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  • restaurantes não são santuários

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    Muito bom e muito bem escrito! É a pura das verdades! Subscrevo todas as palavras.
    “Restaurantes Não São Santuários”
    ​ por João Pereira Coutinho
    Este texto é dedicado ao “Chef” Avilez, que estragou dois magníficos restaurantes, o Tavares e, principalmente, o Belcanto. E como esta praga não é nacional apenas, dedicado também ao Alain Ducasse, que assassinou o em tempos magnífico Louis XV, o restaurante (emblemático) do Hotel de Paris, em Monte Carlo. Felizmente, neste caso, pelo menos continua a magnífica garrafeira.
    Restaurantes não são santuários…
    Estou cansado da religião dos chefs: restaurantes não são santuários…
    O melhor restaurante do mundo?
    Ora, ora: é o Eleven Madison Park, em Nova York.
    Parabéns, gente.
    A sério.
    Espero nunca vos visitar.
    Entendam: não é nada de pessoal.
    Acredito na vossa excelência.
    Acredito, como dizem os críticos, que a vossa mistura de “cozinha francesa moderna” com “um toque nova-iorquino” é perfeitamente comparável às 72 virgens que existem no paraíso corânico.
    Mas eu estou cansado da religião dos chefs.
    Vocês sabem: a elevação da culinária a um reino metafísico, transcendental, celestial.
    Todas as semanas, lá aparece mais um chef, com a sua igreja, apresentando o cardápio como se fossem as sagradas escrituras.
    Os ingredientes não são ingredientes.
    São “elementos”.
    Uma refeição não é uma refeição.
    É uma “experiência”.
    E a comida, em rigor, não é comida.
    É uma “composição”.
    Já estive em vários desses santuários.
    Quando a comida chegava, eu nunca sabia se deveria provar ou rezar.
    Os meus receios sacrílegos eram acentuados pelo próprio garçom, que depositava o prato na mesa e, em voz baixa, confidenciava o milagre que eu tinha à minha frente:
    – Pato defumado com pétalas de tomate e essências de jasmim.
    Escutava tudo com reverência, dizia um “obrigado” que soava a “amém” e depois aproximava o garfo trêmulo, com mil receios, para não perturbar o frágil equilíbrio entre as “pétalas” e as “essências”.
    Em raros casos, sua santidade, o chef, aparecia no final.
    Para abençoar os comensais.
    No dia em que beijei a mão de um deles, entendi que deveria apostatar.
    E, quando não são santos, são artistas.
    Um pedaço de carne não é um pedaço de carne.
    É um “desafio”.
    É o teto da Capela Sistina aguardando pelo seu Michelangelo.
    Nem de propósito: espreitei o site do Eleven Madison Park.
    Tenho uma novidade para dar ao leitor: a partir de 11 de abril, o Eleven vai fazer uma “retrospectiva” (juro, juro) com os 11 melhores pratos dos últimos 11 anos.
    “Retrospectiva.”
    Eis a evolução da história da arte ocidental: a pintura rupestre de Lascaux; as esculturas gregas de Fídias; os vitrais da catedral gótica de Chartres; os quadros barrocos de Caravaggio; a tortinha de quiche de ovo do chef Daniel Humm.
    Gosto de comer.
    Gosto de comida.
    Essas duas frases são ridículas porque, afinal de contas, sou português.
    E é precisamente por ser português que me tornei um ateu dos “elementos”, das “composições” e das “essências”.
    A religião dos chefs, com seu charme diabólico, tem arrasado os restaurantes da minha cidade.
    Um deles, que fica aqui no bairro, servia uns “filetes de polvo com arroz do mesmo” que chegou a ser o barômetro das minhas relações amorosas: sempre que estava com uma namorada e começava a pensar no polvo, isso significava que a paixão tinha chegado ao fim.
    Duas semanas atrás, voltei ao espaço que reabriu depois das obras.
