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  • VARANDA COM SABOR A JARDIM

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    Longe vão os tempos em que a minha vizinha tinha uma varanda pequena…
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  • LEI DO TABACO

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    Grande, poeta!
    Declaração de interesses: não fumo.
    Pode ser uma imagem de texto que diz "NOVALEDO LEI DO TABACO PROIBIDO FUMAR EM ESPLANADAS E PÁTIOS EXTERIORES DE RESTAURANTES E BARES REPÚBLICA PORTUGUESA"

    “ZEITGEIST”
    Escrevi e publiquei este poema há uns 25 anos, no início da onda moralista e proibicionista que hoje parece dominar o mundo – e cujo sinal mais recente consiste nesta lei que nos irá roubar o prazer de fumar um cigarro numa esplanada. O poema é de 1997 ou 98 e talvez esteja datado aqui ou ali, mas mantém alguma actualidade. Partilho-o sem mais comentários:
    ZEITGEIST
    Os meus contemporâneos falam muito
    e dizem: “Então é assim”
    com o ar desenvolto de quem se alimenta
    do som da própria voz, quando começam
    a explicar longamente as actuais tendências
    das artes ou das letras ou das sociedades
    a pouco e pouco iguais umas às outras
    neste primeiro mundo em que nascemos,
    agora que o segundo deixou de existir
    e que o terceiro, mais guerra, menos fome,
    continua abstracto, em folclore distante.
    // Parece que está morta a metafísica
    e que a verdade adormeceu, sonâmbula,
    nos corredores vazios onde, às escuras
    se vão cruzando alguns milhões de frases
    dos meus contemporâneos. Todavia,
    falam de tudo com o entusiasmo
    de quem lança “propostas” decisivas
    e percorre as “vertentes” de novos caminhos
    para a humanidade, enquanto saboreiam
    a cerveja sem álcool, o café
    sem cafeína e sobretudo
    o amor sem amor, para conservarem
    o equilíbrio físico e mental.
    // Os meus contemporâneos dizem quase sempre
    que não são moralistas, e é por isso
    que forçam toda a gente, mesmo quem não quer,
    a ser livre, saudável e feliz:
    proíbem o tabaco e o açúcar
    e se estão tristes tomam comprimidos
    porque a alegria é uma questão de química
    e convém tê-la a horas certas, como
    o prazer vigiado por preservativos
    e outros sempre obrigatórios cintos de segurança.
    // Quando contemplo os meus contemporâneos
    entre as conversas trendy e os lugares da moda,
    “tropeço de ternura”, queria ser
    pelo menos tão ingénuo como eles,
    partilhar cada frémito das bocas,
    a labareda vã das gargalhadas
    pela madrugada fora. No entanto,
    assedia-me a acédia de ficar
    assim, mais preguiçoso que um Oblomov
    à escala portuguesa – ó doce anestesia
    a invadir-me o corpo, a libertar-me
    desse feitiço a que se chama o “espírito
    do tempo” em que vivemos, sob escombros
    de um céu desmoronado em mil pequenos cacos
    ainda luminosos, virtuais
    estrelas que se apagam e acendem
    à flor de todos os écrans
    que os meus contemporâneos ligam e desligam
    cada dia que passa, nunca se esquecendo
    de carregar nas teclas necessárias
    para a operação “save”
    e assim alcançarem a eternidade.

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