Attenborough narra uma sequência em que Ed e Tonga Torcida (um dos jovens técnicos de fauna bravia do Parque) discutem como o abundante e diversificado ecossistema da vida dos insectos – “as pequenas coisas que governam a terra” – cria tremenda esperança para o futuro do Parque Nacional da Gorongosa.
    “A Gorongosa é uma das grandes histórias, é inspiradora. É um belo e brilhante exemplo do que fazer com todos os nossos parques…Precisamos de um mundo de Gorongosas.”
    – E.O.Wilson
    Ed examina uma formiga recolhida pelo técnico de fauna bravia Tonga Torcida no Parque Nacional da Gorongosa. (Foto de Jessica Yu)
    Memórias inesquecíveis
    Na Gorongosa, lembramo-nos do Ed não apenas como um grande homem, mas também como um bom homem. Nós o lembramos como um cientista brilhante, mas nunca esqueceremos as suas qualidades como pessoa: a sua amizade, gentileza e cordialidade. Ele sempre foi generoso com o seu tempo, falando com qualquer pessoa do acampamento que se aproximava dele e ouvindo com atenção e entusiasmo. Ele orientou e inspirou muitos jovens cientistas Moçambicanos durante o seu tempo no Parque, incluindo Dominique Gonçalves, Gestora do Projecto de Ecologia dos Elefantes da Gorongosa, que se lembra de Ed com carinho:
    “O Professor Wilson sempre foi gentil e sempre saudava um jovem Moçambicano com um sorriso e, se ele tivesse tempo, contaria uma história das suas aventuras quando ele era jovem. Manteve jovens cientistas empenhados e actualizados através dos seus livros, que autografou e enviou a estudantes e investigadores Moçambicanos onde quer que estivessem. Sempre estará no meu coração quando em 2015, longe de casa, falei numa sessão em que especialistas discutiram um tema delicado. Como a mais jovem e talvez a única pessoa local a fazer um comentário, fiquei abalada com os murmúrios da audiência, mas o Professor Wilson colocou a mão no meu ombro e disse: ‘Excelente, muito bem!’ O seu conhecimento, apoio e conselhos continuarão a perdurar nas mentes e nos corações de todos os Moçambicanos que passam pelo Laboratório E.O. Wilson no Parque Nacional da Gorongosa.”
    “O grande desafio do século XXI é elevar as pessoas em todos os lugares a um padrão de vida decente, preservando o máximo possível do resto da vida.”
    – E.O. Wilson
    Para homenagear a contribuição de Ed para o Projecto da Gorongosa e o Parque Nacional da Gorongosa, os nossos cientistas baptizaram uma espécie de morcego recém-descoberta na Serra da Gorongosa em sua homenagem – o morcego-de-dedos-longos de Wilson (Miniopterus wilsoni). Estamos infinitamente gratos a Ed, e sempre tiraremos energia e inspiração da sua vida e legado.
    O morcego-de-dedos-longos de Wilson, Miniopterus wilsoni. (Foto de Piotr Naskrecki)
    Como última homenagem, Norina Vicente, uma jovem cientista Moçambicana que trabalha no Laboratório Wilson, oferece o seguinte testemunho pessoal sobre o seu herói científico:
    “O Professor Edward O. Wilson foi uma inspiração para mim e para toda a nossa geração. Ouvi falar do Prof. Edward O. Wilson pela primeira vez em 2016 enquanto estava na universidade e fiquei inspirada ao ouvir sobre o trabalho que ele fez como naturalista, conservacionista e mirmecologista, especificamente no Parque Nacional da Gorongosa. Ele foi a minha inspiração para estudar formigas.