    Estranhei: havia música ambiente e a iluminação reduzida imitava as casas de massagens da Tailândia (aviso: querida, se estiveres a ler esta crônica, juro que nunca estive na Tailândia).
    Sentei-me.
    Quando o polvo chegou, olhei para o prato e perguntei ao dono se ele não tinha esquecido alguma coisa.
    “O quê?”, respondeu o insolente.
    “O microscópio”, respondi eu.
    Ele soltou uma gargalhada e explicou: “São coisas do chef, doutor.”
    “Qual chef?”, insisti.
    Ele, encolhendo os ombros, respondeu com vergonha: “O Agostinho”.
    O cozinheiro virou chef e o meu polvo virou calamares.
    Infelizmente, essa corrupção disseminou-se pela pátria amada.
    Já escrevi sobre o crime na imprensa lusa.
    Ninguém acompanhou o meu pranto.
    É a música ambiente que substituiu o natural rumor das conversas.
    É a iluminação de bordel que impede a distinção entre uma azeitona e uma barata.
    É o hábito chique de nunca deixar as garrafas na mesa, o que significa que o garçom só se apercebe da nossa sede “in extremis” quando existem tremores alcoólicos e outros sinais de abstinência.
    Meu Deus, onde vamos parar?
    Não sei.
    Mas sei que já tomei providências: no próximo outono, tenciono aprender a caçar.
    Tudo serve: perdiz, lebre, javali.
    Depois, com uma fogueira e um espeto, cozinho o bicho como um homem pré-histórico.
    O pináculo da civilização é tortinha de quiche de ovo do chef Daniel Humm?
    Então chegou a hora de regressar às cavernas de Lascaux…”
    VIVA A LAMPREIA‼️
    VIVA O COZIDO À PORTUGUESA‼️
    O PUDIM ABADE DE PRISCOS‼️
    O TINTO‼️
    O BRANCO‼️
    E… poupem na água que faz muita falta na lavoura!”
  • díli cidade poluída

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    “Díli cidade MOS no SAUDÁVEL” nee hanesan lá reflete fali b realidade mak nee…. 😱 Devia Concerto nee bolu atenção público nian atu kuidadu soe fo’er arbiru
  • Esplanadas fechadas, 90% das máquinas proibidas e corte de 70% nas vendas. Nova Lei do Tabaco ameaça setor dos cafés e restaurantes – Executive Digest

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    vamos todos fumar para o cesto da gávea!
    vai ser lindo – um país de ninhos de cegonha e artesãos de fumo.

    As novas regras da Lei do Tabaco, ontem aprovadas em Conselho de Ministros, e que visam reduzir a venda deste produto, estão a gerar polémica e são alvo de pesadas críticas de empresários e representa

    Source: Esplanadas fechadas, 90% das máquinas proibidas e corte de 70% nas vendas. Nova Lei do Tabaco ameaça setor dos cafés e restaurantes – Executive Digest

  • 30 anos de dóci papiaçám di macau

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    “Se hoje em dia as pessoas se interessam mais pelo patuá, é muito graças aos Dóci Papiaçám”
    Os Dóci Papiaçám di Macau celebram 30 anos de existência.
    O número redondo faz com que este ano, pela primeira vez, apresentem três espectáculos no Grande Auditório do Centro Cultural de Macau (CCM), no âmbito do Festival de Artes de Macau.
    “Chachau-Lalau di Carnaval (Oh, Que Arraial!)” sobe ao palco nos dias 26, 27 e 28 de Maio.
    Em entrevista ao PONTO FINAL, Miguel de Senna Fernandes recordou os primeiros anos dos Dóci, falou sobre o seu crescimento e destacou a importância do grupo para a preservação do patuá.
    “Toda a gente sabe: isto é um espectáculo único”.
    A frase é de Miguel S Fernandes, fundador e encenador dos Dóci Papiaçám di Macau, grupo de teatro que há 30 anos tenta preservar a identidade sociocultural de Macau e põe o patuá em acção em cima do palco.
