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Subject: Re: FALECEU UM GRANDE AMIGO A AICL ESTÁ DE LUTO
Date: Mon, 15 Jan 2018 20:46:37 -0500
From: Almeida, Onesimo
To: aicl net
Caros,
Uma palavra sobre o José Nuno da Câmara Pereira, excelente artista e senhor de uma finura humana cândida e encantadora.
Membro de uma ínclita geração mariense, toda de uma só família, um conjunto de notáveis irmãos, rebentos de uma cepa já de per si notável: o pai, Armando Monteiro, autor de Pedras de Santa Maria (1969) que comprei no saudoso Bureau de Turismo, ali ao Largo da Matriz, e que li deliciado; e o avô, Manuel Monteiro Velho Arruda, responsável pela organização da preciosa Colecção de Documentos Relativos ao Descobrimento e Povoamento dos Açores (1932), a que ainda hoje recorro com frequência. O volume é precedido de um ensaio crítico em jeito de prefácio.
Conheci mal Fernando Monteiro, o irmão mais novo creio, de todos o único voltado para a política; mas sabia-o fogoso e dinâmico. Contactei mais de perto com a irmã, a Madalena Férin, poeta de gabarito sobre quem melhor do que ninguém o Eduíno de Jesus escreveu e apresentou num eloquente prefácio ao seu livro – Poemas (1957). Mas havia mais irmãos na prole: o padre Jacinto Monteiro, autor de um livrinho de gostosas estórias marienses, Memórias da minha ilha (1982). E compunha o naipe ainda um outro, de quem há muito não ouço falar, o autor do livro de poesia Tempo Redondo (1981) – que o consagrado padre Manuel Antunes saudou em prefácio anunciando: Nasceu mais um poeta. Nasceu um poeta maior. Nasceu numa ilha, a ilha de Santa Maria, nos Açores. Uma ilha que se foi ampliando às dimensões do Universo. O último que vim a conhecer foi o José Nuno, o artista plástico senhor de um sorriso a desprender-se de um olhar voltado para o longe, mas que criava arte com o chão da terra que o viu nascer – o barro, a pedra pomes, o basalto das suas ilhas.
Um dia, contactou-me através de um mariense de gema nascido em S. Miguel, que da sua ilha natal para Santa Maria quase levou consigo apenas o nome: Miguel (Côrte-Real de sobrenome) tão nativo da sua ilha adoptiva se tornou. O José Nuno tinha obtido uma bolsa da Gulbenkian (um trabalho dele figurara na capa de um número da sumptuosa revista Colóquio-Artes) para vir estagiar um ano no MIT a trabalhar com um especialista em artes visuais cujo nome já não me recordo. Despassarado como muitos artistas são, dera o seu aval à proposta, esquecendo-se no entanto de fornecer pormenores logísticos. Em desespero, o José Nuno pediu-me socorro. E foi então que intervim acabando por iniciá-lo nas ruas de Cambridge e levando-o ao estúdio do MIT, onde passaria um ano inteiramente devotado a absorver experiências e ideias.
Esse tempo permitiu-nos reencontros que me deram acesso a um ser humano com alma de poeta e mãos de criador, dono de um sorriso ingenuamente desarmante que o cobria de uma aura impermeável a qualquer resquício de maldade.
De regresso aos Açores o José Nuno levou sonhos, deslumbrado que estava com a promessa de uma casa para artistas no Sanguinho, ou noutro local paradisíaco, que lhe haviam pedido concebesse. Tendo-se o projecto logrado por razões alheias às suas mãos, acabou, todavia, os seus anos a trabalhar feito eremita na solitude de um antigo casarão militar ali junto ao campo de jogos de Angra, no enfiamento do Relvão e do Castelo.
A saúde foi-lhe faltando e há já anos que vivia fora deste mundo, como que embarcado no universo em que parecia preferir habitar.
Há gente assim, desprendida do barro e basalto em que vivemos. E nós muitas vezes nem reparamos nessas criaturas que, como o José Nuno, transformam o barro e as pedras em relvões verdejantes e em castelos suspensos no futuro.
Um abraço, meu bom José Nuno.
Onésimo
2018-01-14 15:29 GMT-05:00 aicl net
É COM IMENSA TRISTEZA QUE VOS COMUNICO QUE
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Víctor Alves
36 mins ·
Foi o mais distinto artista plástico açoriano contemporâneo
JOSÉ NUNO DA CÂMARA PEREIRA FALECEU HOJE EM LISBOA
Tinha 80 anos e era o mais distinto e distinguido artista plástico DA atualidade, nascido nos Açores.
Nuno da Câmara Pereira era natural da ilha de Santa Maria. Deixa um valioso espólio no campo das artes plásticas, essencialmente na pintura.
O funeral realiza-se na próxima terça feira na igreja de Santa Isabel, em Campo de Ourique e o corpo aerá cremado por vontade do próprio.
o Zé Nuno ESTEVE CONNOSCO EM Santa Maria NO 16º COLÓQUIO, NO 16º EM Ourense Galiza E 21º NOS moinhos de porto formoso 2014, e a saúde debilitada impediu-o de voltar a estar connosco.
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