OS REIS DA MANIPULAÇÃO fake news

16 m
May be an image of ‎text that says '‎ہه HOME P Fake News 7 SHIF‎'‎
O Sergey Brin, um dos fulanos que inventaram aquele motor de busca que a malta usa todos os dias, usou famosamente um dia um punhado de palavras para cristalizar a descrição mais perfeita que já li da sua terra natal: a Rússia é uma espécie de Nigéria com neve. No entanto, há algo que os russos levaram à perfeição absoluta e fazem melhor do que ninguém, que é manipular as percepções. Nisso são campeões absolutos. E usam-no como arma no sentido literal (militar) do termo.
A ideia subjacente é assustadoramente simples: como credibilizar uma falsidade? Descredibilizando os factos, fazendo-os descer ao seu nível. E como se consegue isso? Emitindo uma série de narrativas contraditórias e concorrentes sobre um mesmo tema, o que cria uma cacofonia de informação que confunde o destinatário e o leva a questionar seja o que for que lhe chegue aos ouvidos. Incluindo a realidade. Na cabeça de quem recebe a mensagem tudo passa a ser ruído, incluindo os factos, e torna-se impossível saber em que acreditar.
Não é por acaso que o lema do canal Russia Today (RT) é “question more”, que é exactamente o seu objectivo e a base deste processo. Colocar o máximo de pessoas a questionar tudo e, especialmente, os factos. Não é também por acaso que a RT tem no activo a maior concentração de teóricos da conspiração por metro quadrado, como o Alex Jones. Aliás, “question more” é, na sua essência, o mantra universal dos teóricos da conspiração de todo o mundo.
Por exemplo, quando saem da mesma origem oito ou dez teorias conspiratórias sobre a responsabilidade do abate do MH17 da Malaysian Airlines (um caça ou um míssil ucraniano, o misterioso “Carlos”, um controlador de tráfego aéreo espanhol que afiança ter identificado dois caças ucranianos perto do MH17, a CIA, a Mossad, não houve míssil nenhum, a Nova Ordem Mundial quer desencadear a terceira guerra mundial, tentativa de assassínio do Putin pela NATO e por aí), a hipótese mais plausível torna-se apenas uma narrativa concorrente de todas elas, com o mesmo valor e igualmente questionável. Tudo passa a poder ser mentira, incluindo a verdade, que se dilui nesta cascata de realidades alternativas.
Depois, é tirar partido das animosidades. Confundir as barricadas. Quando colocamos a verdade e a mentira ao mesmo nível, chegamos ao ponto de, às acusações de “propaganda/desinformação russa” podermos perfeitamente contrapor credivelmente uma “propaganda/desinformação ocidental”. O Kremlin mente? O “Ocidente” também mente.
Com esta total obliteração do sentido crítico, fecha-se o círculo e atinge-se o objectivo, que é alcançar a equivalência moral. Nós somos maus? Os outros não são melhores. Mesmo que sejam. Não interessa. Daqui em diante, as minhas mentiras valem tanto como os teus factos.
Sociedades com um nível elevado de ignorância sobre o contexto histórico da Rússia, como a portuguesa, as de muitos países africanos e, muito especialmente, dos países latino-americanos, são particularmente vulneráveis a esta táctica, à qual até foi dado um nome: “maskirovka”, que teve nas suas origens uma doutrina militar de desinformação desenvolvida no início do século XX destinada a confundir o inimigo, e que foi agora ajustada à era das tecnologias da informação.
Esta criação do “nevoeiro da guerra” sobre as sociedades que o Kremlin considera inimigas, de tão hipnótica que é, está a ter um sucesso estrondoso. E é isso que a torna tão sinistra.
Like

Comment
Share
0 comments