    Em entrevista ao PONTO FINAL, Miguel de Senna Fernandes recordou a “coragem, atrevimento e ousadia” dos primeiros espectáculos em patuá.
    Olhando para trás, o encenador considera que o que foi feito pelo grupo nas últimas três décadas foi “uma façanha” e não tem dúvidas:
    “Se hoje em dia as pessoas se interessam mais pelo patuá, é muito graças aos Dóci Papiaçám”.
    O 30.º aniversário dos Dóci Papiaçám di Macau é celebrado com a apresentação de três espectáculos no Grande Auditório do Centro Cultural de Macau (CCM), no âmbito do Festival de Artes de Macau.
    O espectáculo, que este ano tem como título “Chachau-Lalau di Carnaval (Oh, Que Arraial!)”, sobe ao palco nos dias 26, 27 e 28 de Maio.
    – Os Dóci Papiaçám di Macau fazem 30 anos. Foi difícil manter o interesse do público ao longo destas três décadas?
    Foi sempre difícil, sempre com o coração nas mãos.
    Há sempre o risco de não haver público.
    As pessoas que vão para o palco precisam do público e sem esta dinâmica não há sucesso.
    Não se engendra nenhuma arte performativa sem a intervenção e cumplicidade do público.
    Ao longo deste tempo, tivemos a sorte de proporcionar boas gargalhadas, mas nada é garantido.
    – O interesse da sociedade e da comunidade manteve-se sempre?
    Eu acho que sim.
    Só depois dos espectáculos é que podemos tirar conclusões sobre se houve interesse ou não.
    Desta vez não sabemos se as pessoas estão interessadas ou não naquilo que nós vamos apresentar.
    Esperemos bem que sim.
    Durante estes 30 anos, tomámos alguma prudência em não ter favas contadas.
    Eu, por natureza, desconfio sempre e nunca dou por certo aquilo que pode acontecer.
    Já houve espectáculos que não foram um sucesso como nós estávamos à espera.
    – Nota alguma diferença no interesse por parte de alguma comunidade em específico? Macaense, portuguesa, chinesa?
    A comunidade macaense tem a sua sensibilidade, eles sabem o humor que está lá.
    Depois temos a comunidade portuguesa, estes têm uma outra percepção das coisas e gostam de ir aos nossos espectáculos, são fãs.
    Não sei se isso se vai reflectir ou não, mas houve muitas pessoas que saíram de Macau e eram fãs incondicionais dos Dóci Papiaçam.
    Depois, naturalmente, há um interesse crescente da comunidade chinesa.
    Eles ficam absolutamente maravilhados com a possibilidade de conseguirmos ter uma interacção de línguas e de culturas no mesmo palco.
    É justamente isso que temos feito ao longo destas décadas.
    O teatro patuá, além da língua, é uma plataforma de culturas de Macau – este é o reflexo que se quer para Macau.
    Há sempre um pendor da cultura macaense, mas mesmo assim a comunidade chinesa está cada vez mais interessada.
    No fundo, abraçaram esta ideia de que o teatro em patuá é cultura da RAEM.
    Se eu assumo que a ópera chinesa ou o Dragão Embriagado fazem parte da minha cultura, porque é que eles não fariam o mesmo [com o patuá]?
    Eu acho que esta ideia está a vingar.
    Há também gente de Hong Kong que vem de propósito.
    Mesmo em Hong Kong já se sabe que existe esta coisa do patuá, eles estão de sobreaviso e não me espanta que haja pessoas a querer vir ver.
    Toda a gente sabe: isto é um espectáculo único.
    – O que é que recorda da primeira actuação dos Dóci Papiaçám há 30 anos?
    Carolice, pura e simplesmente.
    Foi coragem, atrevimento e ousadia.
    O Adé dos Santos Ferreira tinha falecido, e a ideia era continuar [com o teatro em patuá].
