OSVALDO CABRAL, ALÔ BRUXELAS

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Na quarta-feira elencamos aqui alguns dos disparates que estão a ser cometidos pelo actual governo, entre os quais a ingerência na gestão da SATA, obrigando-a a criar rotas políticas, à imagem e semelhança da governação anterior, que levou à falência da empresa.
No mesmo dia, coincidência ou não, o CDS veio publicamente regozijar-se com as operações da SATA entre a Terceira e a América, com a ingénua (?) referência à “estreita colaboração” entre a Vice-Presidência do governo e a companhia.
Ou seja, uma confirmação de que são rotas “a pedido”, tal e qual como antigamente, e que os partidos da coligação, quando estavam na oposição, tanto criticavam e até criaram comissões de inquérito para averiguar das ingerências na gestão da empresa.
Como se não bastasse, no dia seguinte, o Vice-Presidente veio dizer esta coisa fantástica: “Estamos a analisar mais rotas”!
Coisa extraordinária para uma empresa à espera de ser reestruturada!
São irresponsabilidades como estas que levaram a SATA à ruína, deixando-nos agora às mãos de Bruxelas, que nos vai impor uma reestruturação a doer, para todos nós, açorianos contribuintes, pagarmos com juros as asneiras dos políticos.
Criar rotas sem viabilidade económica é entregar, de bandeja, argumentos a Bruxelas para impor mais dureza na reestruturação da companhia.
Pior, ainda, é voltarmos aos tempos ruinosos dos ACMIs, alugando aviões para engrossar os prejuízos e nunca mais equilibrar as contas, só para contentar os devaneios dos senhores políticos.
O Sr. Presidente do Governo ou o Sr. Secretário dos Transportes também vão, em “estreita colaboração”, pedir rotas semelhantes para as outras ilhas?
Qual é o critério? Ou não comem todos?
Há por aí muita gente que acha, por estarmos geograficamente longe de Bruxelas, os burocratas lá sentados não ligam nenhuma ao que se está a passar por cá.
Mas também há quem saiba que estamos a ser monitorizados à lupa, com o envio diário da actividade da SATA e com um serviço de ‘clipping’ sobre tudo o que se diz e se escreve acerca da companhia.
Nós, masoquistas sem emenda, lá vamos colocando mais uns pregos para o caixão.
E eles lá, esfregando as mãos para nos enviarem a factura…
Bronca à portuguesa
A repetição das eleições no círculo da Europa, por decisão do Tribunal Constitucional, é próprio da incompetência à portuguesa.
Às vezes parece que vivemos num país governado por gente desprovida de cérebro.
Se a lei era clara, segundo a qual todos os votos da emigração têm que vir acompanhados com cópia do cartão de cidadão, à semelhança do que acontece quando vamos presencialmente a uma mesa de voto, porque razão foram mandados misturar todos os votos?
Temos vindo a alertar, em todos os actos eleitorais dos últimos anos, que esta CNE (Comissão Nacional de Eleições), que sai cara ao orçamento público, é uma inutilidade, composta por gente que já provou, em vários momentos, ser incompetente para os cargos que ocupam, como se comprova mais uma vez.
O mal é mais profundo, porque quem tem culpa de tudo isto são os próprios partidos, que fazem as leis, criam as comissões, escolhem as pessoas para os respectivos cargos e, depois, querem limpar as mãos das broncas, como se nada fosse com eles.
O nosso sistema eleitoral precisa de ser alterado, parece haver consenso para isso, mas ninguém se mexe com receio de perder algum poder com as mudanças.
Os partidos grandes não querem actualizar os cadernos eleitorais com receio de perderem deputados, como é o caso aqui nos Açores, e os pequenos fogem disso como o diabo da cruz, porque receiam desaparecer se os grandes aprovarem um sistema proporcional que prejudique os mais pequenos.
Andamos nisto há vários anos, com todos a queixarem-se, nas noites eleitorais, mas depois volta tudo ao mesmo.
A decisão, agora, do Tribunal Constitucional, é uma espécie de vergonha esfregada na cara da CNE, do Ministério da Administração Interna, dos Negócios Estrangeiros e dos partidos políticos.
Todos têm culpa no cartório em mais esta bronca tipicamente à portuguesa.
(Osvaldo Cabral – Diário dos Açores de 20/02/2022)
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