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Fonte: Oito décadas a cantar em patuá
OITO DÉCADAS A CANTAR EM PATUÁ
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Para assinalar 80 anos de existência, a Tuna Macaense preparou um novo álbum que será apresentado amanhã na Fundação Rui Cunha. São 16 músicas cantadas em patuá e português, para recordar o passado, homenagear as raízes da comunidade e realçar a herança cultural de Macau. Segundo Filomeno Jorge, toda a história do grupo poderá ser lida no próximo ano num livro que está a ser preparado por alunos do Instituto Politécnico de Macau
Catarina Almeida
A Tuna Macaense está de parabéns. Hoje, composto por seis elementos, o grupo representa a continuidade de três gerações de músicos que ao longo de 80 anos têm animado as ruas de Macau, as suas festas e, sobretudo, ajudado à preservação do patuá.
Em 1935, entre brincadeiras carnavalescas, nascia a Tuna. Desde então tem prevalecido, sem obstáculos, e com força para continuar a espalhar a cultura macaense ao som dos bandolins, das violas e dos cavaquinhos. “Não há complicações porque somos abertos. Temos dois ensaios por semana e estamos sempre a fazer muitas coisas”, disse Filomeno Jorge, presidente da Tuna Macaense ao JORNAL TRIBUNA DE MACAU.
Entre concertos e outras actividades, o grupo apresenta amanhã, como não poderia deixar de ser, um álbum especial intitulado “Tuna Macaense, 80 anos: 1935-2015” pelo simbolismo que a ele está associado. Afinal, são oito décadas de muitas canções, espectáculos, palcos pisados e noites de animação.
Segundo Filomeno Jorge o disco contém 16 canções cantadas em patuá e português, incluindo um instrumental. “Tínhamos muitas músicas novas em patuá, éramos para lançar o CD em Dezembro mas por questões técnicas só conseguimos em Abril deste ano”, referiu o presidente da Tuna que compôs e cantou 14 músicas do novo álbum.
“A maioria das músicas fala sobre Macau. Há também músicas portuguesas que falam sobre as nossas raízes macaenses e outros lugares como a Gruta de Camões, o Farol da Guia, entre outros, como por exemplo a ‘Cidade de Macau’”, contou.
Além dessa, o CD integra canções como “Iou Quelora Velo”, “Macau Paraiso”, “Lembrar Natal”, “Abri vosso coracam”, “Vida ta caro”, entre outras.
Desde que foi constituída, a Tuna tem lançado vários álbuns, com destaque para “Titi Bita de Lilau” (1987), “Macau Sã Assi” (1994) e “Adeus Macau”, pouco antes da transferência de soberania do território.
O novo álbum será apresentado amanhã, às 18:30, na Galeria da Fundação Rui Cunha, num evento que visa igualmente homenagear e parabenizar o grupo pelos seus oitenta anos de muita música através da qual se recorda uma cidade antiga, ultrapassada pelos tempos modernos mas onde a cultura macaense ainda persiste.
Como a história do grupo é longa, torna-se de certa forma complicado destacar um momento mais especial. Ainda assim, Filomeno Jorge recorda as várias actuações da Tuna Macaense por terras portuguesas, durante uma tournée que incluiu Coimbra e Lisboa. Na Ásia, realça actuações na Tailândia, Coreia do Sul, Japão, Pequim, Xangai, entre outras.
Desde que integrou o grupo, Filomeno Jorge já compôs “cerca de 50 temas”, incluindo instrumentais e outros para serem cantados.
Actualmente, a Tuna Macaense é composta por Filomeno Jorge (viola e cantor), Pedro Santos (viola-baixo), Victor Pereira (percussões), Carlos Pereira (viola-ritmo e também percussões), Arnaldo Gomes (bandolim e baixo) e Edward Ho (teclados) e Isabel Carvalhal (cantora), que teve de regressar a Portugal por questões familiares.
Reunir em livro grande parte do passado musical e histórico da Tuna Macaense é um sonho que está em vias de se concretizar através do apoio do Instituto Politécnico de Macau (IPM). “O livro já está a ser feito, os alunos do IPM estão a fazer um livro que tem não só referências à Tuna como também à Orquestra Chinesa”, apontou. O livro deverá ser lançado no próximo ano após a aprovação do Instituto Cultural, indicou Filomeno Jorge.
Um “feito magnífico”
É com grande orgulho que Duarte Alves, presidente da mesa da Assembleia Geral da Associação de Jovens Macaenses, reage aos 80 anos da Tuna Macaense. “Se falarmos da minha geração desde que me lembro de ouvir falar da Tuna Macaense. Sempre ouvimos os clássicos que ainda hoje se ouvem nos vários eventos e festas que aconteceram ao longo dos anos em Macau”, disse ao JORNAL TRIBUNA DE MACAU.
Para Duarte Alves, este feito é um motivo de alegria partilhado por toda a comunidade macaense. “É um grande motivo de orgulho termos uma banda e um grupo de pessoas que se foi alterando ao longo das décadas, e sabermos que vai ser lançado um disco para celebrar os 80 anos desta banda”, vincou.
Para Duarte Alves, a divulgação e manutenção da identidade cultural macaense passa também pela componente musical. “Normalmente quando se fala do macaense fala-se muito do patuá, na gastronomia mas acho que [a música] é também uma forma de expressar a nossa cultura”, afirmou.