    Não era fácil, mas mesmo assim quiseram ir por carolice.
    Eu, na altura, era o mais novo de todos.
    Coube-me a mim, por circunstâncias várias, escrever o primeiro guião.
    Eu não percebia nada de teatro – não sei se já percebo.
    Só sabia que no palco tinham de acontecer determinadas coisas numa certa sequência.
    Sabia lá eu a teoria sobre escrever uma peça de teatro, não sabia nada.
    O que interessava era pôr o espectáculo a funcionar.
    Durante muitos anos foi assim – e continua a ser assim agora.
    Durante muito tempo ansiava ter uma pessoa que me desse formação, alguém que me dissesse como é que as coisas devem ser feitas, mas esta figura nunca apareceu.
    Por isso, tinha de fazer primeiro e depois ver a porcaria que tinha feito [risos].
    – Foi por tentativa e erro?
    No fundo foi isso.
    E ao longo destes anos tem sido assim.
    Foi assim que comecei a produzir as minhas músicas.
    Sabia lá eu o que era o som, o que era a mistura, o que era a masterização.
    Tive de aprender, fiz muita porcaria no meu computador, gastei dinheiro e tudo mais.
    Agora, parece-me que tenho o som mais ou menos aceitável.
    Para o grupo todo foi sempre assim.
    Nós não temos nenhuma formação técnica.
    Houve uma altura em que achámos que precisávamos de formação, mas tinham passado tantos anos…
    Para quê?
    Não vale a pena.
    A carolice tem de continuar e continuamos a ser os mesmos carolas – mas mais avisados agora.
    – Há 30 anos achavam que iam ter a longevidade que têm tido?
    Nunca.
    Nunca pensámos nisso e ainda bem.
    No início, nos primeiros dez anos, pensámos sempre: “Queira Deus que no próximo ano tenhamos esta oportunidade”.
    A partir dos 15 anos sentimos que já estavam a contar connosco.
    Fomos sempre por convite do Instituto Cultural, que foi o grande impulsionador do grupo.
    Todos os presidentes tiveram sempre muito carinho pelo grupo.
    – O IC deu sempre o apoio necessário para que o grupo apresentasse os seus espectáculos?
    Deu sempre o apoio necessário.
    O Governo de Macau, através do Instituto Cultural, teve sempre muito carinho.
    Não tenho razões de queixa.
    É o grande impulsionador do teatro.
    O público foi sempre acompanhando e aumentando.
    As coisas começaram a mudar, porque a forma do espectáculo passou a ser outra há 16 ou 17 anos.
    Começámos a ter vídeos, por exemplo.
    Os vídeos foram uma dimensão absolutamente brutal dos nossos espectáculos.
    Pode não ter nada a ver com a peça, mas não é só a peça que está em causa, é o espectáculo todo.
    Neste aspecto, o Sergio [Perez] teve um papel importantíssimo.
    Há pessoas que vão lá e não querem saber o que se passa no palco, estão é à espera dos vídeos.
    – Regressando ao tema do teatro em patuá, sente que os Dóci Papiaçám são o último reduto na preservação do patuá? Carregam essa responsabilidade?
    Há alguma responsabilidade.
    O facto de sermos formalmente garantes do teatro em patuá em Macau – nós fomos nomeados entidade de salvaguarda – acarreta uma responsabilidade.
    Por outro lado, a responsabilidade é de todos.
    Era o que mais faltava que o patuá fosse só para nós.
    Se os outros macaenses não quiserem saber sobre o patuá, não há problema nenhum, ninguém chora por isso.
    Mas se havia alguma coisa que nós tínhamos de fazer, nós fizemo-lo.
    O grupo, ao longo do tempo, evoluiu como acérrimo defensor de uma língua.
    Nós estamos a cumprir dentro daquilo que podemos fazer.
    Claro que daqui não saem manuais nenhuns, não há tratados sobre o patuá a sair deste grupo, não saem coisas académicas que servem para estar nas estantes, mas saem outras coisas.
