OSVALDO CABRAL TEORIAS DO ABSURDO

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O grupo parlamentar do PSD/Açores alertou há poucos dias para as actuais condições da aerogare do Aeroporto João Paulo II, em Ponta Delgada.
Segundo aquele partido, mantém-se a exiguidade da sala de recolha de bagagens, com capacidade apenas para 600 passageiros, a par dos tapetes antigos e insuficientes para fazer face ao crescente número de passageiros, o escasso número de portas de embarque – cinco para voos domésticos e cinco para voos internacionais -, a que acresce o reduzido número de balcões de check-in, sobretudo em horas de ponta.
A chamada de atenção faz sentido e vem na sequência de inúmeras queixas de passageiros, a que assistimos nos anos pré-pandemia.
O aeroporto de Ponta Delgada foi dos que mais cresceu em todo o país e, a julgar pelas operações previstas para este ano, vamos ter um movimento naquele aeroporto ainda maior do que antes da pandemia.
Não se percebe, por isso, a razão pela qual a dona da exploração, a Vinci Airports (que em Portugal detém a ANA e a Portway), não aproveitou a fase da pandemia, com menor movimento, para realizar as obras e requalificações que se impõem.
Não é por falta de dinheiro, certamente.
No ano passado, esta empresa francesa, que gere os aeroportos portugueses, lucrou 2.597 milhões de euros, mais do dobro do que em 2020, quando registou 1.242 milhões de euros, segundo os resultados agora divulgados. Para 2022, a Vinci espera um lucro superior ao de 2019.
Não se conhecem os resultados específicos da exploração dos aeroportos na nossa região, especialmente o de Ponta Delgada, mas certamente que terão sido bastante positivos.
Do mesmo modo que a República vai pressionando os CTT para modernizar os seus serviços e a qualidade da prestação, é justo que faça o mesmo com esta empresa concessionária em Ponta Delgada.
Esta história de distribuir lucros pelos accionistas, esquecendo os investimentos nas empresas que exploram, concedidas pelo bem público, é uma visão muito arredada dos objectivos das parceiras entre Estado e privado.
Por cá, também temos empresas que funcionam assim, com a agravante de serem maioritariamente públicas.
É o caso da EDA, como já aqui denunciamos, em que distribui os
lucros do final do ano pelos accionistas e logo a seguir vai à banca endividar-se para fazer investimentos!
Isto faz algum sentido?
Para alguns até fará, por mais aberrante que pareça, avançando com as mais estapafúrdias teorias do liberalismo económico.
Para os cidadãos, tudo isso não passa de teorias do absurdo.
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Outra teoria do absurdo é a do Governo da República obrigar açorianos e madeirenses a preencherem um formulário de localização do passageiro quando se deslocam ao Continente.
A Madeira chama-lhe uma aberração. Os Açores, como sempre, ficam-se pelos pezinhos de lã.
Já aqui previmos a seguir às eleições: se antes, sem maioria absoluta, o Governo da República tratou as Regiões Autónomas, especialmente os Açores, com enorme desprezo, mentira e arrogância, imagine-se agora, com o poder absoluto, o que não vamos penar no relacionamento entre o poder regional e “o governo da República mais centralista que o nosso país já teve”, segundo a própria Ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa.
Desta vez o ataque vem, nada mais nada menos, do que 4 ministérios: da Economia e Transição Digital, Administração Interna, Saúde e Infraestruturas e Habitação, com a ameaça de aplicação de multas até 800 euros.
Numa primeira fase, em 16 setembro de 2021, o gabinete da ministra da Administração Interna informou que o preenchimento do referido formulário não se afigurava obrigatório para passageiros de voos domésticos, mas agora mudou de posição, sem mais nenhuma explicação.
Os socialistas madeirenses também já se manifestaram contra. Por cá, a submissão a Lisboa é maior.
A perseguição, como dizem os madeirenses, é para continuar.
(Osvaldo Cabral – Diário dos Açores de 13/02/2022)
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