o imoral e injusto financiamento da sata

O ESTRANHO CASO DE FINANCIAMENTO DA SATA |
Comeco por dizer que sou um passageiro regular da Sata desde 1984. Sou também um defensor da sua continuidade como empresa pública. Reconheco a competência do seus pilotos, dos seus técnicos, dos assistentes de bordo e do pessoal que em terra nos atura todo e qualquer pedido. Nada do que escreverei a seguir se destina a eles.
Nos dias que correm uma pessoa é quase obrigada a fazer um esclarecimento de intencões antes de se expressar porque, como se percebe, criticando algo, passamos logo para o outro lado da barricada. No caso da Sata gostaria que isso não acontecesse.
Dito isto, vou tirar a marreta da mochila e comecar a distribuir jogo.
Para quem vive nos Acores não será propriamente novidade ouvir falar nas taxa de residente para deslocacões a Portugal Continental. Nem naquela originalidade de, terminada a viagem, irmos todos aos correios com uma alcofa para trazermos o dinheiro do reembolso.
Para quem não conhece, explico rapidamente. Um residente paga no máximo 134 euros para ir a Lisboa/Porto. Se por acaso o bilhete custar 500 euros, o Estado faz o reembolso (diferenca para os 500 eur) no fim da viagem.
Com grande frequência um bilhete custa muito mais do que a taxa de residente. Se for flexível (possibilidade de alterar sem custos) vai rapidamente para cima de 500 euros. Imaginemos uma família de classe média-alta, que no nosso país são aquelas que até conseguem ir 3 semanas para o algarve no verão, decide ir dar uma volta até Lisboa. Partem de uma ilha qualquer do grupo central, por exemplo.
Embora o custo máximo estipulado seja 536 euros para os quatro, é bem provável que paguem mais do que 1000 euros. Eu já vi bilhetes a 500, 600 e 800 euros por pessoa. Note-se, por uma viagem dentro do mesmo país e que dura cerca de 2h.
Entretanto, passadas umas semanas regressam a casa e vão aos correios, receber 1000 e tal euros em notas.
Nada disto é novo mas nem por isso deixa de ser irritante. A primeira questão é perceber por que razão se encontram, com tanta frequência, bilhetes ao custo de um voo da Emirates entre a Europa e o Dubai? Isto para termos algum ponto de referência.
Depois, algo que me deixa verdadeiramente curioso, num país onde a capacidade de poupanca é bastante reduzida e as pessoas chegam ao fim do mês com a carteira vazia e a contar as horas para o dia 25, é suposto termos todos um mealheiro à parte para adiantar 1500 euros de vez em quando à Sata?
É que é exactamente isso que se trata. Um adiantamento. Os utilizadores/clientes/contribuintes emprestam dinheiro à Sata para que ela, nas semanas seguintes, tenha dinheiro em caixa para as despesas do mês. Depois, o governo assume a dívida e devolve-nos a quantia. É o empréstimo a 0% de juro mais fantástico de sempre, feito pelo comum dos cidadãos.
Pergunto…não podia simplesmente o governo regional destinar essa verba à companhia em vez de nos pedir que déssemos o dízimo? Não era mais simples do que vir fazer contas todos os dias com milhares de pessoas? A gestão deste rio de dinheiro deve ser um excel a pegar fogo de tantas vezes alterado.
Confesso que não percebo como é que este escândalo segue impávido e sereno ao longo dos anos. São os utilizadores que vão mantendo o “cash flow” da companhia, retirando dinheiro do seu “budget” mensal para o adiantar por uns dias, semanas ou meses à Sata. Com 0% de juro.
Se os bancos se lembram desta ainda os vamos ver a esgravatarem nas nossas contas.
Oh…espera…
Pode ser uma imagem de 1 pessoa, em pé, avião e ao ar livre
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  • Cilo Garcia

    Pertinente….sou comissário de bordo lá. Abraço
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    • 2 h

blogue de tudo e nada para mentes pensantes

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