    Há uma coisa que não se pode ignorar: Nós colocamos a língua em interacção, enquanto os livros têm uma língua estática.
    Nós colocamos a língua, pelo menos naqueles momentos em palco, a funcionar.
    Demonstramos que essa língua funciona e é comunicável.
    Só isto é de valor inestimável.
    – Como é que olha para o futuro? Como é que se pode preservar uma língua que não é falada no dia-a-dia?
    Tudo depende do interesse das pessoas.
    O esperanto existe ou não existe?
    Existe.
    Alguém fala esperanto?
    Não vejo ninguém.
    Quem diz esperanto, diz latim.
    Há filmes com diálogos em latim.
    Mas no dia-a-dia alguém fala latim?
    Ninguém fala latim.
    O patuá tem uma função diferente.
    Quando se fala em patuá as pessoas dizem logo que é uma língua morta.
    Há décadas que abandonámos a ideia de querer que toda a gente fale patuá.
    Por amor de Deus, não é isto que está em causa.
    Mas o patuá identifica a comunidade, dá-lhe um passado.
    Isto acontece sob a forma de arte performativa, é uma língua de uma arte performativa.
    O que nós fizemos durante os últimos 30 anos foi uma façanha.
    Tendo uma vida mais simples possível, vivemos 30 anos.
    Além do patuá, tentam também preservar a identidade sociocultural de Macau.
    – Isso tem sido tarefa difícil, dado que nas últimas décadas – e especialmente nos últimos anos – se têm verificado muitas mudanças em Macau?
    Não foi fácil e não está a ser fácil.
    Macau mudou muito.
    Muitas referências são outras.
    Referências que nós tínhamos dado como certas já não existem.
    Só isso modifica o horizonte das pessoas.
    A nova geração não tem o passado que nós vivemos e isso dificulta porque muitos deles começaram, em pequenos, a estudar outras línguas.
    Isso pode ter trazido alguma disparidade de entendimento da cultura macaense.
    Na comunidade macaense, há opiniões várias sobre a identidade.
    Há quem estude a identidade e há quem ache que isso é uma pura perda de tempo.
    Nem todos olham para a cultura macaense da mesma forma.
    Hoje em dia há uma disparidade logo à partida.
    Há muitos que querem estudar a identidade macaense sob pontos de partida diferentes.
    Isto não é drama nenhum.
    Isto não é o fim de nada, é uma etapa que temos de ultrapassar.
    O Dóci Papiaçám é aquele grupo de carolas que todos os anos manda umas bocas no palco e faz rir, mas é muito mais do que isto.
    Se hoje em dia as pessoas se interessam mais pelo patuá, é muito graças aos Dóci Papiaçám.
    – Este é um espectáculo que tem satirizado a sociedade local, determinadas figuras e acontecimentos. Isso sempre foi bem aceite? Alguma vez sentiu que não podia abordar determinado assunto?
    Até este momento, nunca houve ninguém que pusesse entraves.
    Só houve uma ocasião, em 2006, e foi por causa de uma notícia de um jornal.
    Fizemos uma paródia sobre o Bin Laden e o bando dele estava sediado nos túneis da Guia.
    Deu celeuma porque vínhamos na sequência de uma polémica na Dinamarca, em que um cartunista caricaturou Alá.
    Depois de gravarmos, aquilo saltou para um dos jornais aqui de Macau sem nós sabermos.
    Acto contínuo, o gabinete do Instituto Cultural disse-nos que aquela não era a melhor altura:
    “Não levem a mal, isto não é censura, não é absolutamente nada, mas não é a melhor altura”.
    Em muito pouco tempo fizemos uma outra coisa completamente diferente e lá nos safámos.
    Mas não, nunca houve nenhum entrave.
