ORWELL 1984 REVISITADO EM 2007 qualquer semelhança com 2020 é coincidente

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1.1. A ASAE VAI BANIR CRÓNICA 47 novº 2007

Como muitos o citam sem o terem lido extraio daqui um resumo da obra (http://www.duplipensar.net/george-orwell/1984-orwell-resumo.html ). No mais famoso romance de George Orwell, a história passa-se no “futuro” ano de 1984 na Inglaterra, ou Pista de Pouso Número 1, parte integrante do megabloco da Oceânia. É comum a confusão dos leitores com o continente homónimo real. O megabloco imaginado por Orwell tem este nome por ser uma congregação de países de todos os oceanos. A união da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas), Reino Unido, Sul da África e Austrália não parece estar tão distante da realidade. A transformação da realidade é o tema principal de 1984. Disfarçada de democracia, a Oceânia vive um totalitarismo desde que o IngSoc (o Partido) chegou ao poder sob a batuta do omnipresente Grande Irmão (Big Brother). Narrado na terceira pessoa, o livro conta a história de Winston Smith, membro do partido externo, funcionário do Ministério da Verdade. A função de Winston é reescrever e alterar dados de acordo com o interesse do Partido. Nada muito diferente do que hoje em dia faz um qualquer jornalista ou um historiador.

Winston questiona a opressão que o Partido exercia nos cidadãos. Se alguém pensa diferente, comete crimideia (crime de ideia em Novilíngua) e fatalmente será capturado pela Polícia do Pensamento e vaporizado. Desaparecia, pura e simplesmente como se nunca tivesse existido. Inspirado na opressão dos regimes totalitários das décadas de 30 e 40, o livro não se resume a apenas criticar o estalinismo e o nazismo, mas toda a nivelação da sociedade, a redução do indivíduo a peça para servir o estado ou o mercado através do controlo total, incluindo o pensamento e a redução do idioma.

Winston Smith representa o cidadão comum vigiado pelas teletelas e pelas diretrizes do Partido. Orwell escolhe este nome na soma da ‘homenagem’ ao primeiro-ministro Winston Churchill com o uso do sobrenome mais comum na Inglaterra. Esta obra-prima foi escrita no ano de 1948 e o seu título invertido para 1984 por pressão dos editores. A intenção de Orwell era descrever um futuro baseado nos absurdos do presente. Winston Smith e todos os cidadãos sabiam que qualquer atitude suspeita poderia significar o seu fim. Não era apenas sair de um programa de TV com o bolso cheio de dinheiro, mas desaparecer de facto. Os vizinhos e os próprios filhos eram incentivados a denunciar à Polícia do Pensamento quem cometesse crimideia. Facto comum nos regimes totalitários.

Algo estava errado, Winston não sabia como, mas sentia-o e precisava extravasar. Com quem seria seguro comentar sobre suas angústias? Não tendo respostas satisfatórias, Winston compra clandestinamente um bloco e um lápis (artigos de venda proibida que adquiriu num antiquário). Para verbalizar os seus sentimentos, Winston atualiza o diário usando o canto “cego” do apartamento. Desta forma não recebia comentários nem era focado pela teletela de seu apartamento. Um membro do Partido (mesmo que externo como Winston) tinha de ter um teletela em casa, nem que fosse antiga.

A primeira frase que Winston escreve é justificável e atual:

Abaixo o Big Brother!

A vida de repressão e medo nem sempre fora assim na Oceânia. Antes da Terceira Guerra e do Partido chegar ao poder, Winston desfrutava uma vida normal com os seus pais. Mesmo Winston tinha dificuldades para lembrar as recordações do passado e da vida pré-revolucionária. Os esforços da propaganda do Partido com números e duplipensamento tornavam a tarefa quase impossível já que o futuro, presente e passado eram controlados pelo Partido.

O próprio ofício de Winston era transformar a realidade. No MINIVER (Ministério da Verdade), ele alterava dados de tudo que pudesse contradizer as verdades do Partido e lançava os originais no incinerador (Buraco da Memória). A função de Winston é uma crítica à fabricação da verdade pela mídia e da ascensão e queda de ídolos de acordo com alguns interesses.

