OSVALDO CABRAL,É FUGIR DELAS

É !
Se há empresas, em Portugal, que devemos fugir delas como o diabo da cruz, são os bancos e os seguros.
É impressionante a impunidade como todas elas, na sua generalidade, actuam no nosso país, e nós, cidadãos comuns, condenados a não poder fugir do sistema em que actuam.
Não é por acaso que tenhamos vivido, nos últimos anos, entre os maiores escândalos financeiros praticados por banqueiros portugueses e também não é por acaso que, sempre que nos envolvemos em processos de seguradoras, alguma coisa vai correr mal porque não lemos as letras miudinhas.
O sistema português está feito para que tudo corra mal aos cidadãos, pois regulação é coisa que não funciona neste país e a prática de cartel é uma vulgaridade portuguesa num mercado em que os que fazem as leis são, depois, convidados para consultores ou para os conselhos de administração das empresas para que legislaram.
É uma doença portuguesa de que não nos livramos e quem lida com bancos e companhias de seguros sabe bem do que falamos.
Pior ainda, é sabermos que os Açores já não mandam nada. Tudo é decidido em Lisboa.
Ainda agora, a organização de defesa do consumidor Deco Proteste, veio denunciar que as comissões sobre os cartões de débito dos cinco maiores bancos nacionais aumentaram, em média, 163% nos últimos dez anos, quando a inflação acumulada foi de apenas 8,4%!
Mais: no início deste ano a banca anunciou valores 50% mais elevados em alguns produtos, quando é sabido que a inflação até foi negativa e que os bancos recorreram ao crédito a juros negativos.
A Deco vai mais longe na descoberta da marosca: durante a pandemia, cujos primeiros casos em Portugal se registaram em março de 2020, os bancos aumentaram o incentivo à utilização de meios de movimentação à distância, como cartões de débito e transferências online, utilizando também o argumento da poupança.
Este género de incentivos acabou por se fazer acompanhar por um aumento posterior das comissões praticadas sobre esses mesmos serviços, que resultaram num acréscimo global de encargos para o consumidor.
Atualmente, as comissões representam 40% das receitas totais dos bancos, denuncia ainda a organização da defesa do consumidor.
Para impedir um aumento desenfreado das comissões, a Deco Proteste criou a iniciativa “Fim das comissões abusivas para todos os créditos”, onde exige que a lei seja alterada.
Segundo a Deco, uma das vitórias da organização neste tema foi que os contratos de crédito deixassem de estar sujeitos ao pagamento de comissões pelo processamento das prestações, pelo que o fim desta cobrança permitiu uma poupança de 15,6 milhões de euros aos consumidores, um valor significativo tendo em conta que foram celebrados 705 mil novos contratos de crédito ao consumo e habitação em 2021.
Tudo isto diz bem do sistema em que estamos metidos, sempre sob a capa da legalidade, porque sabemos como estas coisas funcionam com quem faz as leis neste país.
Até um dia em que o país dê um sobressalto cívico.
(Osvaldo Cabral – Diário dos Açores de 08/05/2022)
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