Views: 0
É , ú!
Lembram-se da célebre frase de James Carville que ajudou Bill Clinton a chegar à vitória nos EUA?
Ela podia estar de volta, adaptada à nossa classe política, que parece estar arredada daquilo que nos consome no dia-a-dia.
Felizmente que a campanha eleitoral está quase no fim, porque não param de chover as promessas mais irrealistas, como descer impostos, aumentar dias de férias, reduzir dias de trabalho, distribuir um rendimento mensal universal, tal e qual como se Portugal fosse um país produtor de petróleo.
Nenhuma força política teve a coragem de falar da realidade que vem a caminho e que será um novo aperto nas economias, com a provável subida de juros, o acelerar da inflação e uma eventual redução na injecção dos estímulos monetários, com consequências graves para países altamente endividados como o nosso.
Nada disto passa-nos ao lado aqui nos Açores, onde praticamente não houve campanha e a que houve foi de uma pobreza angustiante.
Os efeitos dos fenómenos económicos podem chegar mais tarde aos nossos bolsos, mas não deixam de mexer connosco.
Aliás, alguns dos efeitos já se começam a sentir, nomeadamente a subida de preços de alguns bens essenciais, sobretudo devido aos custos energéticos.
A inflação regional ainda é baixa, mas a tendência dos últimos meses é de subida, não devendo disparar para taxas recordes que já se verificam em vários países.
O contágio é irreversível e o que já estamos a assistir nos combustíveis é só um princípio, com as primeiras reclamações a chegarem dos pescadores e armadores, que não aguentam os preços actuais, pondo em risco todo o sector.
A taxa de inflação regional fechou o ano com 0,92% (1,27%% em Portugal), mas os produtos energéticos nos Açores tiveram uma subida de 5%, que se reflecte nos custos de todos os sectores de actividade.
Os economistas estão convencidos que a inflação não atingirá em Portugal as taxas elevadas que se verificam, presentemente, nalguns países europeus (as previsões apontam para uma subida até 3%), o que será, também, uma boa notícia para os Açores, devido à nossa economia fortemente dependente do mercado continental.
É preciso que a crise no turismo e na pecuária, peças fundamentais da economia açoriana, ganhe outro fôlego já este Verão, porque, se ela persistir, então não haverá bazuca que nos salve.
O mercado de trabalho foi resiliente durante esta pandemia, graças aos estímulos às empresas para manterem os postos de trabalho, mas a nossa produtividade dá sinais contrários.
No cenário traçado pela Comissão Especializada Permanente de Economia e Desenvolvimento, do Conselho Económico e Social dos Açores, a produtividade aparente do trabalho que vinha em crescendo desde 2015 regrediu em 2020 para 32.224 euros face aos 33.799 euros de 2019, numa variação negativa semelhante à que aconteceu no resto do país.
Com 89,9% da produtividade nacional, em 2020, os Açores continuam com o registo mais baixo deste indicador. Em 2019 o indicador dos Açores era 94,3% do valor nacional.
Já quanto à inflação – o tema do momento -, é confirmado que a instabilidade dos preços tem estado, sobretudo, associada a variações nos mercados dos combustíveis e a alguma instabilidade das cadeias de abastecimento de matérias-primas e componentes.
O Governo dos Açores prevê uma taxa de inflação de 1% para 2022, o que parece muito optimista, mas mesmo assim muito aquém das previsões nacionais e internacionais.
Já o mesmo não podemos dizer das finanças públicas, outra dor de cabeça.
A referida Comissão do CESA reconhece que as consequências da pandemia vieram evidenciar a fragilidade do equilíbrio, “ao agravarem sobremaneira uma situação que já não era boa”.
O peso da dívida no PIB não parou de crescer entre 2008 (14,3%) e 2020 (59%). Em 2021 a situação será, certamente, pior.
É neste cenário complicado – mas não muito preocupante – que não faz sentido entrar em facilitismos, como temos assistido nestes dias de campanha eleitoral.
Não custa nada prometer, sobretudo quando não se aspira chegar às rédeas do poder.
O problema, depois, é a realidade e quando ela nos bate de frente.
Foi um tal facilitar nestes últimos anos, como se fôssemos um país e uma região recheada de recursos económicos.
Agora chega-nos a factura: é a SATA, são as empresas públicas, os campos de golfe, provedores e outros que tais que não produzem e ganham ordenados escandalosos…
Enfim, os disparates ruinosos dos nossos políticos, apenas para contentar sempre os mesmos.
No dia 30 o povo tem mais uma oportunidade para julgar tudo isso.
(Osvaldo Cabral – Diário dos Açores de 26/01/2022)

1 comment
3 shares
Like
Comment
Share
1 comment
All comments
- Ana Lopes RaposoConcordo sim
vamos ver a que tudo isso nos reserva, num amanhã não muito longe ..
- Like
- Reply
- Share
- 13 m