O Partido informa: a ração de chocolate semanal aumenta para 20 g por cidadão. O trabalho de Winston consistia em coletar todos os dados antigos em que descreviam que a ração antiga era de 30 g e substituí-los pela versão oficial. A população agradece ao Grande Irmão pelo aumento devido aos propósitos mediáticos do poder.

Winston entendia que adulterava a verdade. Havia muito tempo que ele encobria a verdade para si, mas, aos poucos, começava, calado e solitariamente, a questionar tudo. O medo de comentar algo era um dos trunfos do Partido para o controlo total da população. Winston tinha esperança na prole. Na sua ingénua visão [que se confunde com a biografia de Orwell na sua visão durante a guerra civil espanhola] a prole é a única que pode mudar o status quo.

Winston lembra os “Dois minutos de ódio”, parte do dia em que todos os membros do partido se reúnem para ver propaganda enaltecendo as conquistas do Grande Irmão e, principalmente, direcionar o ódio contido contra os inimigos (toteísmo usado amplamente pelo ser humano: odeie o seu inimigo e identifique-se com o seu semelhante).

Winston separara-se devido à devoção de sua esposa ao Partido que seguia as determinações que o sexo deveria ser apenas para procriação de novos cidadãos. O sexo como prazer era crime. Ao ver uma bela mulher, lembrou-se da última vez que fizera sexo. Havia três anos e com uma prostituta repugnante. Boicotar o sexo, como pretendem os atuais donos do mundo é uma das forças motrizes para dominar a mente.

Winston anotava tudo o que se passava pela sua cabeça. Um exercício proibido, mas necessário. Anotar e lembrar pode ser muito perigoso. O caso mais escandaloso que revoltava Winston era o de Jones, Aaronson and Rutherford, os últimos três sobreviventes da Revolução. Presos em 1965, confessaram assassinatos e sabotagens nos seus julgamentos. Foram perdoados, mas logo após, foram presos e executados. Após um breve período Winston viu-os no Café Castanheira (local mal visto pelos cidadãos que não queriam cometer crimideia).

No ano do julgamento Winston refez uma matéria sobre os três ‘traidores’. Recebeu através do tubo de transporte que eles estavam na Lestásia naqueles dias, mas ele sabia que eles confessaram estar na Eurásia (naquela época a Eurásia era a inimiga, mas num piscar de olhos, a Lestásia deixava de ser a aliada e passava a ser a inimiga).

Esta é uma crítica às alianças políticas, principalmente ao pacto de Hitler e Estaline. Os nazis chegaram ao poder financiados também por setores dos EUA para combater o avanço do comunismo. Durante a vigência do pacto, a aliança entre Moscovo e Berlim sempre existiu para a população dos dois países. Eles não eram amigos, eles sempre foram amigos! No ano seguinte, rumo ao ‘espaço vital alemão’, os russos sempre foram os inimigos. Sempre tinham sido. Bastante atual se se comparar o apoio logístico e bélico dado aos estado-unidenses a Saddam Hussein, Osama bin Laden para combater o comunismo. Agora, eles são os inimigos eternos.

A mentira do Partido era a prova que Winston procurava para si. Havia algo podre na Oceânia. Winston, que era curioso, mas não era burro, deita o papel que podia incriminá-lo no buraco da memória. Revoltado, escreve no seu diário que liberdade é poder escrever que dois mais dois são quatro. As fábricas russas ainda contêm placas com o lema: dois mais dois são cinco se o partido quiser.

Não era bem-visto que membros do Partido frequentassem o bairro proletário. Winston estivera há poucos dias no mesmo local para comprar o seu diário. Depois de um contumaz bombardeio, Winston entrevista pessoas sobre como era a vida antes da guerra, mas os idosos não lembram mais, apenas futilidades e coisas pessoais.

Ao voltar ao antiquário o proprietário tem uma surpresa para o curioso por antiguidades. Winston esperava ver algum objeto anterior ao Partido, mas o que o Sr. Carrrington lhe mostra é um quarto com arrumação e mobílias antigas. Sem teletelas. Winston, ao sair do antiquário, vê uma mulher e desconfia que ela seja uma espia da Polícia do Pensamento. No dia seguinte, encontra-a no Ministério da Verdade, o que aumenta o seu temor em ser denunciado. Ao passar por Winston, ela simula uma dor para desviar a atenção das teletelas, e passar um bilhete escrito: “Eu te amo”.

