osvaldo cabral 24 anos

24 anos
Quase dois meses depois da noite eleitoral de 25 de Outubro, o PS ainda não encontrou um registo consistente como maior partido da oposição.
Continua a viver num estado de negação e com uma postura arrogante nas suas intervenções, nada consentânea com o perfil sério e responsável do seu líder.
Um congresso antecipado para definir estratégias e outros protagonistas, talvez fosse mais aconselhável, caso contrário arrisca-se a ficar, também, 24 anos na oposição.
A chamada intempestiva do Secretário da Saúde à Comissão Parlamentar dos Assuntos Sociais foi um erro estratégico, de inabilidade política, parecendo uma avidez de vingança, mas resultando num ir à tosquia e sair tosquiado.
Quem está envolvido numa imensa trapalhada com a questão das máscaras defeituosas, numa incapacidade que revelou para resolver problemas sérios no acesso aos cuidados de saúde e na gestão ruinosa do HDES, que esteve colado às trágicas mortes ocorridas no lar de Nordeste, deveria ser mais recatado na abordagem destes assuntos.
A forma como também abordou, esta semana, o parecer do Tribunal de Contas sobre a Conta da Região, a evolução do emprego e do PIB, é outro sinal de que tudo se mantém na mesma nos corredores do partido, não percebendo ainda o que se passou na noite de 25 de Outubro.
Os avisos deixados pelo Tribunal de Contas são bem elucidativos do péssimo caminho que os governos anteriores escolheram na gestão da coisa pública, resultando no maior endividamento de sempre, de responsabilidades futuras gigantescas, várias gestões públicas na falência e no coma financeiro, como é o grande imbróglio da SATA.
Neste particular, é interessante ver a quantidade de gestores dos Conselhos de Administração dessas empresas públicas colados como lapas aos lugares de nomeação política, sem colocarem os seus lugares à disposição dos novos titulares das respectivas tutelas.
A fechar a semana veio ainda o relatório do Conselho Nacional da Educação sobre o Estado da Educação 2019, que coloca a nossa região, mais uma vez, na cauda dos piores resultados do insucesso e abandono escolar.
Negociamos mal o Plano de Resiliência, com uma estratégia errada de fortalecer políticas da administração pública, em vez de injectar a bazuca na economia privada para criação de riqueza e manutenção de empregos.
Vir dizer, por outro lado, que vamos beneficiar de um reforço das transferências do IVA, não é reforço nenhum, por se tratar tão somente do cálculo sobre o que nos é devido de IVA nos termos da Lei de Finanças Regionais.
Dizer que o PIB cresceu acima da média no ano passado, esquecendo os dois anos anteriores em que nos afundamos e divergimos, é continuar em negação.
Assim como não é totalmente esclarecedor afirmar que a dívida pública face ao PIB é de 43%, quando não se pode comparar com o critério nacional, já que não temos despesas de soberania (tribunais, polícias, exército, marinha, força aérea e por aí fora). Não é por acaso que o Tribunal de Contas fala em endividamento galopante dos últimos anos pré-pandemia, a evidenciar problemas estruturais muito graves.
Insistir, também, nos números do desemprego, sem explicar o que está por detrás do fenómeno com os chamados “desempregados invisíveis” e os que estão nos programas ocupacionais, é teimar em esconder o problema com uma visão cor de rosa da realidade.
Basta olharmos para a comparação entre Novembro de 2019 e Novembro de 2020 (ver quadro abaixo), para se perceber que temos menos 32 desempregados e mais 504 ocupacionais!
E é preciso não esquecer que quem está a segurar estes empregos, com a corda ao pescoço, são as empresas, que pagam impostos e continuam a alimentar o orçamento público.
Vamos terminar um ano que, por mais que o queremos esquecer, irá marcar as nossas vidas para sempre.
O novo ano é de esperança, mas é preciso estar atento às consequências que poderão surgir depois do fim das moratórias, dos apoios ao lay-off e do conjunto de ajudas económicas e sociais que provavelmente terá de ser prolongado.
No fundo, o que se pede, para além da resiliência, é de políticas de verdade, transparência e nunca esconder os problemas, sem esquecer um pouco de humildade, que faz falta em muitos políticos.
Foi assim que o PSD ficou 24 anos na oposição.
Repetir a mesma estratégia no PS é ficar condenado a outros 24. Feliz Natal… com segurança.

(

Osvaldo Cabral

– Diário dos Açores de 23/12/2020) — with

Osvaldo José Vieira Cabral

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