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Em prol da velhice – Crónica Rádio Atlântida
Ainda sou do tempo em que, quase todos os dias, os filhos casados visitavam a casa dos pais. Era um hábito antigo que traduzia o amor filial e uma certa dependência do mais velho chefe de família. Esse costume permitia também que os netos tivessem um contato estreito com a casa dos avós à qual se recorria sempre que necessário.
De há uns tempos para cá a figura dos avós nos espaços urbanos e nas localidades rurais alterou-se profundamente.
Poucos filhos visitam regularmente os pais, exemplo seguido pelos netos, a não ser por razões de mera conveniência: ir buscar os meninos à escola, dar-lhes de comer, levá-los a atividades extra-escolares, ou seja: para ser uma espécie de bá-bá que se usa quando interessa…
O tempo em que os netos ouviam estórias, eram acompanhados nos trabalhos de casa, ajudavam nas lidas da terra, ou aprendiam a fazer brinquedos tradicionais com as suas próprias mãos, pertence a um passado remoto.
O mundo mudou, é verdade, mas a experiência dos idosos e idosas constitui um património familiar e social que tem de se preservar.
A sociedade hoje tem na inclusão dos idosos um objetivo primordial. E para se manter solidária e humanista, tem de fazer alguma coisa para concretizar este desígnio.
Porque o idoso não pode ser um peso, um fardo, gente a mais, nem para a família nem para a sociedade. É uma pessoa com direitos e deveres como os demais e merece estar ativa e transmitir os seus conhecimentos de experiências feitos, para benefício de todos.
Impõe-se por isso, que os idosos sejam respeitados e vejam satisfeitas as suas necessidades básicas. O direito à saúde, à assistência médica, o direito à mobilidade no interior e exterior da sua casa, o direito a uma reforma ou pensão dignas das suas necessidades pessoais e familiares. E não um chequezinho numa situação aflitiva.
Responder aos direitos e necessidades da pessoa idosa, que são cada vez mais numerosas, enclausurando-as em lares e instituições de cuidados continuados, sem pessoal médico, de enfermagem e de técnicos preparados para cuidarem dessa gente fragilizada, é agravar-lhes a solidão e apressar-lhes o destino final.
Esta é também uma forma de violência em que vivem muitos cidadãos na vida ativa, mas quando ela afeta os mais frágeis e idosos, é de uma indignidade reprovável.
No próximo sábado vai celebrar-se, o Dia Internacional da Pessoa Idosa, instituído pela ONU em 1991.
Antevejo visitas e festinhas celebrativas, onde os responsáveis governamentais anunciarão aumentos de uns euritos nas magras pensões, ou um chequezinho para emagrecer as despesas com os encargos da saúde e da sobrevivência.
Os idosos, que a custo carregaram o tecido social, merecem muito mais. Merecem sobretudo que não os desconsiderem, com esmolas e gestos de caridadezinhas que não dignificam ninguém. Antes é uma forma de rejeitá-los e de exclui-los da sociedade que ajudaram a construir.
Para todos os idosos, o meu agradecimento pelas lições de honra, ajuda, simplicidade e dignidade que diariamente nos dão, e votos sinceros de Haja Saúde!
26 de setembro de 2022