As normas do Partido deixavam claro que membros do Partido, principalmente dos sexos opostos, não deveriam comunicar-se a não ser a respeito de trabalho. Passaram semanas em conversas fragmentadas até conseguirem marcar um encontro num lugar secreto longe dos microfones escondidos. Winston só descobriu o seu nome após beijá-la. Júlia confessa que ficou atraída por Winston pelo seu rosto que parecia ir contra o partido. Estava na cara que Winston era perigoso à ordem e ao progresso.

Winston surpreende-se ao saber que Júlia se ‘apaixonava’ com facilidade. O desejo dela era corromper o estado por dentro, literalmente. Para continuar o seu romance com Júlia, Winston tem a ideia de alugar aquele quarto do antiquário. Winston ficou impressionado e passou a acreditar que Júlia seria uma ótima companheira de guerra. Por enquanto, era a pessoa com quem Winston podia compartilhar os seus sentimentos e secretos. Apaixonado, recupera peso e saúde.

Certo dia, O’Brien, um membro do Partido Interno, percebe também que Winston era diferente dos outros e convida-o, para despistar as teletelas, a ir ao seu apartamento ver a nova edição do dicionário de Novilíngua. O convite de O’Brien era incomum e fez Winston animar-se com a possibilidade de uma insurreição. Passa a crer que a Fraternidade não era apenas peça de propaganda, a organização anti-Grande Irmão responsável por todos os danos causados na Oceânia tal qual Bola de Neve em a “Revolução dos Bichos”.

Winston leva Júlia ao encontro. Para espanto do casal, O’Brien desliga a teletela do luxuoso apartamento. Alguns membros do partido Interno tinham permissão para se desconetar da sua ‘banda larga’ por alguns instantes.

Winston confessa o seu desejo de conspirar contra o Partido, pois acreditava na existência da Fraternidade e para tal as suas esperanças estavam depositadas em O’Brien. Os planos eram regados a vinho digno, artigo inviável para os integrantes do Partido Externo, e o brinde destinado ao líder da Fraternidade, Emanuel Goldstein.

Dias depois, Winston recebe a obra política de Goldstein.

Winston “devora” o livro enquanto Júlia não demonstra o mesmo interesse. Winston ainda acredita nas proles mesmo ao ver uma mulher cantando uma música prefabricada em máquinas de fazer versos. Nada muito distante da música atual. “Nós somos os mortos” filosofa Winston ao contemplar a vida simples da prole. A ignorância dos menos abastados não era perigo para o Partido e, portanto, não sofria tanta repressão quanto os membros, superiores e inferiores do Partido, a classe média. “Nós somos os mortos” repete uma voz metálica. Sim, era uma teletela escondida atrás de um quadro. Guardas irrompem no quarto e Winston vai para uma cela no Ministério do Amor.

Até as celas tinham teletelas que vigiavam cada passo de um Winston doente e faminto. Os prisioneiros têm a fisionomia dos do campo de concentração. Ao encontrar O’Brien, Winston que pensara que ele também fora capturado, escuta a frase mais enigmática do livro: “Eles já me agarraram há muito tempo”. Winston vai para uma sala e O’Brien torna-se o seu torturador. O’Brien explica o conceito do duplipensar, o funcionamento do Partido e questiona Winston sobre as frases de seu diário sobre liberdade. O’Brien não esquece o que o Winston escreveu. A liberdade é o tema para que O’Brien explique durante a tortura o controle da realidade.

Se necessário deveria haver tantos dedos na sua mão estendida quantos o partido quisesse. A verdade pertence ao Partido já que este controla a memória das pessoas. Winston, torturado e drogado começa a aceitar o mundo de O’Brien e passa ao estágio seguinte de adaptação que consiste em aprender, entender e aceitar.

