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Um ovo amargo
Há uma declaração da Secretária Regional da Educação que passou despercebida nesta Semana Santa.
Disse Sofia Ribeiro que “há uma percentagem avassaladora de alunos que provêm ainda de famílias com necessidades, que perfazem 61,4% de todos os alunos”.
Qual pandemia, qual confinamento, qual ensino à distância, comparado com a gravidade da denúncia…
São 43% do investimento escolar destinado ao apoio social.
Mais de 9 milhões de euros destinados ao apoio à acção social nas escolas, o que é revelador da calamidade social em que se encontram muitas famílias açorianas.
Num quadro destes nenhum açoriano devia ter uma Páscoa com a consciência tranquila.
Quando se discute o “aprofundamento da Autonomia” é disto que se devia falar, da vergonha que foi percorrer todos estes anos em regime autonómico e não conseguir resolver a pobreza e profunda desigualdade entre tantas famílias açorianas.
Só assim se explica os péssimos indicadores do sucesso escolar e as consequências que tudo isto acarreta para o futuro da nossa região.
Sem formação e qualificação nenhuma comunidade vai longe, muito menos se continuar a esconder as suas incapacidades e incompetências atirando dinheiro para cima das pessoas.
Ainda agora lemos no inquérito às condições de vida e rendimento, realizado em 2020, que a nossa região foi aquela em que a diferença entre os rendimentos dos 20% mais ricos ‘versus’ os 20% mais pobres foi superior: 3,3% acima da média nacional.
Cruzando estes dados com a enorme lista de beneficiários do Rendimento Social de Inserção, é fácil perceber porque temos tantas crianças na escola a necessitar de apoio social.
Nenhum político pode dormir descansado com estes números.
Nenhum cidadão pode viver a Páscoa com este ovo amargo na boca.
Se a ressurreição, celebrada neste domingo de Páscoa, é o fundamento da fé cristã, então que nos penitenciemos todos até conseguirmos debelar a imensa pobreza que vai por aí.
(
Osvaldo Cabral
– Diário dos Açores de 04/04/2021)

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- Uma triste realidade que só não vê quem não quer! Perguntem a qualquer professor, por mais inexperiente que seja!Não basta andar com os pés na terra é preciso que a cabeça também cá esteja! É caso para dizer que andamos há mais de 40 anos a “produzir”…See more
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