OSVALDO JOSÉ VIEIRA CABRAL · Adeus GNL, adeus EUA

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Adeus GNL, adeus EUA

No início de 2017 vaticinei aqui que os Açores iriam perder a batalha do gás natural.
Era mais do que evidente que havia um forte lóbi em Lisboa, a nível político e industrial, para apostar tudo no porto de Sines.
Em 2018 voltei ao tema, com novo artigo que intitulei “A morte do porto da Praia e a oportunidade perdida dos Açores”, porque já tínhamos sido ultrapassados por Sines, com o anúncio dos fortes investimentos declarados pelo governo de António Costa, onde existia uma Ministra do Mar que era, declaradamente, contra qualquer investimento nos portos dos Açores, a mesma que se insurgiu agora no parlamento nacional contra a gestão partilhada dos recursos do mar, documento que ela “engavetou” durante o cargo de ministra, sob o silêncio cúmplice do Governo Regional.
O GNL nunca poderia avançar primeiro no porto da Praia da Vitória, não só por incapacidade dos nossos governantes e deputados (que até para legislar contratam advogados em Lisboa), mas sobretudo porque a aposta nacional, com recursos comunitários, nunca esteve virada para aí.
A confirmação veio há poucos dias, de forma directa e clara, pela responsável da associação dos distribuidores de gás, quando denunciou que o Governo de António Costa desviou os 200 milhões de investimento previsto para os Açores para entregá-los à ferrovia.
A incapacidade e incompetência regionais é tão clara, que até um famoso estudo sobre o assunto, anunciado pelo governo açoriano para terminar em 2019, ainda não viu a luz do dia.
Podem os senhores deputados e governantes dizerem o contrário, que o processo não morreu, que vai haver investimento e mais profissões de fé, mas já não vamos a tempo de liderar coisa nenhuma nesta área, porque os próprios investidores há muito que disseram adeus à incapacidade regional.
Até podem vir a construir algum depósito de gás natural – porque será inevitável no futuro próximo -, mas nunca mais seremos o tal prometido grande ‘hub’ de abastecimento no Atlântico, como entrada na Europa.
Este papel já está destinado a Sines e os EUA, que podiam ser o nosso principal parceiro, vão lá estar em força, porque o lóbi político de Lisboa trabalhou para isso.
Já em Junho do ano passado o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, tinha desafiado os EUA a concorrerem com a sua presença no porto de Sines, defendendo que seria importante estrategicamente como porta de entrada para a Europa.
Nestes últimos dias veio a resposta.
O Secretário de Estado da Energia dos EUA, Dan Brouillette, esteve no porto de Sines e disse claramente: “Como sabem, os Estados Unidos tornaram-se num exportador de petróleo e gás, e o Gás Natural Liquefeito é um combustível de transição importante em muitos casos e para muitos países europeus. Nós pensamos que este porto, em particular, serve como uma importante porta de entrada para a Europa.”
O ministro português das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, o tal que desviou o investimento dos Açores para a ferrovia, também foi claro: “Esta visita sinaliza o interesse dos Estados Unidos na possibilidade do porto de Sines ser usado como porta de entrada da energia, nomeadamente do gás, em toda a Europa.”
António Costa veio depois benzer os investimentos dos EUA, esquecendo-se, certamente, do que disse na Paria da Vitória quando visitou a Terceira, com promessas de grandes investimentos envolvendo financiamento do Plano Junker e do BEI.
Portanto, senhores políticos regionais, podem escrever cartas a pedir explicações aos ministros de Lisboa, fazendo de conta de que não sabiam de nada, podem contratar os escritórios de advogados e encomendar os estudos que entenderem, podem estrebuchar no parlamento: os Açores perderam a batalha do GNL, perderam a guerra da grande porta oceânica para a Europa, perderam investimento de peso para o nosso arquipélago, perderam o apoio dos EUA nesta área.
Perdemos todos .
Mas todos sabemos quem são os culpados.

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PLANO INQUINADO – Mais uma deste governo, que mesmo em final de mandato não acerta o passo.
Ficamos a saber que o Governo Regional se recusa a divulgar o famoso “Plano de Negócios” que a anterior administração da SATA apresentou.
Não é coisa para maçar os cidadãos. Estas coisas devem ficar nas gavetas dos gabinetes aveludados de suas excelências.
Não temos Plano, mas o governo prendou-nos com as indicações que deu à administração: conta de salários não superior a 18% das vendas; ACMIs não superiores a 3,5 milhões de euros; FSE não superiores a 75% das vendas; lucros na Air Açores; uma nova empresa para agrupar as actividades de “handling”; produção de informação de rentabilidade rota a rota; etc., etc.
Afinal, no governo accionista, há quem sabe da poda para estar a mandar tantas indicações de gestão (não necessariamente de estratégia) para dentro da empresa.
Por uma questão de eficiência, este alguém que sabe disto tudo devia ter sido o presidente da SATA e não membro do governo.
E, se calhar, o governo ainda afirma a pés juntos que não interferiu com a gestão e que deu total liberdade à administração para propor o que entendesse necessário para recuperar a empresa.
Isso diz muito do que vem aí no novo Plano.
Não foi preciso contratar um escritório em Lisboa.
Veio um escritório inteiro.

Fevereiro de 2020
Osvaldo Cabral
(Diário dos Açores, Diário Insular, Multimédia RTP-A, Portuguese Times EUA, LusoPresse Montreal)

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Comentários

Um comentário a “OSVALDO JOSÉ VIEIRA CABRAL · Adeus GNL, adeus EUA”

  1. Avatar de Ana Franco
    Ana Franco

    Eu ainda não percebi porque é que os Açorianos não desmascaram os governos de Lisboa e o Regional !
    Costumava dizer-se que “de Espanha não vem nem bom tempo nem bom casamento “. Será que um Arquipélago, como o nosso, não ha um punhado de gente séria e competente para fazer uma oposição credível à ganância e incompetência ?