    Desejo dizer ao Professor Wilson: Alguns de nós não tivemos a oportunidade de o conhecer pessoalmente, mas por meio de seu reconhecido e notável trabalho estamos ligados para sempre. Continuaremos com o seu legado. As suas palavras e lições continuarão a guiar-nos e os seus conselhos iluminarão o caminho dos nossos sonhos. Onde quer que esteja, manteremos o conceito que nos deu – “Biodiversidade” – e tenha certeza de que também passaremos essa mensagem para as próximas gerações. Muito obrigado por todos os conselhos e pensamentos.
    Há um tempo para ensinar e aconselhar e um tempo para descansar. Que a sua alma descanse em paz.”
    “Vocês são capazes de mais do que pensam. Escolham um objetivo que vos pareça certo e esforcem-se para serem os melhores, por mais difícil que seja o caminho. Apontem alto. Comportem-se com honra. Preparem-se para ficar sozinhos às vezes e para suportar o fracasso. Persistam! O mundo precisa de tudo o que vocês podem dar.”
    -E.O. Wilson
    “Para o biólogo de campo, isto é o paraíso!”
    Ed a fazer o que mais gostava – recolher formigas no Parque Nacional da Gorongosa. (Foto de Piotr Naskrecki)
    Sobre o Projecto da Gorongosa e os Nossos Programas de Educação Científica
    A investigação científica é parte integrante do plano a longo prazo para a restauração do ecossistema da Gorongosa. Um conhecimento aprofundado do ecossistema da Gorongosa irá ajudar a gestão do Parque a tomar melhores decisões sobre a sua conservação. O Laboratório E.O. Wilson de Biodiversidade foi inaugurado em Março de 2014 e colocou a Gorongosa como um dos centros de investigação mais avançados da África Austral. O Laboratório tem atraído atenção nacional, regional e internacional. Cientistas de mais de trinta instituições realizaram pesquisas no Parque, como as Universidades Eduardo Mondlane e Lúrio em Moçambique; as Universidades de Coimbra e Lisboa em Portugal; as Universidades de Oxford e Kent no Reino Unido; e as universidades de Harvard, Princeton e Berkeley nos EUA.
    Uma das funções do Laboratório é dar formação à próxima geração de cientistas Moçambicanos do Parque e enviá-los a universidades para obtenção de graus avançados. Os jovens (das comunidades vizinhas ao Parque ou de escolas técnicas da região), recebem auxílio financeiro total ou parcial do Laboratório e estão a cursar universidades e institutos para carreiras como veterinários, ecologistas e técnicos de laboratório. Alguns investigadores e estudantes Moçambicanos também receberam apoio da Fundação Wilson. Foundation.
    O programa de Mestrado em Biologia da Conservação na Gorongosa é ministrado inteiramente dentro do ecossistema da Gorongosa, proporcionando formação em biologia da conservação, ecologia e gestão ambiental. Os estudantes Moçambicanos aplicam os conhecimentos adquiridos nos seus cursos a projectos de pesquisa prática na área. Eles desfrutam de uma bolsa de estudos integral, generosamente financiada pelo Howard Hughes Medical Institute dos EUA.
    “Vão o mais longe que puderem, [jovens cientistas]. O mundo precisa muito de vocês.”
    – E.O. Wilson
    Os recém-graduados Mestres em Biologia de Conservação no Parque da Gorongosa, com exemplares autografados do livro “Cartas a um Jovem Cientista” de E.O. Wilson. (Foto de Augusto Bila)
    Para mais informações
    “A natureza é a chave para nossa satisfação estética, intelectual, cognitiva e até espiritual.”
    -E.O. Wilson
    Partilhe esta “newsletter” com um amigo:
    Siga-nos
    Gorongosa National Park | National Road 1, District of Gorongosa, Sofala Province 00000 Mozambique
    Unsubscribe adozinda.soares@gmail.com
    Update Profile | Constant Contact Data Notice
    Sent by newsletter@gorongosa.net
  • Carrinha incendiada na Lagoa – Diário da Lagoa