Winston sabia que já se estava a adaptar e a confessar que a Eurásia era inimiga e que nunca tinha visto a foto dos revolucionários. Mas ainda faltava a reintegração e este ritual de passagem só poderia ser concluído no Quarto 101. Segundo O’Brien, o pior lugar do mundo. O Quarto 101 é um inferno personalizado. Como Winston tem pavor de roedores, os torturadores colocam uma máscara no rosto com uma abertura para uma gaiola cheia de ratos famintos separada apenas por uma portinhola. A única forma de escapar é renegar o perigo maior ao Partido, o amor a outra pessoa acima do Grande Irmão. “Pare. Faça isso com a Júlia” grita Winston.

Winston, libertado, termina seus dias tomando Gin Vitória e jogando sozinho xadrez no Castanheira Café. Ao fundo, o seu rosto aparece na teletela confessando vários crimes. Foi libertado e teve a posição rebaixada para um trabalho ordinário num subcomité. Trajetória de milhares de pessoas de regimes totalitários, como o checo Thomaz de “A Insustentável Leveza do Ser” de Milan Kundera, o caso do médico que vira pintor de paredes ao renegar as ordens do partido não é muito diferente daqueles que não se adaptam em suas profissões no mundo livre S.A.

Júlia escapa também do Quarto 101. O Partido separou-os e os dois só voltaram a encontrar-se ocasionalmente. Já não eram as mesmas pessoas. Tinham “crescido” e traído. Winston, no Café Castanheira, sorri. Está completamente adaptado ao mundo. Finalmente ele ama o Grande Irmão.”

Já tudo isto acontece e só vai piorar. O Big Brother já está nas nossas vidas e nós aceitamo-lo sem pruridos. É fácil saber o que fazemos através dos cartões de crédito e débito, do novo cartão de cidadão, da passagem pelas portagens duma qualquer autoestrada, pelo Metro e seu “Cartão Andante”, pelas câmaras nos centros comerciais e em toda a parte. Não se admirem se qualquer dia com a nossa inconformidade e individualismo pudermos ser privados da nossa pseudoliberdade por não termos cumprido as normas de higiene e de saúde que “eles” determinaram serem obrigatórias. Cada vez há menos espaço para seres pensantes e questionadores como eu.

Só espero que isto não acelere demasiado para os anos de vida que ainda tenho. Não se preocupem demasiado pois eu sou assim e esta fobia excessiva que tenho contra as bases de dados, é um sinal evidente da minha hipocondria e da necessidade absoluta que existe de me internarem como um perigo para a sociedade uniforme e cinzenta que me querem impor. Ah! Se eu ao menos tivesse cá a cicuta, repetia-se o destino naquele cujo nome não podemos mencionar sem arriscarmos irmos presos.

Podia continuar a crónica com o comezinho incómodo das últimas semanas enquanto deitavam abaixo, à marretada e à força bruta de retroescavadora, a centenária casa aqui ao lado, que em ruínas nos acompanhara nos últimos dois anos. O som daqueles constantes tremores de terra, abanava a estrutura centenária que habita, em especial a falsa (sótão) no primeiro andar em madeira… Se não soubesse já como era sentir um terramoto esta era a oportunidade de o experimentar entre as oito da manhã e as cinco da tarde. Dias e dias, de fio a pavio, sempre a tremer. Pior que a doença de Parkinson. Sem sequer poder abrir a janela devido às toneladas de pó que se iam acumulando pela casa toda.

Era como se o mundo real lá fora estivesse a conspirar contra mim, e estava, mas a maior parte das pessoas nem se apercebia e vivia tranquila na morrinha da lufa diária pela sobrevivência, que a mais não podiam aspirar. Voltemos ao Big Brother… Também isto constava das previsões de George Orwell (n. Eric Arthur Blair, Bengala, 1903-1950). Nesse seu famoso romance, a história desenrola-se quatro décadas depois de ter sido escrito, num “futuro” ano de 1984 na Inglaterra, aliás, PP1 (Pista de Pouso Número 1), parte integrante do megabloco da Oceânia.

O megabloco imaginado por Orwell tem este nome por ser a congregação de países de todos os oceanos. A união da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas), Reino Unido, Sul da África e Austrália não parece estar tão distante da realidade.

