Views: 0
Como é possível?
Um dos maiores falhanços dos governos anteriores foi no sector da Saúde.
Cometeram-se os maiores disparates, gastaram-se milhares de milhões de euros em gestões ruinosas – a começar pela defunta Saudaçor – e agora estamos a pagar pelas consequências de tanta desorganização.
O que está a contecer no maior hospital da região é o resultado de toda essa gestão descuidada, numa irresponsabilidade histórica porque nunca ninguém é chamado a prestar contas pelos erros clamorosos que se cometem.
Pela primeira vez na história hospitalar da nossa região – pelo menos na minha memória – o Hospital de Angra conseguiu ultrapassar o seu congére de Ponta Delgada em actividade cirúrgica, depois da primeira vaga da pandemia.
Ou seja, de Junho a Setembro, em plenos meses de Verão, os dois hospitais de Angra e Horta estiveram em grande actividade, recuperando listas de espera acumuladas com a paragem da pandemia, mas o de Ponta Delgada deitou -se a dormir…
Não por culpa dos seus profissionais de saúde, mas devido à desorganização que reina na sua gestão, sobretudo nesta área da actividade cirúrgica.
Nunca se viu tamanho erro estratégico de organização, com a agravante de, num hospital mais pequeno em recursos, como o da Horta, com serviços onde existe apenas um especialista, conseguir fazer mais operações do que o Hospital de Ponta Delgada!
Oftalmologia, que tem a maior lista de espera no HDES, é apenas um exemplo, mas há outros, em que não se percebem quais os critérios de prioridade e de acesso aos blocos operatórios.
Podem vir com as explicações mais complexas que se possa imaginar, mas, para os milhares de doentes que estão a sentir na pele toda esta desorganização, só há uma explicação: isto bateu no fundo!
Ou o novo governo pega nesta herança e aplica rapidamente uma profunda reestruturação, ou então, não tarda nada, estaremos condenados nestas ilhas a regressar aos “endireitas” como antigamente.
É uma reestruturação de pessoas, de chefias, de elevar o mérito e talentos, de métodos de gestão, de atracção de profissionais de saúde, acabar com a precariedade e os estagiáios prolongados, corrigir os inúmeros erros que persistem e acabar com o crónico subfinanciamento do sector.
O HDES tem nas suas contas dívidas bancárias da ordem dos 109 milhões de euros, sobre os quais paga taxas de juro que, em média, rondarão os 4%.
Ora, se a Região se financia a 1,5%, qual o sentido que faz deixar o HDES ir à banca pagar quase o triplo?
É urgente o saneamento financeiro desta instituição, que tem vindo a ser esmifrada com subfinanciamentos grosseiros, expressos em resultados transitados negativos da ordem dos 273,3 milhões de euros, no ano passado, e um património líquido negativo da ordem dos 216,7 milhões de euros.
Pelo caminho também vão sendo apanhados os fornecedores, que chegaram a 74 milhões a crédito em 2019, mais cerca de 5 milhões do que no ano anterior.
Não admira que os novos titulares tenham ficado aterrados com o défice mensal de 3 milhões de euros.
E é esta a instituição a quem confiamos a nossa saúde, mas não financiamos adequadamente.
Não houve dinheiro para camas, não houve dinheiro para macas, não houve dinheiro para medicamentos, não houve dinheiro para mais pessoal especializado (mas houve para mandar vir gestores para a SATA), não houve dinheiro para ampliar o Hospital, não houve dinheiro para montar uma boa rede de Cuidados Continuados, mas houve para pagar a pesada factura da Saudaçor, com uma dívida de mais de 750 milhões de euros, com uma estrutura que gastava, só em salários, quase ou tanto como se fossem Directores Clínicos.
Esta ruinosa entidade da nossa Saúde pagou no ano passado, só em juros, a módica quantia de 27 milhões de euros!
Dava para mais um Hospital.
Se o Hospital Internacional, privado, que está a ser construído na Lagoa, em S. Miguel, custa 30 milhões de euros, percebe-se quantos hospitais perdemos por ano à custa da Saudaçor.
Pior: o passivo da Saudaçor, de 750 milhões de euros, dava para construir mais do que dois hospitais por cada ilha.
É esta a dimensão do desastre que temos de gerir nos próximos anos.
Que é muito maior em termos sociais, porque para além da gestão financeira devastadora, há ainda que contabilizar o número de vidas que se perdem por dificuldades de acesso aos cuidados de saúde.
É uma conta que, por enquanto, não foi feita, mas se a estatística diz que, desde Março até Novembro, já morreram nos Açores mais 90 pessoas do que a média dos últimos cinco anos, então é porque alguma coisa grave vai acontecendo para lá da Covid…
Era bom que pensassem nisto.
Com os pirilampos da ambulância social bem ligados.
Dezembro 2020
Osvaldo Cabral
(Diário dos Açores, Diário Insular, Multimédia RTP-Açores, Portuguese Times EUA, LusoPresse Montreal)

28 comments
62 shares
Like
Comment
Share