    Views: 0

    NOTÍCIA DL: Fogo deflagrou esta manhã numa zona perto de habitações tendo sido extinto pelos bombeiros que foram chamados ao local.

    Source: Carrinha incendiada na Lagoa – Diário da Lagoa

  • racismo ao contrário

    Views: 0

    🙂
    May be an image of tree and text that says "o abuso das cores verde e vermelha no Natal é uma intolerável ostentação nacionalista e o discurso constante sobre um Salvador que traz a Luz e a Claridade contra a Escuridão e o Mal é racismo estrutural. Os Portugueses conscientes e anti-racistas devem celebrar o Natal assim."
    You, Ricardo Antunes and 3 others
    1 comment
    1 share
    Haha

    Comment
    Share
    1 comment
    Most relevant

  • o ultimato

    Views: 0

    Passam hoje 132 anos sobre o vergonhoso ULTIMATUM INGLÊS.
    May be an image of map
    Teresa Martins Marques, Maria Cantinho and 9 others
    5 comments
    Like

    Comment
    Share
    5 comments
    View 4 previous comments
    Most relevant

    • Pedro Schacht

      Não menos vergonhoso do que a pretensão portuguesa de tomar posse de território que não era seu. A vanglória de mandar está bem distribuída.
      4
      • Like

      • Reply
      • 38 m

  • escravatura, colonialismo, reescrita da história

    Views: 0

    «Ajustando a História à vontade do freguês
    Aquilo que resulta da reescrita referida e desejada por Mamadou Ba não o é porque não assenta em documentos, nem na respectiva crítica documental, mas apenas em conjecturas e convicções ideológicas.
    05 jan 2022,
    Há tempos, numa entrevista, Joacine Katar Moreira assumiu, como muitos outros activistas têm assumido, o desejo de alterar o ensino da História em Portugal. A então deputada não queria, como ela própria disse, “que se deixe de estudar Os Lusíadas.” O que queria (e julgo que ainda quer) é que, a par das façanhas dos heróis fossem mostradas, também, as violências que acompanharam aquilo a que chamamos Descobrimentos. Este desiderato é razoável, numa visão equilibrada do passado, mas o que está em causa é precisamente o justo equilíbrio nos pratos da balança. Uma história boa é uma história equilibrada e expurgada dos venenos da ideologia.
    Será essa a História que os activistas desejam? Convém não perder de vista que muitos deles querem um Museu da Escravatura, mas são militantemente contra um Museu dos Descobrimentos. Quais são, então, os componentes da receita que preconizam? Qual o conteúdo das mudanças que gostariam de introduzir? Essas coisas raramente nos são ditas. Podemos, ainda assim, ficar com uma ideia do que pretendem se estivermos atentos às suas opiniões. Joacine Katar Moreira, por exemplo, não quer apenas uma explicitação da violência. “O que estamos a pedir” — afirmou, na mesma entrevista — “é uma revisão da história colonial, da maneira como nos é contada e recontada, com a heroicização dos colonizadores e alguma passividade dos colonizados.” E, numa outra entrevista, a deputada especificou melhor, confessando não entender por que razão os africanos teriam aceitado a escravidão e o tráfico de pessoas escravizadas. Abro aqui um parêntese para confessar a minha perplexidade sempre que me dou conta de que Joacine Katar Moreira — e muitas outras pessoas da extrema-esquerda — julgam que a escravidão e o tráfico de pessoas não existiam em África antes da chegada dos europeus, e que teriam sido práticas impostas por estes. Mas fechemos este parêntese, passemos adiante e voltemos às interrogações da ex-deputada. Como duvidava — e lhe repugnava — que muitos africanos tivessem encarado escravidão e tráfico com aceitação ou, até, de bom grado, Joacine imaginava as populações africanas, escravizadas ou não, sempre prontas a rebelar-se, situação que, estava convicta disso, só não seria do conhecimento público e assunto de manual escolar por ter sido maldosamente omitida.
    Queria, por isso, que a alegada omissão fosse corrigida nos programas da disciplina de História. Ora, por muito contraintuitivo que possa ser não há omissão nenhuma, nem tal seria provável. A história da escravatura é um dos temas mais estudados das últimas décadas e a história da resistência escrava está na moda há perto de 30 anos. É errado supor que houve uma forte e permanente resistência dos africanos — ou de qualquer outro povo, aliás — à escravatura. Como David B. Davis mostrou, os escravos revoltaram-se menos do que os camponeses livres. Por alguma debilidade específica? Não, apenas porque estavam desenraizados, fragilizados de mil modos e porque a repressão sobre eles era, ou podia ser, brutal. Para que escravos desencadeassem uma revolta era necessária grande coragem, enorme desespero ou ambas as coisas. Por isso, a cidade de Luanda que foi durante séculos o grande depósito e ponto de passagem de escravos a caminho das Américas nunca teve revoltas escravas. Por isso, nas colónias americanas, as revoltas foram, durante os primeiros séculos, menos frequentes do que se diz ou se imagina, mesmo naquelas zonas onde uma relação de dez ou onze escravos negros para um cidadão livre era altamente propícia a rebeliões.