A transformação da realidade é o tema do livro. Disfarçada de democracia, a Oceânia vive um totalitarismo desde que o IngSoc (o Partido) chegou ao poder sob a batuta do omnipresente Grande Irmão. Narrado na terceira pessoa, o livro conta a história de Winston Smith, membro do partido externo e funcionário do Ministério da Verdade. A sua função é re-escrever e alterar os dados de acordo com os interesses do Partido. Não muito diferente das atuais funções de um qualquer jornalista ou historiador que se preze, seja na América ou mesmo na UE.

Winston questiona a opressão que o Partido exerce nos cidadãos. Se alguém pensasse de forma diferente, cometia crimideia (crime de ideia, em novilíngua), seria fatalmente capturado pela Polícia do Pensamento e vaporizado. Desaparecia.

Eu adquiri rapidamente pés de galinha, os cabelos e pelos eriçam-se como se tivesse visto um fantasma, isto, claro está, no caso de existirem. Comecei a olhar por sobre o ombro à cata de alguém que me espiolhe ou esquadrinhe as ideias, tão diversas do pensamento “aprovado e oficial”. Não me apetecia ser vaporizado pois tinha um legado que queria imune à ação de um qualquer ministério da verdade. Inspirado na opressão dos regimes totalitários das décadas de 1930 e 1940, o livro de Orwell critica o estalinismo e o nazismo e toda a nivelação da sociedade, tal como pretenderam fazer em Portugal depois do 25 de abril. Uma redução do indivíduo a uma peça para servir o estado ou o mercado através do controlo total, incluindo o pensamento e a redução do idioma. Winston Smith representa o cidadão comum vigiado pelos ecrãs (teletelas) e diretrizes do Partido. Orwell escolhera o nome em ‘homenagem’ ao primeiro-ministro Winston Churchill. Esta obra-prima escrita em 1948 viu o título invertido para “1984” por pressão dos editores. A intenção era descrever o futuro baseado nos absurdos do presente. Winston e todos os cidadãos sabiam que qualquer atitude suspeita poderia significar o fim. Não apenas sair de um programa televisivo “Big Brother” com o bolso cheio de dinheiro, mas desaparecer de facto. Vizinhos e filhos eram incentivados a denunciar à Polícia do Pensamento quem cometesse crimideia. Nada que Mao, Pol Pot e tantos outros, não tivessem já feito. Comum em regimes totalitários.

Winston separou-se da mulher devido à devoção dela ao Partido. Ela seguia a norma de que o sexo era apenas para procriação de cidadãos. Como prazer era um crime. Boicotar o sexo é uma das forças motrizes para dominar a mente. Winston inventariava tudo num exercício proibido, mas necessário. Anotar pode ser muito perigoso. O caso mais escandaloso que revoltava Winston era o dos últimos sobreviventes da Revolução. Foram presos e confessaram assassinatos e sabotagens. Foram perdoados. Depois, Winston viu-os no Café, local mal visto pelos cidadãos que não queriam cometer crimideia. Foram executados. No ano do julgamento Winston refez uma matéria sobre os três ‘traidores’. Informavam que estavam na Lestásia, mas estava na Eurásia que era inimiga naquela época. Num piscar de olhos, deixava de ser a aliada e passava a ser a inimiga.

Esta era uma dura crítica às alianças políticas, principalmente ao pacto de Hitler e Estaline. Os nazis chegaram ao poder financiados pelos EUA para combater o avanço comunista. Durante a vigência do pacto, a aliança entre Moscovo e Berlim sempre existiu para a população dos dois países. “Eles não eram amigos, sempre foram amigos!” No ano seguinte, rumo ao espaço vital alemão, os russos “sempre foram os inimigos”. Sempre.

Os membros do Partido não deviam frequentar o bairro proletário. Winston fora lá para comprar o diário e entrevistara pessoas sobre a vida antes da guerra. Os idosos não se lembravam. Ao voltar ao antiquário, o proprietário mostra-lhe um quarto com mobílias antigas sem teletelas. Ao sair, vê uma mulher e desconfia que seja espia da Polícia do Pensamento. No dia seguinte, encontra-a no Ministério da Verdade. Aumenta o temor em ser denunciado. No entanto, ao passar por Winston, passa-lhe um bilhete: “amo-te”. As normas do Partido determinavam que os seus membros não deveriam comunicar a não ser sobre trabalho. Passaram semanas e marcaram um encontro longe dos microfones escondidos. Winston descobre-lhe o nome após beijá-la. Júlia confessa que ficou atraída pelo seu rosto que parecia ir contra o partido. Winston surpreende-se ao saber que Júlia se ‘apaixonava’ com facilidade.