    – Recentemente, o secretário para a Segurança, no âmbito da segurança nacional, falou em “segurança cultural” dizendo que é preciso implementar esse conceito em Macau. Isto não poderá levar a uma auto-censura da vossa parte e de outros grupos?
    As pessoas conhecem o nosso estilo.
    Nós sabemos como brincar, julgo eu.
    Há certas situações-limite e nós não vamos além disso.
    Não é por ter medo.
    Em Macau, as pessoas são muito sérias, não sabem brincar e não têm sentido de humor.
    A partir do momento em que se diz que haverá uma censura cultural e se fala em segurança cultural, acabou.
    Acabam os Dóci Papiaçám.
    Deixa de haver comédia.
    – Mas o secretário falou desse conceito…
    Pois falou.
    A partir da altura em que não se puder brincar, a comédia é para quê?
    – Receia, então…
    Eu não tenho receio nenhum.
    Durante 30 anos deu para ver o que nós andámos a fazer.
    Só beneficiámos Macau.
    Se esta mesma actividade levar com restrições por causa de um conceito de segurança cultural, cujos limites nós desconhecemos, isso pode ditar o fim da comédia em Macau.
    Será responsabilidade do próprio Governo ditar o que é que é cómico.
    Isto é uma comédia.
    Eu estou em crer que o secretário não quer ir até aí.
    Eu estou em crer que não é isso que se pretende.
    Seria uma situação ridícula.
    Nós fazemos a nossa parte e respeitamos sempre a sensibilidade das pessoas.
    – Disse recentemente ao Jornal Tribuna de Macau que têm a intenção de exportar o formato do espectáculo para o interior da China e para Portugal. Já há algum contacto nesse sentido?
    Houve sempre aquela pergunta: “Quando é que vocês vão ao Continente?”.
    Não há nenhum convite formal, não existe corpo nenhum que justifique uma deslocação ao interior da China.
    Para Portugal é diferente.
    Não é que haja contactos, mas há público para isso.
    Há muitos macaenses que estão lá, muita gente que viveu em Macau muitos anos e conhecem os Dóci Papiaçám.
    Também há um crescente interesse de curiosos.
    Ir para o Continente é uma questão de tempo.
    Se não for no próximo ano, será daqui a uns anos.
    – Nesse caso, o formato teria de se alterar um pouco, não?
    É.
    Vai ter de ser diferente.
    Uma das coisas básicas é entender o que se está a passar no palco.
    A noção de língua veicular é uma coisa que não podemos desprezar.
    Se tivermos de ir para o Continente, temos de encontrar algo que faça com que a história possa mover-se na mente das pessoas.
    As pessoas precisam de ter noção do discorrer da história e isto tem muito a ver com a língua.
    Estamos a falar de comédia e as pessoas precisam de entender as ‘punch lines’.
    Teríamos de pensar numa estratégia.
    – Este ano, a peça é apresentada em três dias. Porque é que isto acontece?
    Isto foi uma gentileza do Instituto Cultural.
    Como fazemos 30 anos, puseram-nos como espectáculo de encerramento – uma grande responsabilidade.
    Por outro lado, é uma grande honra.
    – Também é um sinal de que o interesse no espectáculo é cada vez maior, não é? Acha que vão encher três vezes o Grande Auditório do CCM?
    Vamos ver.
    Os Dóci Papiaçám foram sempre assim: quando achamos que vai acontecer alguma coisa, isso não acontece.
    E aquilo que não esperávamos que acontecesse, acontece.
    Foi sempre assim.
    Vivemos sempre na contrariedade.
    Eu não espero coisa nenhuma.
    Se encher, fico feliz.
    Se não encher, paciência.
    Tenho dito sempre aos nossos actores: Primeiro, temos de gostar da nossa actuação e de nos divertir.
    – Já estão a pensar na peça do próximo ano?
    Eu não [risos].
    Este é um fechar de um capítulo.
    No próximo ano haverá outro espectáculo, com certeza.
    Não vai mudar muito.
