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Mais um ano, mais uma edição do “ranking das escolas”, um exercício estatístico que compara os resultados de escolas que seleccionam os alunos com os resultados de escolas que acolhem todas as crianças, independentemente da sua condição económica ou aproveitamento escolar.
Façamos uma comparação: dois treinadores de futebol competem pelo título de melhor treinador. O prémio será atribuído ao treinador cuja equipa alcançar os melhores resultados. Na hora de seleccionar as equipas, um treinador tem o direito de escolher primeiro os jogadores que quer e, obviamente, escolhe os jogadores mais bem preparados e com maiores recursos no plano físico, técnico e táctico. O outro treinador fica com os jogadores que restarem.
A competição dura um ano e, obviamente, no final do ano, o treinador que escolheu os melhores jogadores teve melhores resultados na competição desportiva.
Significa isto que o treinador que venceu a competição é o melhor treinador? É óbvio que não. Simplesmente teve as melhores cartas, cartas essas que pôde escolher.
A questão do ranking das escolas passa muito por aqui. Como mero indicador genérico, é um conjunto de dados como qualquer outro. Porém, como comparação entre escolas melhores e piores, é um erro estatístico claro, um caso de probabilidade condicionada adulterado pelo erro da amostra. Apesar do erro estatístico crasso, todos os anos a comunicação social revisita este ranking enganador, muito bem aproveitado pelo negócio do ensino privado para alicerçar a imagem de que os colégios privados prestam um melhor serviço de ensino do que a Escola Pública.
Convenhamos: se uma escola pública puder seleccionar os seus alunos com base nas notas escolares e nas condições socio-económicas, qualquer escola pública teria resultados nos exames ao nível dos colégios privados mais bem classificados neste ranking. Isso não significa que o ensino é melhor ou pior, significa apenas que a selecção é condicionada.
E não falemos, sequer, de questões como notas inflacionadas e outras técnicas que o negócio do ensino utiliza para alterar resultados escolares à medida dos seus clientes. Esse é todo um outro universo que merece detalhada atenção por si só.
Com o tema dos rankings novamente na ordem do dia, importa perguntar porquê. Porque é que, sabendo que este ranking compara realidades incomparáveis, porque é que se insiste em alegar que isto é uma classificação entre melhores e piores escolas?
A resposta está no texto da imagem, um artigo de Daniel Oliveira que hoje importa recordar.
Se parecer que este ranking foi criado ardilosamente para promover o negócio do ensino privado, não será pura coincidência.
O texto original de Daniel Oliveira pode ser consultado aqui:
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- Ricardo AntunesA comparação não é a melhor. Obviamente que as melhores equipas escolhem primeiro os jogadores que querem, e obviamente que os treinadores dessas equipas serão os melhores porque vão ganhar mais títulos.E há rankings para isso tudo (jogadores, equipas, treinadores…).A primeira falácia é dizer que são as escolas a escolher os melhores alunos. Do que eu observei em alguns casos, é mais o contrário: os alunos (e as famílias) a escolher as escolas (e as escolas a condicionar isso por via dos valores cobrados e de outros critérios em parte discutíveis- para mim não é discutível que uma escola defina um projeto e só receba alunos que aceitem esse projeto, mas outros critérios são discutíveis).A segunda falácia é dar a entender que o professor está aqui ao nível do treinador. Não está. O treinador (mas equipas médias/grandes participa na escolha dos jogadores. Os professores, em geral, mesmo nas ditas escolas de elite, não participam assim tão diretamente. São escolhidos pelas direções tal como os alunos.
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Rui Nelson DinisDiscordo. E não perceber nada de rankings, nem para que servem. Os rankings dd escola são para comparar as escolas consigo próprias, ao longo do tempo, bem como com escolas similares (que qualquer bom agente educativo conhece com facilidade).Dão infor…See more- Like
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