OS NOVOS IDOSOS POR OSVALDO CABRAL

ENTREVISTA
“Novos Idosos” merece melhor comunicação
Depois de meses de estudos, a vice-presidência do Governo Regional acaba de lançar, em fase experimental, o programa “Novos Idosos”, que visa criar condições para que os idosos não sejam institucionalizados e permaneçam no seu habitat. Qual a sua opinião sobre esta iniciativa?
Aí está uma das melhores iniciativas deste governo, mas que não sabe fazer uso dela em termos comunicacionais. Ela merecia melhor divulgação, melhor cenário do que uma sala formal cheia de gente engravatada e menos cheiro a burocracia com assinaturas de papéis. A presença do Presidente do Governo deu peso à medida, mas falta sempre nesta coligação uma preparação mais perfeita em termos de marketing político. Artur Lima tem-se revelado certeiro nalgumas medidas e não deixa de ser uma boa surpresa neste governo, apesar de se meter por alguns atalhos que não são da sua competência. Mas ao menos mexe-se, coisa que falta noutros governantes.
A vice-presidência assume que começa a trabalhar com 100 idosos e com regras apertadas para ver se resulta. O que pode falhar num projeto destes, em que o financiamento por idoso pode aproximar-se dos 950 euros por mês, de acordo com as necessidades específicas de cada indivíduo?
Teoricamente tem tudo para dar certo. É sabido o problema grave que temos, em todas as ilhas, nesta questão do cuidar dos idosos. Por enquanto ainda é um projeto-piloto, mas acho que devia estender-se a outras ilhas e a outros concelhos, mesmo sendo experimental. As regras vão ser apertadas, segundo garante o próprio projeto, mas pode estar aqui o segredo para resolver muitas das situações graves e para ajudar a resolver, também, as famosas e enormes listas de espera nos lares.
A conceção do projeto parece muito ligada à capacidade de fiscalização in situ, ou seja, as inspeções deverão ser autorizadas por quem aderir à iniciativa a terem acesso às condições de permanência do idoso no seu domicílio. Parece-lhe uma medida necessária, suficiente ou excessiva?
Em matéria de escrutínio de dinheiros públicos, nada é excessivo. Nós habituamo-nos a ver, ao longo destes anos, o esbanjamento do erário público sem um mínimo de fiscalização e sem qualquer responsabilidade política ou pessoal por muitos desmandos. A gestão pública tem que ser rigorosa, exemplar e com responsabilidade assumida. Trata-se de uma medida que deve ser estendida a outros setores como exemplo de rigor e escrutínio.
Permanecer em casa é possível para um idoso até determinadas condições de degradação… Depois faltam as chamadas enfermarias de retaguarda. Justifica-se que seja esse o próximo grande investimento da Região?
Com este projeto inovador não se pode descurar o investimento público neste setor, seja nas enfermarias de retaguarda ou nas instituições especializadas. O investimento na saúde e bem-estar dos idosos não é uma despesa. É um imperativo social de toda a coletividade, do bem público. Oxalá tenha muito sucesso e que seja expandida, rapidamente, aos outros concelhos dos Açores.
OSVALDO CABRAL *

*JORNALISTA

  • in, Diário Insular, 18 de Junho / 2022
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