    Nós temos evoluído muito.
    Eu evoluí bastante no âmbito musical, pode haver mais música.
    A música é universal e pode levar a sítios que nós não esperamos.
    Continuo a ser um analfabeto no que toca a fazer música [risos], mas ‘the show must go on’.
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    Pedro Penetra Neves

    Muitos PARABÉNS 👏👏👏
    Muito SUCESSO, Muitas FELICIDADES, que continuem por muitos mais anos, e não deixem morrer a diáspora Macaense 🙏🙌🍀✨⚡💥
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  • O HOMEM QUE QUER SER TUDO E MAIS ALGUMA COISA carlos iii

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    João Barradas

    O HOMEM QUE QUER SER TUDO E MAIS ALGUMA COISA
    Sagrar-se-á rei ao ser ungido, na discrição de um painel escondendo o trono, com os óleos consagrados pelo Patriarca de Jerusalém, Sua Beatitude Teófilo Terceiro, e o Arcebispo Anglicano de Jerusalém, Hosam Naoum, na Igreja do Santo Sepulcro, e espera, após a coroação, que os súbditos em Westminster e nos seus domínios lhe jurem fidelidade, bem como «aos herdeiros e sucessores, conforme a lei.»
    Na investidura do Defensor da Fé da Igreja de Inglaterra ecoará, depois, pela abadia em que o primeiro rei normando, Guilherme, o Conquistador, foi coroado, no dia de Natal de 1066, o voto de «reconhecimento do serviço público» e «celebração» da parte de líderes religiosos muçulmanos, judeus, hindus, sikhs e budistas.
    Carlos III e sua rainha querem-se, assim, moderníssimos, tolerantes e abrangentes, personificação de tradições sagradas e valores perenes, garantes de estabilidade e inovação.
    Criados no preconceito da excepcionalidade pessoal, familiar e nobiliárquica, os Windsor vivem, no entanto, tão condicionados por sondagens quantos os políticos sujeitos a escrutínio eleitoral.
    Por se considerar manifestação de uma forma superior de existência político-religiosa, a realeza teme a hipotética perda de estima da nação, o rancor da plebe, do burguês e do desvalido ante o privilégio da aristocracia.
    Quando apenas 14% de inquiridos com menos de 35 anos consideram «muito importante» a preservação da monarquia contra 44% acima dos 55 anos, segundo sondagem da British Social Attitudes, a preocupação agrava-se porque poderá estar em causa uma tendência de fundo.
    Ainda assim, os inquéritos de opinião revelam que no Reino Unido a reivindicação republicana, alicerçada no valor de igualdade formal na cidadania e contestando a relevância política da monarquia, se mantém abaixo dos 40%.
    UMA OUTRA MONARQUIA
    A pompa e circunstância monárquicas poderão, contudo, dissociar-se da eficácia política caso se venham a reforçar pressões secessionistas na Grã-Bretanha.
    A eventual independência e integração na República da Irlanda dos seis condados da Irlanda do Norte ou a secessão da Escócia, pondo termo ao Tratado de União com a Inglaterra, em vigor desde 1707, implicariam uma reformulação de poderes do monarca conducente a desacordos políticos irremediáveis.
    Se, noutra vertente, a Jamaica, Bahamas e Belize renegarem em breve a monarquia, Carlos manter-se-á como chefe de estado de onze países, assoberbado por polémicas sobre responsabilidades históricas em espoliações coloniais e ante a ameaça de um triunfo de referendo republicano Austrália.
    O vínculo que representa a Commonwealth com seus 56 estados — incluindo países sem subordinação colonial ao Reino Unido como Moçambique ou Togo — assumirá outra dimensão a partir do momento em que vingue a eleição de um Head of the Commowealth não britânico.
    DE QUE VALE A COROA
    A legitimidade da coroa advém historicamente da Bill of Rights de 1689 que, no rescaldo das guerras civis iniciadas em 1642, subordinou o monarca à soberania do povo representado pelo Parlamento.