Esta foi a trajetória de milhares de pessoas em regimes totalitários, como o checo Thomaz em “A Insustentável Leveza do Ser” de Milan Kundera. A ficção já não iguala a realidade, mas é ultrapassada por esta. Este texto é bastante atual se compararmos o apoio logístico e bélico dado pelos norte-americanos a Saddam Hussein e a Osama bin Laden para combaterem o comunismo. Depois passaram a inimigos eternos. Saddam foi capturado e enforcado, Osama ausente em parte incerta. Assim no-lo querem fazer crer. Podem sempre desenterrá-lo, um dia, se e quando for necessário. O que acabamos de rever é já a quase realidade em que vivemos.

A privacidade de há 10, 15, 20 anos ou mais, seria impensável hoje. Tudo em nome da defesa dos valores sagrados da civilização ocidental. Da luta contra o terrorismo. Doutra qualquer peleja que os líderes hão de inventar. Como as armas químicas que o velhaco genocida do Saddam Hussein afinal não tinha. O mesmo que os EUA forjaram com Bin Laden. Desde há um século que “inventam” personalidades destas para fazerem o que lhes convém, lembremo-nos do Xá da Pérsia, ou do Panamá e de mais umas centenas de golpes falhados e aqueles que fizeram ricochete como no atual Irão…

Aprovada pela maioria socialista portuguesa na Assembleia da República uma conquista inolvidável de todos os “esquerdistas” traumatizados (ler adiante). Alguns ficaram com pena de se não ir mais além. De não ter havido coragem para desobrigar totalmente os alunos de frequentarem aulas. Reduzia-se imenso o défice nacional, dispensando milhares de professores, só necessários no caso extremo e anormal de haver exames ou provas de avaliação. As famílias ficavam felizes com os filhos que tinham obtido excelente aproveitamento escolar e podiam ser doutores, o governo exultava com as estatísticas para Bruxelas ver e com os progressos feitos no seu mandato e acabava-se com esta fascista prática de obrigar crianças e adolescentes a aprenderem matéria que não serve para nada.

Jornal Público Notícia 2008-01-18 11:09:00

O novo diploma permite que os estudantes passem de ano sem frequentar as aulas, desde que sejam aprovados nas provas de recuperação. A reprovação só ocorre se o aluno faltar sem justificação à prova de recuperação, ficando retido, no caso do básico, ou excluído da frequência da disciplina, no caso do secundário. Este documento estipula que o prazo limite de faltas não justificadas é de duas semanas, se o aluno estiver no primeiro ciclo, e do dobro dos tempos letivos semanais de uma disciplina, se o estudante frequentar os restantes níveis de ensino.

Mas os desígnios do governo eram mais avançados: fechar o interior do país para ficar como uma coutada dos ricos que ali poderiam comprar umas casinhas ao desbarato para passarem férias. Deveriam ter decidido encerrar todo o país. Com a lusitana nação fechada era mais fácil governá-la. Gastava-se menos dinheiro. Ficava resolvido o problema do défice. Os espanhóis vinham e podiam plantar tudo o que os portugueses não plantam. Porque não dá, ou porque não vale a pena, dizem os lusos. Faziam disto a horta ou quinta espanhola, à moda dos da ilha do Faial que entendiam a ilha do Pico como colónia privativa de férias. Só havia um problema. Os portugueses têm uma produtividade elevada quando trabalham no estrangeiro. Aí era uma chatice. Se começassem a trabalhar nas hortas espanholas, que dantes eram portuguesas, podiam habituar-se a trabalhar no duro e ainda tornavam este país rentável… Podia ainda falar-vos das chuvas torrenciais dos últimos dias. Como é habitual, levaram nas suas enxurradas mais umas terras, desabadas estrada dentro, e obrigaram à intervenção das solícitas equipas da proteção civil açoriana, mas tudisto era habitual e já ninguém estranhava. Vários os começos idealizados, mas todos esquecidos. Sintoma do avançar da idade.