    As coisas só começaram a mudar com o advento do abolicionismo, em finais do século XVIII, altura em que, então sim, eclodiram muitas revoltas. Até então a generalidade dos africanos aceitou a escravidão e o tráfico porque a maior parte deles não pensava nem agia como Joacine Katar Moreira e os seus colegas activistas o fazem no século XXI. O passado foi o que foi e não aquele que achamos, agora, que deveria ter sido e contar uma coisa diferente aos nossos alunos pode ser muito moderno e politicamente correcto, mas é falsificar a verdade histórica. Infelizmente, é por aí que vamos.
    Porquê? Porque as narrativas históricas que se aceitavam há dez ou vinte anos não agradam a estes activistas. O que pretendem, então? Dito de forma simples, querem uma narrativa alternativa que se contraponha a uma “narrativa oficial” — é assim que a designam — que teria dolosamente ignorado ou riscado os africanos do mapa da História. Esse é o seu fio condutor, de modo que muitas vezes essa narrativa alternativa nada mais é do que uma contra-narrativa. Luísa Semedo, uma outra activista, escreveu um artigo no Público no qual afirmou o seguinte: “Temos direito a que a(s) nossa(s) História(s), a que as nossas vivências não sejam branqueadas, relativizadas, desqualificadas, apropriadas por uma narrativa homogeneizante que tem como principal intuito esconder verdades embaraçosas e perpetuar privilégios.” Luísa Semedo (que usou, nesse pequeno artigo, onze vezes as palavras “luta” e “lutar”) não concretizou as suas reivindicações nem nos disse a que História se acha com direito. Também não nos revelou que “verdades embaraçosas” estariam a ser escondidas. Mas o que importa perceber é que muitas destas pessoas têm o sentimento e a convicção de que muito do passado lhes tem sido sonegado e querem refazer a História de modo a que ela confira dignidade aos oprimidos e seus descendentes. Por isso, são favoráveis, por exemplo, a que se apague a imagem histórica do escravo negro dócil e pacífico e se coloque em seu lugar a do escravo intrinsecamente rebelde, independentemente do que está documentado.
    Há uns meses o conhecido activista Mamadou Ba escreveu o seguinte nas redes sociais: “Aos que nos acusam de querer reescrever a história, respondemos que queremos muito mais. Porque merecemos muito mais, queremos reinventá-la para que todo o mosaico étnico da sociedade portuguesa nela se reflicta bem e com dignidade.” Esta passagem, assumida de forma clara, é todo um programa de acção que é, aliás, compreensível da parte de pessoas que se vêem a si próprias como representantes e advogadas dos que, no passado, foram estigmatizados, ignorados, brutalizados, explorados. Podemos, por isso, entender essa sua intenção, mas… será História? Em muitos casos aquilo que resulta da tal reescrita referida e desejada por Mamadou Ba não o é porque não assenta em documentos, nem na respectiva crítica documental, mas apenas em conjecturas e convicções ideológicas.
    O mais grave, porém — e aqui falo do ponto de vista da seriedade da História enquanto campo do saber —, é que esta agenda não é uma mera reivindicação de um grupo de activistas negros e de pessoas que se sentem marginalizadas ou incorrectamente representadas pela História que se lecciona nas escolas. No mundo ocidental, essa agenda está a ser empenhadamente passada à prática por muitos historiadores engagés — também eles activistas à sua maneira —, os quais têm vindo a contribuir, com o seu trabalho e com a sua investigação, para ajustar a História à vontade do freguês.»
    May be an image of one or more people and people standing
    2
    1 comment
    Like

    Comment
    Share
    1 comment
    Most relevant

    • Teresa Coelho

      Vale a pena ler a obra do fantástico Elikia M’Bokolo
      • Like

  • “Portões do Inferno” podem fechar após 50 anos em chamas

    Views: 0

    O Presidente do Turquemenistão pediu que o Governo encontrasse uma solução para extinguir o incêndio que alimenta os “Portões do Inferno”.

    Source: “Portões do Inferno” podem fechar após 50 anos em chamas