    Desde então, ao vingar o primado da soberania popular, a legitimidade da monarquia constitucional parlamentar e hereditária só será reconhecida se contribuir, por razões de tradição de reconhecida eficácia política, para a estabilidade funcional de um regime democrático.
    A dinastia Saxe-Coburg e Gotha, iniciada em 1910 com Jorge V e renomeada Windsor, em 1917, durante a Grande Guerra, para olvidar a ascendência alemã, é exemplar na capacidade de adaptação aristocrática aos realinhamentos políticos a partir do momento em que a «luz do dia» desfez o mistério e os arcanos da realeza, no dizer do constitucionalista inglês novecentista Walter Bagehot.
    A mística dinástica hereditária, ou seja, não-electiva ao invés de outros regimes monárquicos, depende, por definição, das características pessoais do soberano e do modo como controle disputas familiares por partilhas de poder e ambições à sucessão.
    A crise provocada pela abdicação de Eduardo VII, em 1936, mostrou como o topo decisório do sistema político britânico assenta num equilíbrio entre o funcionalismo público de carreira, a casa real, partidos políticos, com suas representações na Câmara de Representantes e Câmara dos Lordes, cujos poderes de veto foram abrogados em 1911, e tribunais.
    MOSTRAR-SE COMO DEVE DE SER
    A prescrita não-manifestação pelo monarca de opiniões políticas, religiosas ou culturalmente divisivas, nos termos da ordem corrente de crenças e costumes, tem um contraponto num poder de influência diverso em que as ligações da Coroa às elites do funcionalismo e outros «poderes fácticos», da banca às forças armadas, se fazem sentir.
    Carlos, desde a investidura em 1969 como Príncipe de Gales, demonstrou notória dificuldade em compreender e cumprir a lei de recato público real.
    Diminui-se como símbolo do consenso mítico nacional ao proclamar opções culturais e preocupações ambientais — por vezes muito estimáveis e que, com o avançar dos anos, cairiam no agrado público — ao mesmo tempo que tentava influenciar nos bastidores os poderes públicos, incluindo sucessivos governos.
    Deu-se ao ridículo e escárnio com o atormentado matrimónio com Diana Spencer e adultério com Camila Parker Bowles, evidenciando-se como um dos mais caricatos protagonistas de uma família disfuncional em que da pedofilia do irmão André à monomania de Calimero do filho Harry pouco escapou ao escrutínio público na era da globalização mediática.
    Isabel II — zelosa, incansável e discreta guardiã dos deveres e prerrogativas reais, capaz de manter imperturbável a dignidade real na transição do pós-guerra e da dissolução do Império — rendeu-se à evidência de que, segundo relato minimente credível de um dos muitos biógrafos, «para acreditarem em nós temos de ser vistos.»
    Mesmo quando, em 70 anos de reinado, lhe falhou a argúcia — nomeadamente em 1966, na catástrofe na cidade mineira de Aberfan, em Gales, ou por ocasião da morte de Diana, em 1997 –, Isabel II conseguiu recuperar o tom apropriado para recentrar a monarquia como instituição de coesão simbólica em consonância com os poderes electivos.
    Carlos III, herdeiro aos 74 anos, adapta-se a uma Grã-Bretanha cuja diversidade étnico-religiosa – um primeiro-ministro hindu, em Londres, outro muçulmano, em Edimburgo –, conflitualidade política e social, quando se tenta reposicionar como potência com projecção global, dificilmente se conforma à ilusão aristocrática de que se pode ser tudo, único e insubstituível para todos e mais alguém.
    Nos anos que terá no trono, a Carlos III só resta conformar-se à realidade de que são cada vez mais raros os momentos em que um rei, pelo seu comportamento e ideal, possa vir a congregar gentes e nações.
    João Carlos Barradas
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  • 9 Povos de Origem Portuguesa que muitos desconhecem

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