olavo bilac e chega

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A propósito da tolice do cantor Olavo Bilac deixar-se seduzir por alguns trocos para cantar num jantar do partido protofascista Chega há muito por dizer. E qualquer lugar é bom para ser dito. A primeira coisa em que penso, e lamento profundamente, é que o cantor arruinou toda a sua carreira talvez por ignorância, por estupidez, por ganância; não creio que tenha sido por convicção ideológica.
O Chega veio despertar fantasmas adormecidos e vampiros sedentos. E foi activá-los ao cói onde estavam acantonados há várias gerações: às fileiras do PSD e do CDS. É disso bom exemplo a pequena marionete que dá pelo nome de André Ventura, militante de confiança, até há pouco tempo, do PSD. E se não fosse da confiança da direcção do partido fundado por Sá-Carneiro não teria liderado a lista laranja que se candidatou à Câmara Municipal de Loures.
Com a Revolução dos Cravos, o fascismo português deixara muitos órfãos e sobretudo desempregados da familiar máquina corrupta que sustentava o regime então liderado por Marcelo Caetano. Era necessário contrapor ao protagonismo político da resistência antifascista do PCP, liderado por Álvaro Cunhal, e do PS, liderado por Mário Soares, um partido político que saísses das hostes liberais da sinistra União Nacional, partido único do antigo regime. Funda-se, assim, o PPD de Sá-Carneiro, que vai naturalmente acantonar os amigos do anterior regime, garantindo, desde logo, a sobrevivência política a facínoras e criminosos. Este movimento completa-se com a fundação do CDS, então liderado por Freitas do Amaral, que sob a bandeira da democracia cristã e colocando-se à direita do espectro político nacional, vem dar uma ajudinha como alpendre de muitos que tinham sido colaboracionistas e bufos do regime ditatorial. E foram sobrevivendo sob a capa democrática desses partidos até hoje. Com alguns receios, talvez envergonhados, tímidos, mas sempre com a esperança da vingança. Ora essa esperança ganha alguma dimensão com a eleição de Cavaco Silva – que fora acantonado por Sá-Carneiro no seu partido – que segundo a vox populi teria sido um bufo da PIDE. Não sei se foi ou não, mas a verdade é que o homem se recusou sempre, quer como primeiro-ministro quer como presidente da República, usar o símbolo da revolução que instituiu a democracia em Portugal nas suas celebrações: o cravo vermelho. Cavaco Silva representa o que de pior foi fomentado pela democracia. E foi eleito por quem? Pelo povo e por um sector popular flagelado pela ignorância, pelo analfabetismo e pela ingenuidade à mão de sinistros manipuladores: o tristemente célebre Cavaquistão. E o resultado foi o que se viu.
Com os tremendos erros do PS, a sua deriva à direita e o delírio destruidor de Sócrates, a versão proto-histórica do Chega assume o poder com o encapotado neo-liberal Passos Coelho e a sua clique de oportunistas, que se deixariam transformar em marionetas no areópago europeu então chefiado por Angel Merkel e pelo sinistro Shauble e que lançou Portugal para as ruas lamacentas da amargura e da miséria com todas as vigarices inerentes e cujos resultados estão descansadinhos nos famigerados offshores. Quando tudo isto descamba e o governo vai parar às mãos do PS de António Costa, depois dos acordos estabelecidos com o PCP e o Bloco de Esquerda, a direita entra em pânico e começa a desmoronar-se com a liderança ruinosa de Cristas e, mais tarde, com a tentativa de recuperação do comando da oposição por Montenegro. Rio apenar quer transmitir credibilidade e seriedade a um partido que na sua génese foi alimentado por indivíduos altamente comprometidos com o antigo regime. Apresenta-se como um verdadeiro social-democrata. Creio que é o que ele pensa de si mesmo. Nestas circunstâncias, os cozinheiros do caldo sanguinário e racista viram a oportunidade única de perderem o medo e a vergonha e organizarem-se num partido que realmente os representa: o Chega. Ora a base de apoio do Chega não será muito diferente do Cavaquistão. O CDS desmorona-se e dificilmente recuperará com esta liderança saída do parque infantil da política nacional. O PSD está à deriva com Rui Rio a querer segurar as pontas e tentando evitar a sangria que se avizinha à sua direita. Não havia melhor cenário para que um partido protofascista se instalasse na paisagem política portuguesa, acenando com todos os estandartes que simbolizam o que de mais vil há na condição humana: a superioridade biológica de uma estirpe e a condenação à escravatura, à miséria e ao silêncio da imensa maioria do povo. E aqui reside o grande perigo que nos deve alertar e disponibilizar para combates futuros.
À volta do Chega organizam-se estrategicamente todos os grupelhos neofascistas, neonazis, racistas, xenófobos, machistas, homofóbicos, etc. O recente episódio, em que uma apalhaçada ordem de Avis ameaça a integridade física de três deputadas e de alguns activistas políticos, vem confirmar que o patético André Ventura está capturado por indivíduos sinistros. E surgirão novos movimentos e novas ordens, com uma certa aura esotérica, cuja origem pode estar no seio de maçonarias de contrafacção da extrema-direita, e que instigarão com todos os meios que têm, que serão seguramente muitos, os seus apaniguados para actos de violência que poderão deixar em pânico a branda sociedade portuguesa. Já começaram. Estejamos atentos e preparados para o pior porque estes tipos são perigosos.
Nota final: não admito insultos nem ameaças e os seus autores serão imediatamente bloqueados; a todos aqueles que são adeptos do Chega não se inibam e desamiguem-me. Muito lhes agradeço.
Luís Filipe Sarmento
Foto: Isabel Nolasco
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