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Um retrato a preto e branco
Numa sociedade moderna não há nada que pague um povo culto e educado.
A educação é a maior riqueza de um país e basta constatar o nível de formação e qualificação dos povos dos países mais desenvolvidos.
Nos Açores já levamos mais 40 anos de governação própria e com autonomia ao nível do Ensino.
São quatro décadas que dão para formar quase duas gerações.
Investiu-se bastante no sector, sem dúvida, mas quantidade não é sinónimo de qualidade.
A Pordata, uma base de dados da Fundação Francisco Manuel dos Santos, acaba de publicar um retrato dos Açores, com vários quadros estatísticos comparativos e a primeira constatação é que, no sector da Educação, o retrato não é lá muito colorido.
A taxa de abandono escolar é mais do dobro da registada a nível nacional, com 27% dos jovens dos 18 aos 24 anos fora do sistema de ensino sem ter completado o secundário, enquanto no todo nacional essa percentagem é de 11%.
Esta discrepância repete-se em todos os indicadores relativos ao ensino.
70% da população com 15 ou mais anos não tem o ensino secundário (em todo o país a percentagem é de 58%), e só 11% tem formação superior (20% no país).
A taxa de retenção e desistência no secundário é de 20% nos cursos gerais e de 15% nos tecnológicos e profissionais.
É um retrato pouco abonatório para a governação das últimas décadas e um desaire assustador para tanta gente que se responsabilizou pelo sector na Secretaria da Educação.
Algo vai mal e não é de agora.
Por isso, custa a perceber como é que, com uma falha tão clamorosa como esta, não se cria um projecto urgente que revolucione métodos e motive toda a comunidade em volta deste desafio do conhecimento.
Como alguém disse, se precisamos de um “sobressalto cívico”, ele é muito mais urgente no sector da Educação.
Em vez dos candidatos às próximas eleições andarem a prometer mais betão e mais subsidio-dependência, deviam concentrar os esforços na procura de propostas para jovens e pais preocupados com este retrato a preto e branco das nossas qualificações.
Se não resolvermos este problema, vamos ter uma sociedade cada vez mais desnivelada, pobre e inculta.
Será que interessa a alguma força política?
Força Sra.Presidente!
Finalmente uma autarca (e a mais improvável) faz o que se impõe: um murro na mesa na pouca vergonha em que se transformou o caso dos terrenos da Calheta.
As ruínas daquele monstro são um emblema da conspurcação política entre interesses de clientelismos dos dois principais partidos.
Limpar aquilo, a todos os níveis, só engrandece quem tem a coragem de enfrentar os poderosos no meio desta podridão.
Força Senhora Presidente!
(
Osvaldo Cabral
– Diário dos Açores de 27/09/2020)
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