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Os Açores não estão à venda, https://escritemdia.blogspot.com/2014/06/os-acores-nao-estao-venda.html
1. A visita do presidente chinês à Ilha Terceira, no próximo dia 22 de Julho, envolve muitas interrogações e perplexidades.
O crescente domínio do capital chinês em setores chave da economia portuguesa, a par da preocupante expansão de médias e grandes superfícies, abastecidas apenas por produtos made in China, constitui motivo suficiente para uma séria reflexão sobre o futuro posicionamento de Portugal e dos Açores no mundo globalizado.
O cidadão comum já se habituou a frequentar as lojas dos chineses espalhadas por pequenos, médios e grandes aglomerados populacionais. Não pela qualidade da mercadoria, mas pela sua diversidade e preços atrativos, elaborados numa lógica consumista, baseada em baixos salários e em atropelos a direitos fundamentais, nomeadamente os da criança.
Quando, de há largos anos, o comércio se especializou na venda de produtos de vestuário e calçado, materiais de construção, eletricidade, acessórios domésticos, papelaria, bricolage e utensílios de cozinha, por exemplo, eis que os lojistas chineses voltam a vender de tudo um pouco, de qualidade duvidosa e com deficiente informação ao consumidor, sem que a fiscalização surja a fazer cumprir a legislação em vigor.
A crise financeira que afetou as micro e pequenas empresas, levou ao encerramento de casas comerciais nas principais artérias citadinas. Todavia, não impediu que novos e grandes espaços chineses abrissem, isentos de alguns impostos. Porquê este protecionismo português para com cidadãos acompanhados por um estado comunista de economia capitalista que afronta contra a liberdade de expressão, de associação…contra direitos humanos de que a Europa se diz paladina e guardiã?
Por que tememos o “gigante asiático” se a sua fragilidade reside nos valores que a cultura europeia mais apregoa?
Ou tememos que o expansionismo e o capitalismo chinês esmaguem o ocidente, onde se geraram os valores do humanismo que o tempo e os homens desprezaram dando lugar ao neoliberalismo amante do dinheiro e inimigo da pessoa humana e de outros valores sagrados?
2. A vinda à Terceira de Xi Jinping, Presidente da China e secretário-geral do Partido comunista, em 22 de julho, acompanhado do vice-primeiro ministro Paulo Portas tem o seu quê de estranho e insólito.
Há algum tempo, os Estados Unidos anunciaram a intenção de reduzir ao mínimo a sua presença na Base das Lajes, por razões estratégico-militares. Isto já ocorria, paulatinamente, nas últimas décadas, por entre protestos do pessoal civil e de lamentos de agentes da economia local, irremediavelmente afetada pela saída dos americanos.
Que decisão pretendem os EUA tomar e que consequências terá na Terceira? Ainda ninguém sabe. Decorrem, entretanto, conversações entre a Região e políticos açor-americanos para encontrar alternativas para a Base das Lajes.
A visita do lider chinês acompanhada de um governante português, deveria merecer, portanto, o mais veemente repúdio das autoridades regionais, e dos açorianos.
A Base das Lajes, no centro do arquipélago, é uma estrutura aeroportuária com grande potencial estratégico, face à dimensão da Zona Económica exclusiva dos Açores (ZEE). O espaço territorial é de cerca de 1 milhão de Kms 2, dimensão suficiente para gerar sinergias, potenciar a investigação e exploração dos fundos marinhos, acautelando sempre o interesse dos Açores e envolvendo nesses projetos entidades regionais, nacionais e internacionais credíveis.
A soberania do Estado Português sobre os Açores, não lhe dá o direito de vender, alugar ou concessionar espaços territoriais terrestres ou marinhos, contra a vontade e em prejuízo dos açorianos.
Os Açores não estão à venda, nem pretendem ser alugados a uma potência estrangeira, muito menos negociados, nas costas do povo, por um ministro do Governo português.
A dignidade de um povo mede-se pela sua capacidade de resiliência e dessa temos provas dadas ao longo da nossa história.
Ao Oriente e ao Ocidente levámos a Fé e a Cultura, fomos heróis e mártires, construimos cidades e formámos homens com direitos e deveres.
Não é agora, a troco de um prato de lentilhas, que abdicaremos de valores perenes porque o nosso lema é: “Antes morrer livres, que em paz sujeitos”.
José Gabriel Ávila
jornalista c.p. 536